Como está a colaboração entre institutos de pesquisa e setor produtivo?

Na busca por entender em que pé está a situação de colaboração entre pesquisa científica e empresas no Brasil, há cerca de dois anos, pesquisadores do Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas constituíram um grupo de pesquisa que começa a mostrar resultados.

Atualmente, uma das maiores preocupações relacionadas ao desenvolvimento econômico de um país reside na produção de inovações. Em uma comparação entre a economia emergente brasileira com outras já bastante desenvolvidas, como a dos Estados Unidos e do Japão, uma das diferenças mais perceptíveis está nas relações dos centros de produção de saber, como universidades e institutos de pesquisa, com as empresas privadas que constituem o setor produtivo. A simbiose entre esses dois setores é cada vez maior nos países desenvolvidos, enquanto no Brasil essa interação ainda patina. Na busca por entender em que pé está a situação de colaboração entre pesquisa científica e empresas no Brasil, há cerca de dois anos, pesquisadores do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) constituíram um grupo de pesquisa que começa a mostrar resultados.

Em linhas gerais, o projeto do DPCT visa entender o padrão atual, no Brasil, de colaboração entre universidades e institutos de pesquisa com as empresas privadas, mirando na produção de inovações tecnológicas. São quatro anos previstos de trabalho, sendo que dois deles já foram transcorridos. O projeto faz parte de uma iniciativa internacional encabeçada por Richard Nelson, da Universidade de Columbia, uma das autoridades mundiais sobre o tema.

Como esclarece Wilson Suzigan, um dos pesquisadores do grupo, o projeto passou pela fase de levantamento e discussão da literatura teórica sobre o assunto, produzida principalmente por autores de países centrais, economicamente desenvolvidos, como os Estados Unidos e boa parte da Europa, e de um país em desenvolvimento que se destaca nessa relação entre pesquisa e setor produtivo, a Coreia do Sul. O objetivo é saber se essa produção teórica seria útil para entender o caso brasileiro.

Em seguida, os pesquisadores do DPCT prepararam um levantamento para entender melhor o perfil tanto dos grupos e instituições de pesquisa quanto das empresas que interagiriam com eles. Usando a base de dados do CNPq para chegar aos líderes de grupos de pesquisa do país inteiro e aplicando um questionário, o grupo da Unicamp conseguiu encontrar mais de 2.300 grupos de pesquisa que se declararam interagindo com empresas privadas. “A ideia é comparar os grupos de pesquisa que colaboram com aqueles que não colaboram com o setor produtivo”, afirma Suzigan.

Dos 2.300 grupos que afirmaram alguma interação com empresas, 1.005 deram respostas que possibilitaram um detalhamento dessa interação, inclusive tornando possível ao grupo do DPCT chegar às empresas envolvidas na colaboração com centros de saber. O primeiro trabalho resultante desses estudos foi apresentado em fevereiro de 2009, em seminário internacional sobre o tema em Seul, na Coreia do Sul, e publicado em dezembro pela Seoul Journal of Economics. Essa primeira produção do grupo de Suzigan volta-se, por enquanto, apenas para o lado das universidades, tentando entender qual a visão dos pesquisadores que interagem com empresas privadas – por exemplo: se fazem projetos conjuntos ou se apenas prestam consultoria.

Suzigan diz que, com relação aos levantamentos voltados para entender o lado das empresas, tem sido muito mais difícil extrair informações que iluminem o problema: das 1.005 empresas abordadas, apenas 326 responderam ao questionário. Suzigan lembra que a relutância em responder à pesquisa se deu, fundamentalmente, entre empresas que são de setores economicamente estratégicos ou de fronteira tecnológica. Embora os resultados preliminares ainda estejam sendo escritos, Suzigan adianta algumas surpresas, como a constatação de que as universidades são procuradas para desenvolver projetos em conjunto com as empresas, e não apenas para prestar consultoria – embora a consultoria de pesquisadores ainda tenha importância nas interações pesquisa-empresa.

Uma das conclusões preliminares desse projeto é a de que os benefícios que advêm da colaboração entre empresas e pesquisadores são muito valorizados pelos dois lados. Há uma clara troca e transferência de conhecimento entre os setores, afirma Suzigan. Os pesquisadores ganham um precioso conhecimento ao qual, de outra forma, talvez não tivessem acesso; enquanto as empresas conseguem complementar seu conhecimento técnico-científico, aplicando-o na produção de inovações. O objetivo final do grupo de pesquisa da Unicamp é justamente sugerir políticas públicas que implementem e façam aprofundar, no Brasil, essas interações fundamentais para o desenvolvimento econômico contemporâneo.

Unesp disponibiliza livros digitais gratuitos de olho na difusão do conhecimento

A Unesp inaugurou no dia 11 de março uma nova etapa na publicação de livros acadêmicos. Resultado de uma parceria entre a Fundação Editora da Unesp e a Pró-Reitoria de Pós-Graduação, o projeto já disponibilizou na internet 44 livros de pesquisadores de 22 programas de pós-graduação da universidade.

Em uma iniciativa pioneira no Brasil, o Programa de Publicações Digitais da Universidade Estadual Paulista (Unesp) inaugurou no dia 11 de março uma nova etapa na publicação de livros acadêmicos. Resultado de uma parceria entre a Fundação Editora da Unesp e a Pró-Reitoria de Pós-Graduação, o projeto já disponibilizou na internet 44 livros de pesquisadores de 22 programas de pós-graduação da universidade. É o maior projeto de difusão de publicações de uma universidade brasileira, criado para expandir a difusão do conhecimento.

As obras publicadas já estão disponíveis gratuitamente para download no site www.culturaacademica.com.br e pertencem às áreas de ciências humanas, ciências sociais e aplicadas, linguística, letras e artes. De acordo com Marilza Vieira Cunha Rudge, pró-reitora de Pós-Graduação da Unesp, a meta é publicar 600 livros em 10 anos.

No evento realizado para divulgar a iniciativa, o qual contou com a apresentação dos responsáveis pelo projeto, Marilza Rudge destacou que o os livros digitais foram concebidos para levar à sociedade o conhecimento produzido pela universidade. “Hoje mesmo uma reunião do Conselho Universitário da Unesp vai gerar um novo edital para a publicação de mais 58 livros”, adiantou. “O programa vai dar mais visibilidade para a pós-graduação da universidade”, afirmou. Segundo ela, a Unesp tem atualmente 115 programas de pós-graduação, a segunda maior quantidade no Brasil.

Presente ao evento de lançamento, Jézio Hernani Bonfim Gutierre, editor-executivo da Editora Unesp, lembrou da quantidade de informações disponíveis em todas as mídias. “Nossa função é sermos uma instituição que dá respeitabilidade ao conteúdo para garantir informação de qualidade”, afirmou. “E a mudança de visão é que, nesse caso, os livros originais já foram pensados em formato digital e não no impresso”, afirmou.

José Castilho Marques Neto, diretor-presidente da Fundação Editora da Unesp, ressaltou a facilidade de acesso ao conteúdo. “Apenas entre ontem e hoje, as publicações já foram baixadas por quase mil usuários”, afirmou. Se a iniciativa é pioneira e tende a crescer, Castilho ressaltou que este é apenas o início de todo um processo. “Estamos lançando esse formato, mas as próximas versões serão ainda mais interativas e amigáveis, para que esse conteúdo seja cada vez mais acessível aos usuários”, finalizou.

Sites sobre saúde interferem na relação entre médico e paciente?

O “paciente expert” é um termo adotado por um grupo de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, que vêm desenvolvendo pesquisas sobre sites acessados antes e depois de consultas. O objetivo do grupo brasileiro é descobrir até que ponto o acesso a sites sobre saúde interfere no relacionamento entre os médicos e seus pacientes.

Um fenômeno recente, que tem crescido no mundo inteiro em função do imenso alcance da internet, resultou no surgimento do “paciente expert”, pessoa que busca informações sobre sua própria doença em sites voltados a questões de saúde. O termo foi adotado por um grupo de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, que vêm desenvolvendo pesquisas sobre o assunto, que tem pautado estudos também nos Estados Unidos e Europa. O objetivo do grupo brasileiro é descobrir até que ponto o acesso a sites sobre saúde interfere no relacionamento entre os médicos e seus pacientes.

Com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), no valor de cerca de R$ 100 mil, foi construído um laboratório onde serão feitas avaliações sobre a qualidade das informações contidas em sites de saúde. O laboratório fica anexo ao Centro de Saúde da Fiocruz, que atende uma população de baixa renda, habitante de uma área próxima ao campus. O público atendido nesse Centro de Saúde é portador de doenças crônicas, tais como tuberculose e diabetes.

Segundo André Pereira Neto, historiador e pesquisador da Fiocruz que compõe a equipe que vem desenvolvendo o projeto, “o principal perfil de usuário é de pessoas que buscam informações sobre sua doença em sites e em comunidades virtuais”. Por meio dessas comunidades virtuais, esses pacientes encontram outras pessoas com quem podem compartilhar suas experiências. A ideia de ter esse laboratório junto ao Centro de Saúde é poder contar com a participação dos pacientes ali atendidos na avaliação dos sites.

O Comitê para Democratização da Informática (CDI), uma ONG de apoio à inclusão digital, irá disponibilizar dois instrutores e um supervisor, para orientar os pacientes na análise dos sites. “Enfatizamos a importância do ponto de vista do usuário dos sites de saúde na internet”, explica Pereira Neto.

Ele aponta que a internet se revelou uma ferramenta importante para a manutenção da saúde das pessoas. Um dos benefícios é que a rede incentiva a mudança de comportamento. “Existe um longo período entre o momento em que alguém obtém uma informação e aquele em que promove uma mudança em seus hábitos, e a internet contribui para acelerar esse processo”. Infelizmente, nem sempre de forma positiva, uma vez que a internet oferece também informações fraudulentas e mal intencionadas. Além disso, é um meio de grande visibilidade para a propaganda de empresas farmacêuticas, o que a maioria das pessoas não sabe identificar. Desse modo, muitos sites defendem o uso de alguns medicamentos que podem ser prejudiciais à saúde humana. Há ainda outras questões, segundo Pereira Neto. “Um dos sites que analisamos, por exemplo, defendia e incentivava a anorexia, com dicas de como ficar mais magra e esconder os hábitos estranhos dos pais”, diz.

O objetivo dos pesquisadores é fornecer um selo de qualidade para os sites. Segundo Pereira Neto, a ideia não é censurar as informações, mas apenas certificar e indicar os sites mais adequados. Para descobrir se as informações têm qualidade ou não, serão usados na análise três tipos de indicadores: de conteúdo, ou seja, a atualidade da informação; de navegabilidade, que significa saber se o site é lento ou mal diagramado; e do usuário, em que os próprios pacientes vão poder opinar sobre a legibilidade da informação.

Além dos pacientes, Pereira Neto alerta que há médicos, com formação mais precária, que também costumam recorrer à internet para tirar suas dúvidas. Essa situação levou os pesquisadores a buscarem uma parceria com a Federação Nacional dos Médicos (Fenam). “Pretendemos fazer uma seleção de sites para os médicos, principalmente, aqueles que não sabem ler em inglês e, portanto, não têm acesso a publicações especializadas, o que é uma realidade no Brasil”, observa.

As avaliações ainda não tiveram início, mas Pereira Neto diz que a seleção dos sites analisados será feita de acordo com os mais acessados, ou seja, os que aparecem na primeira página de busca pelo Google. “Uma pesquisa apontou que a maioria das pessoas não passa da primeira página”, diz.

Mais usuários a cada dia

Hoje, a maioria dos usuários que consultam sites sobre saúde são mulheres entre 30 e 40 anos, com acesso à internet no trabalho. “No entanto, os jovens também têm participado ativamente de discussões em comunidades virtuais, principalmente em sites de relacionamento, onde podem trocar experiências com pessoas da mesma idade”, conta. No Orkut, existem comunidades do tipo “Tenho diabetes, e daí?”, “Quem eu amo tem diabetes”, “Prevenções às DST’s”, “Amigos da tuberculose”, entre outras.

Nos fóruns dessas comunidades virtuais, os usuários tratam principalmente de experiências pessoais a respeito dos efeitos de determinados medicamentos, do atendimento nos hospitais, tipos de tratamento, entre outros temas relacionados à doença. Para Pereira Neto, que defende a decisão compartilhada entre o médico e o paciente, é importante que o paciente tenha consciência do tratamento e do remédio que está tomando.

Tradicionalmente, o médico era o único detentor das informações. Hoje, se ele não se mantém atualizado sobre as novidades na internet, corre o risco de perder a confiança dos pacientes conectados com a rede. C.R., que preferiu não se identificar, é técnica em enfermagem e faz tratamento para depressão há mais de dez anos. “Gosto de trocar ideias com o médico e colocar a minha opinião, sem fazer simplesmente o que ele quer”, diz. Frequentemente, ela busca novos remédios e experiências de outras pessoas em sites que considera confiáveis. “Se percebo que o médico está receitando um medicamento muito antigo, reclamo ou troco de médico”, conta.

No entanto, Pereira Neto não acredita na desprofissionalização do médico após esse novo fenômeno. “Não há nada que se compare à experiência prática de anos de um médico”, afirma. Provavelmente, os médicos não vão perder a autoridade sobre os diagnósticos para a internet, mas certamente a relação entre eles e seus pacientes será mais igualitária, graças ao acesso democrático às informações sobre saúde.