A divisão do Brasil em cinco regiões e a localização da capital federal são aspectos tão estabelecidos da nossa realidade que muitos não sabem – ou esqueceram – de que não foi sempre assim. É o que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) busca remediar com a publicação do volume 7 dos “Documentos para Disseminação – Memória Institucional”, que reúne os textos mais importantes de Fábio de Macedo Soares Guimarães, um dos pioneiros do Instituto.
O volume foi lançado no último dia 24, por ocasião do seminário em homenagem aos 100 anos do nascimento de Dr. Fábio, como é conhecido entre os geógrafos. Parte das comemorações dos 70 anos do IBGE, o evento reuniu depoimentos de familiares e pesquisadores. Cláudio Egler, coordenador de pós-graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirmou que Guimarães foi uma das pessoas que construíram o pensamento nacional em geografia, com implicações para o planejamento nacional. O geógrafo citou, como textos fundamentais na área, aqueles que tratam justamente da divisão regional do Brasil e da localização da capital federal.
A geografia no Brasil
De acordo com João Rua, geógrafo da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, Guimarães “era um difusor da geografia no Rio de Janeiro”, através de iniciativas em formar parcerias e fundar unidades onde se praticasse a geografia. Uma delas foi o Conselho Nacional de Geografia (CNG), que ao ser incorporado pelo Conselho Nacional de Estatística daria origem ao IBGE, em 1938.
Além disso, sua carreira no ensino superior incluiu a chefia do Departamento de Geografia da PUC, que ajudou a solidificar e no qual estimulou o desenvolvimento da pesquisa.
As regiões do Brasil
O artigo “Divisão regional do Brasil”, publicado pela Revista Brasileira de Geografia em 1941, é considerado um trabalho seminal na geografia deste país. Segundo Egler, o texto é hoje em dia lido por estudantes de graduação da UFRJ como texto introdutório essencial. O artigo marcou época não somente por sua contribuição intelectual mas também prática, já que no ano seguinte a divisão foi adotada pelo governo.
A divisão foi baseada em zonas fisiográficas para planejamento do uso do solo, conceito ainda usado hoje para regulamentar a ocupação dos diversos biomas brasileiros. Apesar de dar importância às relações entre sociedade e natureza, Guimarães defende em seu artigo que as “’regiões naturais’, de acordo sobretudo com os fatos da geografia física”, devem ser usadas para definir as grandes regiões do país. O geógrafo acreditava que as “regiões humanas”, que incluem aspectos econômicos, são demasiado instáveis, de forma que uma divisão que se baseasse nela poderia tornar-se obsoleta com o passar do tempo.
Capital federal
Publicado em 1949 também na Revista Brasileira de Geografia, “O Planalto Central e o problema da mudança da capital do Brasil” relata um dos primeiros estudos detalhados desta região do país, na época quase completamente desabitada. Egler ressalta que problemas apontados no artigo, como a questão da escassez de água, revelaram-se de fato importantes.
Oito áreas foram analisadas, afim de determinar a melhor localização para a capital. O documento resultante foi imediatamente entregue ao Congresso Nacional, para servir de base para as discussões.
Além desses dois artigos fundamentais, o volume editado pelo IBGE inclui outros cinco textos daquele que, segundo Cláudio Egler, “como geógrafo, era um visionário”.