Consumo de maconha pode afetar o raciocínio

Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul sugere que a maconha compromete a capacidade de solucionar problemas em adolescentes usuários

De inofensiva, a maconha não tem nada. Associada à repetência e à evasão escolar, a droga pode comprometer a capacidade de solucionar problemas em adolescentes usuários. É o que concluiu uma pesquisa realizada por pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul, segundo artigo publicado na revista científica Psicologia em Estudo. [http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-73722007000200007&lng=pt&nrm=isso]

Os pesquisadores utilizaram instrumentos para avaliar o desempenho de 60 adolescentes do sexo masculino, com idades entre 14 e 17 anos e níveis socioeconômicos equiparados, cuja escolaridade mínima era a 5a. série do Ensino Fundamental. Metade desses jovens era usuária de maconha. Conforme o artigo, os usuários da droga tiveram um desempenho inferior em testes que avaliaram a percepção visual e sobretudo nos que analisaram a capacidade de solucionar problemas, sugerindo que a maconha pode afetar o funcionamento neuropsicológico.

O estudo constatou também que a maior parte dos usuários da droga possuía o Ensino Fundamental incompleto, seja por evasão escolar ou por diversas repetências, enquanto a maioria dos não usuários possuía o Ensino Fundamental completo e estava cursando o Ensino Médio. Os usuários analisados na pesquisa iniciaram o consumo por volta dos 13 anos e meio de idade.

A maconha é a droga ilícita mais experimentada no Brasil e seu uso é freqüente entre os jovens, como confirmou o último Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil. Realizado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) em 2005, o documento estimou que o uso ocorre já em idades de 12 e 17 anos e atinge um pico para os dois sexos entre 18 a 24 anos.

E por que tantos jovens fazem uso da maconha? Para uma das autoras do estudo, a psicóloga clínica e psicanalista Maisa Rigoni, razões não faltam. Ela explica que o uso de maconha e de outras drogas está associado à busca do prazer que elas provocam ao ativar circuitos neurológicos. “Também há a identificação com os pares, na busca pela integração e aceitação social”, diz Maisa.

A psicóloga diz ainda que alguns jovens se sentem onipotentes, isto é, “pensam que com eles nada acontecerá e que podem ter total domínio da situação”, revela a pesquisadora. Por outro lado, ela considera que existe uma desinformação geral por parte da sociedade quanto aos efeitos da maconha e seus prejuízos, principalmente no que se refere às funções cognitivas – atenção, memória, concentração, percepção visual, etc.

Precisamos fazer a informação circular, diz Maisa. “Esta circulação precisa ser feita em massa, como por exemplo, as campanhas em relação ao HIV. É preciso que se mostrem os malefícios de maneira clara para a população em geral”.

Segundo a psicóloga, pais ou responsáveis devem encaminhar os adolescentes usuários para tratamento e se mostrar dispostos a conversar sobre o problema. “Também podem procurar algum profissional para auxiliá-los a conversar com seus filhos”, diz Maisa. “Os pais ou responsáveis precisam estar atentos aos jovens, saberem onde estão, com quem, o que pensam a respeito das coisas, precisam estar abertos para escutar e não somente criticar”.

A psicóloga se diz contrária à legalização da maconha. “Não é legalizando que se evitarão novos dependentes de maconha ou mesmo se fará com que os jovens parem de consumi-la”, acredita ela. “O álcool está aí para comprovar que, mesmo sendo uma substância lícita, segue gerando dependentes, com conseqüentes prejuízos sociais, afetivos e funcionais, quadro este semelhante ao vivenciado por dependentes de maconha”.

Morcegos ajudam a reflorestar áreas degradadas

Os morcegos, que por muitos anos foram vilões de histórias de terror, podem se tornar heróis da conservação ambiental nos dias de hoje. Isso é o que aponta um estudo iniciado em 2000 e realizado por um grupo de pesquisadores da Unesp e da Embrapa, que estão usando estes mamíferos para auxiliar no reflorestamento de áreas degradadas.

Os morcegos, que por muitos anos foram vilões de histórias de terror, podem se tornar heróis da conservação ambiental nos dias de hoje. Isso é o que aponta um estudo iniciado em 2000 e realizado por um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que estão usando estes mamíferos para auxiliar no reflorestamento de áreas degradadas. Os animais utilizados no estudo se alimentam de frutos e espalham sementes de várias espécies vegetais ao defecar durante o vôo, o que ajuda a manter as características da vegetação original da região que percorrem.

Segundo a pesquisa, estes animais mantém estreitas relações com alguns grupos de plantas e têm no olfato um dos principais sentidos para localizar seu alimento, que são frutos maduros. A partir daí, o grupo de pesquisadores imaginou que poderia aproveitar esses conhecimentos para atrair esses importantes dispersores para as áreas degradadas.

“Os morcegos frugívoros – que se alimentam de frutos e dispersam sementes – são reconhecidamente um dos grupos mais importantes de dispersores de espécies florestais, defecando sementes em amplas áreas, já que realizam amplos deslocamentos, inclusive sobre áreas desprovidas de vegetação”, explica Sandra Bos Mikich, pesquisadora da Embrapa Florestas, instituição coordenadora e financiadora do estudo. Mikich, junto com Gledson Vigiano Bianconi, doutorando em Zoologia no Instituto de Biociências da Unesp, e Maria Lucia Ferreira Simeone, química também da Embrapa Florestas, formam a equipe principal do projeto, que planejou a técnica de dispersão de sementes.

A técnica simples e inusitada pode acelerar e direcionar a recuperação de áreas desflorestadas. O resultado pretendido é um replantio mais completo, que mantém as características do ambiente a ser reconstituído, com espécies variadas encontradas na região a ser recuperada. Isso não ocorre no plantio tradicional, pois as mudas das espécies típicas dessas regiões são limitadas, e muitas vezes acabam ficando de fora do reflorestamento.

Os locais escolhidos para o estudo são as regiões sul da Mata Atlântica e central da Floresta Amazônica, especialmente áreas ocupadas por atividades agrícolas e pastagens que precisam ser convertidas em florestas novamente para atender à legislação ambiental. O desempenho desses novos “agentes ambientais” é monitorado e analisado por botânicos da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Para atrair os morcegos nas áreas desejadas e, deste modo, fazer com que cumpram a função pretendida, o grupo de pesquisa utilizou óleos essenciais – compostos que conferem odor – extraídos dos frutos que os morcegos consomem. A pesquisa já provou que o método é eficiente: “Os óleos essenciais podem atrair os morcegos dispersores de sementes tanto no interior de remanescentes florestais, onde há alimento para eles, quanto em áreas totalmente desprovidas de vegetação”, declara Mikich. “Nesse último caso, eles ficam ’procurando’ o suposto alimento (enganados pelo odor) e, com isso, aumenta a probabilidade de defecarem sementes no local a ser recuperado, já que a passagem das sementes pelo tubo digestivo dos morcegos costuma ser rápida (de 20 a 30 minutos)”, conclui.

Impacto

Apesar da técnica ainda não estar totalmente desenvolvida, é possível fazer uma previsão de seu impacto. Economicamente, haverá uma grande redução dos gastos na recuperação de florestas degradadas, já que hoje normalmente essas áreas são recuperadas com o plantio de mudas, que apresentam um custo considerável, seja para o produtor rural, seja para o governo, que subsidia muitos dos viveiros de mudas utilizadas no reflorestamento.

No entanto, o maior impacto será ambiental, pois as sementes dispersas pelos morcegos são exatamente aquelas que ocorrem na região a ser reconstituída, permitindo a recuperação dessas áreas não apenas na sua função – cobertura de solo, proteção de rios e mananciais -, mas também na sua forma, ou seja, na composição e relação entre as espécies semelhantes à original.

Os resultados obtidos até o momento mostram que os pesquisadores estão no caminho certo, mas ainda há uma longa estrada a percorrer, e muitos desafios a enfrentar. “Um dos maiores desafios é, como sempre, a falta de recursos. Somente em dezembro último conseguimos adquirir um equipamento indispensável para realizar a análise dos óleos essenciais extraídos dos frutos. Essas análises são fundamentais para seguir aprimorando a técnica, já que hoje ela não é viável em larga escala”, diz Mikich. Além disso, existem outros problemas a serem resolvidos. Algumas áreas recebem uma quantidade grande de sementes, mas problemas no solo, ou ainda outras causas, impedem a germinação e o estabelecimentos da vegetação. Nesse caso, é preciso corrigir essa situação para que a técnica possa ser empregada.

O próximo passo da pesquisa é tornar a técnica viável em larga escala. Para isso, é preciso que sejam feitos estudos adicionais sobre os óleos essenciais. Para não ter que coletar frutos na floresta e então extrair o óleo – o que dificulta e atrasa o estudo – o grupo pretende identificar os componentes responsáveis pela atração dos morcegos, realizando inclusive testes em cativeiro, e sintetizá-los em laboratório, para assim utilizá-los em mais localidades e ampliar o alcance da pesquisa.

Pesquisa identifica desertificação na nascente do rio Araguaia

Areais de até 367 quilômetros quadrados indicam o crescimento da desertificação na região da bacia do Araguaia. O pasto e a soja estão entre os culpados pelo problema que está sendo estudado por pesquisadores da Universidade Federal de Goiás.

Um trabalho da Universidade Federal de Goiás (UFG) acompanha há mais de uma década o processo de desertificação na parte sul da Alta Bacia do Rio Araguaia, situada na entre os estados de Goiás e Mato Grosso, e mostra que o problema vem aumentando. Os principais vilões são a monocultura da soja e a formação de pastos para a criação de gado que extinguem a vegetação nativa.

A geógrafa Rosane Amaral Alves da Silva, especialista em erosão e desertificação de solos do Laboratório de Geologia e Geografia Física (Labogef) participa do projeto e explica como a desertificação está ocorrendo. “Com o tempo essas áreas são abandonadas e, com a remoção da cobertura vegetal, se transformam em areia pura”, diz Silva. O grupo de pesquisa é coordenado pela geógrafa Selma Simões de Castro, também do Labogef, unidade pertencente ao Instituto de Estudos Sócio-Ambientais da UFG. Castro é especialista em estudo de solos e coordenadora geral das pesquisas sobre desertificação no Cerrado e no estado de Goiás.

O período focado por Silva em seu estudo na nascente do rio Araguaia coincide com o aumento da produção de soja na região, atividade que, segundo a pesquisadora, pode ajudar a acelerar o aquecimento global. A geógrafa conta que nas fotos aéreas de 1965 e nas imagens de satélite entre 1970 e 1980, não há nenhum areal visível, o que permite afirmar que o processo de desertificação teve início no fim da década de 80 e se prolongou durante a década de 1990. Porém, imagens de satélite mais recentes de 2000, 2003 e 2005, já mostram areais de até 367 km2 indicando, portanto, processo de desertificação. Para medir a velocidade do fenômeno, as pesquisadoras usaram imagens do CBERS, satélite sino-brasileiro, e do norte-americano Landsat. São feitas também perícias nos locais afetados para dimensionar os problemas ambientais.

As análises das imagens mostram a formação de grandes areais esbranquiçados, de areias soltas, progressivamente estéreis, ou seja, de difícil sobrevivência para as plantas, mesmo das pastagens. As pesquisadoras afirmam que o processo também forma grandes voçorocas (erosões que rasgam a terra até atingirem o nível freático) e logo após vem o assoreamento do rio. A enxurrada e os caminhos subsuperficias das águas infiltradas arrastam a areia solta para dentro dos rios e encostas trazendo graves conseqüências para o meio ambiente. Além disso, a degradação do solo aumenta a área improdutiva, agravando o problema de produção de alimentos.

Silva afirma que para evitar a desertificação seria necessário, além de divulgar as áreas que estão sendo afetadas e as possíveis causas, fazer também um trabalho de conscientização dos agricultores e pecuaristas e incentivar o plantio de vegetação nativa nas áreas arenosas, porque a cobertura vegetal protege o solo contra a erosão e pode contribuir para sua recuperação. “Poucos produtores de soja se preocuparam em fazer a recuperação das áreas danificadas”, diz Silva, “a recuperação dos areais, quando realizada, é feita com replantio de gramíneas, continuando sua destinação para pastagem”.

O impacto da desertificação nas mudanças climáticas do planeta é considerável. Segundo Hama Arba Diallo, ex-secretário-executivo da Convenção Internacional de Luta contra a Desertificação (UNCCD), 4% do total das emissões globais são produzidas em terras secas, como resultado da desertificação e das conseqüentes perdas de vegetação. Isso gera um aumento das emissões de gases causadores do efeito estufa e uma redução da absorção de carbono por falta de vegetação. Esforços de recuperação de terras degradadas através da restauração da vegetação nativa podem ajudar a alcançar rápida e eficazmente resultados combinados para combater a desertificação e o aquecimento global ao mesmo tempo.

De fato, a desertificação não pode ser vista de forma isolada. Em um encontro de cúpula realizado em Lisboa, em dezembro passado, analistas da União Européia admitiram que é preciso usar os progressos de forma unida, para conseguir, ao mesmo tempo, inverter o avanço da desertificação, melhorar as condições micro-climáticas e reduzir a degradação dos solos. Para tanto, segundo o documento feito no encontro, é fundamental, entre outras medidas, “melhorar os conhecimentos em matéria de degradação e desertificação das terras; promover a gestão integrada dos recursos naturais e conservação da diversidade biológica; abordar os problemas da degradação das terras e da aridez crescente de forma a responder às necessidades locais e a tirar partido dos esforços e dos sucessos locais e individuais”.