Pesquisa realizada com mais de 750 grávidas validou uma nova curva de altura uterina para medir o crescimento dos bebês ainda no útero materno. De forma mais barata e rápida que a ultra-sonografia, esse tipo de medição é adotado pelo Ministério da Saúde desde a década de 80, porém com base em medidas de mulheres do Uruguai – o que não reflete a realidade nacional. Através dessa medida, em poucos minutos a gestante sai do consultório ciente quanto a necessidade ou não de cuidados especiais para melhorar o desenvolvimento do feto. A enfermeira e pesquisadora Djacir Magna Cabral Freire Paiva construiu uma nova curva em seu mestrado e agora, no doutorado, provou que a curva utilizada pelo Ministério da Saúde pode estar considerando como pequenos, fetos normais para aquela idade da gestação e deixando de rastrear os que realmente tem baixo peso.

Pelo desenho da nova curva, a pesquisadora recebeu o prêmio de incentivo à ciência e tecnologia para o SUS em 2003 e agora, comparou o desempenho desta curva com a padronizada pelo Ministério da Saúde.
Paiva mediu três vezes todas as gestantes, para garantir a confiabilidade das medidas, de acordo com os padrões recomendados pelo Ministério da Saúde adotados em todos os hospitais do país. Tiradas as medidas, as gestantes fizeram um teste de ultra-som, para confirmar se o feto estava de fato, pequeno.
Entre outros resultados, a curva de Freire (como está sendo chamada a nova curva) obteve uma sensibilidade de 51,5 % enquanto que a do Ministério da Saúde foi de 12,5%. Isso significa que a nova curva pôde detectar mais da metade dos casos de fetos considerados pequenos para a idade gestacional (chamados fetos PIG) correspondente, o que comprova que a curva utilizada atualmente no país não é a mais adequada para detectar fetos como estes. Portanto, algumas gestações de alto risco podem estar sendo tratadas como normais, ou de baixo risco.
Ainda não existe uma curva que possa representar a população das gestantes brasileiras, e de acordo com a diretora científica do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Suzanne Jacob, melhorar a curva já utilizada é urgente, pois ela é um método de diagnóstico barato e viável para ser utilizado em qualquer lugar. Agora, é preciso um estudo multicêntrico, que envolva pesquisadores de várias partes do Brasil para que se desenvolva uma curva que valha cientificamente para todo o país.
Outro fato que merece destaque é que um terço das gestantes analisadas estavam com índice de massa corporal (IMC) elevado, o que segundo a pesquisadora, dá margem para novos estudos sobre ganho de peso durante a gestação. O baixo crescimento do feto é um problema de saúde pública. Todo ano, dois milhões de crianças morrem em países em desenvolvimento durante o primeiro ano de vida, como conseqüência de restrição de crescimento quando ainda estavam no útero. Antecipar o diagnóstico no pré-natal pode minimizar os riscos para a gestação e melhorar a saúde futura dessas crianças, uma vez que os nascidos com baixo peso têm maiores risco de sofrer problemas como doenças infecciosas, atrasos no crescimento e no desenvolvimento. “Com a nova curva será possível prevenir as mortes por baixo crescimento fetal com maior precisão.” finaliza Paiva.