Terapias de substituição da nicotina trazem risco durante gravidez

Que fumar traz prejuízos à saúde, todo mundo sabe. Os cientistas buscam agora delimitar até onde o cigarro é o vilão das complicações na gravidez. Em janeiro, especialistas da Universidade de Valência, Espanha, pesquisaram o uso de cigarro e substitutos da nicotina no início da gravidez. Eles descobriram que o fumo não é responsável direto pela má formação fetal enquanto a terapia de substituição da nicotina se revelou prejudicial para os recém-nascidos. Para o médico e pesquisador do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism-Unicamp), Renato Passini Júnior, a pesquisa comprova o que ainda era só especulação: o fumo não provoca má formação fetal, mas ainda é nocivo para a saúde da gestante e do bebê.

estudo, publicado na revista especializada Obstetrics and Gynaecology, traz as conclusões com base em dados de 76 mil mulheres grávidas, das quais cerca de 20 mil foram expostas ao tabaco durante as 12 primeiras semanas de gravidez. Entre as mulheres que estavam fazendo uso de terapia de substituição da nicotina, houve um aumento de 60% no risco de surgimento de defeitos no feto e 100% nas malformações musculoesqueléticas. Por outro lado, não houve aumento de defeitos congênitos nos filhos das mulheres que fumavam.

Os resultados não significam, no entanto, que a fumante grávida deve continuar com o vício. Passini alerta que, independente do tipo de terapia de substituição da nicotina, qualquer substância química utilizada no início da gravidez é um risco e aconselha que as gestantes que fumam não usem “novidades” como tratamentos, mas procurem apoio psicológico e familiar, pratiquem atividade física e tenham força de vontade para canalizar a ansiedade que a falta do cigarro causa.

Estudos sobre o risco de uso de substâncias químicas em mulheres em idade fértil começaram nos anos 60 e 70, diz o pesquisador, após os casos do medicamento a base do composto talidomida, utilizado contra vômitos. Seu uso indiscriminado por gestantes até o início da década de 60 provocou má formação ou ausência dos membros superiores e inferiores em bebês.

Prejuízos

A partir do terceiro mês de gravidez, quando o bebê já está formado, as substâncias como o monóxido de carbono, presente no fumo, interferem na captação de oxigênio pelos tecidos. Isso influencia no desenvolvimento de sistema nervoso central, que só está totalmente formado depois do segundo ano de vida da criança. Há indícios de que a menor oxigenação provoque ainda uma redução no tamanho do encéfalo (não significando uma redução da capacidade de raciocinar) e distúrbios de comportamento como a hiperatividade. Outras pesquisas mostram ainda que o efeito da nicotina sobre a parede dos vasos sanguíneos dobra a chance de hemorragias, deslocamento de placenta, risco de vida da mãe e parto prematuro, ou bebês com baixo peso, já que os prejuízos em relação à placenta prejudicam a sua nutrição. “O efeito do fumo é sempre nocivo, se a gestante não conseguir parar de fumar, então que diminua a intensidade dessa prática.” sugere.

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer, não há, no país, uma estimativa do número de gestantes fumantes ou do percentual de mulheres que utilizam terapias de substituição da nicotina. O órgão informou que a última pesquisa foi realizada em 1989, pelo Ministério da Saúde e na época 30 milhões de brasileiros se declararam fumantes, dos quais 12 milhões eram mulheres. A previsão da Organização Mundial da Saúde é que até 2030 o número de fumantes chegará a 1,6 bilhão e as mortes anuais por tabagismo a 10 milhões.