Pacientes que usam antiepilépticos devem ser monitorados durante anestesia geral

Pesquisadora do Departamento de Farmacologia da Unicamp constata que o uso contínuo de antiepilépticos pode alterar os efeitos dos relaxantes musculares usados na anestesia geral. Resultado indica que os pacientes que usam antiepilépticos devem ser monitorados durante todo o procedimento.

Ao contrário do que muita gente imagina, uma anestesia geral não envolve apenas o uso de anestésicos. De acordo com a fisioterapeuta Caroline Barcelos, em praticamente toda cirurgia geral, o uso de relaxantes musculares é necessário para produzir uma completa paralisia muscular. Barcelos acrescenta que isso é especialmente necessário durante cirurgias de maior porte ou mais delicadas que requerem relaxamento dos músculos para permitir manuseio de órgãos, ossos e músculos. Contudo, em seu trabalho de mestrado, a profissional constatou que o uso contínuo de antiepilépticos pode alterar os efeitos dos relaxantes musculares usados na anestesia geral.

Seu trabalho, que foi desenvolvido no Departamento de Farmacologia da Universidade Estadual de Campinas, teve como objetivo inicial avaliar o efeito dos relaxantes atracúrio e rocurônio, muito usados em anestesia geral, em ratos previamente tratados, por uma semana, com os antiepilépticos carbamazepina e fenobarbital. Só que mesmo antes de testar os relaxantes, Barcelos constatou alterações. O tratamento com carbamazepina, por si só, havia produzido certo grau de relaxamento muscular nos animais – um efeito não observado nos ratos que receberam fenobarbital. Porém, de maneira geral, os resultados revelaram que os efeitos desses dois relaxantes podem ser alterados pelos antiepilépticos.

Segundo as autoras do estudo, uma explicação para essa alteração pode estar no metabolismo. Os antiepilépticos elevam a concentração de enzimas (citocromo P450 e b5 redutase) do fígado que inativam os relaxantes musculares e possibilitam sua eliminação do corpo através da urina.

Para Barcelos, esses resultados servem de alerta. “Nem todos os pacientes são monitorados durante a cirurgia e, como eles [os antiepilépticos] mostraram ter efeitos sobre os relaxantes, isso pede melhor controle do paciente durante a cirurgia”, alerta. A fisioterapeuta se refere aos pacientes que fazem uso contínuo de medicamentos antiepilépticos, como os que sofrem de epilepsia. Segundo a Assistência à Saúde de Pacientes com Epilepsia (ASPE), o mal acomete aproximadamente três milhões de brasileiros.

Mas não são somente os epiléticos que devem tomar cuidado com anestesias gerais. Isso porque os antiepilépticos, também chamados de anticonvulsivantes, não servem apenas para tratar epilepsia. A carbamazepina, por exemplo, é útil também no tratamento de distúrbios maníaco-depressivos (bipolares), nevralgia e diabetes insípido (em que atua reduzindo o volume urinário e aliviando a sensação de sede).

Ainda não há consenso sobre o problema

Por outro lado, Barcelos acredita que ainda não há consenso quanto à influência dos anticonvulsivantes sobre os relaxantes musculares. “Nossos resultados estão de acordo com alguns já apresentados na literatura científica, mas outros são contrários; por isso mais estudos são necessários”. Já a anestesista Braga reforça que é importante deixar claro que pacientes que fazem uso continuado desses medicamentos (anticonvulsivantes) necessitam de monitorização contínua e cuidadosa, ao serem submetidos à anestesia geral.