NEPO debate reformulação do censo de 2010

Que motivações levam uma pessoa a migrar? Qual é sua trajetória e história de vida? Estas e outras questões foram levantadas no V Encontro Nacional Sobre Migrações, que aconteceu em meados de outubro durante Ciclo de Debates organizado pelo Nepo da Unicamp.

Que motivações levam uma pessoa a migrar? Qual é sua trajetória e história de vida? Estas e outras questões foram levantadas no V Encontro Nacional Sobre Migrações, que aconteceu em meados de outubro, durante o Ciclo de Debates que comemora os 25 anos do Núcleo de Estudos da População (NEPO) da Unicamp.

Além dos pesquisadores do Nepo e de outros centros de pesquisa, estiveram presentes representantes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dentre eles, Alicia Bercovich. De acordo com a pesquisadora, três variáveis estão sendo revistas para o próximo censo: a migração interna e internacional, as populações indígenas e questões relativas a pessoas com deficiências.

Embora o censo demográfico sozinho não seja suficiente para responder muitas perguntas sobre a sociedade em que vivemos, de acordo com José Marcos Pinto da Cunha, pesquisador do NEPO, seria desejável que o censo de 2010 pudesse abranger algumas informações que ajudassem a respondê-las. Entre elas, o tempo de residência no atual domicílio, a atividade econômica na residência anterior para os migrantes, a emigração internacional, a mobilidade inter e intra urbana, ou as redes sociais de relacionamento, enfim, quesitos que permitam captar o movimento da pessoa.

Ainda segundo o pesquisador do NEPO, o censo é fonte de dados para diferentes pesquisadores, como geógrafos, economistas, sociólogos e demógrafos e por isso ele deve ser exaustivamente explorado. Deve-se investir no censo pois, por um lado, ele pode apresentar características gerais e apontar tendências; por outro, ele é a principal e mais completa fonte de dados sobre os movimentos migratórios no país, já que além de haver falta de outras fontes alternativas de obtenção de dados, há pouco financiamento para pesquisas específicas.

Para Cunha, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) reproduz o censo, mas sem a informação de representatividade municipal e sem avançar. “O IBGE – diz ele – precisa se conscientizar de que o censo é fundamental e deve ter informações mais abrangentes, mesmo sabendo que ele tem um conjunto de fragilidades que são intrínsecas à sua natureza”.

A migração pendular

Uma das questões discutidas no Encontro, e que de acordo com os pesquisadores deve ser revista para o censo 2010, é a migração pendular. Por definição, migrante pendular abrange a pessoa que se desloca para outro município diferente do de residência por um período de um dia a uma semana. Marley Deschamps, do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES), apontou que a possibilidade de captar o movimento pendular da população foi possível quando o censo obteve informações sobre o local de residência dos indivíduos e o respectivo local de trabalho e/ou estudo nos Censos de 1980 e 2000 – o que não foi feito no Censo de 1991.

Ela afirma que a captação destes dados possibilita o cruzamento de informações sobre o movimento pendular e as demais características da população recenseada, como a escolaridade, a renda, o tipo de atividade, e os diferentes espaços de origem e destino. Deschamps ainda sinaliza as limitações do censo: “A informação censitária não permite, contudo, uma análise sobre a duração do percurso nem os meios de transportes utilizados”.

Cunha destaca que é importante contextualizar o fenômeno da pendularidade pois, sozinho, tem pouca autonomia como objeto de estudos. Por isso, é necessário comparar este fenômeno com, por exemplo, a “migração de retorno”. Do mesmo modo, Antonio Jardim, pesquisador do IBGE, aponta que a migração pendular, por ser um fenômeno complexo, está relacionado com as diferentes mobilidades espaciais da população, como: as migrações intra e inter regionais, as migrações cotidianas, a permanência no local de destino e os custos do deslocamento.

Ainda de acordo com Jardim, a definição tradicional de migrações pendulares que a vincula essencialmente ao mercado de trabalho e educacional, “produz modelos explicativos macroeconômicos e/ou sociológicos que não dão conta da realidade em sua totalidade; ao mesmo tempo, reduz os deslocamentos do local de residência ao local de trabalho excluindo as outras dimensões do cotidiano da população”. Antonio Tadeu Ribeiro de Carvalho, também do IBGE, apresentou visão semelhante: “a pendularidade vai além de trabalho e estudo. Minha proposta é criar sub-grupos para pensar o tema e apresentar propostas ao IBGE”.

Para Neide Patarra, pesquisadora do NEPO, é preciso tomar cuidado, no entanto, para não se usar o conceito da pendularidade para tentar esclarecer fenômenos que não podem ser explicados dessa forma, colocando nesta dimensão respostas a outras questões, como a temporalização, os espaços emergentes, as novas configurações.

Para a pesquisadora é preciso voltar à relação da habitação com o trabalho, porque se o conceito for expandido para qualquer tipo de deslocamento, ele acabará sendo diluído. “Nós precisamos aproveitar sim a abertura que o IBGE está nos dando, afirma a pesquisadora, mas precisamos cuidar sobre o tipo de fenômeno que estamos querendo resgatar, para que possamos avançar na problemática”.

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Ressonância Magnética Nuclear ajuda a entender a atuação de analgésicos

Graças à ressonância nuclear magnética (RNM), mais conhecida do público por suas aplicações na medicina, pesquisadores estão conhecendo melhor a forma como as proteínas atuam no nosso organismo. Conhecê-las melhor pode ajudar, por exemplo, a aumentar a eficácia dos analgésicos locais.

Um trabalho realizado na Unicamp e inédito na área estuda como certos analgésicos locais atuam no nosso organismo. As análises usam técnicas de Ressonância Magnética Nuclear (RMN) bidimensionais e de detecção de sinais de longa distância. A chave para compreender os processos biológicos está nos fenômenos físico-químicos que aparecem quando as enzimas, que são proteínas mensageiras, interagem com as proteínas receptoras. O trabalho está sendo realizado por Luis Fernando Cabeça, doutorando do Instituto de Química da Unicamp, e tem a participação da bióloga, Eneida de Paula, do Instituto de Biologia da Unicamp.

Desde 2003, a equipe da química Anita Jocelyne Marsaioli, pesquisadora do Instituto de Química da Unicamp e especialista em química orgânica, trabalha com RMN aplicada às macromoléculas. Os procedimentos visam monitorar interações entre as proteínas das células e moléculas mensageiras, chamadas “ligantes”. A espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear Avançada consegue detectar sinais específicos que as moléculas emitem durante os processos fisiológicos do corpo humano. Outra vantagem desta tecnologia é que ela consegue apontar a enzima que o pesquisador pretende observar em meio a uma grande mistura de compostos. Então é feito um mapeamento de seus deslocamentos e no final se chega a um modelo de atuação para aquela enzima.

Uma segunda fase do projeto visa entender agora a promiscuidade das ações enzimáticas, isto é, como é que uma mesma enzima teria funções diferentes de acordo com a necessidade do processo. Essa parte da pesquisa está sob a responsabilidade da Cíntia Duarte de Freitas Milagres, que é farmacêutica especializada em biocatálise, e do mestrando Lucas Gelain. Para tanto, segundo Milagres, são utilizadas triagens de alto desempenho, isso porque o monitoramento lida com até dez mil microorganismos ou enzimas por dia. Por isso, esse processo gera um volume muito grande de dados que necessitam ser avaliados.

IPT mede a poluição emitida pelos ônibus urbanos

O IPT avaliou a eficiência dos recursos tecnológicos de redução da emissão de poluentes já em uso nos ônibus urbanos. A SPTrans, a Fundação Hewlett, o ISSRC, órgãos do governo e diversas empresas colaboraram com os testes

O ar das grandes cidades contém muito mais do que gases de efeito estufa (GEE), responsáveis pelo aquecimento global. Em uma metrópole, quando você respira, inala os chamados gases tóxicos, alguns deles até cancerígenos, como é o caso do benzopireno. Grande parte dessa contaminação do ar é causada pelos veículos movidos a óleo diesel. De olho no problema, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT) testou a eficiência das tecnologias desenvolvidas para reduzir a poluição produzida pelos ônibus em circulação.

O método dos testes aplicados pelo IPT foi inédito. No Brasil, a legislação determina que as emissões por veículos pesados sejam avaliadas em laboratório através do dinamômetro de motor, um equipamento que simula as condições de carga enfrentadas no trânsito. O IPT, porém, avaliou os ônibus embarcados e em circulação, simulando até mesmo o perfil de emissão dos veículos em um congestionamento. Os testes foram executados no Expresso Tiradentes e na pista que dá acesso ao Parque Ecológico do Tietê, em São Paulo.

Movido pela energia elétrica gerada por um motor diesel, o ônibus híbrido consome menos óleo diesel e emite menos poluição. No modelo testado – único disponível no mercado nacional – a redução das emissões de poluentes foi menor do que se esperava. Segundo o engenheiro Silvio Figueiredo, pesquisador do IPT, deve-se levar em conta que esses veículos utilizam uma tecnologia em desenvolvimento, de poucos anos, que precisa ser trabalhada. Mais caros que os convencionais, os ônibus híbridos são projetados para consumir menos combustível, o que sugere sua adoção seja compensadora em longo prazo.

Outro modelo avaliado foi o motor a gás. Importado da Europa, o ônibus a gás testado é um EEV (Enhanced Environmentally Friendly Vehicle), um veículo cuja emissão é excepcionalmente compatível com o meio ambiente. Contudo, em termos energéticos, ele consumiu mais do que os veículos a diesel.

A equipe também avaliou medidas urbanas de redução de emissão. Ao evitar engarrafamento, os corredores de ônibus provaram que reduzem o consumo de combustível e a emissão de poluentes. Segundo Figueiredo, no corredor Expresso Tiradentes, a emissão caiu pela metade, mas, por outro lado, o custo dessa solução é muito elevado.

Os testes constataram a eficiência do óleo diesel com baixo teor de enxofre na redução das emissões de material particulado, isto é, partículas sólidas e líquidas muito pequenas que ficam suspensas na atmosfera, como a fumaça. “O óleo diesel com baixo teor de enxofre pode ainda viabilizar soluções mais sofisticadas de sistemas de pós-tratamento (catalisadores)”, lembra Figueiredo, esclarecendo que esses sistemas “exigem que o combustível tenha baixo teor de enxofre”. Os catalisadores – de maneira geral, eficientes conforme os testes do IPT – são instalados em veículos novos ou em circulação para reduzir a emissão.

Participaram dos testes a SPTrans, a Fundação Hewlett e a International Sustainable Systems Research Center (ISSRC) dos Estados Unidos, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB), a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU) e as secretarias estadual e municipal de meio ambiente. Diante dos resultados, Figueiredo explica que a escolha e a adoção dessas tecnologias dependem de novas avaliações que identifiquem aquelas que, atendendo aos limites impostos legalmente, apresentem maiores vantagens em termos de eficácia, custo e benefício.