Nova espécie pré-histórica é encontrada no Maranhão

O universo de animais pré-históricos tem sido motivo de algumas novidades no Brasil. Enquanto pesquisadores do Maranhão identificaram fósseis da raia espadarte, um espécie até hoje desconhecida; no Rio de Janeiro, pesquisadores apresentaram a menor espécie de pterossauro do planeta, encontrado na China.

O universo de animais pré-históricos tem sido motivo de algumas novidades no Brasil. Enquanto pesquisadores do Maranhão identificaram fósseis da raia espadarte, uma espécie até hoje desconhecida; no Rio de Janeiro, pesquisadores apresentaram a menor espécie de pterossauro do planeta, encontrado na China.

Dois anos após a descoberta dos fósseis, pesquisadores do Maranhão confirmam o reconhecimento de uma nova espécie de animal pré-histórico. Uma forma de raia espadarte, animal marinho com cerca de dois metros de comprimento e alimentação provavelmente baseada em pequenos peixes, habitou o litoral do Maranhão há 95 milhões de anos. “Dentro de dois anos deveremos publicar o nome da nova espécie em artigo científico. O periódico ainda não está definido”, explica Manuel Alfredo Araújo Medeiros, do departamento de biologia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

O pesquisador e a paleontóloga do Centro de Pesquisa de História Natural e Arqueologia do Maranhão (CPHNAM), Agostinha Araújo Pereira, estudaram um conjunto de dentes encontrados na Ilha do Cajual, em Alcântara. À semelhança dos tubarões espadarte, a raia espadarte, grupo que existe até hoje, também possui um prolongamento frontal repleto de dentes, chamado rostrum, utilizado para vasculhar o fundo do mar à procura de alimento ou golpear e empalar pequenos peixes usados em sua dieta. Esta nova espécie de raia possui farpas nos dois lados dos dentes, o que é uma característica nova para as formas extintas. Essa diferença levantou a possibilidade, hoje confirmada, de se tratar de uma nova espécie. A descoberta, ainda pouco divulgada, foi apresentada no congresso de Paleontologia de Búzios (RJ), em outubro de 2007.

Reconstituição da raia espadarte: descoberta de fósseis abre caminho para criação de nova espécie

 

O sítio fossilífero Laje do Coringa, na Ilha do Cajual (MA), é considerado um leito de ossos (bone-bed) de dinossauros e outros animais, com aproximadamente 95 milhões de anos. Ele foi localizado pelo geólogo Francisco Corrêa Martins, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1994, e desde então, mais de 6 mil exemplares fósseis já foram coletados. Hoje, a Ilha do Cajual possui um dos maiores conjuntos de fósseis identificados do país, entre dinossauros, crocodilos, peixes, quelônios e plantas.

Com essas características, a Laje do Coringa é um depósito de fósseis que documentam a fauna de uma época pouco conhecida no Brasil. “A fauna da época, registrada no Maranhão, é muito parecida com a do norte africano da mesma época, o que corrobora a teoria de Deriva Continental, já aceita desde os anos 60”, afirma Medeiros. “De acordo com esta teoria, os continentes sul-americano e africano estiveram unidos até meados da Era Mesozóica, sendo que estruturas geológicas e evidências fosseis são alguns dos elementos que explicam essa conformação”.

A época registrada nos depósitos fossilíferos da Ilha do Cajual corresponde a um período em que os dois continentes já estavam separados, mas ainda muito próximos. No momento, os pesquisadores estão investigando a relação das diferentes espécies, gêneros e famílias no contexto geográfico da época – Período Cretáceo (Última etapa da Era Mesozóica). “Queremos relacionar a fauna cretácea do nordeste brasileiro com a de outras regiões do planeta da mesma época”, explica ele.

Apesar do Maranhão ser um dos estados brasileiros com maior número de fósseis encontrados, segundo Medeiros, ainda há muitas espécies a serem identificadas e poucas pesquisas sendo realizadas. O pesquisador reclama da falta de apoio à pesquisa. “Burocracia e baixos investimentos são os principais problemas”, diz ele. Atualmente, as pesquisas são realizadas em especial com recursos da Petrobras e da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema), que concede bolsas de estudo.

Ainda na Ilha do Cajual, foram encontrados dentes e vértebras que podem pertencer a uma nova espécie de serpente. “O material foi recém-identificado e ainda faltam pelo menos uns três anos de pesquisa para se saber com mais certeza qual tipo de serpente seria”, explica Medeiros. O material foi encontrado por Ronny Anderson Barros, bolsista da equipe de Medeiros, e deve ser tema da sua dissertação de mestrado.

Menor pterossauro

No último dia 11, paleontólogos do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) apresentaram a menor espécie de pterossauro do planeta, o Nemicolopterus crypticus (numa tradução livre do grego, seria algo como “morador alado da floresta”). O fóssil, de apenas 25 centímetros de envergadura, foi localizado em 2004 em Luzhougou, província chinesa de Liaoning, em rochas sedimentares de 120 milhões de anos.

A nova espécie apresenta características nunca antes registradas em outros pterossauros, como garras curvas, que sugerem que ela pertencia a uma linhagem rara, adaptada à vida nas copas das árvores de florestas e à alimentação de insetos.

A partir dos dados da pesquisa realizada com o fóssil, numa parceria entre pesquisadores brasileiros e chineses, foi elaborada uma nova teoria sobre a evolução desse tipo de réptil voador, que se extinguiu há 65 milhões de anos. Segundo a teoria, os grandes pterossauros, cujo principal alimento era peixes, teriam descendido de outros menores, que se alimentavam de insetos e viviam nas copas das árvores.

Um artigo com os achados foi publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. É a primeira vez que a revista, uma das mais conceituadas do mundo, publica artigo de paleontólogos brasileiros.

Origem dos olhos azuis é atribuída a mutação num ancestral único

Um grupo de pesquisadores dinamarqueses atribui a uma única mutação, em um único ancestral, o aparecimento da coloração azul nos olhos de humanos. Na edição de janeiro da revista Human Genetics um grupo de pesquisadores liderados por Hans Eiberg publicou uma pesquisa envolvendo o estudo do DNA de 800 pessoas da Dinamarca, Jordânia e Turquia.

Um grupo de pesquisadores dinamarqueses atribui a uma única mutação, em um único ancestral, o aparecimento da coloração azul nos olhos de humanos. Na edição de janeiro da revista Human Genetics um grupo de pesquisadores liderados por Hans Eiberg publicou uma pesquisa envolvendo o estudo do DNA de 800 pessoas da Dinamarca, Jordânia e Turquia.

De acordo com os resultados, no interior do gene HERC2, um gene próximo do OCA2, uma pequena região regularia a expressão da coloração castanha pelo gene OCA2. Uma mutação nesta região reguladora, ocorrida em apenas um indivíduo ancestral, teria dado a origem à coloração azul dos olhos humanos. Até esta época, a cor dos olhos humanos era apenas castanha, mais clara ou mais escura, chegando a um castanho muito concentrado, quase negro.

Segundo estes pesquisadores, os seus resultados não possibilitam determinar com precisão em que época e local esta mutação ocorreu. Entretanto reforçam a proposta de Luigi Luca Cavalli-Sforza e equipe, publicada em 1994 no livro The History and geography of human genes, de que esta mutação fundadora tenha ocorrido durante o Período Neolítico, em torno de 6-10.000 anos atrás, em um indivíduo que habitava a região entre o Crescente Fértil e o Noroeste do Mar Negro, hoje compreendendo a Turquia.

Para estes últimos autores, as grandes migrações de agricultores, ocorridas neste período, teriam transportado esta mutação para a Europa. A alta freqüência desta mutação nas populações em áreas do Mar Báltico e Escandinávia indicam uma seleção positiva para o fenótipo olho azul, possivelmente a facilidade em produzir vitamina D em locais de baixo nível de irradiação solar.

Já para Bruno Laeng e equipe, a explicação para a alta freqüência deste gene recessivo nas populações do norte da Europa passaria também pela seleção comportamental. A preferência sexual dos homens de olhos azuis por mulheres de olhos da mesma cor, reforçaria a manutenção das altas freqüências de olhos azuis em altas latitudes, além do caráter adaptativo a radiações solares. Os experimentos deste último grupo de pesquisadores noruegueses estão descritos em um artigo publicado em janeiro de 2007 na revista Behavioral Ecology and Sociobiology, intitulado Why do blue-eyed men prefer women with the same eye color?

Complexidade da genética dos olhos azuis

No início do século XIX, durante o nascimento da genética, houve uma grande euforia, por parte de diversos pesquisadores, em relacionar as mais diversas características a uma explicação genética. Foi o caso dos Davenport, um casal de pesquisadores que em 1907 publicou na revista Science, o artigo intitulado Heredity of eye-color in man.

Muito mais baseado na explicação popular vigente e sem muito cuidado em determinar mais precisamente as nuances da cor do olho humano, estes pesquisadores atribuíram à coloração castanha uma característica dominante e sobre a cloração azul, uma característica recessiva. Estava assim instalado um “erro científico”, que perdura entre boa parte do público leigo, bem como no meio acadêmico.

Embora ainda se afirme que a característica genética da coloração dos olhos seja um tipo de herança mendeliana simples, o processo apresenta-se bem mais complexo. Novas pesquisas mostraram que, a herança da cor do olho humano, mais precisamente a cor da íris humana, não pode ser atribuída a uma explicação simplista do tipo herança simples: um tipo de herança estabelecida pela relação de dominância ou recessividade, entre dois alelos de um único gene.

Estudos mais recentes apontam que o gene OCA2, localizado no cromossomo 15 dos humanos, seria o principal gene que determinaria a coloração castanho/azul. Entretanto, a coloração da íris humana é geralmente classificada em: azul, cinzento, verde, amarelo, mel, castanho claro e castanho escuro. Estas cores são determinadas pela interação de dezenas de genes (em ratos são mais de 100 genes envolvidos) e dezenas de alelos. Fatores ambientais, como a utilização de alguns medicamentos, podem também alterar a coloração da íris dos pacientes que passam a utilizá-los.

Pesquisa estuda influência do El Niño na pesca de sardinha

Episódios climáticos podem alterar temperatura da água nos locais de desovas e assim aumentar ou diminuir a produção de sardinhas. Nos estudos feitos pelo INPE são utilizados dados coletados por satélite além dos fornecidos pela indústria da pesca.

A intensidade de episódios cíclicos como o El Niño influi na formação de correntes no oceano e afetam a temperatura ambiental. Esses dois fatores estão ligados à produtividade das zonas costeiras marinhas. Os cardumes de sardinha, por exemplo, em busca das condições mais favoráveis, podem alterar os locais de desovas. Tentar entender esses processos e fazer previsões que minimizem os erros e otimizem a forma de aplicação de recursos é um dos projetos de Eduardo Tavares Paes, da Divisão de Sensoriamento Remoto do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), em São José dos Campos (SP).

A sardinha tem uma grande importância econômica e social. Em 1973, essa espécie já chegou a produzir 228 mil toneladas correspondendo a cerca de 25% de toda a produção brasileira de pescados. Atualmente a pesca da espécie não chega a 40 mil toneladas por ano. Órgãos do setor, como o Instituto de Pesca de Santos, fazem um cadastro de informações com estimativas mensais de pescas em uma determinada área. Segundo Paes, a sardinha tem uma função ecológica muito importante no ecossistema e é a espécie brasileira mais estudada devido à sua importância econômica e social, por causa disso os dados sobre essa espécie são de melhor qualidade.

Os pesquisadores também usam informações fornecidas por mais de um satélite, numa rede de cooperação internacional, para coletar dados tais como a temperatura ambiental, a concentração de clorofila, a pluviosidade (quantidade de chuvas) e a direção e velocidade do vento, com periodicidade de 6 a 8 horas. As medidas de temperatura ambiental são feitas através de leituras da radiação emitida pela superfície do oceano. “O satélite consegue medir os dados ambientais de uma área muito grande ao mesmo tempo e de forma acurada”, afirma o pesquisador.

O estudo foi feito abrangendo uma área elíptica costeira que vai desde Arraial do Cabo no estado do Rio de Janeiro até o cabo de Santa Marta em Santa Catarina, abrangendo uma superfície de 150 mil km2. A equipe usa os dados climatológicos e de quantidade de pescados desembarcados para produzir modelos ecológicos – equações matemáticas que vão servir de apoio às análises de desembarque de pescados e orientar as tomadas de decisões.

Embora os satélites tenham começado a operar de forma abrangente somente na década de 80, foi possível integrar nos sistemas os dados disponíveis desde 1950. Por isso, é possível calcular a temperatura ambiental média daquela região para cada mês e compará-la aos dados de vários outros anos. Quando a temperatura do mês é muito diferente da média calculada para aquele mês nos anos anteriores, é registrada uma anomalia.

Paes afirma que nas pesquisas ecológicas marinhas o ideal seria que a temperatura ambiental fosse medida através de embarcações oceanográficas, porém, esses equipamentos exigem um investimento elevado. A solução, então, foi usar dados climáticos fornecidos pelo INPE (por satélites) aliados aos dados de temperatura da água no local e dia da captura do pescado compilados do Banco Nacional de Dados Oceanográficos (BNDO) da Marinha brasileira.

Os dados de desembarque de peixes são fornecidos pelos navios pesqueiros que também informam onde foi feita a pesca. Esses números mostram que a oferta do pescado não caiu linearmente, mas teve períodos de altas e de baixas. O pesquisador afirma que em 1984, dois anos depois do intenso El Niño de 1982, que provocou um abaixamento da temperatura da água, o desembarque foi de 140 mil toneladas, um valor maior do que o dos anos anteriores. Já no ano de 1988, a pequena produção de 75 mil toneladas pode ter sido conseqüência da elevação da temperatura da água em decorrência do El Niño de baixa intensidade ocorrido em 1987. O trabalho resultou em um artigo que foi publicado na revista Pan-American Journal of Aquatic Sciences no ano passado.

Para que se chegue a uma hipótese mais sólida, porém, outras variáveis terão que ser incluídas nessa análise. Dados climatológicos, oceanográficos, ecológicos e pesqueiros devem ser analisados de forma multidisciplinar. “O grande desafio é definir o quanto das flutuações dos recursos pesqueiros é causada por fenômenos naturais (cíclicos), pela pesca e pelas mudanças climáticas globais”, diz o pesquisador que agora está também envolvido em estudos das flutuações ambientais das tainhas.

Estudos como esses podem ajudar a descobrir ameaças de extinção de determinadas espécies de peixe. Com isso, é possível tomar medidas preventivas como a implantação de proibição de pesca em período reprodutivo (o chamado defeso), criação de uma área de preservação onde não se permite atividades pesqueiras e até a proibição de pesca da espécie.