O álbum em quadrinhos Passos Perdidos, História Desenhada, fruto do livro da historiadora Tânia Kaufman, conta a trajetória dos judeus em Pernambuco e se destina ao público das escolas. A obra é um instrumento paradidático que, de forma lúdica, resgata um dos pontos importantes da cultura desse estado.
A trajetória da chegada dos judeus em Pernambuco, um marco importante na cultura deste estado, está mais acessível ao público infantil e jovem: o livro Passos Perdidos, História Recuperada: A Presença Judaica em Pernambuco , lançado em 2000, fruto da tese de doutorado da historiadora e professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Tânia Kaufman, se transformou em um álbum de 71 páginas com histórias em quadrinhos.
A iniciativa é do Arquivo Histórico Judaico de Pernambuco (AHJPE) e contou com o apoio do governo do estado. A direção de arte e quadrinização ficaram nas mãos do sociólogo e também professor da UFPE, Amaro Braga. Este é o primeiro de uma coleção de cinco volumes. “O conteúdo desenvolvido na edição deste primeiro volume movimenta os personagens através da narrativa de uma avó que, seguindo a tradição judaica, tenta transmitir para os netos a história da comunidade que se instalou em Pernambuco nos primeiros anos do século XX”, explica Kaufman.
A historiadora conta que a intenção era levar o conteúdo do livro para um novo público, o das escolas. “Vislumbramos a necessidade de criar instrumentos paradidáticos para, de forma lúdica, levar informações sobre a cultura judaica a este novo segmento”.
No álbum, é possível conhecer como foi a chegada dos judeus, as tradições mantidas até hoje, como se deu a forma de integração com a população local (muitas vezes, por meio do comércio ambulante), o nascimento das lojas e as relações interpessoais dentro da comunidade judaica e com o resto da sociedade.
As imagens desenhadas, além de revelar os costumes judaicos, resgatam o histórico urbanístico de Pernambuco. Os desenhos foram feitos a partir de fotografias da época, tiradas em bairros onde os judeus viveram.
Na tese de Kaufman, ela salienta que quando os judeus encararam as migrações como um destino definitivo, tiveram maior disposição para mudanças individuais e coletivas, o que os fez reelaborar os limites entre o espaço do lar e o espaço público para as práticas religiosas. A construção do brasileiro judeu acabou se sobrepondo a do judeu brasileiro.
O obra em quadrinhos terá distribuição gratuita nas escolas públicas municipais do estado e será encaminhada para as secretarias de educação de Pernambuco, para bibliotecas e universidades públicas dos outros estados. A historiadora pretende fazer uma exposição do álbum em São Paulo no segundo semestre.
Primeira sinagoga das Américas
A constituição da primeira comunidade judaica em Pernambuco aconteceu no século XVI e ganhou força no período da dominação holandesa, durante o governo de Maurício de Nassau (1637-1644), quando houve certa liberdade religiosa em meio ao predomínio católico no país. Em 1640, os judeus construíram a primeira sinagoga das Américas em Recife, a Kahal Zur Israel. Com a rendição holandesa, eles tiveram que deixar a cidade e a sinagoga foi demolida. Ela foi reconstruída recentemente e reaberta em 2001 como museu de cultura judaica e sede do AHJPE.