As empresas brasileiras precisam investir em pesquisa e desenvolvimento para inovar e garantir sua inserção no mercado internacional. Se antes a inovação nas empresas nacionais era uma sugestão, agora ela ganha tom de necessidade. O motivo: a concorrência dos produtos asiáticos, em especial os produzidos na China. Essa é uma das conclusões recorrentes nos debates que acontecem durante a VII Conferência da Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (Anpei). Um encontro anual que reúne pesquisadores, empresários e representantes de entidades de classe para discutir temáticas ligadas ao setor produtivo. A conferência teve início ontem, dia 05 de junho, em Salvador, Bahia.
A preocupação com a concorrência chinesa justifica-se pelos números. De acordo com os dados apresentados por Carlos Ganem, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), a China aumentou 407% sua participação em exportações de produtos de alta tecnologia entre 1994 e 2004. A variação no Brasil, no mesmo período, foi de 32%. Ganem foi enfático ao afirmar que o país precisa pensar em um sistema de inovação que reúna diversos atores: “Se desenvolvermos ações junto com a academia, a sociedade civil e o governo, colheremos resultados associadamente”. E completa: “mais do que nunca, a inovação está na moda”.
Luiz Antonio Rodrigues Elias, do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), também lembrou da concorrência asiática. Destacou dados da Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mostram que, entre 2000 e 2003, apenas 30% das empresas brasileiras consultadas pela pesquisa realizaram inovação, seja de produto ou de processo (inovação aqui entendida como a introdução no mercado de um produto ou processo novo, ou significativamente aprimorado). Além disso, Elias também apontou que, no mesmo período, as empresas solicitaram ao governo (Finep) quatro vezes mais apoio para aquisição de máquinas e equipamentos, do que para realização de pesquisa e desenvolvimento, o que mostra que a preocupação principal das empresas ainda é com a infra-estrutura.
Em relação aos recursos humanos para realização de pesquisa e desenvolvimento nas empresas, outro ponto discutido: faltam pesquisadores no mercado. Para o presidente da Anpei, Hugo Borelli Resende, apesar de o Brasil formar um grande número de doutores por ano (aproximadamente 10 mil por ano), faltam doutores nas áreas de concentração que o setor produtivo precisa, como física, engenharia e computação.
Tecnologias de Informação (TIs)
O desenvolvimento da China foi novamente lembrado em relação às Tecnologias de Informação. Junto com a Índia, o país tem se destacado na área de TI (apesar das desigualdades internas de acesso às novas tecnologias de informação e de comunicação). Mas de acordo com Stephen Minton, vice-presidente da International Data Corporation (IDC), o Brasil e outros países denominados por ele de “mercados novos”, como Rússia e México, também podem ter a sua fatia no bolo. A participação desses países na produção internacional de TIs, que hoje é de 11%, deve dobrar nos próximos 10 anos.
O encontro da Anpei segue até amanhã (dia 06), em Salvador. A escolha da Bahia para a realização do evento não foi mero acaso: o estado tem investido na atração de empresas para a região e, de acordo com o seu governador Jacques Wagner (PT), presente no evento, a Bahia vai ganhar, ainda neste ano, o seu parque tecnológico, que deve levar o nome de Tecnovia. A previsão é de uma área de um milhão de m2 para a concentração de empresas de tecnologias de ponta, com prioridade para áreas como biotecnologia, energia e TIs.