Estudos realizados no Japão e EUA apostam que, nas próximas décadas, a robótica deve ser uma das dez linhas de pesquisa de maior produção científica no mundo. Isso graças ao avanço tecnológico que tem permitido novas descobertas e aplicações na área. No Brasil, a empresa Cientistas Associados Desenvolvimento Tecnológico, incubada na Fundação Parque de Alta Tecnologia (Parqtec), inicia este mês o desenvolvimento de um sistema robótico universal que poderá ser usado tanto para educação e entretenimento como para a indústria. A interface via internet possibilitará que o sistema seja utilizado como ferramenta para o ensino à distância. A plataforma simula um sistema operacional geral, na qual podem ser aplicados softwares e hardwares para programar o robô a movimentar-se.
A estrutura será comercializada, mas cada empresa ou instituição poderá criar suas aplicações de acordo com seus interesses. “Um dos objetivos do projeto é incentivar a criação de empresas de robótica que poderão iniciar suas atividades com esta plataforma pronta, sem precisar investir em Pesquisa e Desenvolvimento”, garante Antonio Valério Netto, gerente da divisão de tecnologia da Cientistas Associados. Nas universidades, estudantes poderão utilizar a plataforma e o robô para testar algoritmos inteligentes ou possibilitar maior interação em pesquisas com mais de três robôs. “Projetos em robótica semelhantes a estes já são desenvolvidos há mais de 10 anos em diversos países. Porém, desenvolver e fabricar no Brasil são as características de inovação não apenas na área tecnológica, de aplicação, mas também de logística e negócios. Tão difícil quanto desenvolver tecnicamente o robô, vendê-lo em escala requer inovação no modelo de negócios”, completa Valério.
O desenvolvimento da plataforma também deverá incentivar a criação de laboratórios virtuais de robótica, através dos quais robôs instalados em salas remotas em instituições de ensino e pesquisa poderão ser assistidos por câmeras e programados via internet, sendo mais uma ferramenta para o ensino à distância. “Estes laboratórios facilitarão o acesso à robótica às classes menos beneficiadas. Através da internet, estudantes poderão programar e interagir com os robôs, o que é mais uma forma de motivar os alunos para o estudo, principalmente em locais de recursos tecnológicos mínimos”, informa. A robótica educacional é uma boa ferramenta para o aprendizado, como demonstra os resultados do projeto de responsabilidade social denominado Robô na Escola. Nele, crianças de 5ª a 8ª série vão até a empresa para utilizar os robôs, que também podem ser usados pelas instituições de ensino.
A criação da plataforma universal demonstra que é possível utilizar a robótica para as diversas áreas, assim como para brincar, estudar ou aplicá-la na indústria. Empresas podem desenvolver aplicações específicas para os robôs que podem ser programados para cuidar de idosos, por exemplo, além de outras aplicações na área médica. Nas fábricas, trabalhos repetitivos poderão ser feitos pelos robôs que podem ser utilizados como veículos autoguiáveis. O projeto do sistema robótico universal é financiado com verba pública do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), através do Programa de Inovação em Pequena Empresa (Pipe) que investirão em torno de 300 mil reais.
Marco Túlio Chella, especialista em robótica educacional, ressalta a importância desta ferramenta como mais um recurso para o professor. Ensinar a construir robôs, por exemplo, é uma forma de explorar os conceitos tecnológicos envolvidos no processo e não apenas o conteúdo da sala de aula. No site idealizado pelo pesquisador há exemplos da utilização de diversos materiais de baixo custo para o desenvolvimento em robótica, inclusive com objetos recicláveis como garrafas plásticas que são acopladas ao hardware e software do robô. “Desta forma os robôs tornam-se mais acessíveis financeiramente”, afirma.
Valério ressalta ainda que as grandes produções em robótica são feitas na França, Japão e Estados Unidos. “Porém estes produtos quando são importados, pagam impostos de aparelho eletrônico que podem chegar até 60% a mais do valor original”, diz. Chella destaca os diversos problemas da importação dos matérias tecnológicos, como a linguagem diferente, além dos modelos não corresponderem a realidade brasileira, suas metodologias de utilização, e terem que ser adaptados para serem usados no país. “Ao mesmo tempo este fator é uma motivação para se criarem novos matérias nacionais”, diz Chella.