Vacina contra HPV não descarta exames preventivos para as mulhere

Aprovada em agosto pela Anvisa, a nova vacina contra HPV está na pauta da mídia e dos congressos médicos. O que pouca gente sabe é que ela não descarta a necessidade de a mulher fazer exames preventivos e que um instituto brasileiro busca, sem muitos recursos, criar uma vacina nacional e mais barata.

No final de agosto a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a entrada no país de uma vacina para prevenção do HPV (papiloma vírus humano), um dos fatores de risco para o câncer de colo de útero – doença que mata cerca de quatro mil mulheres anualmente no Brasil. A nova droga foi testada no país em 15 diferentes centros de pesquisa, que acompanharam mais de 3400 mulheres por cinco anos.

A nova vacina é profilática, ou seja, preventiva para mulheres que não tiveram nenhum contato com HPV. Ela não exclui, no entanto, a continuação de exames preventivos como o Papanicolau. “Se a mulher se vacinar e não fizer o Papanicolau, ao invés de se proteger, estará com maior risco de contrair o vírus”, afirma a oncologista e pesquisadora do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism) da Unicamp Sophie Derchain.

O Ministério da Saúde ainda não sabe a viabilidade financeira dessa vacina, mas no mercado norte-americano ela é vendida a 120 dólares (em torno de 260 reais) e deve ser tomada em três doses (a segunda e a terceira doses são aplicadas no segundo e sexto mês após a primeira injeção). Enquanto isso, o Centro de Biotecnologia do Instituto Butantan, em São Paulo, busca desenvolver uma vacina nacional mais barata contra HPV.

Há um ano e meio Paulo Lee Ho, pesquisador do Butantan, estuda uma vacina feita com um fungo diferente do utilizado na vacina importada e com maior rendimento de produção. Segundo ele, os resultados são promissores, pois o grupo já conseguiu expressar a proteína L1, que estimula a formação de anticorpos contra o HPV, com rendimento similar ao que ocorre na vacina de Hepatite B, com custo de cerca de US$ 0,25 a dose (pouco mais de R$ 0,50).

O projeto nacional, no entanto, ainda busca financiamento e deverá levar ao menos mais quatro anos para ser concluído. Lee Ho acredita que o preço da vacina lançada agora no país deverá ser reduzido, principalmente devido a estudos com vacinas alternativas, como o do Butantan. “Como instituto público, nossa vacina, quando ficar pronta, chegará ao consumidor de forma gratuita pelo sistema público de saúde”, prevê o pesquisador.

A vacina importada foi descoberta por dois pesquisadores do Instituto Nacional do Câncer (EUA), Douglas Lowy e Jonh Schiller e licenciada por duas gigantes farmacêuticas, a Merck Sharp & Dohme, que lança o produto agora, e a Glaxo Smith Kline, que provavelmente lançará o seu em 2007. De acordo com o Diretor de Comunicação da Merck, João Sanches, a multinacional vai trabalhar em parceria com o governo brasileiro para que ela seja acessível. A nova droga tem eficácia no combate a quatro tipos de HPV (nomeados pelos cientistas como 6, 11 ,16 e 18), em mulheres entre 9 e 26 anos, que ainda não iniciaram sua vida sexual. Ainda estão em andamento estudos para avaliar a eficácia da vacina em homens de 16 a 26 anos de idade e mulheres de 27 a 45 anos. Sophie Derchain afirma que existem mais de cem diferentes tipos de HPV, muitos deles ainda sem nomeação pelos pesquisadores, só detectáveis através de exame.

Estatísticas

Em todo o mundo, cerca de 630 milhões de homens e mulheres estão infectados pelo HPV. A transmissão do vírus é feita pelo contato genital com a pessoa infectada e por via sanguínea, de mãe para filho, na hora do parto, ou pelo contato com objetos contaminados, como toalhas, roupas íntimas, vasos sanitários e banheira. A maioria das infecções desaparece sem tratamento, porém 99,7 % dos casos de câncer do colo do útero estão relacionados a essas infecções, daí a preocupação dos médicos e a necessidade de detecção precoce. Nos casos mais graves, o HPV pode causar cânceres cervical, vaginal e vulvar; e nos homens pode causar câncer de pênis ou ânus. As conseqüências da infecção, no entanto, acabam sendo menores neles, pois as verrugas que se formam, são mais visíveis e facilitam o diagnóstico e tratamento precoce.

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de colo do útero é a quarta causa de morte por câncer em mulheres, registrando 19 mil novos casos anualmente.