Problemas e desafios para o ensino de português

Apesar de termos uma única língua oficial, a variação lingüística no país é tão grande, que o ensino do português torna-se um verdadeiro desafio para os professores. Esse é um dos problemas analisados por uma tese de doutorado recém-defendida na Unicamp.

O Brasil é um país de dimensões continentais, unido pela mesma língua oficial, de norte a sul. Pelo menos é isso que a escola ensina. Mas basta entrar em qualquer sala de aula, de qualquer série em qualquer estado, para constatar que essa “língua única” não passa de um mito. De fato, a variação lingüística no país é tão grande, que o ensino do português torna-se um verdadeiro desafio para os professores. Esse é um dos problemas analisados pela tese de doutorado “A gente não quer ser tradicional, mas… como é que faz, daí?” – A inovação curricular e o debate popularizado sobre língua portuguesa e ensino, defendida no final de fevereiro no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp.

A autora, a lingüista Clara Dornelles, examina as relações entre o debate popularizado nacionalmente pela mídia sobre língua e ensino – que muitas vezes enfatiza esse “português único” – e o que o professor encontra realmente dentro de uma sala de aula: uma língua viva, variada e que não está nos livros. Ela também avalia como essa questão é tratada nos cursos de letras, que formam professores de português.

A tese coloca em pauta uma questão perturbadora. Afinal, cerca de metade dos alunos que chega ao final do ensino fundamental possui sérios problemas de leitura e escrita, ou mesmo não sabe ler ou escrever, segundo dados do Ministério da Educação. A situação é muito mais complicada do que apenas discutir “onde mora o problema: no aluno ou no professor”, e extrapola os muros das instituições de ensino. “A cultura da aula de português como aula de gramática (decoreba de nomenclatura e análise mecânica de frases descontextualizadas) está muito impregnada na mentalidade das pessoas. Até mesmo aquelas que sofreram na juventude com aulas de português, que detestavam esse tipo de aula, quando adultas, acham que é assim mesmo que se faz e querem que essa tradição pedagógica seja preservada junto a seus filhos”, explica Marcos Bagno, lingüista e professor da Universidade de Brasília (UnB).

O que ocorre, muitas vezes, é a repressão da variedade lingüística dos alunos, criando-se uma barreira entre a língua que falam e aquela imposta pela escola. “É no ambiente escolar que o aprendiz descobre que a língua que ele fala pode se manifestar através de formas diferentes daquelas que já conhece, que traz de seu convívio social. Ele descobre que além de ‘as menina veio tudo’ também existe ‘as meninas todas vieram’. Para muitos alunos, essa descoberta é um choque, é quase tentar entender uma língua estrangeira”, diz Bagno.

“Na escola, o que se tem mostrado é que quanto mais se criam fronteiras rígidas entre oral e escrito, padrão e não padrão, mais difícil se torna para o aprendiz falante de variantes de menor prestígio transitar das formas e modos de raciocinar/agir/avaliar no uso da língua que lhe são mais familiares para as formas e os modos de raciocinar/agir/avaliar que está conhecendo na escola”, aponta Inês Signorini, do IEL, orientadora da pesquisa.

Mas não é apenas o aluno que sofre com o ensino tradicional de português: o professor também enfrenta uma situação delicada ao tentar lidar com tantas variedades lingüísticas dentro da sala de aula, com a pressão das escolas e dos pais que cobram o ensino tradicional, e com uma formação lingüística muitas vezes deficitária. A pesquisa de Dornelles aponta que o tratamento que se dá à questão da variedade lingüística nos cursos de letras é, na maioria das vezes, conservador, não preparando o professor para a realidade da profissão. “Tenho observado um esvaziamento cada vez mais visível do papel do professor enquanto agente institucional responsável pelo trabalho no ‘aqui e agora’ da sala de aula, ou seja, enquanto instância de produção (e não só de reprodução) e transformação do conhecimento em função de contextos específicos”, afirma Signorini.

Para preencher esse vazio, criam-se inúmeros mecanismos pedagógicos, como documentos oficiais de parametrização de currículos e programas, materiais didáticos em forma de roteiro de aula, computadores e outros aparelhos tecnológicos nas escolas, em vez de se investir na formação dos professores. “As condições de trabalho catastróficas dos professores impedem que eles se dediquem a preparar aulas, forçando-os a se limitar aos exercícios de análise sintática e decoreba gramatical que já vêm prontos nos livros didáticos”, diz Bagno. Apesar disso, muitos professores se esforçam para inovar, mas não possuem preparo adequado nem apoio da escola. Os que conseguem fazer algo diferente, incentivando o debate e propondo outras formas de se trabalhar com a língua, muitas vezes encontram forte resistência das instituições de ensino e dos próprios pais dos alunos, e acabam desistindo de seus projetos.

Reforma curricular

Frente a essa complicada situação, a proposta mais freqüente para se tentar resolver o problema é a reforma curricular. Mas, segundo Bagno, não é preciso mudar o currículo: basta seguir as diretrizes definidas nos documentos que vêm sendo produzidos pelo MEC desde 1997. “Nestes documentos, fica claro que o objetivo principal da aula de português é levar o aprendiz a se tornar um eficiente leitor e produtor de textos. E, por incrível que pareça, a pessoa só aprende a ler e a escrever… lendo e escrevendo! Com isso, sobretudo nos primeiros anos de escolarização, a escola deveria se concentrar ‘apenas’ em fazer isso: ler e escrever”, afirma. “Além disso, o ensino, em vez de reprimir a fala autêntica dos alunos, deve partir dessa fala, desse conhecimento lingüístico poderoso que eles já têm, para ampliar seu repertório lingüístico”, completa.

“Talvez a questão imediata não seja a de introduzir ou retirar itens do currículo. Talvez o mais urgente seja se tentar estabelecer localmente etapas de um plano de educação lingüística para os alunos daquela escola, daquela série ou turma. O que significa dizer, encarar de fato a questão da heterogeneidade sociocultural e lingüística do país”, explica Signorini.

De qualquer forma, para uma mudança efetiva e eficaz, é preciso investir no professor, desde sua formação. “O primeiro passo é garantir aos professores uma boa formação, para que saiba reconhecer esses problemas socioculturais e para que tenha instrumental teórico e pedagógico para enfrentá-los”, aponta Bagno. “Para isso, é preciso urgentemente criticar e reformular de modo radical os cursos de letras de todo o Brasil. Do modo como estão estruturados, eles não servem para nada. Os estudantes são bombardeados com teorias e teorias, que aprendem mal e superficialmente, e não recebem aquilo que de fato interessa para a formação docente”, conclui.

Imagens de satélite estão mais acessíveis para cientistas e cidadãos

Preço mais baixo e acessibilidade tornam as imagens produzidas por satélites ferramentas de trabalho e de lazer. As imagens são usadas em estudos de planejamento urbano, saúde, educação, meio ambiente e agricultura,. O cidadão comum, por necessidade, curiosidade ou lazer, usa as imagens ou os mapas de qualquer lugar da Terra para localizar endereços, informar-se sobre o clima e fazer roteiros de viagens.

Disseminação da tecnologia e preços mais acessíveis tornaram as imagens de satélites ferramentas usuais para cientistas de diversas áreas e até para o cidadão comum que pode localizar pela internet endereços de ruas com as imagens captadas do espaço. Os pesquisadores também estão utilizando as ferramentas públicas da rede mundial em seus trabalhos. É o caso da antropóloga Denise Schaan, da Universidade Federal do Pará e presidente da Sociedade de Arqueologia Brasileira. Ela usa a ferramenta Google Earth na busca de novas ocorrências de sítios arqueológicos conhecidos como geoglifos e que estão espalhados por uma área de 270 quilômetros entre Xapuri e Boca do Acre, no Acre. O Google Earth combina os recursos de pesquisa do Google com imagens de satélite, mapas, terrenos para fornecer informações geográficas do mundo todo.

O biólogo e especialista em gestão ambiental, Leandro Luiz Giatti, da Fiocruz-Amazonas, usou imagens de satélites para mapear as fontes de água em Iauaretê, uma área indígena em São Gabriel da Cachoeira (AM) no intuito de descrever as condições sanitárias e socioambientais de seus habitantes. “Iauaretê é uma área indígena na Amazônia brasileira que se destaca pela concentração populacional”, diz Giatti. Foram construídos mapas-falantes; realizadas entrevistas; estudos da disposição de resíduos sólidos; localização, amostragem e análise da água de consumo humano; e aplicação de técnica de georeferenciamento (correção das imagens coletadas). A pesquisa mostrou que 89,2% das 65 amostras de água analisadas, estavam contaminadas.

Graças aos investimentos do Brasil na construção de dois satélites em parceria com a China, as imagens geradas por esses equipamentos podem ser fornecidas gratuitamente ao cidadão comum, segundo explica o geógrafo Heleno Bezerra da Silva da Embrapa Cerrados, do Distrito Federal,. Os Satélites Sino-Brasileiros de Recursos Terrestres, (CBERS, sigla em inglês) 1 e 2 custaram 150 mil dólares e o Brasil participou com 30% desse valor. Esses satélites, lançados em 1999 e 2003, respectivamente, orbitam a 778 km da Terra e geram imagens utilizadas nos setores de agricultura, meio ambiente, recursos hidrológicos e oceânicos, florestas, geologia entre outros.

Segundo Silva, uma imagem de satélite pode ser usada para comparar duas situações diferentes no tempo e espaço. Uma antes do acontecimento e outra depois. Um programa de computador compara imagens obtidas, por exemplo, com 16 dias de diferença e permite apontar em quais localidades os pontos verdes (matas) são substituídos por outras colorações, que indicam a ocorrência de queimadas, retirada de madeira, plantações de soja, pecuária extensiva, etc.

O uso de imagens de satélite também pode ajudar a salvar vidas em casos de catástrofes, no planejamento da ocupação do território ou na formulação de planos de emergência e monitoramento. Segundo, Leonardo Rios, doutor em Ciências Ambientais pela USP de São Carlos, em casos de enchentes, o que pode ser feito é um estudo prévio de áreas que podem ser afetadas por enchentes através da sobreposição de imagens de satélites. Dados históricos de enchentes podem ser levantados para fazer modelos de previsão em SIGs (sistemas de informações geográficas). Um exemplo de utilização desse recurso pode ser encontrado no site do programa de SIG Idrisi: http://www.idrisi.com.br/.

Entretanto, dependendo da aplicação, as imagens do espaço podem não ser tão acessíveis.. Para se obter fotografias de objetos de cerca 30 metros em áreas urbanas, por exemplo, o interessado terá de desembolsar mil reais por quilômetro quadrado, (preço pelos serviços do satélite japonês Ikonos) e, segundo explica Silva, as imagens podem demorar até um mês para ficarem prontas. Para se ter uma idéia de quanto custa utilizar essa tecnologia do espaço o site da Engesat divulga os valores de serviços de satélites.

Leonardo Rios, da USP, aponta ainda outros obstáculos mais prosaicos para o uso desses equipamentos. Um simples céu encoberto, por exemplo, bloqueia as imagens fotográficas, e os sensores tipo radar, que não dependem do clima, ainda não apresentam boa qualidade em imagens de áreas reduzidas. Além dos problemas de ordem técnica, Rios aponta duas outras limitações importantes, o baixo investimento feito no Brasil para a implantação de sistemas de informações geográficas e a falta de pessoal qualificado no setor público. “Esses profissionais poderiam auxiliar nas tomadas de decisões do governo utilizando bases técnicas e não somente políticas”, critica Rios.

Nova técnica de imagem detecta variações em cérebro de autista

Nova técnica de neuroimagem, procedimento que permite visualizar o cérebro em funcionamento, foi aplicada por pesquisadores do Hospital Infantil da Filadélfia (EUA) em pacientes com autismo. O estudo indicou uma quantidade elevada de massa cinzenta em regiões do lobo parietal, região envolvida nos processos de aprendizagem por observação e interação com outras pessoas.

Uma nova técnica de neuroimagem, procedimento que permite visualizar o cérebro em funcionamento, foi aplicada por pesquisadores do Hospital Infantil da Filadélfia (EUA) em pacientes com autismo. O objetivo do estudo era identificar possíveis alterações morfológicas cerebrais que pudessem elucidar as origens da doença. Os resultados dessa análise mostraram variações no volume de neurônios em certas áreas do lobo parietal envolvidas nos processos de aprendizagem por observação e interação com outras pessoas.

Chefiados por Manzor Ashtari, os pesquisadores notaram que 13 crianças com autismo de alto funcionamento e síndrome de Asperger (dois subgrupos da doença) possuem uma quantidade elevada de massa cinzenta em regiões do lobo parietal quando comparados a 12 indivíduos saudáveis. Para chegar aos resultados divulgados no último encontro anual da Sociedade Norte-americana de Radiologia foi utilizada uma técnica ainda inexistente no Brasil, chamada Diffusion Tensor Imaging (DTI, na sigla em inglês), que rastreia o movimento de moléculas de água no cérebro.

Graças a DTI os cientistas descobriram também que crianças autistas possuem um menor volume de massa cinzenta na amígdala, região do cérebro envolvida em processos emotivos, como por exemplo, uma situação de perigo. Segundo a pesquisa, essa diferença é responsável pela menor capacidade de interação social e reciprocidade desses indivíduos, comportamentos característicos do portador de autismo.

Lobo parietal e amígdala: regiões com alteração no volume de neurônios em autistas.
Fonte: Cnn e Wikipedia

Apesar dos achados do estudo norte-americano, o coordenador do Projeto Autismo do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), Estevão Vadasz, atenta que a baixa quantidade de pacientes estudados, 13 no total, prejudica a confiabilidade das conclusões da pesquisa. “O autismo não é uma única doença, mas sim um conjunto de síndromes e patologias com múltiplas etiologias. Pode até ser que certos pacientes sofram de alterações morfológicas no lobo parietal conforme mostra o estudo. Mas, por sua vez, outros têm problemas no lobo frontal ou desenvolvem macrocefalia [aumento no tamanho do cérebro e crânio] nos primeiros anos de vida. Na maioria dos casos, acredita-se que o autismo provenha do mau funcionamento de vários circuitos cerebrais correlacionados ao processamento de informações”.

Neurônios-espelho e as origens do autismo

Outro ponto levantado pela pesquisa com autistas diz respeito ao sistema de neurônios-espelho. Segundo Ashtari, a inabilidade da criança autista em se relacionar com outras pessoas e situações pode ser resultado do mau funcionamento dos neurônios-espelho em regiões do lobo parietal esquerdo.

Por neurônios-espelho compreendem-se múltiplos circuitos neuronais especializados em executar e compreender ações e intenções de outras pessoas, o significado social do comportamento delas e suas emoções. Diferentes sistemas de neurônios-espelho espalhados pelo cérebro são ativados, por exemplo, quando estendemos o braço para alcançar um objeto, quando o largamos sobre uma mesa, ou quando observamos uma pessoa executando essa mesma ação. Nesse último caso nosso cérebro simula mentalmente a ação visualizada e interpreta a intenção de quem a realizou.

Estudos indicam que os neurônios-espelho estão envolvidos na maneira como as crianças aprendem, no porque uma pessoa prefere certo tipo de pintura ou dança; ou na razão pela qual a violência em games pode contribuir para o desenvolvimento de jovens violentos.

Enquanto alguns cientistas buscam uma resposta para as origens do autismo no sistema de neurônios-espelho, o pesquisador brasileiro Estevão Vadasz fala de outras frentes de pesquisa. Atualmente, os principais estudos tratam a doença como um transtorno de origem genética. “Mais de 100 genes estão sendo pesquisados no momento. Os maiores centros de pesquisa do mundo acreditam que o autismo seja desencadeado pela ação simultânea de seis a oito desses genes”, afirma.

Há inclusive quem diga que as causas do autismo podem estar para além do cérebro. Uma das hipóteses trabalhada pela comunidade médica estuda o autismo como fruto da má absorção de nutrientes pelo sistema digestivo. Até não muito tempo atrás, em 1960, a maioria dos médicos creditava o surgimento do autismo na criança à falta de afetividade dos pais. Segundo Vadasz, nos dias atuais, principalmente na Argentina e na França, ainda há profissionais de saúde que trabalham com esta hipótese. Técnicas como a DTI poderão trazer novos elementos para se compreender essa síndrome que atinge, segundo as taxas de prevalência epidemiológicas aponta uma variação de 4 a 15 casos em cada 10 mil pessoas. O Brasil, lamentavelmente, não dispõe de estatísticas oficiais sobre o autismo.