Extração de óleos essenciais do cerrado sem desmatamento

Pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) estão estudando as plantas do cerrado a fim de descobrir quais têm maior potencial para extração de óleos essenciais. A pesquisa intitulada “Tecnologia de Produtos Florestais Não-Madeireiros da Região do Cerrado” é o primeiro estudo extensivo sobre a flora do cerrado com a perspectiva de utilização sem derrubada de árvores.

Pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) estão estudando as plantas do cerrado a fim de descobrir quais têm maior potencial para extração de óleos essenciais. A pesquisa intitulada “Tecnologia de Produtos Florestais Não-Madeireiros da Região do Cerrado” está sendo desenvolvida no Departamento de Engenharia Florestal e é o primeiro estudo extensivo sobre a flora do cerrado com a perspectiva de utilização não-madeireira. Isso quer dizer que não há necessidade de derrubar árvores, evitando a degradação e o corte irresponsável. Naquele bioma, atualmente o óleo essencial da candeia, muito utilizado por indústrias de cosméticos e de fármacos, é extraído da madeira, o que implica em abate da árvore toda para a obtenção do óleo.

O cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, ocupando 21% do território nacional. Possui a mais rica flora dentre as savanas do mundo, mas tem sido devastado a taxas alarmantes nos últimos anos e muito de sua riqueza ainda nem foi descoberta. “Os produtos florestais não-madeireiros podem ser uma das alternativas a essa devastação”, acredita Cláudio Del Menezzi, engenheiro florestal e coordenador da pesquisa. No cerrado, além da Área de Preservação Permanente (APP), é obrigatório manter uma reserva legal de 20% da área. Porém, essa norma não é respeitada por muitos fazendeiros que a entendem como um obstáculo à atividade econômica. “Desta forma, pretendemos torná-la rentável ao produtor rural, talvez o convencendo a não mais desrespeitá-la“, diz.

O objetivo do projeto é ambicioso: desenvolver tecnologias para o aproveitamento dos produtos florestais não-madeireiros do cerrado. Desta forma, engloba também os óleos fixos, resinas, gomas, fibras e frutos do cerrado. “Nosso objetivo inicial é identificar e quantificar as plantas que produzem, e transferir essas informações ao produtor rural. Nas etapas posteriores, esperamos poder desenvolver técnicas e descobrir usos desses óleos”, explica Del Menezzi.

Os óleos essenciais, também conhecidos como óleos voláteis, óleos etéreos ou essências, são amplamente empregados na indústria de cosméticos, farmacêutica, alimentos, perfumaria e de materiais de limpeza. São produtos voláteis, ou seja, dissipam-se rapidamente, têm consistência oleosa e são aromáticos; podem estar presentes em todas as partes da planta, onde exercem a função de atração de polinizadores, proteção contra patógenos e também são precursores de metabólitos, como os hormônios vegetais. Os óleos essenciais apresentam composição muito diferente daquela dos óleos fixos, também chamados gordurosos ou graxos, substâncias não-voláteis e que são retiradas de sementes de vegetais, como babaçu e andiroba.

Os biomas da floresta amazônica e caatinga já foram bem estudados com relação aos óleos essenciais, mas não se sabe exatamente quais plantas do cerrado os produzem e também não foram encontradas informações técnicas a respeito da produção (ml/kg de folha ou casca). “Como o intuito é de não abater a planta, vamos investigar principalmente o óleo essencial presente nas folhas. Desta forma, podemos utilizar a flora do cerrado de forma sustentável”, explica Del Menezzi. “Esperamos, nas etapas posteriores, determinar a composição química desses óleos essenciais e, partir daí, estudar as possibilidades de utilização”, diz. Para isso, os pesquisadores contam com a participação de profissionais da área de química e farmácia da UnB. “Colegas das ciências farmacêuticas já demonstraram interesse em participar nas etapas subseqüentes”, afirma o pesquisador.

O projeto foi implantado em agosto de 2006, mas seu início efetivo foi em agosto de 2007, por meio de um apoio financeiro dado pelo Decanato de Pesquisa e Pós-graduação da UnB, que possibilitou a compra de um equipamento de extração de óleo essencial. Trata-se de um minidestilador automatizado, cuja capacidade do recipiente de extração é de 1,7 litros. “Isso permite que um volume maior de material seja extraído, produzindo, assim, uma quantidade maior de óleo”, diz Del Menezzi. Porém, outros equipamentos ainda são necessários, cujo custo estimado é da ordem de R$ 240 mil. Os pesquisadores estão à procura de mais parcerias para aquisição de novos equipamentos no âmbito do projeto, cuja duração é de 10 anos.

O projeto está atualmente na fase de extração, realizada por uma bolsista de iniciação científica do CNPq, e espera-se que até o final de 2008 pelo menos um mestrando também faça parte da equipe. “Acreditamos que até o meio de 2009 já tenhamos alguns resultados”, estima o pesquisador.