Imagens, sons e palavras misturadas, nas mais diversas possibilidades, em propostas de divulgação científica. Essa é a ideia do evento multiTÃO corresponDANCE: explorações, potências, filosofias, artes, educações e comunicações que ocorrerá entre 29 de setembro e 02 de outubro no Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Durante os quatro dias, artistas e pesquisadores farão workshops sobre roteiro, edição, imagem, cinema, som, vjing (VJ) e fotografia e, a partir da experimentação do público e de convidados, propõe-se a criação de um vídeo que explore as potencialidades das imagens e dos sons, da filosofia, arte, educação e comunicação, no contexto da divulgação das ciências.

O evento faz parte do projeto de pesquisa e extensão universitária “Um lance de dados: jogar/poemar por entre bios, tecnos e logias”, contemplado pelo Programa de Extensão Universitária (Proext) 2008 do Ministério da Educação (MEC) e Ministério da Cultura (MinC), desenvolvido por pesquisadores, artistas e alunos vinculados ao Labjor-Unicamp, à Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc) e à Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Na proposta, “as palavras e as imagens, ou seja, a linguagem é encarada menos como meio de comunicação de fatos e conhecimentos científicos, e mais como forma de pulverização de sentidos, abertura de lacunas e desentendimentos que movimentem pensamentos sobre os temas que circulam no meio científico e na cultura, como as biotecnologias”, explica Alik Wunder, professora da UFSCar.
Num dado e-vento
O projeto “Um lance de dados” faz parte de outro mais amplo, chamado “Biotecnologias de Rua”, que acontece desde 2006 e é financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Desenvolvido numa parceria entre o Labjor e a Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, o projeto pretendeu intervir no debate sobre as biotecnologias, fornecendo informações, provocando reflexões sobre o tema e problematizando, com variadas linguagens, a temática junto ao público de Campinas e região.
Foram produzidas no projeto peças teatrais, instalações, mostras de cinema, camisetas, folders, postais, homepage, vídeos e exposição, artefatos de divulgação científica que são, para Wenceslao Machado de Oliveira Júnior, professor da Faculdade de Educação da Unicamp, “ao mesmo tempo, arte e ciência, exposição e captura, resultado e matéria-prima, divulgação e questionamento”. Entre as produções do Biotecnologias de Rua está a instalação “Num dado e-vento: biotecnologias e culturas em texturas, vãos, cores, sombras, sons…”, que ocorreu no primeiro semestre deste ano no Centro Cultural de Inclusão e Integração Social da Unicamp (Estação Guanabara) e que contou, também, com financiamento da Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários (Preac-Unicamp). A produção da instalação se deu a partir dos registros sonoros e visuais da peça Num dado momento: biotecnologias e culturas em jogo, também desenvolvida pelos pesquisadores e artistas do grupo.
Durante uma semana, mais de quatrocentos e oitenta visitantes, entre crianças de três a nove anos, adolescentes, jovens, adultos em alfabetização e universitários, fizeram parte de um mundo de palavras, imagens e sons relacionados com as biotecnologias. Na busca por colocar e expor as biotecnologias como produções culturais, que estão em meio à vida, a instalação não teve intenção de explicitar ou explicar os fenômenos da ciência, das biotecnologias. Ao invés disso, a instalação foi feita na forma de um evento, no qual diversos ambientes podiam ser percorridos livremente pelos visitantes e as imagens – projetadas nas grandes paredes do antigo armazém de café – convidavam os participantes a interagir com sons, espelhos, trajes e objetos.
Alguns visitantes estranharam a proposta, devido ao que tradicionalmente se expõe como divulgação cie2019ntífica. “A idéia de estar em uma exposição sobre um tema considerado científico e não receber algum tipo de esclarecimento sobre conceitos, fenômenos e experimentos parece que realmente incomoda”, disse Wunder. Dentre os grupos visitantes, os mais jovens foram os que se mostraram mais disponíveis a entrar em contato com o inusitado, ou seja, com aquilo que a primeira vista não fazia sentido. Segundo a pesquisadora, “as imagens e palavras não foram tidas como representações de um pensamento anterior, mas buscaram encantar, incomodar, abrir desentendimentos, perguntas, buscas sobre a relação entre as biotecnologias e o jogo entre o controle e o acaso na criação da vida e do futuro”.
Na avaliação de Elenise Cristina Pires de Andrade, da Uesc, um dos pontos fortes dessas experimentações é a multiplicação de possibilidades de discussão de temas relevantes na atualidade – clonagem, células-tronco, transgênicos e reprodução assistida – através de uma compreensão das imagens, palavras e sons como personagens das divulgações em que “a arte pulsa ao fazer saltar o encontro com o mundo e as coisas. Dentre tais coisas, os conhecimentos, científicos ou não; pedagógicos ou não, didatizados ou não. A transmissão de conhecimentos – que se atribui comumente à divulgação científica – poderia ser também entendida como trans-missão, algo que transgrida, transverse, trans…trans…trans…”. Nesse sentido, destaca ainda Susana Oliveira Dias, pesquisadora do Labjor-Unicamp, “os projetos apostam numa revolta da postura das imagens-palavras-sons e na relevância das ações de divulgação científica atentarem para o humor, para as sensações, para questões éticas e estéticas, não somente se atendo à difusão do conhecimento científico na lógica do esclarecimento, explicação e ilustração”.
Site: Biotecnologias de Rua
Além das próprias instalações, o evento contou também com o lançamento oficial do site do projeto. Segundo Wenceslao Machado de Oliveira Jr, professor da Faculdade de Educação da Unicamp e um dos responsáveis pelo projeto, em artigo publicado na revista ComCiência “O portal pretende ser, ao mesmo tempo, um local digital de pesquisa e divulgação científicas”. Além de ter acesso a textos e imagens resultantes das pesquisas do grupo, o visitante pode também participar da construção do próprio site e da pesquisa: “Nosso desafio é construir um ambiente virtual que seja um local de divulgação das pesquisas e ações culturais realizadas no projeto Biotecnologias de Rua e espaço-tempo onde futuras pesquisas se realizarão no mesmo projeto ou em outros”, acrescenta.
multiTÃO corresponDANCE
Inscrições gratuitas pelo e-mail: multitaocorrespondance@gmail.com
Labjor: (19) 3521-2598
“Um lance de dados: jogar/poemar por entre bios, tecnos e logias” (Edital Proext 2008/MEC/MinC). Coord. Carlos Vogt. Sub-coordenadoras Susana Dias (Labjor-Unicamp), Elenise Cristina Pires de Andrade (Uesc), Alik Wunder (UFSCar).