Ocorre esta semana em São Paulo o I Simpósio Nacional sobre a Intolerância. O objetivo do evento é discutir temas como fundamentalismo, terrorismo, miséria, exploração, conflitos raciais, ausência de cidadania e de direitos.
Está acontecendo esta semana em São Paulo o I Simpósio Nacional sobre a Intolerância. O objetivo do evento é discutir temas como fundamentalismo, terrorismo, miséria, exploração, conflitos raciais, ausência de cidadania e de direitos, entre outros assuntos. O simpósio acontece na Casa de Cultura Japonesa de 15 a 21 de novembro e a programação pode ser conferida em site da USP.
Entre os temas discutidos está a educação e será apresentado no simpósio os primeiros resultados do projeto “A escola no mundo contemporâneo: diagnósticos e perspectivas”, organizado por pesquisadores da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. O objetivo principal é verificar o que a escola pública representa para alunos, professores, funcionários e pais.
De acordo com a coordenadora do projeto, a historiadora Zilda Márcia Grícoli Iokoi, nesta primeira fase foram pesquisadas 10 escolas e verificou-se que a escola pública é vista mais como um lugar de descaso do que de aprendizado. “Percebemos que a escola está desordenada e deixou de ser um espaço de desenvolvimento da cidadania”, diz Iokoi,“a violência está presente nas mais diversas instâncias da instituição”, completa.
De acordo com a pesquisadora, a escola é um lugar proibitivo, que remete a organização taylorista, “percebemos que a ordem, a disciplina e a repetição são valores muito presentes na forma de ensinar. Ainda há casos de professores que usam o sistema de pontos na lousa”. Além disso, os espaços comuns são de difícil acesso, como por exemplo os relatos de salas de leitura que permanecem fechadas. Uma das consequências disso, segundo Iokoi, é que a escola deixa de ser um lugar de identificação dos alunos e o aprendizado em outros lugares passa a ser mais interessante.
Por outro lado, de acordo com a pesquisadora, os professores também não se identificam com os alunos. “Não há comunicação entre as partes, são todos estranhos uns para os outros. Além disso, os professores não assimilam as novas linguagens e ajudam a reforçar o esquema de ordem e disciplina”, afirma. Iokoi ainda diz que não há um sentimento de responsabilidade pela falta de interesse dos alunos. Foi verificado que de uma maneira geral os professores estão desatualizados e acomodados e ainda enxergam os alunos de uma maneira esterotipada. Os pais, por sua vez, acreditam que a escola deve ser uma instituição reguladora, que auxilie a educação recebia em casa. “Há intolerância de ambas as partes”.
Quando indagados sobre como deveria ser a escola, o primeiro aspecto citado pelos alunos é a liberdade. “Eles gostariam de poder ir e vir livremente sem coibições”, afirma Iokoi. “E ainda gostariam que o conteúdo das disciplinas fosse mais aberto”.
Já os professores pedem uma infra-estrutura mais adequada, como prédios melhores, aparelhamento suficiente (TV, rádios, DVD, etc), tempo de aula maior, além de tempo para estudar e participação na produção do material didático. “Isso tudo sem falar no aumento de salário, que é uma solicitação unânime”, afirma a pesquisadora. A pesquisa está prevista para terminar em agosto do ano que vem e a partir desse material será concebido o conteúdo de uma disciplina para treinamento de professores do ensino básico e médio. “Será produzido também um banco de dados em DVD com os depoimentos coletados”, diz Iokoi.