Os brasileiros utilizam os serviços eletrônicos do Estado?

“O desafio do Estado, no Brasil e no mundo, é comunicar-se com o cidadão”, disse Vanderlei de Castro Ezequiel, da Faculdade Cásper Líbero, de São Paulo, durante apresentação de seu trabalho sobre serviços eletrônicos estatais no Foro Iberoamericano de Comunicação e Divulgação Científica, no dia 24, na Unicamp.

“O desafio do Estado, no Brasil e no mundo, é comunicar-se com o cidadão”. A frase é de Vanderlei de Castro Ezequiel, pesquisador e bolsista do CNPq, que realiza seus estudos no grupo Comunicação e Sociedade do Espetáculo, na Faculdade Cásper Líbero, de São Paulo, e foi dita durante apresentação de seu trabalho no Foro Iberoamericano de Comunicação e Divulgação Científica, no dia 24, na Unicamp.

Ezequiel pesquisa a comunicação entre Estado e cidadão mediada pela internet, através dos serviços eletrônicos estatais, também chamados de e-gov, oferecidos nas instâncias municipais, estaduais e federais, como, por exemplo, o boletim de ocorrência eletrônico ou processos de solicitação de pensão via internet. Como fonte de dados, o pesquisador utiliza a “Pesquisa sobre o uso das tecnologias da informação e da comunicação no Brasil – 2008”, realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), acerca do acesso aos serviços eletrônicos do Estado brasileiro.

A pesquisa realizada pelo CGI.br, que entrevistou 14.666 pessoas de idade entre 16 e 45 anos ou mais, revela que 75% dos brasileiros não utilizam os serviços eletrônicos do governo. Desse percentual, 53% justificam a não utilização por preferirem o meio presencial para tratar de assuntos que envolvem direitos e/ou obrigações com o Estado. A pesquisa traça, ainda, o perfil desses não usuários dos serviços e-gov e apresenta dados surpreendentes. Ao contrário do que comumente se pensa acerca do nível de escolaridade das pessoas que não usam a internet para fins desse tipo, os dados mostram que 58% das pessoas com escolaridade em nível superior não gostam de utilizar o meio eletrônico para tratar de questões com o governo. Da mesma forma, 59% das pessoas com 35 anos ou mais e 60% das que possuem renda familiar acima de cinco salários mínimos também preferem resolver pessoalmente as questões burocráticas com o Estado.

Esses dados, segundo Ezequiel, desmistificam discursos bastante difundidos a respeito daqueles que não utilizam a internet para resolver essas questões, segundo os quais essas pessoas, em sua maioria, seriam iletradas ou possuiriam dificuldades em lidar com o meio eletrônico devido à idade avançada ou limitações de outras naturezas ou, ainda, não teriam acesso ao computador e à internet. “Neste Foro, a minha participação é demonstrar a importância de uma comunicação científica para desmistificar mitos que são divulgados, popularmente e por meios de comunicação, leigos ou não, como verdade. No caso, de que todos nós queremos utilizar a internet para acessar o serviço público, quando, na verdade, por esses dados levantados e divulgados cientificamente, a maioria ainda prefere o contato presencial para resolver problemas de obrigação e direitos com o governo”, afirma o pesquisador.

Ezequiel chama a atenção, portanto, para a “euforia” ou “espetacularização” que há sobre a interatividade através da internet e, conclui com uma pergunta: “É possível substituir totalmente a interação Estado-cidadão presencial pela interação mediada pelo computador, ou seja, pela internet?”.

Para saber mais informações sobre a pesquisa, acesse o site do CGI.br.