Pesquisador discute as bases moleculares do envelhecimento

Em palestra realizada no último domingo (18) junto à exposição Revolução Genômica, em São Paulo, Jan Hoeijmakers defendeu que existe um elo entre o acúmulo de erros nas seqüências de DNA e o envelhecimento. O pesquisador da Universidade Erasmus, na Holanda, desenvolveu camundongos com defeitos nos mecanismos de reparo ao DNA e observou que esses envelhecem mais cedo.

“Entender as bases moleculares do envelhecimento”. Foi assim que o pesquisador Jan Hoeijmakers iniciou sua palestra no último domingo (18), na exposição Revolução Genômica, em São Paulo, resumindo sua área de atuação. Com o tema “Envelhecimento e longevidade: quanto duram seus genes?”, o simpático pesquisador da Universidade Erasmus, em Roterdã, Holanda, contou um pouco da sua trajetória dentro dos estudos de dano e reparo ao DNA e as conseqüências do acúmulo de erros em nossas seqüências de DNA, essencialmente o desenvolvimento de câncer e envelhecimento.

Jan Hoeijmakers durante palestra na exposição Revolução Genômica

Mas como esses erros aparecem no DNA? Hoeijmakers explicou que os chamados “danos ao DNA” são causado por diferentes agentes, como radiação ultravioleta, fumo, poluição, radicais de oxigênio, entre outros, que terminam por cortar pedaços ou alterar a seqüência da molécula. As células possuem mecanismos para reparar esses erros, que atuam no genoma inteiro, o chamado NER (do inglês nucleotide excision repair) que podem ser assim resumidos: primeiro ocorre o dano por algum dos agentes listados acima. Em seguida, proteínas reconhecem o dano e as chamadas helicases (um tipo de enzima), como a XPD helicase, abrem a fita dupla do DNA. Outras proteínas verificam e estabilizam, as endonucleases cortam o trecho com a seqüência errada, enquanto a DNA polimerase completa a seqüência correta e a DNA ligase religa a fita de DNA. É um conjunto de mais de 30 proteínas com funções diferentes orquestrando o reparo.

No entanto, há situações em que esses mecanismos de reparo não funcionam, explicou o pesquisador, o que leva ao desencadeamento de doenças raras como xeroderma pigmentosum (XP), síndrome de Cockayne (CS) ou tricotiodistrofia (TTD), por exemplo. Tais pacientes possuem mutações em proteínas que participam do reparo do DNA, muitas delas identificadas pelo próprio Hoeijmakers. Chama a atenção que tais pacientes apresentam características progeróides – que lembram as do envelhecimento natural -, contudo precoce, como degeneração neuronal e óssea, alterações pigmentares em áreas da pele expostas ao sol, cabelos e unhas frágeis, entre várias outras.

Jan Hoeijmakers contou que ele e sua equipe partiram para a geração de camundongos em laboratório com as mesmas mutações encontradas em humanos. O resultado foi que eles obtiveram uma série de mutantes, como, por exemplo, o camundongo TTD, com mutação no gene da helicase XPD. Esse camundongo mimetiza o quadro observado em humanos para a doença de mesmo nome e apresenta várias características de envelhecimento precoce.

Foi a parceria entre estudos em humanos e modelos experimentais que apresentam deficiências nas vias de reparo de DNA que possibilitou estabelecer esse elo entre dano ao DNA e envelhecimento, dando origem a uma nova percepção: “vias genéticas que regulam a longevidade respondem ao acúmulo de erros no DNA e a outras condições de estresse e, reciprocamente, influenciam a taxa de acúmulo de dano e seu impacto no câncer e envelhecimento”, destacou Hoeijmakers em artigo de revisão publicado este ano no periódico científico Trends in Genetics.

Nessa mesma linha, o pesquisador comentou durante a palestra que estudos genéticos em pessoas centenárias mostraram que ocorre um redirecionamento da energia de crescimento e desenvolvimento para manutenção e reparo das células. É uma estratégia para a longevidade. Por outro lado, camundongos mutantes que expressam grandes quantidades do hormônio de crescimento, tornam-se animais grandes, investem muito em crescimento e desenvolvimento, e vivem por menos tempo, já que investiram menos em manutenção e reparo.

Hoeijmakers concluiu dizendo que defende a “promoção do envelhecimento saudável” e acredita que a identificação de agentes para reduzir o dano ao DNA irá colaborar para atingirmos tal objetivo.

Desgaste físico diário do cortador de cana é igual ao de maratonista

Pesquisadores da Unimep divulgaram dados prévios de um estudo sobre o corte manual da cana no interior paulista. Em apenas 10 minutos esse trabalhador corta 400 Kg de cana, realiza 131 golpes de facão e flexiona o tronco 138 vezes. A extenuante jornada não conta com repouso e tenta garantir a sobrevivência das famílias dos cortadores.

Pesquisadores da Unimep divulgaram dados prévios de um estudo sobre o corte manual da cana no interior paulista. Pela primeira vez se conduziu um estudo empírico sobre a ergonomia no trabalho do cortador. Em apenas 10 minutos esse trabalhador corta 400 Kg de cana, realiza 131 golpes de facão e flexiona o tronco 138 vezes. A extenuante jornada não conta com repouso e tenta garantir a sobrevivência das famílias dos cortadores.

“A conclusão que chegamos é que a condição física de um cortador de cana se assemelha a de um maratonista. Seus músculos são franzinos, mas sua resistência é elevada”, afirma Erivelton Fontana de Laat, coordenador da pesquisa. O estudo também aponta que muitos dos problemas de saúde que acometem esses trabalhadores são os mesmos a que estão sujeitos atletas de alto desempenho. Mas sob quais condições?

O principal fator de risco no corte da cana, de acordo com dados do estudo piloto realizado em maio, é a sobrecarga na atividade cardiorrespiratória do trabalhador. Através do uso de uma metodologia que levou em consideração aspectos como a freqüência cardíaca (em repouso, média e máxima), idade e produção diária em toneladas, Laat descobriu que seis dos dez trabalhadores analisados ultrapassaram o limite cardiorrespiratório tolerável à saúde. Alguns chegaram a picos de mais de 180 batimentos cardíacos por minuto. “O que acontece nos canaviais é semelhante a um atleta que ultrapassa o seu limite de treino. Ao invés de correr cinco quilômetros, ele tenta percorrer a distância de uma maratona todos os dias”, diz Laat.

Os resultados foram apresentados a procuradores do Ministério Público e do Ministério do Trabalho no seminário “Condições de trabalho no plantio e corte de cana”, que ocorreu no final de abril, em Campinas.

Temperatura e risco de lesões por repetição

Com o auxílio de um software francês, os pesquisadores analisaram a rotina de trabalho de um cortador que ao fim do dia havia cortado 11,54 toneladas de cana. Quando se amplia os dados obtidos em 10 minutos para um dia inteiro de trabalho chega-se a 3792 golpes de facão e 3994 flexões de coluna, o que representa um sério risco à coluna e articulações, segundo informa Laat.

Cortador amola o facão utilizado 3792 vezes por dia.
Fonte: Grupo Móvel 15a PRT

 

O estudo da Unimep também tratou sobre o ciclo de atividades repetitivas do cortador. Em média ele precisa de 5,6 segundos para abraçar um feixe com cinco a dez varas de cana, puxar ou balançar, flexionar a coluna, cortar o feixe rente ao solo, jogar a cana em montes e progredir. “Estudos ergonômicos mostram que qualquer atividade laboral com ciclo de repetição inferior a 30 segundos possui grande risco de surgimento lesões”, afirma o pesquisador.

O sol é outro fator preocupante. Na medição feita em maio – que é um mês de temperatura agradável – o termômetro marcou a temperatura máxima de 27,40 graus Celsius no canavial. A média ficou em 260 graus. De acordo com a Norma Regulamentadora (NR) 15 do Ministério do Trabalho e Emprego, toda atividade laboral pesada realizada em lugares com temperatura ambiente entre 26 e 280 graus Celsius precisam de pausas de 30 minutos para cada 30 minutos de trabalho. Essa NR não é cumprida nos canaviais paulistas.

Laat comenta que, em sua pesquisa de campo, percebeu que a empresa contratante até indicava alguns momentos de pausa no trabalho através do som da buzina de um ônibus. No entanto, como não havia fiscalização sobre o cumprimento desta pausa, praticamente nenhum cortador largava seu facão para descansar, já que a pausa pode significar perda de produção e, portanto, de dinheiro.

Para a maioria dos procuradores presentes ao seminário de Campinas esse é o motivo dos trabalhadores suportarem tão duras condições de trabalho. O piso salarial da categoria é de aproximadamente 500 reais. Entretanto, como o pagamento varia de acordo com a produção individual, um bom cortador – um campeão como é chamado na lavoura – pode chegar a rendimentos mensais de 1200 a 1500 reais.

Para a grande maioria da massa trabalhadora do setor, formada principalmente por migrantes do Nordeste e Norte, tal valor é muito mais do que ganhariam em suas regiões natais. A extenuante jornada de trabalho é tolerada por homens que querem, a todo custo, garantir a sobrevivência de suas famílias. “Tem a questão emblemática também. Por exemplo, um cortador migrante que compra uma moto ao fim da safra de cana é visto como herói pelos mais jovens da sua região”, completa Laat.

Morte no trabalho Entretanto, a luta frenética pela subsistência faz com que os cortadores não levem em consideração fatos como a morte de companheiros. Segundo a Pastoral do Migrante de Guariba, 20 trabalhadores rurais do setor sucroalcooleiro morreram de 2004 até agora. Os poucos que possuem o motivo da morte registrado no atestado de óbito apontam, principalmente, morte por parada cardiorrespiratória. Vários estudiosos e sindicalistas do setor dizem não haver dúvidas que essas mortes sofrem forte influência da rotina de trabalho mensurada agora pela equipe da Unimep.

O resultado final deste trabalho final será apresentado em 2009 e abordará outras questões como a poeira da queima da cana inalada pelos cortadores, a massa corpórea ganha ou perdida no decorrer da safra e a comida ingerida por esses trabalhadores. Os pesquisadores querem traçar um paralelo entre os dados quantitativos coletados e a qualidade de vida dos trabalhadores. Atualmente, um cortador de cana consegue trabalhar, em média, até os 35 anos, afirma Laat.

Um dos objetivos dessa pesquisa, de acordo com os seus idealizadores, é fornecer ao judiciário material científico crível que contribua com o julgamento de ações trabalhistas ou civis públicas referentes ao tema. Dessa maneira, eles acreditam que se pode caminhar na direção de um futuro laboral mais humano para aqueles que ajudam a garantir a energia do país.

Em Pequim, respirar fundo será problema para atletas

Pequim – sede dos Jogos Olímpicos 2008 – é considerada uma das cidades mais poluídas do Mundo. Os níveis de poluentes da capital chinesa podem comprometer a saúde e o rendimento dos atletas que vão participar das Olimpíadas.

Os atletas vão enfrentar um adversário inusitado nas Olimpíadas de Pequim: a poluição. A capital chinesa apresenta níveis de poluentes no ar superiores aos considerados seguros pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A poluição, proveniente de indústrias, queima do carvão e grande número de veículos em circulação, pode causar problemas respiratórios e comprometer o desempenho dos competidores nas provas.

Segundo o coordenador técnico da equipe de atletismo do Laboratório de Bioquímica do Exercício / Grupo Gestor de Benefício Sociais (GBS) da Unicamp, Lucas Tessutti, a absorção dos poluentes pelo pulmão é determinada por vários fatores, como morfologia dos tecidos, da mucosa e do sangue, padrão de respiração, capacidade total pulmonar, inflamação das vias aéreas e propriedades físico-químicas dos gases. Por isso, a resposta à poluição difere de indivíduo para indivíduo e de local para local. Tessutti diz, ainda, que a inalação de poluentes pode modificar o débito cardíaco (volume de sangue bombeado pelo coração por minuto), a ventilação (a respiração fica mais curta devido à diminuição da superfície de troca gasosa) e o espessamento da mucosa das vias aéreas.

O professor de medicina esportiva da Unifesp, Paulo Zogaib, explica que grandes quantidades de poluentes no ar reduzem a capacidade de proteção do organismo contra inflamações respiratórias e comprometem, sobretudo, a ventilação. “A poluição pode levar a um quadro de broncoespasmo – contração da musculatura do brônquio – que prejudica a ventilação, isto é, a entrada e saída de ar nos pulmões”.

Como a quantidade de energia que o corpo produz é proporcional ao consumo de oxigênio, a diminuição do fluxo respiratório reduz a capacidade de praticar exercícios, uma vez que, se uma pessoa não capta oxigênio do ar atmosférico em volumes adequados, ela não consegue produzir energia suficiente e, conseqüentemente, seu rendimento cai.

Risco maior para atletas

Respirar um ar com partículas poluentes oferece, portanto, riscos à saúde de qualquer pessoa. Mas, no caso dos atletas, os efeitos são potencializados. Isso acontece porque que, em repouso, um indivíduo ventila cerca de 10 litros de ar por minuto. Entretanto, durante a atividade física, essa ventilação aumenta muito – sobre para 100, 120 litros de ar, dependendo do tamanho do tórax da pessoa – pois é preciso mais oxigênio para produzir mais energia. “Se um atleta ventila 100 litros de ar por minuto – 10 vezes mais que quando está parado – ele inala uma dose de poluentes também 10 vezes maior. Por isso, o risco de broncoespasmo é muito mais elevado no exercício”, destaca Zogaib.

Nos jogos de Pequim, a situação é pior para os atletas que disputarão provas aeróbias (de resistência), como triatlo, ciclismo e maratona – competições de longa duração, que acontecem em ambientes externos. Alguns atletas já anunciaram que não vão participar dessas provas. É o caso do etíope Haile Gebrselassie, atual recordista mundial da maratona. O corredor sofre de asma e teme que os efeitos do ar poluído na corrida de mais de 42 Km, que dura em média duas horas, cause danos à sua saúde.

Minimizando impacto

A partir de 20 de julho, a China adotará uma série de medidas para conter a emissão de poluentes em Pequim. O plano – que ficará em vigor até 24 de agosto, quando os jogos serão encerrados – prevê o corte do número de carros em circulação pela metade; a proibição de caminhões-tanque e postos de gasolina que não possuam tecnologia de redução de poluentes; diminuição da emissão de gases por parte das 19 fábricas mais poluidoras de Pequim, em pelo menos 30%; e interrupção de grandes obras de construção civil.

O Comitê Olímpico Internacional (COI) se diz confiante em relação às medidas tomadas pelos organizadores dos Jogos, mas admite que a poluição oferece riscos para os atletas que competirão em provas de resistência ao ar livre. Por isso, anunciou que adiará essas disputas por algumas horas, caso a qualidade do ar não esteja favorável.

Os comitês olímpicos nacionais também estão se preparando. A assessoria do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) informou que, apesar de não ter recebido nenhum tipo de orientação ou recomendação do COI sobre o assunto, está realizando uma série de exames físicos e de avaliações em todos os atletas brasileiros que vão participar das Olimpíadas, para descobrir quais deles estão mais suscetíveis aos possíveis impactos causados pelo ar poluído.

Segundo Zogaib, a melhor estratégia para minimizar o problema da poluição é hospedar e treinar os atletas em outros locais – como Japão, Coréia do Sul ou regiões menos poluídas da própria China – e só levá-los para a capital chinesa um ou dois dias antes da prova. A equipe paraolímpica, por exemplo, ficará em Macau, China, para treinamentos e adaptação ao fuso, e será levada para Pequim apenas na véspera dos Jogos.

Outra possível alternativa que tem sido cogitada é o uso de máscaras. O chefe do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da UPS, João Vicente de Assunção, adverte que essa medida só funcionaria se as máscaras fossem de um tipo especial para conter partículas e gases. Além disso, diz ele, o equipamento interferiria na capacidade respiratória dos atletas, por ser um elemento de resistência à passagem do ar.

Escolha estratégica

Assunção ressalta que as medidas propostas para atenuar a poluição em Pequim deveriam ser efetivas – e não paliativas – para que perdurassem após as Olimpíadas. Para ele, teria que estar entre as obrigações de qualquer país sede implementar melhorias definitivas para a população local.

Enquanto políticos, ativistas, esportistas e a sociedade em geral recriminam a escolha de Pequim para sediar os Jogos, Assunção vê no evento uma oportunidade de provocar mudanças benéficas na China. “A preocupação dos atletas, técnicos e dirigentes de entidades participantes e organizadoras tem o lado positivo de mostrar para os chineses que algo precisa ser feito”. O professor chama atenção para o fato de que a população chinesa respira o ar poluído diariamente, condição muito mais grave que a exposição temporária e curta de atletas. “Fico em dúvida se a desqualificação da China por causa da poluição do ar teria um efeito pedagógico maior que a divulgação do problema em termos mundiais”, avalia.