Assim como em qualquer outro tipo de cultura, a cana-de-açúcar também precisa de uma determinada quantidade pluviométrica e de luz solar para se desenvolver e apresentar qualidade. A cidade São Paulo contabilizou altos índices de chuva nos últimos meses, chovendo 480,5 milímetros em janeiro e 146 milímetros nos primeiros cinco dias de fevereiro, conforme dados divulgados pelo Instituto Nacional de Metereologia (Inmet), sendo um dos municípios mais castigados pelo acúmulo pluviométrico. Mesmo o interior do estado de São Paulo e as regiões produtoras de cana tendo recebido uma boa quantidade de chuva nos dois primeiros meses do ano, isso não deve afetar a safra de março, de acordo com Marcos Guimarães Landell, professor e pesquisador do Centro Tecnológico do Agronegócio da Cana-de-Açúcar do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), pois a planta se encontra em estado de crescimento vegetativo e as atuais condições favorecem este estágio. Ou seja, o clima é de extrema importância para o desenvolvimento das plantações.
Landell explica que a cultura da cana necessita de uma quantidade de chuvas adequada e bem distribuída no período do crescimento. “Quando enfrentamos altos índices pluviométricos e, principalmente, com baixa insolação nos meses de janeiro a março, percebemos um déficit no crescimento da cana, justamente quando a cultura se desenvolve mais, o que não ocorreu este ano, não prejudicando o cultivo”. Ele afirma ainda que chuvas recorrentes, altos índices de insolação e o calor são importantes para o crescimento da cana. “Nos meses de dezembro a março, observamos as maiores taxas de crescimento da cultura e altas temperaturas, chuva e insolação favorecem isso”.
Os altos índices de chuva desses meses foram favoráveis ao desenvolvimento vegetativo da cana, conclui Landell. “Aliás, fevereiro está sendo um mês com muita insolação e isto é muito favorável à produção da cana. A redução de chuva no atual mês – caso continue este período mais seco – poderá ser boa para antecipar a maturação da planta, pois auxiliará na qualidade da matéria prima no início de safra”, complementa. Entretanto, o pesquisador frisa que ainda é cedo para prever se esses fatores não irão influenciar negativamente na próxima safra. “Ainda tem muita coisa para ocorrer até a primeira dezena de março”.
No último estágio, antes da colheita, a planta estará na fase da maturação, um processo fisiológico que ocorre quando o talho – o fruto agrícola e a parte mais importante da planta – atinge o máximo de armazenamento de açúcar. Nessa etapa será preciso um clima mais seco para que não haja prejuízo aos canaviais. “Realizamos a colheita no período menos chuvoso, quando os canaviais estão em processo de maturação e não em crescimento vegetativo. Caso haja muita chuva no momento da colheita, haverá estímulo ao processo de crescimento vegetativo e, portanto, prejuízo ao estoque de açúcares acumulados nesta cana”, explica. Em outras palavras, se as chuvas continuarem com a mesma intensidade até os primeiros dez dias de março, haverá um impacto negativo sobre a safra.
Maximiliano Scapari, pesquisador do mesmo centro, comenta que os agricultores devem ter uma série de cuidados com as plantações, durante períodos de chuva intensa. “A manutenção de terraços e curvas de nível é importante. Em áreas de renovação do canavial, outra recomendação seria não deixar o solo exposto por muito tempo. O uso de reguladores de crescimento em períodos chuvosos como estamos enfrentando é outra medida interessante para aumentar o teor de açúcar da cana e possibilitar uma colheita mais precoce do canavial”.
Clima diretamente ligado à produção
A cana-de-açúcar é reconhecida como uma planta tropical, que convive com as mais diversas estações, desde o inverno até o verão, passando por períodos de chuva. Os componentes climáticos que contribuem para a qualidade da planta são umidade, luz e temperatura. “No período de crescimento e desenvolvimento, chuva constante e com boa distribuição, alta temperatura e insolação. Na maturação, seca moderada e baixa temperatura para promover o desenvolvimento da planta”, complementa Landell.
Fatores ideais
Nos meses de crescimento vegetativo, que é seguido por um período de amadurecimento, o ideal é que a plantação receba um total de 1100 a 1500 mm de chuvas distribuídas. Durante o período de crescimento ativo, além de influenciar o crescimento rápido, a chuva é responsável também pelo alongamento da planta e a formação de entrenós – que são responsáveis por dividir o talho. Durante o período em que a cana-de-açúcar está amadurecendo, o ideal são poucas chuvas, para que não haja prejuízo na qualidade do suco e a matéria-prima apresente mais qualidade e maior teor de açúcar.
A luz solar é bem recebida pela cana-de-açúcar, fazendo com que ela tenha um crescimento adequado em áreas cuja energia solar varia entre 18 e 36 MJ/m2. Por ser uma planta C4 (que no processo de fotossíntese utiliza uma molécula de quatro carbonos como primeiro produto na incorporação de CO2), ela é capaz de desenvolver altos índices fotossintéticos, apresentando alta saturação em relação à luz.
Cana-de-açúcar e aquecimento global
Estudos apontam que o aquecimento global, uma das consequências das alterações climáticas ocorridas no planeta, pode acarretar um impacto positivo e importante para o cultivo dessa planta. “A cana é uma planta com alta capacidade de absorver e transformar CO2 em carboidratos e muito eficiente no uso da água. Se for confirmada a elevação de CO2 e da temperatura, esse cenário será favorável para a cultura”, conclui Landell.