Tamiflu poderá ser medida inapropriada para conter pandemia

Como medida preventiva de uma possível chegada da gripe aviária no Brasil, o governo anunciou no final do ano passado a compra do medicamento antiviral Tamiflu (oseltamivir) para o tratamento de nove milhões de pessoas em caso de epidemia. Mas segundo estudo publicado na revista The Lancet não há evidências de que o medicamento oseltamivir seja eficaz no tratamento de humanos contaminados pela gripe aviária em caso de pandemia. De acordo com o estudo, o oseltamivir controla as complicações respiratórias da influenza sazonal, tais como bronquite e pneumonia, mas não evitam uma infecção. Apenas em 2005 o medicamento gerou um volume de negócios de aproximadamente US$ 1 bilhão para a Roche, e deve superar este valor neste ano.

Como medida preventiva de uma possível chegada da gripe aviária no Brasil, o governo anunciou no final do ano passado a compra do medicamento antiviral Tamiflu (oseltamivir) para o tratamento de nove milhões de pessoas em caso de epidemia. Mas segundo estudo publicado na revista The Lancet (vol.367) no último dia 19, não há evidências de que o medicamento oseltamivir seja eficaz no tratamento de humanos contaminados pela gripe aviária em caso de pandemia. De acordo com o jornal Valor Econômico (05/01/06), apenas em 2005, o medicamento gerou um volume de negócios de aproximadamente US$ 1 bilhão para a Roche, indústria farmacêutica responsável pela fabricação do medicamento, e deve superar este valor neste ano.

Em virtude da histeria provocada por uma possibilidade de pandemia de influenza, cientistas do instituto de pesquisa anglo-italiano Cochrane Vaccines Field e da Universidade de Queensland, na Austrália, compararam a eficácia e segurança de quatro medicamentos anti-virais para o combate da influenza disponíveis no mercado em diversos estudos. O trabalho deixou claro que, “não há evidência de que haja efeitos de inibidores de neuraminidase1 – proteína utilizada pelo vírus da influenza para se replicar na célula hospedeira e causar infecções respiratórias -, como o oseltamivir, sobre a gripe aviária e, não surpreende o fato de não haver nenhuma evidência de seus efeitos sobre uma pandemia de vírus influenza”. De acordo com o estudo, o oseltamivir, assim como o zanamivir (outro inibidor de neuraminidase), controlam as complicações respiratórias da influenza sazonal, tais como bronquite e pneumonia, mas não evitam uma infecção.

Os autores, no entanto, não descartam a utilização do oseltamivir no combate à gripe aviária, mas alertam que ele só deve ser uma alternativa no caso de haver medidas preventivas concomitantes, como barreiras sanitárias e higiene pessoal.

Consultada, a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde brasileiro preferiu reforçar que o governo tem investido em outras medidas para combater uma possível chegada da gripe aviária no país do que afirmar que as doses tenham sido compradas com este objetivo. Não há, no entanto, qualquer previsão para o recebimento da encomenda.

O Tamiflu tem sido considerado internacionalmente como o medicamento existente mais apropriado no combate da gripe aviária em humanos. O Brasil, por exemplo, encomendou no final do ano passado nove milhões de doses do medicamento, suficiente para atender 5% da população, a um custo aproximado de cerca de R$ 200 milhões. O próprio site brasileiro da Roche afirma que: “(…) a OMS orienta que os países desde já estoquem medicamento antiviral específico para o vírus influenza, para que esteja disponível para uso imediato nas primeiras semanas do início da pandemia. (…) O único medicamento antiviral para gripe comercializado atualmente no Brasil é o Fosfato de oseltamivir [Tamiflu]. (…) ele ataca diretamente o vírus influenza não permitindo que ele se espalhe por todo o organismo, amenizando os sintomas e diminuindo o tempo de duração da gripe e o número de complicações decorrentes complicações”. Embora a empresa fale em vírus de influenza contra o qual o Tamiflu é eficaz, fica sugerido que o medicamento é mesmo eficaz para combater possíveis casos de gripe aviária em humanos no país.

Além do Brasil, os governos da Europa e dos Estados Unidos armazenaram grandes reservas desse medicamento num possível caso de pandemia.

Desde a divulgação de que o Tamiflu poderia ser o único tratamento disponível para a gripe aviária em humanos, houve uma corrida às farmácias que esgotou os primeiros estoques do medicamento. Segundo o pesquisador e presidente do Instituto Butantan, Isaías Raw, o uso indiscriminado do Tamiflu induz seleção de cepas de vírus resistentes, como ocorre com as bactérias pelo uso de antibióticos. Motivo pelo qual se instituiu a proibição da venda do Tamiflu em farmácias, ficando permitida apenas ao governo. Raw afirma que a capacidade mundial de produção do Tamiflu é da ordem de 2% da população, e não existem mais matérias-primas disponíveis para a indústria farmacêutica que vive basicamente da manipulação de medicamentos importados, incluindo as indústrias dos países desenvolvidos.

Até o momento, a infecção da gripe aviária (vírus H5N1) só é transmitida de aves contaminadas pelo vírus para humanos. A preocupação dos pesquisadores e do governo é que este vírus sofra mutações e passe a ser transmitido entre humanos, provocando uma pandemia. Enquanto as incertezas dominam, a Roche fatura.