Como uma das inúmeras frentes de ataque ao câncer, a Sociedade Americana de Câncer (ACS, sigla em inglês) lançou uma meta, em 1998: reduzir a incidência de câncer em 25% no período entre 1992 e 2015. Uma das estratégias propostas na ocasião foi a redução da prevalência de fatores de risco conhecidos, como o tabaco, obesidade e terapia hormonal, além de disponibilizar exames diagnósticos como mamografia e colonoscopia para um maior número de pessoas.
No entanto, um artigo publicado na edição de novembro/dezembro do periódico científico CA: A Cancer Journal for Clinicians mostrou que o objetivo dificilmente será atingido. Avaliando dados de novos casos de câncer maligno e estimativa populacional, em uma amostra que inclui aproximadamente 10% da população estadunidense, pesquisadores e representantes da ACS apontaram a epidemia da obesidade e o fumo como os grandes vilões que impedem a queda na incidência do câncer. Os resultados desta análise referem-se ao período de 1992 a 2004.
Passados 12 anos do período proposto pela ACS – com metade do caminho andado -, os pesquisadores relataram que a taxa de incidência de câncer vem diminuindo 0,6% ao ano. Este é um dado positivo, mas o ritmo de queda deveria ser mais rápido para se atingir a meta proposta, dizem os autores do estudo. Em 1992, a taxa de incidência era de 511 em cada cem mil pessoas. Em 2004, esta taxa caiu para 471.
As maiores quedas foram observadas entre homens, principalmente nos cânceres de próstata e pulmão, e entre pessoas com faixa etária de 65 a 84 anos, possivelmente devido a um efeito a longo prazo dos diagnósticos precoces e da diminuição do fumo.
“Se quisermos progredir ainda mais, precisaremos não apenas de novos conhecimentos sobre os fatores que podem diminuir a chance de desenvolvermos câncer, mas também esforços redobrados para agirmos em pontos que já sabemos sobre prevenção do câncer”, destaca Tim Byers, médico da Universidade do Colorado e co-autor do artigo. “Particularmente, precisamos continuar a reduzir o consumo de cigarro e começarmos a reverter a epidemia da obesidade”, aconselha Byers.
“Para solucionar definitivamente o problema precisaríamos compreender a gênese do câncer. Mas a resposta não é simples. Câncer não é uma doença causada por um agente como a AIDS ou a tuberculose. Câncer são várias doenças que aparecem em diversos órgãos e que têm origens diferentes”, explica Luiz Paulo Kowalski, do Hospital A. C. Camargo, em São Paulo, ao comentar especificamente a contribuição brasileira na batalha contra o câncer.
Os pesquisadores americanos analisaram também a incidência dos diferentes tipos de câncer ao longo deste período. Câncer de próstata, pulmão (entre os homens), ovário e estômago estão entre os que reduziram suas taxas de incidência. Nenhuma mudança importante foi observada entre os cânceres de mama, pâncreas ou cérebro, entre outros. Um aumento significativo foi observado no número de casos novos de melanoma, câncer de rim, fígado, tireóide e esôfago. Com exceção de melanoma e tireóide, o aumento na incidência dos demais tipos de câncer foi atribuído principalmente à obesidade.
Os autores discutem que as quedas no uso de tabaco e restrições ao uso de certas terapias hormonais têm contribuído para a diminuição na incidência de diversos tipos de câncer e possivelmente irão afetar mais ainda essas quedas na próxima década. No entanto, essas mudanças favoráveis são de alguma maneira compensadas pelo aumento da prevalência da obesidade, que é fator de risco para inúmeros tipos de câncer.
Os números são assustadores. De acordo com a ACS, 1,5 milhão de pessoas serão diagnosticadas com câncer e cerca de 600 mil pessoas morrerão vítimas dessa doença, só no ano de 2007, nos Estados Unidos. No Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer, no último ano foram registrados 130 mil óbitos e estimados 470 mil casos novos de câncer.