Pesquisa em Diadema detecta álcool em mais de um quinto dos motoristas

De 908 condutores submetidos ao bafômetro em Diadema, SP, 23,7% apresentaram algum traço de álcool no ar expirado. Em 19,4% deles, os níveis eram iguais ou superiores aos permitidos por lei, segundo pesquisa da Unidade de Pesquisa em Álcool e outras Drogas (UNIAD) da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).

O teste foi simples: 908 motoristas foram parados e convidados a assoprar no aparelho que indica o teor de álcool no organismo, o famoso bafômetro. Os resultados foram alarmantes: 23,7% dos analisados apresentou algum traço de álcool, destes, 19,4% estavam com níveis iguais ou acima aos permitidos por lei (0,06 gramas por decilitro de sangue). Para se ter uma idéia, o número de motoristas alcoolizados nessa pesquisa é seis vezes maior do que as médias encontradas em outros países. O trabalho foi realizado pela Unidade de Pesquisa em Álcool e outras Drogas (UNIAD) da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e o local escolhido foi a cidade de Diadema na Grande São Paulo onde foram coletados dados de fevereiro de 2005 a março de 2006, sempre em noites de fins-de-semana.

O trabalho foi publicado em dezembro na Revista de Saúde Pública, cerca de um mês antes de o presidente Lula assinar a medida provisória 415/08, que desde 1 de fevereiro proíbe a venda de bebidas alcoólicas nas rodovias federais. Segundo o Ministério da Saúde, estima-se que 17,5 mil mortes anuais por acidentes de trânsito estão associadas ao consumo de bebidas alcoólicas.

De acordo com o estudo, mesmo pequenas quantidades de álcool, abaixo dos limites legais, aumentam as chances de ocorrerem acidentes. O documento menciona estudos que atribuíram 24% dos acidentes automobilísticos aos motoristas com níveis sangüíneos de álcool entre 0,01 a 0,07 g/dl. Esta proporção eleva-se para 43,5% em motoristas com níveis entre 0,08 a 0,09 g/dl e 91% naqueles com níveis iguais ou superiores a 0,10 g/dl.

O Código Brasileiro de Trânsito só considera infração gravíssima dirigir com níveis sangüíneos de álcool superiores a 0,06 g/dl de sangue. Mas um dos autores do estudo, o clínico especialista em dependência química Sérgio Duailibi, diz que não há níveis seguros para o consumo de álcool ou qualquer droga e condução de veículos. “É certo que, quanto menor a idade (e a capacidade de tolerar o álcool), menores deveriam ser os níveis permitidos – tanto é que para alguns países adotam diferentes limites para os adultos jovens”, acrescenta.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) sugere a redução do limite de alcoolemia (teor de álcool no organismo) permitida para dirigir como uma das ações para reduzir o número de acidentes provocados pelo consumo de bebidas. Mas Duailibi explica que essa recomendação só se aplica aos países que já adotam as medidas legais de fiscalização. “Não é o nosso caso. Teríamos de fazer a lição de casa antes”.Porém o limite de 0,06 não está muito aquém dos outros países”, diz Duailibi. Para ele, o melhor seria adotar a fiscalização com bafômetros e as punições administrativas já estabelecidas no Código Brasileiro de Trânsito.

A pesquisa também mostrou que o bafômetro parece ser a única forma de constatar a embriaguez. Segundo o artigo, 92% dos motoristas com positividade de álcool no bafômetro não apresentavam qualquer sinal visível de intoxicação alcoólica.

Substâncias químicas revelam a relação entre plantas e abelhas

Análises químicas ajudam a descobrir quais espécies de abelhas participam da polinização e quais apenas extraem o óleo floral. A coleta desse líquido é uma importante atividade para vários desses insetos que o utilizam na composição do ninho e como alimento para as larvas. O óleo floral chega a ser oito vezes mais energético do que o pólen.

Ao passar pelas flores em busca de alimento (néctar ou óleo floral), as abelhas ficam com os pêlos de seu corpo impregnados de polén e acabam transportando-o de uma flor para outra. Porém, nem todas as espécies de abelhas que visitam as plantas participam desse importante processo que é a polinização. Foi o que mostrou uma pesquisa realizada no Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas. O trabalho estudou as interações de duas espécies de abelhas, solitária e jataí, com o óleo floral da árvore conhecida como lanterneira da Amazônia (Lophanthera lactescens).

Em sua pesquisa em campo, a química Adriana Pianaro observou que os cachos amarelos da lanterneira eram visitados entre as 11 horas da manhã e às três da tarde por abelhas solitárias (Centris trigonoides). A pesquisadora explica que essa espécie, que não vive em colméias, poliniza a planta ao pousar sobre elas. “Elas se prendem, ou abraçam as pétalas por trás, com auxílio das mandíbulas ficando o ventre em contato com as anteras e os estigmas das flores”, diz Pianaro. O pólen que gruda na barriga do inseto é levado a outras flores realizando a polinização.

No entanto, Pianaro averiguou também que as mesmas flores eram visitadas por um outro tipo de abelha, a jataí. Diferentemente das solitárias, que só aparecem no pico do dia, essa outra espécie vem às plantas durante todo o dia coletando apenas o óleo que escorre pelos cabos das flores. Desse modo, elas não polinizam as flores, segundo Pianaro. “Elas simplesmente coletam os óleos florais sem tocar os estames,” explica a pesquisadora. Essas abelhas oportunistas foram identificadas como abelhas indígenas sociais sem ferrão, que os entomologistas chamam de meliponíneos (Tetragonisca angustula) e são popularmente conhecidas como jataís.

O trabalho de Pianaro consiste em comprovar, através das análises químicas, qual é a composição química do óleo floral e que as abelhas estão visitando as flores para fazer a sua coleta. Para isso ela captura algumas abelhas nas flores e as sacrifica por congelamento. Depois faz uma extração do conteúdo dos seus abdomens com um solvente orgânico apropriado e analisa os extratos das flores e das abelhas em um equipamento chamado cromatógrafo a gás acoplado a espectrômetro de massas, que identifica moléculas através de suas massas e da forma como essas moléculas se fragmentam.

A pesquisadora explica que para fazer a análise ela compara as substâncias químicas identificadas no óleo que é produzido pelas flores da lanterneira com as substâncias do abdômen das abelhas. “Os óleos florais são armazenados em bolsas chamadas de elaióforos epiteliais localizadas na parte de trás das flores e para conseguir uma quantidade de amostra suficiente para a elaboração dos experimentos foi necessária a coleta de 1200 flores”,conta a pesquisadora. A análise dos resultados mostra que a substância majoritária do óleo floral, um hidrocarboneto, aparece nos extratos das abelhas, comprovando as interações abelha-planta e mostrando como é importante relacionar as análises químicas com as observações biológicas. “Existe uma carência muito grande de profissionais com uma visão mais interdisciplinar”, acredita Pianaro.

Pianaro é integrante do grupo de Ecologia Química coordenado pela química Anita Marsaioli. O grupo ainda conta com a parceria da especialista em comportamento de abelhas solitárias, Isabel Alves dos Santos do Departamento de Ecologia da Universidade de São Paulo (USP). Segundo Santos, 80% das espécies de abelhas são solitárias, isto é, não vivem em colméias. “Essas abelhas coletoras de óleos florais são muito especializadas. Os óleos florais são utilizados por elas como alimento larval e na construção de parte de seus ninhos”, diz a pesquisadora. O projeto também recebe contribuições de outros pesquisadores como os botânicos Volker Bittrich e Maria do Carmo Amaral, do Instituto de Biologia da Unicamp, e Rodrigo Singer, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Organismos sintéticos: apostas da biotecnologia preocupam

Na Science de 24 de janeiro foi oficialmente noticiada a construção do genoma completo da bactéria Mycoplasma genitalium. Em nota emitida na mesma data, o ETC Group manifesta sua preocupação: “a notícia abre as portas à construção de perigosos agentes bacterianos”. Apontam ainda que “até agora, os organismos sintetizados são vetores de doenças letais aos humanos”.

A biotecnologia abre outra frente além dos transgênicos: a biologia sintética. Na edição on-line da Science de 24 de janeiro, com o título Complete Chemical Synthesis, Assembly, and Cloning of a Mycoplasma genitalium Genome, foi oficialmente noticiada a construção do genoma completo da bactéria Mycoplasma genitalium. Mesmo sendo a menor bactéria de vida livre, comumente encontrada no trato urinário, abre possibilidades preocupantes nos possíveis rumos que as ciências biológicas poderão tomar. Em nota emitida na mesma data da publicação do artigo na Science, a organização ETC Group, com sede no Canadá, manifesta sua preocupação com a falta de controle das autoridades frente a estes novos avanços tecnológicos: “a notícia abre as portas à construção de perigosos agentes bacterianos”. Ainda nesta nota apontam que “até agora, os organismos sintetizados são vetores de doenças letais aos humanos”.

O que era apenas possibilidade – a transformação de organismos em banco de dados para a reprodução da vida e sua transformação em mercadoria – já está mais próximo de se concretizar. A equipe de pesquisadores, liderada pelo prêmio Nobel Hamilton O. Smith, da empresa de biotecnologia J. Craig Venter Institute, situada na cidade americana de Rockville, descreve como as 582.970 pares de bases do “cromossomo sintético” foram construídas. Vários fragmentos de DNA, previamente encomendados em empresas de biologia molecular dos Estados Unidos e Alemanha, foram “colados” e intercalados com marcadores, uma espécie de made by man, para diferenciar as seqüências sintéticas das seqüências naturais similares. O cromossomo sintético final foi inserido em uma levedura, o conhecido Saccharomyces cerevisia, para completar a sua síntese.

Dentre os pesquisadores da equipe, está John Craig Venter, o fundador do instituto que leva o seu nome e do The Institute for Genomic Research (TIGR). Venter aparece no Time Magazine como uma das 100 mais influentes personalidades do mundo em 2007 e ficou mais conhecido na época que presidiu a empresa Celera Genomics, responsável pelo seqüenciamento do genoma humano. No ano passado, segundo denuncias do ETC Group, o Instituto Craig Venter entrou com um pedido de patenteamento de um “genoma bacteriano mínimo”, que concederia direitos monopólicos exclusivos em mais de 100 países, incluindo o Brasil, sobre um organismo que pode crescer e reproduzir-se, composto por um conjunto de genes “essenciais”.

Daniel G. Gibson, outro membro da equipe, em uma entrevista à revista Scientific American, comentou que este experimento finaliza a 2ª etapa de um plano maior que é a construção de um organismo vivo. Experimentos para a 3ª e última etapa do projeto já se encontram em andamento.

“O último passo é demonstrar que o que eles sintetizaram é biologicamente ativo”, relata à Scientific Americam Eckard Wimmer, um biologista molecular da Stony Brook University, em Long Island, NY, que possui experiência na construção do vírus sintético da poliomielite, o primeiro vírus sintético construído. “Infelizmente, esse passo, que ainda falta ao grupo, é muito crítico”, adverte Wimmer, referindo-se à dificuldade do novo DNA funcionar.

Em 2002, a equipe de Eckard Wimmer construiu um vírus sintético da poliomielite que, quando inoculado em camundongos, provocou a paralisia e morte dos mesmos. Entretanto, estes experimentos não foram considerados o nascimento da “biologia sintética”, pois muitos pesquisadores não consideram os vírus como organismos vivos.

DNA delivery

Chrisopher A. Voigt, da University of Califórnia em São Francisco, em um artigo publicado na Nature Methods de janeiro de 2008, avalia que “a engenharia genética está se tornando uma ‘tecnologia de informação’” e “encomendar uma seqüência de DNA definida está tão fácil quanto encomendar uma pizza”. Ainda para Voigt “a capacidade de se construir um DNA, em vez de copiá-lo, irá permitir a concepção de novos organismos para resolver problemas da indústria, agricultura e medicina”.