Um novo peptídeo isolado da secreção cutânea de pererecas do gênero Phyllomedusaé uma promissora nova arma contra um amplo espectro de bactérias e fungos. A filosseptina foi testada em laboratório e pode representar um avanço importante na medicina, pois se mostrou eficaz contra os protozoários causadores da malária e da leishmaniose. O próximo passo é testar suas propriedades em animais infectados.

Um novo peptídeo isolado da secreção cutânea de pererecas do gênero Phyllomedusa é uma promissora nova arma contra um amplo espectro de bactérias e fungos. A filosseptina (PS) foi testada em laboratório e pode representar um avanço importante na medicina, pois se mostrou eficaz contra os protozoários causadores da malária e da leishmaniose. O próximo passo é testar suas propriedades em animais infectados. “Acredito que em breve teremos condições de comprovar a sua eficácia”, diz Selma Kuckelhaus, do Departamento de Imunologia da Universidade de Brasília (UnB).
A filosseptina foi descrita em 2005, por pesquisadores da UnB e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). São seis novos peptídeos (PS-1 a PS-6), que foram isolados a partir de duas espécies de pererecas, P. hypochondriales e P. oreades. Dentre os seis compostos, foi comprovado que a PS-1 tem uma ação antibacteriana ampla, além de baixa toxicidade para o organismo infectado. As filosseptinas 1, 4 e 5 são os primeiros peptídeos isolados da secreção cutânea de pererecas a serem testados contra diversos microorganismos.
Selma Kuckelhaus está dando continuidade à pesquisa sobre aplicações médicas da filosseptina, e ressalta que essa família de susbtâncias tem ação contra uma ampla gama de bactérias e fungos. “A boa nova é a comprovação do seu efeito também sobre os protozoários”, comemora. A pesquisadora explica que a PS-1 teve um ótimo desempenho no combate a culturas de Leishmania amazonensis, protozoário causador da leishmaniose tegumentar, em laboratório. Seus resultados serão apresentados no Congresso de Medicina Tropical, em março no Piauí. Em relação à malária, Kuckelhaus está em fase de conclusão dos testes, mas adianta que os resultados “são muito promissores”. O trabalho, que faz parte de sua tese de doutorado, está em fase de publicação.
A possibilidade de se produzir medicamentos a partir da filosseptina é uma boa notícia na comunidade médica. As medicações existentes contra malária e leishmaniose, sobretudo esta última, são muito tóxicos. As grandes vantagens da PS-1 são a baixa toxicidade nas concentrações eficazes e seu largo espectro de ação. O aumento de resistência a antibióticos é uma preocupação mundial, por isso é necessário que os médicos disponham de um arsenal variado de drogas para o combate às doenças bacterianas.

O Brasil dispõe de imensa biodiversidade com grande potencial para uso na medicina, em muitos casos já explorada por conhecimento popular ou nativo. Célio Haddad, especialista em anfíbios da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro, conta que durante expedição ao Acre em 1980, habitantes locais lhe disseram utilizar a secreção cutânea de Phyllomedusa contra malária. Na época, o pesquisador não acreditou na eficácia das propriedades medicinais da substância. Sua experiência mostra que a ciência deve estar atenta à medicina tradicional, que pode ter muitas contribuições a oferecer. “Somos privilegiados por possuir tanta riqueza, mas só nos resta aguardar que nossos governantes compreendam a importância e invistam em pesquisas, que são imprescindíveis para gerar novos medicamentos”, enfatiza Kuckelhaus.