Novo tipo de dengue pode chegar em breve ao Brasil

Novo tipo de dengue que já existe nos países vizinhos pode se difundir pelo Brasil como já aconteceu com os outros três tipos de vírus presentes por todas as regiões do país.

Um novo tipo de dengue ameaça entrar no Brasil a partir de países vizinhos, o vírus sorotipo 4, ou DENV 4, como foi relatado pela pesquisadora como Regina Maria Pinto de Figueiredo, da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, em Manaus. Pesquisadores da área das doenças transmitidas por mosquitos dizem que a porta de entrada do novo vírus é a região Norte do país.

Para o médico especializado em doenças infecciosas e parasitárias, da USP, Vicente Amato Neto, o vírus de sorotipologia 4 está vindo da Venezuela e da Guiana Francesa e certamente chegará às outras regiões como já aconteceu com os outros tipos que já estão no Brasil. Segundo ele, o novo vírus preocupa porque irá encontrar, especialmente no Sudeste, um grande número de pessoas que já tiveram a dengue, chamadas “suscetíveis”.

Segundo o médico Eduardo Severiano Ponce Maranhão, especialista em epidemiologia da Fundação Oswaldo Cruz, do Rio de Janeiro, as amostras estudadas por Figueiredo, foram re-testadas e não se comprovou nos doentes a dengue de sorotipo DENV 4.

O tipo de dengue mais temida é a que evolui para a febre hemorrágica. Ela está mais associada aos sorotipos DENV 2 e 3 e, se não for tratada, pode levar à morte em cerca de 20% dos casos. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a febre hemorrágica da dengue não tem um tratamento específico, mas com cuidados médicos intensivos, especialmente de hidratação, os casos fatais podem ser reduzidos para 1%. A OMS explica que o desenvolvimento de vacinas ainda é um problema justamente porque o produto precisa ser eficaz contra os quatro tipos de vírus da doença.

Segundo o médico Fernando Portela Câmara da UFRJ, autor do texto “Estudo retrospectivo (histórico) da dengue no Brasil: características regionais e dinâmicas”, publicado em abril de 2007, 86% das notificações de dengue no Brasil estão nas regiões Nordeste e Sudeste.

No primeiro trimestre de 2008, dos 110.783 casos notificados de dengue no estado do Rio de Janeiro, 31.288 estavam na capital, localizada no litoral. Já no estado de São Paulo, dos mais de mil casos notificados até maio, a imensa maioria foi registrada na região de Araraquara e de Ribeirão Preto, cidades localizadas no interior do estado.

No Nordeste, do total de 57.164 notificações, entre janeiro e abril deste ano, 5.929 notificações são do estado de Sergipe, com 23 mortes nesse período, a maioria na chamada “zona da mata”, que é litorânea e também a mais povoada, urbanizada e industrializada da região Nordeste.

Amato afirma que a mortalidade não depende da região geográfica. Ela é decorrente das diferenças nas condições de assistência médica, nos casos mais graves. Já a proliferação da doença está associada às carências econômica, social e educativa da população de algumas regiões. Essas dificuldades representam um obstáculo para que essas pessoas obedeçam as instruções de vigilância e controle.

Segundo o Instituto Oswaldo Cruz, a prevenção deve priorizar a eliminação de focos do Aedes aegypti, o mosquito vetor da dengue. O Ministério da Saúde estabelece que o grau de infestação deve ser menor que 1,0 de acordo com um índice que é chamado “de Breteau”. Esse índice avalia a intensidade da infestação larvária em criadouros por área de 10 mil a 12 mil m2.

Para Roberto Andrade Medronho, do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, da UFRJ, fatores como as condições sócio-ambientais e a ineficiência no combate ao mosquito vetor, em muitas cidades, podem contribuir muito para que o processo endêmico-epidêmico seja controlado pelo esgotamento das pessoas à doença. Ou seja, se não for controlado o vetor, a enfermidade só vai ser controlada pela resistência física da parte população que não sucumbir à doença. Se isso acontecer, muitos sofrerão e até morrerão.

Leia mais: texto “Dengue no Brasil: desafios para o seu controle”, de Roberto Andrade Medronho, maio de 2008. A maior parte dos casos de dengue nas Américas está no chamado cone sul, a imensa maioria no Brasil, segundo dados da Organização Pan Americana de Saúde, ligada à OMS, de maio de 2008.

Estudo do IPEA retoma o debate da desigualdade de renda no país

Estudo do IPEA mostra que as políticas públicas universais de promoção de igualdade no Brasil não são suficientes para a eliminação e/ou diminuição das desigualdades entre brancos e negros.

No dia 13 de maio de 2008, 120 anos após a abolição da escravatura, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) publicou os resultados parciais da pesquisa “Desigualdades raciais, racismo e políticas públicas: 120 anos após a abolição”. A perspectiva, de acordo com Mário Lisboa Theodoro, diretor de cooperação e desenvolvimento do IPEA, é que daqui 3 meses seja divulgada a pesquisa completa que trará um conjunto maior de informações, incluindo análises regionais.

A partir dos dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (PNAD), o IPEA fez uma projeção de que em 2008 os negros serão maioria no país, mas só conseguirão igualdade de renda em 2040. “Nós fizemos uma projeção a partir do crescimento da renda dos mais pobres nos últimos anos, que foi acelerado principalmente pelo aumento do Bolsa Família, estendido a quase 12 milhões de famílias”, explica Theodoro. “Se nós tivéssemos um crescimento dessa magnitude, poderíamos chegar a uma equalização em 2040”.

Theodoro ressalta que a pesquisa trata da igualdade de renda familiar, incluindo tanto rendimento do trabalho como outros rendimentos, entre eles o Bolsa Família. “Hoje a renda média da população negra é 53% da renda média da população branca, praticamente metade. Pela projeção isso iria diminuindo até igualar”. No entanto, Theodoro afirma que essa é uma visão otimista: “dificilmente o crescimento que nós tivemos nos últimos meses vai continuar, porque o Bolsa Família já está chegando ao seu limite”.

“O resultado dessa pesquisa não é surpreendente para ninguém que trabalha com essa temática de relações raciais no Brasil. Nós sabemos que isso é resultado do nosso processo histórico, que remonta ao período da escravidão, como também do que deixou de ser feito após a escravidão”, lamenta Rosana Heringer, Coordenadora do Programa de Direitos das Mulheres e Afro-Descendentes da Actionaid Brasil. Rosana explica que ao longo dos 120 anos após o fim da escravidão muito pouco foi feito para efetivamente integrar os negros na sociedade brasileira. “Por um lado, nós temos uma integração cultural e artística. Sabemos que o Brasil é um país culturalmente misturado, mas quando falamos de igualdade de oportunidades, de renda, de acesso a educação, etc, isso é bastante diferente”, arguemnta ela.

Mário Augusto Medeiros da Silva, doutorando em sociologia pela Universidade de Campinas (Unicamp) e membro do Núcleo de Estudos Negros (NEN), ressalta que o próprio estudo do IPEA aponta que a melhoria da condição da população negra no Brasil aconteceu sem que políticas de Estado tenham sido direcionadas a esse grupo. “A análise feita pelo IPEA mostra que foram as políticas públicas universais, como educação e saúde pública e o Programa Bolsa Família que atingiram e afetaram positivamente a população mais precarizada, onde se encontra grande parte do grupo negro”.

A desigualdade de renda entre brancos e negros, apontada pela pesquisa do IPEA, não é novidade. A diferença é que o IPEA faz uma projeção de que a igualdade poderia ser atingida. De acordo com Theodoro, o IPEA está, nesta pesquisa, trabalhando não apenas na produção, como também na interpretação dos dados. “Não que nós já não tenhamos feito interpretações anteriormente, mas agora, como é uma pesquisa de mais longo prazo, vamos tentar vasculhar algumas interpretações históricas para essa questão, não só explicações momentâneas”.

Silva questiona a projeção feita pelo instituto. Tendo em vista o cenário histórico e as ressalvas feitas pelo órgão governamental, pode ser que a desigualdade, ao invés de diminuir, possa aumentar. “Daqui 32 anos – diz ele – sem a perenidade de políticas de Estado direcionadas e voltadas para a eliminação das desigualdades raciais ou o aprimoramento das precarizadas políticas universais, qual será a distância entre trabalhadores (as) negros (as) e brancos(as) novamente, em termos salariais e de renda?”.

Para Rosana, duas atitudes precisam ser tomadas para que a população negra tenha uma igualdade de renda e de oportunidades em relação aos brancos. A primeira delas seria um investimento muito maior em uma política de redução da desigualdade no Brasil de uma forma geral, isto é, em educação pública, em saúde, em qualificação para o mercado de trabalho. Em segundo lugar, de acordo com a coordenadora da Actionaid, é preciso investir mais nas políticas de ação afirmativa. “Devemos perceber que existem grupos na sociedade que precisam ter uma forma de acesso a determinados serviços e setores como educação e mercado de trabalho, para que daqui a 20 ou 30 anos possamos identificar um número mais equilibrado entre brancos e negros, principalmente nos cursos de mais prestígio e nos setores que identificamos como elite política, intelectual e cultural, que ainda é predominantemente branca”.

O trabalho do IPEA, explica Silva, mostra que a diferença de renda entre brancos e negros, assim como a concentração de negros em ocupações menos especializadas e mais desvalorizadas socialmente é resultado da aliança do racismo institucional com a péssima qualidade dos serviços públicos prestados, historicamente. O sociólogo lembra que os negros, por estarem majoritariamente concentrados nos estratos mais pobres da sociedade, têm como possibilidade de instrução os serviços educacionais públicos, que são precários e insuficientes. Por outro lado, lamenta, Silva, “apesar do número de vagas nas instituições superiores públicas federais e estaduais, que são as de maior prestígio, ter aumentado nos últimos anos, ainda é insuficiente o acesso de negros e pobres”.

Os desastres naturais que podem assolar o Brasil

O terremoto do último dia 22 de abril despertou a atenção da população brasileira para os desastres naturais que podem ameaçar o seu território. Cientistas que estudam esses fenômenos no país, falam das possibilidades de acontecer desastres naturais por aqui.

Um lugar sem terremotos, furacões, vulcões nem tsunamis. Até pouco tempo, o Brasil ostentava uma fama de paraíso terrestre. Mas esse suposto Éden está revelando um lado nada tranqülio. Um sinal de preocupação veio do tremor do último dia 22 de abril, que atingiu 5.2 na escala Richter e foi sentido em quatro estados, atingindo áreas litorâneas e parte do interior. Segundo especialistas, esse é apenas um dos fenômenos naturais aos quais o Brasil está sujeito. Essas terras, onde hoje se vêem furacões e terremotos, já sofreu até tsunami segundo registros históricos.

Tsunami

A onda gigante teria ocorrido em 1542, na Vila de São Vicente, ocasião em que o mar teria avançado 300 metros terra adentro. Essa história esteve nos debates da 57a Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e já foi publicada em diversos periódicos científicos. Por isso, de acordo com os registros da SBPC, as primeiras igrejas de São Vicente, mergulhadas no oceano, hoje só podem ser vistas com equipamento de mergulho. Elas seriam um vestígio do vagalhão que atingiu o litoral paulista no século XV.

Pintor Carlos Fabra retrata o suposto tsunami que teria invadido a Vila de São Vicente em 1542.
Fonte: http://www.novomilenio.inf.br.

 

Para o físico Carlos França, do Instituto Oceanográfico da USP, a possibilidade de ocorrerem tsunamis destrutivos na costa brasileira é muito remota – mas não impossível. Segundo ele, ocorrem tsunamis de pequena amplitude na costa brasileira, que às vezes são detectados. “Tsunamis são ondas causadas por movimentos tectônicos (terremotos, deslizamentos de terra, explosões vulcânicas) no oceano ou nas proximidades”, diz. “Há também a possibilidade de que geleiras se desprendam do continente e, caindo no oceano, causem tsunamis”, completa. Mas a costa do Brasil está no centro da placa tectônica sul-americana, explica ele, e, por isso, a atividade tectônica aqui é pequena.

Vulcões

Já os vulcões brasileiros são, de fato, vestígios de um passado distante e não mais representam uma ameaça. Ironicamente, a região que hoje o Brasil ocupa foi a primeira do planeta a apresentar atividades vulcânicas. Com cerca 1,9 bilhões de anos, os vulcões da Amazônia são os mais antigos reconhecidos no mundo, conforme revela um dos seus descobridores, o geólogo Caetano Juliani, do Instituto de Geociências da USP. Juliani conta que os vestígios desses vulcões, cuja atividade foi uma das mais importantes do planeta na época, cobre mais de 1.100.000 km2.

Mas, segundo o geólogo, esses vulcões jamais voltarão à atividade, pois o seu ciclo geológico de vida se extinguiu há uns 1,85 bilhões de anos. “Isso porque eles foram gerados num processo de subduçcão (quando uma placa tectônica entra por baixo da outra) que terminou com a colisão de dois continentes; ou seja, não há mais movimentos”, diz. E os extintos vulcões brasileiros excedem os limites da Amazônia. “Estamos identificando restos de pelo menos mais uns quatro ou cinco na região de São Felix do Xingu, Pará”, revela Juliani.

Já furacões e ciclones são ameaças reais. O furacão Catarina, que se formou a 400 km da costa sul do Brasil, atingiu o país em 2004. Para o físico Reinaldo Haas, dos Laboratórios de Engenharia de Processos de Conversão e Tecnologia de Energia (LEPTEN) da Universidade Federal de Santa Catarina, esse fenômeno pode estar ou não ligado às mudanças climáticas – quando o Catarina se formou, havia águas muito quentes do Oceano Atlântico na Antártida.

Quando se trata de ciclones e tornados, Haas conta que, desde os anos 70 e 80, os eventos severos têm aumentado em freqüência e intensidade no Brasil. Para ele, uma das razões pode ser a posição do anticiclone do Atlântico Sul, localizado hoje mais a oeste do que na primeira metade do século XX. O anticiclone é uma zona de alta pressão em que os ventos giram no sentido anti-horário. Haas aponta também o aquecimento global com elevação da umidade – que explica as temperaturas noturnas mínimas maiores, verificadas nos últimos anos – e a poluição, sobretudo a das queimadas, que parece estar agindo nas nuvens da região sul. “Esta última é uma hipótese, pois temos feito medidas com chuva, que tem apresentado fuligem de queimadas”, diz.