Sistema de codificação pode auxiliar setor militar brasileiro

As empresas brasileiras do setor militar têm negligenciado uma importante ferramenta de inteligência de mercado disponível no país, o Sistema Otan de Codificação (SOC) para materiais de suprimento. Essa é a opinião do pesquisador do Centro de Catalogação da Aeronáutica, que pesquisou o tema junto à Unicamp.

As empresas brasileiras do setor militar têm negligenciado uma importante ferramenta de inteligência de mercado disponível no país. Trata-se do Sistema Otan de Codificação (SOC) para materiais de suprimento, um software criado para fins militares que hoje identifica os suprimentos utilizados nas cadeias produtivas de diversos setores econômicos. O tema da inteligência de mercado ganha crescente interesse nas empresas e será discutido no seminário “A Inteligência Competitiva na sua Empresa” realizado pela Internews, que ocorrerá no próximo dia 07 em São Paulo.

Objeto de estudo do pesquisador Marcus Aurélio Mamed de Miranda, do Centro de Catalogação da Aeronáutica, a inteligência de mercado no setor militar e a utilidade dos sistemas internacionais de classificação, como o SOC, podem propiciar a diversificação dos fornecedores internacionais e locais, ampliando as possibilidades de coordenação das redes de fornecimento de suprimentos e servindo como instrumento de inteligência de mercado. “As empresas passam a ter acesso a informações sobre potenciais fornecedores e consumidores dos itens que ela comercializa, em seu próprio país e no mundo, o que lhes confere maior flexibilidade e mais opções estratégicas”.

Além disso, na opinião do pesquisador, o SOC fornece informações capazes de auxiliar a formulação de políticas industriais de desenvolvimento de redes de fornecedores locais, estimuladas pela perspectiva de exportação para os países consumidores desses produtos que estejam inseridos no sistema. Entretanto, “a adesão do Brasil ao SOC é relativamente recente e muitas empresas desconhecem essa ferramenta”, diz o pesquisador.

O SOC, criado na década de 1950 no âmbito das organizações militares, tem por objetivo identificar e classificar itens de suprimento de diversas cadeias produtivas. No SOC, identificam-se produtos, projetos de engenharia, normas e especificações de forma precisa, por meio de uma série numérica de 13 dígitos denomiada NSN (sigla em inglês para número de estoque NATO – North Atlantic Treaty Organization). O sistema permite a diferenciação entre os itens de suprimento e o conhecimento das especificações dimensionais, mecânicas, elétricas, físicas, químicas e de desempenho de cada item. Aderem ao SOC todos os países signatários da aliança Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), assim como os países não-membros dispostos a seguir os preceitos dos acordos Otan de padronização (standardization agreements), como o Brasil (desde 1998) . Miranda ressalta que a adesão ao sistema não tem custos.

A adesão do Brasil

O setor público aeroespacial brasileiro, por meio de seu poder de compra, exige que as empresas com as quais comercializa insiram-se no sistema Otan, o que permite a realização de estatísticas comparáveis internacionalmente. É possível saber, para cada grupo de produtos utilizados por um país, quantos tipos diferentes de itens são provenientes de cada país do sistema, inclusive dele próprio. Os Estados Unidos, por exemplo, são fornecedores da maioria dos itens dos grupos relativos ao setor aeroespacial, para um grande número de países, conforme revelam os estudos de Miranda. Já o Brasil, depende tecnologicamente de vários países, sobretudo dos Estados Unidos.

Segundo Miranda, enquanto nos Estados Unidos, a adesão aos sistemas internacionais de classificação é extensiva, no Brasil há muitas empresas que não registram seus itens no sistema, por não comercializarem com as Forças Armadas e por desconhecimento seja dos procedimentos seja das vantagens desse mecanismo de identificação. O pesquisador baseia-se nos dados da Otan, segundo os quais há apenas 134 entidades organizacionais no Brasil, responsáveis por 10.940 NSNs (e outras 221 organizações participantes mas que não registraram seus produtos no sistema), ante um mercado potencial de 1,2 milhões de entidades, 91 países afiliados e mais de 28 milhões de itens de suprimento (NSNs).

Para o pesquisador, as vantagens dizem respeito ao uso dessas informações como ferramenta de inteligência de mercado, pelas empresas e pelo governo, no contexto da formulação e políticas industriais. “Uma análise mais profunda dos itens de suprimento consumidos, fabricados e importados pelo país utilizador do SOC, pode estabelecer em quais itens tecnológicos cada país é dependente de importação e que mercado potencial isso representa”, afirma Miranda.

A catalogação dos produtos da indústria nacional pode permitir às empresas atender, no futuro, mercados potenciais em cada país usuário de produtos similares. Se, por um lado, a pequena adesão das empresas resulta numa desigualdade de informações que pode afetar os produtores nacionais, por outro, ela limita os benefícios para os fornecedores estrangeiros em potencial capazes de ganhar mercados no país. “O fornecimento de dados técnicos dos itens de suprimento das empresas para os sistemas internacionais de classificação pode enfraquecer o controle da transferência de tecnologias similares originárias de outras empresas, acirrando a concorrência”, argumenta Miranda.

Os resultados da pesquisa de Miranda integram sua dissertação de mestrado, intitulada “Redes de relacionamento e informação no setor público aeroespacial brasileiro” e realizada junto ao Departamento de Política Científica e Tecnológica da Unicamp.

Para saber mais leia:

http://www.defesa.gov.br

http://www.nato.int/structur/AC/135/redirect/800-e.htm