Centros universitários seguem normas de mercado, diz pesquisa.

Os centros universitários, criados em 1997, não têm a obrigação de manter pesquisa, como ocorre com as universidades. De acordo com o cientista social José Eduardo de Oliveira Santos, da Faculdade de Educação da USP, essas instituições seguem as leis de mercado.

O Ministério da Educação está fazendo um controle rigoroso da qualidade do ensino superior, e já notificou cursos das áreas de pedagogia, direito e medicina, os quais podem perder a certificação se não cumprirem determinadas metas. Mas há instituições de ensino superior com autonomia para criar e extinguir cursos e vagas sem autorização prévia do Ministério da Educação: os centros universitários, criados em 1997, sem a obrigação de manter pesquisa, como ocorre com as universidades. De acordo com o cientista social José Eduardo de Oliveira Santos, da Faculdade de Educação da USP, essas instituições seguem as leis de mercado.

A presença e a participação desses centros no estado de São Paulo no período de 1997 a 2006 foram avaliadas por Santos, em sua pesquisa de doutorado. Segundo o pesquisador, a criação desses centros ocorreu no âmbito de uma política pública destinada a prover a demanda ampliada e não atendida pelo ensino superior. “Trata-se de atender à demanda de massa de maneira ágil e atrativa para os investidores privados”, diz.

O fato dos centros universitários desfrutarem de autonomia didático-pedagógica e administrativa e não terem obrigação com a pesquisa institucional os favorece, segundo Santos, em detrimento das universidades privadas, que devem investir em pesquisa institucional. A despeito da adoção de procedimentos avaliativos da qualidade, que não são levados às últimas conseqüências, a legislação leva os centros a uma disputa por clientela entre si e com as universidades e faculdades, oferecendo vantagens nos serviços não-pedagógicos, nos preços das mensalidades e na profusão de cursos e carreiras de tempo comprimido, com o aligeiramento da formação. “O compromisso dos empresários da educação é atender ao mercado no quesito formação de profissionais de terceiro grau”, avalia.

De maneira geral, as preocupações dessas instituições são formar profissionais e atrair estudantes para seus cursos com base em propaganda. Isso, segundo Santos, ressalta mais seus serviços de apoio (praça de alimentação, facilidade de transporte, segurança no campus etc.) que sua excelência pedagógica. Se uma instituição quisesse demonstrar preocupação com a qualidade da formação de seus estudantes, adotaria procedimentos de monitoramento e contato com seus egressos, além de buscar mecanismos de formação e convivência mais dinâmicas e democráticas de sua comunidade acadêmica.

“O fato é que, quando nos referimos aos empresários da educação, estamos nos referindo muito mais a empresários que precisam otimizar seus negócios, que a educadores com compromissos estreitos com a formação intelectual das futuras gerações. Em outras palavras, um empresário da educação, geralmente, não é um educador nem um intelectual, mas um comerciante”, acredita.

Para o pesquisador, os centros universitários têm contribuído com a melhora na qualidade de ensino superior no país, mas muito aquém de suas possibilidades e das expectativas que criam com sua publicidade. Mas há um item apontado por Santos pelo qual não se pode culpar os centros: o fato de que eles recebem os estudantes mais defasados em termos de formação escolar e com menos tempo para estudar, já que, na maioria, são trabalhadores.

Embora não tenha sido objeto direto de sua pesquisa, ele acredita que a formação básica interfere drasticamente no aproveitamento e na continuidade de uma vida de estudos. Os centros poderiam adotar uma espécie de primeiro ano básico, reunindo estudantes de diferentes cursos para lhes proporcionar vivência acadêmica nos diferentes mundos profissionais e científicos, e uma preparação de cunho mais humanista e cultural para que possam enfrentar os anos de formação superior com mais chances de bom desempenho.

Além disso, “seguir o trajeto profissional dos egressos, por exemplo, é uma atividade pouco feita pelos centros universitários (e pelas instituições superiores de modo geral), que poderiam ter muito a ganhar, tanto em termos de novos estudantes para seus cursos de pós-graduação quanto no plano do marketing institucional e da reorientação de seus cursos”, opina Santos.

Apesar disso tudo, há pontos positivos: os centros conseguem atender a demanda reprimida por formação superior. A proliferação de instituições de ensino superior, entre elas os centros, tem ajudado a gerar um clima social mais favorável ao prolongamento dos estudos. Com relação ao ensino superior em geral, Santos ressalta a necessidade de se promover uma articulação mais competente e permanente entre universidades e escolas básicas públicas, instituindo uma solidariedade sistêmica na educação brasileira, o que poderia também se dirigir, embora de maneira mais “leve”, às instituições de ensino superior privadas.

“Deve-se também insistir na ampliação das vagas nas universidades públicas e na definição de arranjos educativos que acompanhem e criem vocações econômicas regionais, o que significa ampliar os investimentos em educação e na pesquisa universitária. Por fim, insistir na necessidade de se promover ajustes vigorosos nos salários dos professores, especialmente os da educação básica”, diz.

Pacientes que usam antiepilépticos devem ser monitorados durante anestesia geral

Pesquisadora do Departamento de Farmacologia da Unicamp constata que o uso contínuo de antiepilépticos pode alterar os efeitos dos relaxantes musculares usados na anestesia geral. Resultado indica que os pacientes que usam antiepilépticos devem ser monitorados durante todo o procedimento.

Ao contrário do que muita gente imagina, uma anestesia geral não envolve apenas o uso de anestésicos. De acordo com a fisioterapeuta Caroline Barcelos, em praticamente toda cirurgia geral, o uso de relaxantes musculares é necessário para produzir uma completa paralisia muscular. Barcelos acrescenta que isso é especialmente necessário durante cirurgias de maior porte ou mais delicadas que requerem relaxamento dos músculos para permitir manuseio de órgãos, ossos e músculos. Contudo, em seu trabalho de mestrado, a profissional constatou que o uso contínuo de antiepilépticos pode alterar os efeitos dos relaxantes musculares usados na anestesia geral.

Seu trabalho, que foi desenvolvido no Departamento de Farmacologia da Universidade Estadual de Campinas, teve como objetivo inicial avaliar o efeito dos relaxantes atracúrio e rocurônio, muito usados em anestesia geral, em ratos previamente tratados, por uma semana, com os antiepilépticos carbamazepina e fenobarbital. Só que mesmo antes de testar os relaxantes, Barcelos constatou alterações. O tratamento com carbamazepina, por si só, havia produzido certo grau de relaxamento muscular nos animais – um efeito não observado nos ratos que receberam fenobarbital. Porém, de maneira geral, os resultados revelaram que os efeitos desses dois relaxantes podem ser alterados pelos antiepilépticos.

Segundo as autoras do estudo, uma explicação para essa alteração pode estar no metabolismo. Os antiepilépticos elevam a concentração de enzimas (citocromo P450 e b5 redutase) do fígado que inativam os relaxantes musculares e possibilitam sua eliminação do corpo através da urina.

Para Barcelos, esses resultados servem de alerta. “Nem todos os pacientes são monitorados durante a cirurgia e, como eles [os antiepilépticos] mostraram ter efeitos sobre os relaxantes, isso pede melhor controle do paciente durante a cirurgia”, alerta. A fisioterapeuta se refere aos pacientes que fazem uso contínuo de medicamentos antiepilépticos, como os que sofrem de epilepsia. Segundo a Assistência à Saúde de Pacientes com Epilepsia (ASPE), o mal acomete aproximadamente três milhões de brasileiros.

Mas não são somente os epiléticos que devem tomar cuidado com anestesias gerais. Isso porque os antiepilépticos, também chamados de anticonvulsivantes, não servem apenas para tratar epilepsia. A carbamazepina, por exemplo, é útil também no tratamento de distúrbios maníaco-depressivos (bipolares), nevralgia e diabetes insípido (em que atua reduzindo o volume urinário e aliviando a sensação de sede).

Ainda não há consenso sobre o problema

Por outro lado, Barcelos acredita que ainda não há consenso quanto à influência dos anticonvulsivantes sobre os relaxantes musculares. “Nossos resultados estão de acordo com alguns já apresentados na literatura científica, mas outros são contrários; por isso mais estudos são necessários”. Já a anestesista Braga reforça que é importante deixar claro que pacientes que fazem uso continuado desses medicamentos (anticonvulsivantes) necessitam de monitorização contínua e cuidadosa, ao serem submetidos à anestesia geral.

O efeito neuroprotetor do lítio

Altas doses de lítio podem ser prejudiciais ao cérebro, mas pesquisas recentes têm mostrado que o uso em baixa concentração cria o efeito contrário de proteção dos neurônios. Um estudo brasileiro e outro norte-americano apontam indícios de que esse efeito pode ser útil em casos clínicos diversos, como na prevenção do Alzheimer em idosos e na ação neurodegenerativa provocada pelo vírus HIV.

A prescrição de lítio para pacientes com transtorno bipolar é comum atualmente. Comum também são os efeitos colaterais, inclusive cognitivos, causados pela ingestão de dosagens elevadas deste metal por períodos prolongados. Entretanto, se altas doses de lítio podem ser prejudiciais ao cérebro, pesquisas recentes têm mostrado que o uso em baixa concentração cria o efeito contrário de proteção dos neurônios. Um estudo brasileiro e outro norte-americano apontam indícios de que esse efeito pode ser útil em casos clínicos diversos, como na prevenção do Alzheimer em idosos e na ação neurodegenerativa provocada pelo vírus HIV.

Em pesquisa publicada no International Review of Psychiatry de fevereiro, pesquisadores da Universidade da Califórnia atestam que a ingestão de lítio em baixa dosagem protege o cérebro de danos cerebrais decorrentes do HIV. Para isso, eles submeteram oito pacientes soropositivos para HIV (que utilizam o coquetel anti-HIV) com problemas de raciocínio ou memória a doses de lítio que variavam entre 0.8 e 1.2 mEq/L (miliequivalente por litro de sangue). Depois de 12 semanas todos apresentaram melhora significativa em testes neuropsicológicos. Seis deles chegaram a níveis considerados normais.

“Avaliamos que esses resultados são fruto da ação inibidora do lítio sobre a enzima glicogênio sintase-quinase 3-b (GSK-3b). Estudos anteriores, inclusive de nossa equipe, mostram que a inibição dessa enzima protege o cérebro contra vários tipos de danos neurológicos”, diz Scott Letendre, autor da pesquisa.

Uma rocha composta por lítio.
Fonte: google.com

No Brasil, a ação do lítio sobre a GSK-3b tem sido estudada na prevenção do Alzheimer, que atinge 5% da população acima de 65 anos. Pesquisadores do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP) mostraram que o lítio previne esta doença em idosos com transtorno bipolar.

Tal constatação se deu através de um estudo com 114 pacientes divididos em dois grupos. O primeiro continha 66 idosos com transtorno bipolar que consumiram doses concentradas de sais de lítio por mais de 6 anos. Destes, apenas 5% desenvolveram Alzheimer. Já os 48 restantes foram tratados com outro estabilizador de humor durante 6 meses, no mínimo. Nesse grupo, a incidência de Alzheimer foi de 33%. A pesquisa completa foi publicada no periódico científico British Journal of Psyquiatry (vol. 190 de 2007).

Os resultados com pacientes bipolares levaram a equipe da USP ao estágio atual da pesquisa em que se procura saber se a ingestão de baixa quantidade de sais de lítio previne ou retarda o Alzheimer em idosos saudáveis, mas com alto risco de contraírem a doença. “A enzima GSK-3b inibida pelo lítio se encontra hiperativa em pacientes com risco de Alzheimer. Tal inibição ’protege’ os tecidos cerebrais do acúmulo de beta-amilóide e do colapso do citoesqueleto neuronal, eventos centrais no desenvolvimento da doença”, explica Orestes Forlenza, pesquisador da USP e um dos autores da pesquisa.

Se esses estudos comprovarem que o amplo uso da substância pode evitar, ou ao menos retardar, o aparecimento do Alzheimer, pode haver uma proposta de política pública a esse respeito. Em entrevista concedida ao canal Record News, o coordenador da pesquisa, Wagner Gattaz, comentou que essa política poderia se dar através da inclusão de lítio na água tratada pelos sistemas de abastecimento das cidades. Algo semelhante ao que acontece atualmente com o flúor na prevenção contra cáries dentárias.

Gattaz ressalta, no entanto, que “não dá para pensar em aplicabilidade dessa técnica antes dos próximos cinco ou dez anos. Primeiro, precisamos saber qual é a menor dose eficaz do lítio na prevenção da doença. Somente com uma dose muito baixa poderíamos garantir o uso amplo e seguro da substância, evitando os seus efeitos colaterais”.

Gattaz também ressalta que resultados positivos dessa pesquisa podem diminuir enormemente os gastos atuais com Alzheimer ao redor do mundo. “Sabe-se que, só nos EUA, o Alzheimer leva a um total de gastos, diretos e indiretos, na casa de 100 bilhões de dólares por ano. Qualquer substância que retarde o aparecimento da doença em apenas sete anos levará a uma economia de 10 trilhões de dólares nas próximas quatro décadas”, diz o líder do estudo da USP.

Opiniões

Para Benito Damasceno, coordenador do Departamento de Neurologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a pesquisa sobre a ação do lítio apresenta dados interessantes, mas precisa ser replicada por outros grupos de pesquisa, para comprovar os resultados. Damasceno sugere cautela na ação do lítio, lembrando de casos históricos de substâncias que pareciam eficazes contra o Alzheimer, como a vitamina E, mas que, com o tempo, se mostraram inativas.