Doses altas do anti-idade DMAE produzem efeito inverso em camundongos

Estudo do Departamento de Farmacologia da Unicamp ajuda a esclarecer o mecanismo de ação do agente anti-idade dimetilaminoetanol (DMAE) e mostra que, em doses elevadas, ele produz o efeito inverso em camundongos.

O famoso Botox não é a única solução para manter a juventude sem cirurgia plástica. Em 2002, entrou em cena no Brasil o dimetilaminoetanol, mais conhecido como DMAE ou, inadequadamente, como “creme botox”. Aplicado na pele, ele atua como tensor ao enrijecer os músculos da face. “Ele não elimina rugas e sim tira aquele ar de cansaço próprio da flacidez que a pele vai adquirindo com a idade”, explica a farmacêutica Yoko Oshima Franco, professora da Universidade de Sorocaba (Uniso) e da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Um estudo do Departamento de Farmacologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) esclarece o pouco conhecido mecanismo de ação do DMAE e mostra que, em altas doses, ele pode produzir o efeito inverso em camundongos.

A pesquisa é o tema da dissertação de mestrado do farmacêutico Dimas dos Santos Rocha Júnior e é feita sob orientação de Franco e da professora do Departamento de Farmacologia Léa Rodrigues Simioni. O efeito anti-idade do DMAE ocorre devido ao enrijecimento, isto é, à contração involuntária da musculatura, que acaba por esticar a pele. Por isso, Rocha utilizou músculos isolados de camundongos para investigar o modo pelo qual esse enrijecimento é produzido.

Os resultados foram esclarecedores. O farmacêutico descobriu que o DMAE aumenta a quantidade de acetilcolina – o neurotransmissor que faz a sinapse entre o nervo e o músculo – contida dentro das vesículas sinápticas. Essas vesículas liberam acetilcolina em pacotes (quanta) a cada contração muscular. Os achados de Rocha sugerem que é o aumento da quantidade de acetilcolina no ponto de contato entre o nervo e o músculo (chamado de junção neuromuscular) que causa, pelo menos em parte, o enrijecimento da musculatura.

De fato, o DMAE aumentou a força nos músculos isolados dos camundongos. Por outro lado, os resultados de Rocha revelaram que o agente também produz esse efeito através de uma ação direta na musculatura, independente da liberação de acetilcolina.

Mas Rocha descobriu também que o agente anti-idade deve ser usado com cautela. Em camundongos, o aumento da força muscular pelo DMAE é dependente da dose utilizada e, nos estudos de Rocha, apareceu em concentrações mais baixas. Nas mais altas, o agente produziu o efeito inverso, isto é, paralisia muscular.

Esse fato é particularmente importante no caso do DMAE, que é incorporado a formulações cosméticas na forma de creme para ser aplicado pelo próprio consumidor. Não é o caso do Botox, que é disponibilizado na forma injetável e aplicado somente por médicos. “O uso racional do DMAE deve ser avaliado por quem o prescreve, uma vez que esse tipo de informação é inacessível à população, que busca tão somente uma melhor apresentação estética”, adverte Rocha.

Para ele, a importância da pesquisa é mostrar que o DMAE é um produto bioativo, que exerce efeitos sobre o organismo. “Produtos cosméticos contendo ingredientes bioativos, com reconhecido mecanismo molecular, têm sido informalmente denominados ’cosmecêuticos’, ou seja, cosméticos com propriedades terapêuticas, de combate a doenças ou curativas”, explica. O farmacêutico esclarece que o termo “cosmecêutico” não é reconhecido pelo Food and Drug Administration (FDA), órgão regulador dos EUA, nem pela Agência Nacional de Vigilência Sanitária (Anvisa), mas é preciso considerar as diferenças entre um produto meramente cosmético daquele que age como medicamento, como o DMAE. “Portanto, deve-se assegurar a sua prescrição por dermatologistas e a manipulação por profissionais farmacêuticos com habilitação na área”, acrescenta.