A pesquisadora explica que o valor dos curativos (entre US$ 2 e US$ 30 a unidade) e a necessidade de troca durante o tratamento elevam o custo da terapia. No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) gastou R$55 milhões com queimados em 2000. Existem cerca de 120 membranas disponíveis no mercado e a maioria é importada. A pesquisadora abaixou 42% do custo de produção desse produto, considerando apenas os valores da matéria-prima, nos quais não estão incluídos gastos com a pesquisa, desenvolvimento de equipamentos e impostos.
Em um trabalho multidisciplinar que envolveu o Instituto de Biologia e a Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp e outras instituições, como a empresa Acecil Central de Esterilização Comércio e Indústria Ltda. e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), Dallan procurou desenvolver uma membrana flexível e elástica, que oferecesse conforto, oxigenação adequada do ferimento e manutenção da umidade.
Há formas e opções variadas para se tratar queimaduras, mas curativos para esses casos devem apresentar características especiais. Segundo Dallan, a lesão gera perda de líquido e o organismo torna-se mais vulnerável a infecções. Portanto, as preocupações essenciais referem-se à proteção contra o ataque microbiano e à passagem do vapor d’água e do ar.
Dallan analisou características físicas (como espessura, grau de hidratação), mecânicas (resistência e ductilidade) e biológicas (adesão e proliferação celular) das membranas densas (existem também as porosas), e esse trabalho resultou em sua tese de doutorado, defendida em outubro. Após várias tentativas de combinar a quitosana com glicerol, um plastificante, e quitina, quitosana não-processada, a pesquisadora concluiu que a membrana do material puro, apesar de encarecer o produto, adequava-se melhor à utilização curativos para queimaduras em comparação com as outras formulações.
Outra característica estudada foi a degradação do filme. Dallan desenvolveu membranas que praticamente não se decompõem em ensaios com lisozima, enzima que quebra as moléculas de quitosana. Os testes de laboratório indicaram que o material possui uma degradação muito lenta, perdendo apenas 15 % de sua massa após dois meses na presença da enzima.
Depois dessas análises, o estudo prossegue com a avaliação de novas formulações de membranas e com testes em tecidos de animais vivos para verificar se a membrana desenvolvida tem efetiva aplicação.
Destruição de germes
Como biomaterial, a membrana deve ser esterilizada e esse é outro aspecto novo do estudo. Segundo Ângela Moraes, orientadora do trabalho, há relatos de processos para esterilização de membranas à base de quitosana, mas tais processos podem afetar as características das membranas e em outros casos, não está claro como se pode reproduzir o processo. Assim, depois de testar três técnicas, Dallan concluiu que o uso do gás óxido de etileno foi o mais eficiente para manter as características da membrana.
Dallan também aponta que o desenvolvimento das membranas é o maior desafio para a aplicação em escala industrial. A pesquisadora localizou filmes de quitosana para queimaduras na Rússia e na China, mas sua comercialização é ainda bastante restrita.
Quitosana: material para toda obra
Redutor de colesterol, de peso e de ácido úrico, bactericida, antiviral, estabilizante de frutas e verduras. As aplicações da quitosana são as mais diversas nas áreas da saúde, da nutrição e da indústria. Esse polímero natural biodegradável pode ser obtido nas formas de gel ou de membranas. Além dessas vantagens, a quitosana apresenta propriedades cicatrizantes e antimicrobianas (bactericida e fungicida). Mas apesar de ser atóxica, ela não é recomendada a quem tem alergia a crustáceos. São deles que a indústria retira a quitina, transformada em quitosana por um processo chamado de desacetilação.