Ciência cresce, mas age pouco na economia do Brasil

A ciência no Brasil vem crescendo de forma significativa, mas ainda não se transformou em riqueza e crescimento econômico para a nação. Essa é a opinião de Alaor Chaves, da Universidade Federal de Minas Gerais e o novo presidente da Sociedade Brasileira de Física, que definiu ações para sua atual diretoria na 59º Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.

A ciência no Brasil vem crescendo de forma significativa, mas ainda não se transformou em riqueza e crescimento econômico para a nação. Essa é a opinião de Alaor Chaves, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e o mais novo presidente da Sociedade Brasileira de Física (SBF), que definiu ações para sua atual diretoria na 59º Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que ocorreu entre 08 e 13 de julho, em Belém (PA). A nova gestão pretende trabalhar por uma maior inclusão da ciência na vida do país, melhoria no ensino de ciências e pela regulamentação da profissão de físico.

De acordo com Chaves, embora o Brasil esteja crescendo rapidamente em pesquisa científica, poucas empresas atuam no ramo, ao contrário do que acontece nos países mais competitivos: “Nossos programas de pós-graduação vêm formando pessoal em números crescentes. Em 1981, o Brasil contribuía com 0,44% das publicações científicas mundiais, índice que subiu para 1,92% em 2006, fazendo do país o 15º maior produtor de artigos. Entretanto, apenas 11% dos pesquisadores brasileiros trabalham em empresas, enquanto nos países desenvolvidos esse percentual é de pelo menos 60%. Com isso, as empresas inovam pouco e perdem competitividade”, afirma o físico.

A afirmação pode ser comprovada pelo baixo número de patentes registradas por empresas brasileiras. O Brasil está na 27ª posição em produção de patentes, perdendo para países como Cingapura, com apenas quatro milhões de habitantes. Enquanto nos países mais inovadores as empresas respondem por pelo menos dois terços dos gastos em P&D, no Brasil sua contribuição é de apenas 36% do total. Ou seja, o Brasil já sabe fazer ciência, mas ainda não aprendeu a transformá-la em crescimento econômico.

Para Chaves, além de ações governamentais, como renúncias fiscais, incentivos à internacionalização de tecnologia e atuação direta do Estado no desenvolvimento tecnológico, também é fundamental investir em educação. “Para nos adaptarmos ao mercado empregador, temos formado poucos cientistas aptos para atuar em empresas e poucos engenheiros pesquisadores. No caso da física, mais da metade dos profissionais é téorico, enquanto no mundo desenvolvido pelo menos dois terços dos físicos são experimentais. Temos de aumentar o número de físicos experimentais, sem reduzir os físicos teóricos.”

Na visão de Sérgio Paulino, pesquisador do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), a ausência de um sistema efetivo de patentes no país está diretamente ligada ao próprio histórico da indústria brasileira. A mesma se desenvolveu com facilidades de acesso à tecnologia externa, barateada por uma política cambial para reduzir os custos de bens de capital e tecnologia. “Neste contexto, a dinâmica e competitividade da indústria nacional ligaram-se aos mecanismos de proteção e baixos salários, o que se modificou com a abertura econômica dos anos 90, quando as empresas, defasadas em tecnologia, precisaram fazer frente à concorrência de produtos contemporâneos. A alternativa foi aprofundar a incorporação de tecnologia externa, ampliando a participação de componentes não-nacionais nos produtos brasileiros”, explica Paulino.

O pesquisador concorda com Chaves no que diz respeito à concentração da capacidade de pesquisa nas universidades e institutos públicos de pesquisa, ao contrário do que acontece nos países desenvolvidos, onde as próprias empresas criaram, com apoio do setor público, capacidade de realizar P&D. “No Brasil, isso não acontece. É preciso, via política industrial e de inovação, induzir um processo de mutação dos traços genéticos da indústria brasileira a fim de transformar a capacidade de inovação em força motriz do desenvolvimento econômico sustentável”, conclui.

Abelhas desaparecem das colméias nos Estados Unidos

Até agora, a ciência não apontou a causa do sumiço das abelhas. Há apenas uma série de especulações, umas mais plausíveis que outras, mas nenhuma definitiva. Diversas causas aparentes dificultam a solução do problema, que pode provocar prejuízos bilionários.

“Adeus e obrigado pelos peixes!” Essa foi a mensagem deixada pelos golfinhos ao desaparecerem do planeta na comédia literária do inglês Douglas Adams. A obra, parte da série “O Guia do Mochileiro das Galáxias”, narra o desaparecimento súbito da espécie, que teria abandonado o planeta ao descobrir que ele seria destruído. Em proporções reduzidas, ainda que impressionantes, a vida imitou a arte nos Estados Unidos. Este ano, apicultores norte-americanos de 22 estados ficaram sem a maior parte da sua criação, sendo que alguns perderam quase todas as suas abelhas. Colméias quase vazias com pouquíssimos insetos adultos eram a única pista deixada pelo mal que foi batizado de CCD (algo como Distúrbio do Colapso das Colônias, em inglês). O problema foi detectado pela primeira vez no fim do ano passado e já foi encontrado também na Europa.

Até agora, a ciência não apontou a causa do problema. Há apenas uma série de especulações, umas mais plausíveis que outras, mas nenhuma definitiva. Determinar uma doença ou parasita como causa do CCD, por exemplo, tem sido uma das tarefas mais difíceis dos especialistas. Isso porque as abelhas sofrem de um grande número de patologias. Uma infecção viral que causa diarréia, um ácaro que se instala no sistema respiratório, e até bactérias e fungos que provocam sintomas diversos em pupas (estágio posterior ao de larvas) e em abelhas adultas foram algumas das possíveis causas apontadas, mas que não conseguem explicar todo o problema. A ausência de corpos de insetos e de vestígios de parasitas nas colméias abandonadas complicam ainda mais.

Com tantos inimigos naturais, seria normal que entrassem para a lista de suspeitos os pesticidas aplicados pelos apicultores em suas criações. O Amitraz, por exemplo, é a terceira geração de um pesticida usado para combater o V.destructor, um pequeno besouro que se disseminou por todos os Estados Unidos. A praga desenvolveu resistência aos seus dois antecessores, e os efeitos do Amitraz ainda não são conhecidos. Benjamin Oldroyd, pesquisador do Laboratório de Comportamento Social e Genética de Insetos da Universidade de Sidnei, na Austrália, aponta que até os apicultores que optam por controles mais “orgânicos”, como a fumigação por ácido fólico, por exemplo, correm o risco de ter uma ação menos eficaz contra o parasita e ainda produzir um efeito mais tóxico sobre as abelhas.

Outro vilão sob suspeita são os defensivos químicos das lavouras. A produção agrícola norte-americana é quase totalmente dependente de compostos que são modificados constantemente, a fim de vencer a resistência desenvolvida pelas pragas. Novos produtos químicos significam novos efeitos colaterais. O geneticista norte-americano David de Jong, do Departamento de Genética da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, tem experiência nesse tipo de ação química. Especialista em abelhas, Jong presenciou um caso de mortalidade em massa desses insetos causada por defensivos agrícolas durante os anos 1970 nos Estados Unidos. Na época, como pesquisador da Universidade de Cornell, em Nova York, Jong foi incumbido pelo governo do seu país de treinar os técnicos federais que deveriam avaliar as colméias vazias. Caso a mortalidade tivesse sido causada realmente pelos defensivos das lavouras, o apicultor teria direito a uma indenização do governo.

O pesquisador explica como se faz a avaliação da colméia vazia: “Quando o inseticida é mais fraco, a abelha volta à colméia, mas acaba matando as abelhas mais novas, que não têm resistência ao produto. Com pesticidas mais fortes, o inseto morre no campo e nem volta para a colméia, mas as abelhas jovens ainda têm que estar lá”, esclarece. Este segundo caso se aproxima do CCD, mas nada se provou até o momento. “Os inseticidas estão ficando cada vez mais tóxicos para os insetos e menos nocivos para as pessoas”, alerta Jong. O especialista em patologia apícola Dejair Message, da Universidade Federal de Viçoca (MG), descobriu que doses subletais de inseticidas podem causar desorientação nas abelhas e impedir o seu retorno à colônia, o que pode ser outro sintoma do CCD.

As plantações geneticamente modificadas ou transgênicas têm sido o alvo preferido dos ambientalistas para receber a culpa pelo sumiço das abelhas, mas poucas evidências corroboram essa tese. A suspeita recaiu sobre plantações trasngênicas norte-americanas de soja, algodão e milho que tiveram seus genomas modificados a fim de desenvolver uma proteína com fortes propriedades inseticidas. Oldroyd acha difícil que essa proteína possa representar uma ameaça às abelhas e derruba a suposição citando o estado de Illinois, onde as lavouras transgênicas ocupam áreas enormes e não há nenhum caso de CCD registrado por lá.

Há ainda os problemas de manejo que têm colocado os insetos em situações extremas de estresse. Com a queda do valor de mercado do mel, muitos apicultores têm encontrado outras fontes de renda, entre elas, o aluguel das colônias para a polinização de plantações. As amendoeiras, por exemplo, dependem 100% das abelhas para serem polinizadas. Retirar as colméias de seu local de origem e transportá-las em caminhões gera problemas de umidade, falta de espaço, doenças causadas por confinamento e dificuldade de adaptação ao novo horário climático, o popular “jetlag” dos humanos.

Além dessas possíveis causas, Oldroyd cita também o problema do resfriamento do ninho. De maneira surpreendente, as abelhas mantêm a temperatura de suas ninhadas a 34,5º.C, com uma variação de apenas 0,5º.C. Uma incubação fora dessa estreita faixa gera abelhas aparentemente saudáveis, segundo o especialista australiano, mas que apresentam deficiências de aprendizado e memória. Oldroyd acredita que criando em laboratório colônias em temperaturas ideais e outras com temperaturas abaixo do ideal, os sintomas do CCD aparecerão nessas últimas. Contudo, o pesquisador vê o problema como uma síndrome causada por múltiplos fatores e não por um causador isolado.

Mesmo sem conhecer exatamente as causas do CCD é possível dimensionar seus efeitos que vão muito além da falta de mel e dos demais produtos apícolas. No ano 2000, as plantações polinizadas por abelhas nos Estados Unidos representavam 14,6 bilhões de dólares e o prejuízo ambiental pode ir muito além dos números. “Aqui no Brasil, as abelhas são responsáveis por 90% da polinização da Mata Atlântica, por exemplo” explica o biólogo especialista em abelhas José Benedito Balestieri, da Universidade Federal da Grande Dourados, em Mato Grosso do Sul. “O desaparecimento das abelhas por aqui causaria também o desaparecimento de vegetações importantes e com elas, as várias espécies que nelas vivem”, completa.

Pesquisadores sugerem plano de ação contra o aquecimento global

Visando combater problemas que afetam a geração de energia, agricultura e a vida no planeta, o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC) acaba de apresentar propostas para o Plano de Ação de Enfrentamento das Mudanças Climáticas, que está em elaboração pelo governo federal.

Visando combater problemas que afetam a geração de energia, agricultura e a vida no planeta, o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC) acaba de apresentar propostas para o Plano de Ação de Enfrentamento das Mudanças Climáticas, que está em elaboração pelo governo federal.

O objetivo do Plano é organizar, em esfera nacional, todas as ações referentes às questões do Aquecimento Global e seus desdobramentos sociais, econômicos e ambientais, promovidas pelo governo brasileiro, além de propor iniciativas coordenadas com as já existentes e que somem esforços para reduzir o impacto das mudanças climáticas.

Nomeado como secretário executivo do FBMC, Luis Pinguelli Rosa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, reuniu-se com pesquisadores de instituições governamentais, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e órgãos como o Greenpeace para debater a estruturação do plano e sugerir medidas de incentivo à produção renovável de bens de consumo, redução da emissão de gases e adaptação às mudanças no clima, que parecem ser inevitáveis em um futuro próximo.

A proposta, organizada em três eixos, orienta as atividades governamentais, a criação de rede nacional de pesquisa sobre clima e a fundação de um órgão nacional de políticas climáticas. Inclui metas para reduzir o desmatamento, taxação diferenciada para veículos, segundo o nível de consumo, e consolidação do programa de biocombustíveis. Outras sugestões são a contabilização oficial das emissões evitadas, o estabelecimento de índices mínimos de eficiência energética para automóveis, a aceleração do reflorestamento das áreas de preservação permanente e o estímulo à energia renovável.

Para Pinguelli Rosa, o maior problema ambiental brasileiro é o desmatamento. “O governo reduziu o desmatamento nos últimos dois anos – constata ele – mas não basta. Precisa diminuir mais”. As duas grandes emissões de gases no país (gás carbônico e metano) são conseqüências do desmatamento praticado pelos setores energético e agropecuário, devido à mudança do uso da terra da floresta amazônica e devastação do cerrado. O segundo maior desafio apontado pelo pesquisador é o consumo de energia. “Aumentamos o uso de carvão mineral na geração elétrica, o que é negativo, já que estamos saindo da hidroeletricidade”, afirmou.

Antes de chegar ao governo, a proposta do Fórum terá um longo caminho a percorrer, passando pelos ministérios de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia, Relações Exteriores, Minas e Energia e Casa Civil. “Estamos buscando estímulo à pesquisa, financiamento para professores, pesquisadores e estudantes que se dedicam às mudanças climáticas e ambientais. As propostas estão aí, agora o governo decide o que pode ou não ser feito”, concluiu Pingueli Rosa.

Especialistas debatem abordagem da mídia sobre mudanças climáticas

Em meio à mobilização de diversas entidades brasileiras no combate ao aquecimento global, a Unicamp sediou em junho, um Fórum Permanente com o tema Mudanças Climáticas e Mídia. Especialistas em meio ambiente e jornalistas científicos discutiram como os veículos de comunicação, sejam eles jornais, revistas, televisão ou internet, estão abordando os fenômenos climáticos e informando a população sobre as últimas pesquisas na área. Entre os presentes no encontro, divergiram as opiniões sobre o assunto, mas de modo geral, analisou-se bastante o jornalismo de ciência no país.

Para Carlos Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e autoridade científica brasileira em clima, a mídia está cobrindo o tema mudanças climáticas com equilíbrio: “Embora com muita intensidade, a imprensa está agindo com menos sensacionalismo e tons de tragédia. Acho que o público está tendo acesso a informações com equilíbrio e veracidade”, afirma Nobre.

No entanto, segundo Eduardo Viola, da Universidade Nacional de Brasília, a relação entre cientistas da área e jornalistas é de grande complexidade. “Não se pode dizer que houve grande avanço na cobertura jornalística sobre o tema. No caso do Brasil, que procura acompanhar todos os acontecimentos mundiais, a comunicação é satisfatória, mas enfrenta um grande problema, que é o baixo nível cultural do público”.

Para Viola, a informação sobre mudanças climáticas ocupa dois planos, o da climatologia e a área de economia política mundial. “Posso afirmar, com toda certeza, que a mídia aborda com mais freqüência assuntos ligados à climatologia. Isso porque muitos jornalistas que cobrem ciência têm dificuldade em lidar com contextos qualitativos. Falar sobre economia e política requer uma formação social mais aprofundada”, alerta.

De acordo com Jurandir Zullo Jr., coordenador do Centro de Pesquisa e Ensino em Agricultura (Cepagri) da Unicamp, o jornalista assume papel fundamental no discernimento do público em relações às notícias de ciência e tecnologia: “Mudanças climáticas e aquecimento global são temas que geraram muitas divergências dentro da comunidade científica. É preciso saber diferenciar o que é meramente opinativo do que é baseado em reflexões e observações científicas. Esse é o maior desafio dos divulgadores”, afirma.

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Fórum Nacional de Mudanças Climáticas