Sombra dos pés de café dificulta o uso de sensoriamento remoto

Dados coletados por sensores remotos têm se mostrado úteis no planejamento e no monitoramento de culturas agrícolas, mas no caso do café ainda é preciso aprimorar a relação entre o que os satélites coletam e medidas biofísicas das plantas, tais como altura, diâmetro, espaçamento entre plantas ou rugosidade, dentre outras. Essa é a conclusão de uma pesquisa realizada na Unicamp e apresentdo o no XIV Congresso de Sensoriamento Remoto, realizado em Natal, no final de abril.

Dados coletados por sensores remotos têm se mostrado úteis no planejamento e no monitoramento de culturas agrícolas, mas no caso do café ainda é preciso aprimorar a relação entre o que os satélites coletam e medidas biofísicas das plantas, tais como altura, diâmetro, espaçamento entre plantas ou rugosidade, dentre outras. Essa é a conclusão da pesquisadora Gláucia Ramirez, que defendeu recentemente sua tese de doutorado na Faculdade de Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Campinas e apresentou o trabalho no XIV Congresso de Sensoriamento Remoto, realizado em Natal, no final de abril.

De acordo com Ramirez, técnicas como a radiometria de campo e análises multitemporais podem contribuir de maneira efetiva para a obtenção de melhores resultados. Ela complementa explicando que são necessárias pesquisas que busquem compreender melhor a interação entre os parâmetros biofísicos da plantação com a energia eletromagnética, responsável pela geração da imagem.

O estudo foi feito em Ribeirão Corrente, nordeste do estado de São Paulo, dentro de uma área de 600 hectares na qual Ramirez selecionou 30 talhões (porções plantadas de terreno) para fazer o levantamento dos parâmetros biofísicos. Em cada talhão, ela mediu a altura, o diâmetro, o espaçamento entre linhas, o espaçamento entre plantas e a rugosidade de 15 plantas. Calculou ainda o índice de área foliar (IAF), densidade populacional (número de plantas por hectare) e a porcentagem do terreno coberto pelas plantas de café.

As principais características da lavoura cafeeira que desafiam os pesquisadores e podem interferir na correlação entre as medidas obtidas em campo e os índices calculados por meio das imagens de satélites são: a arquitetura da planta, a quantidade de sombra dentro da área de plantio e, por fim, o plantio em renque, em que várias plantas são dispostas uma ao lado da outra na linha de plantio – de maneira tão próxima, que formam um maciço.

No caso da sombra produzida pelo crescimento dos pés de café, a pesquisadora afirma que quando a cobertura do terreno pelas plantas de café é superior a 50%, essas sombras formadas dentro dos plantios provocam a não-correlação entre os parâmetros biofísicos com os dados da banda do infravermelho próximo para os satélites Landsat/TM e Quickbird. A correlação entre as medidas tomadas em campo e as imagens foi um pouco maior com o satélite Quickbird. Mas, segundo Ramirez, isso não indica que essa imagem seja melhor do que a de média resolução do Landsat. “Apesar de mais altos, os valores tiveram diferença numérica bem pequena e os dois resultados foram significativos utilizando 95% de probabilidade”.

O que torna possível a comparação entre as imagens são a correção atmosférica e a correção radiométrica, feitas por meio do programa SCORADIS, um sistema de correção radiométrica de imagens de satélites desenvolvido pelo engenheiro agrícola Jurandir Zullo Júnior, orientador de Ramirez. Além disso, a correção geométrica da imagem Landsat foi feita com base nas coordenadas geográficas da imagem Quickbird, com melhor resolução espacial, que possibilita localizar com maior confiabilidade as áreas de café.

Em nome da comparabilidade, foi preciso ainda minimizar a influência da atmosfera no dia da obtenção das imagens. O procedimento se chama “correção atmosférica” e, de acordo com a pesquisadora, é necessário porque uma imagem foi obtida em 24 de janeiro, outra em 5 de fevereiro de 2006.

Por último, Ramirez fez a correção radiométrica das imagens, transformando os valores de níveis de cinza das imagens em uma grandeza física: a porcentagem de radiação refletida pelo alvo ou refletância real. Assim, as duas imagens ficam na mesma ordem de grandeza. “Esse procedimento também é muito importante nesse caso, porque as imagens têm níveis de cinza distintos: o Landsat tem 255 e o Quickbird nada menos que 65.535”, explica.