Unesp disponibiliza livros digitais gratuitos de olho na difusão do conhecimento

A Unesp inaugurou no dia 11 de março uma nova etapa na publicação de livros acadêmicos. Resultado de uma parceria entre a Fundação Editora da Unesp e a Pró-Reitoria de Pós-Graduação, o projeto já disponibilizou na internet 44 livros de pesquisadores de 22 programas de pós-graduação da universidade.

Em uma iniciativa pioneira no Brasil, o Programa de Publicações Digitais da Universidade Estadual Paulista (Unesp) inaugurou no dia 11 de março uma nova etapa na publicação de livros acadêmicos. Resultado de uma parceria entre a Fundação Editora da Unesp e a Pró-Reitoria de Pós-Graduação, o projeto já disponibilizou na internet 44 livros de pesquisadores de 22 programas de pós-graduação da universidade. É o maior projeto de difusão de publicações de uma universidade brasileira, criado para expandir a difusão do conhecimento.

As obras publicadas já estão disponíveis gratuitamente para download no site www.culturaacademica.com.br e pertencem às áreas de ciências humanas, ciências sociais e aplicadas, linguística, letras e artes. De acordo com Marilza Vieira Cunha Rudge, pró-reitora de Pós-Graduação da Unesp, a meta é publicar 600 livros em 10 anos.

No evento realizado para divulgar a iniciativa, o qual contou com a apresentação dos responsáveis pelo projeto, Marilza Rudge destacou que o os livros digitais foram concebidos para levar à sociedade o conhecimento produzido pela universidade. “Hoje mesmo uma reunião do Conselho Universitário da Unesp vai gerar um novo edital para a publicação de mais 58 livros”, adiantou. “O programa vai dar mais visibilidade para a pós-graduação da universidade”, afirmou. Segundo ela, a Unesp tem atualmente 115 programas de pós-graduação, a segunda maior quantidade no Brasil.

Presente ao evento de lançamento, Jézio Hernani Bonfim Gutierre, editor-executivo da Editora Unesp, lembrou da quantidade de informações disponíveis em todas as mídias. “Nossa função é sermos uma instituição que dá respeitabilidade ao conteúdo para garantir informação de qualidade”, afirmou. “E a mudança de visão é que, nesse caso, os livros originais já foram pensados em formato digital e não no impresso”, afirmou.

José Castilho Marques Neto, diretor-presidente da Fundação Editora da Unesp, ressaltou a facilidade de acesso ao conteúdo. “Apenas entre ontem e hoje, as publicações já foram baixadas por quase mil usuários”, afirmou. Se a iniciativa é pioneira e tende a crescer, Castilho ressaltou que este é apenas o início de todo um processo. “Estamos lançando esse formato, mas as próximas versões serão ainda mais interativas e amigáveis, para que esse conteúdo seja cada vez mais acessível aos usuários”, finalizou.

Sites sobre saúde interferem na relação entre médico e paciente?

O “paciente expert” é um termo adotado por um grupo de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, que vêm desenvolvendo pesquisas sobre sites acessados antes e depois de consultas. O objetivo do grupo brasileiro é descobrir até que ponto o acesso a sites sobre saúde interfere no relacionamento entre os médicos e seus pacientes.

Um fenômeno recente, que tem crescido no mundo inteiro em função do imenso alcance da internet, resultou no surgimento do “paciente expert”, pessoa que busca informações sobre sua própria doença em sites voltados a questões de saúde. O termo foi adotado por um grupo de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, que vêm desenvolvendo pesquisas sobre o assunto, que tem pautado estudos também nos Estados Unidos e Europa. O objetivo do grupo brasileiro é descobrir até que ponto o acesso a sites sobre saúde interfere no relacionamento entre os médicos e seus pacientes.

Com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), no valor de cerca de R$ 100 mil, foi construído um laboratório onde serão feitas avaliações sobre a qualidade das informações contidas em sites de saúde. O laboratório fica anexo ao Centro de Saúde da Fiocruz, que atende uma população de baixa renda, habitante de uma área próxima ao campus. O público atendido nesse Centro de Saúde é portador de doenças crônicas, tais como tuberculose e diabetes.

Segundo André Pereira Neto, historiador e pesquisador da Fiocruz que compõe a equipe que vem desenvolvendo o projeto, “o principal perfil de usuário é de pessoas que buscam informações sobre sua doença em sites e em comunidades virtuais”. Por meio dessas comunidades virtuais, esses pacientes encontram outras pessoas com quem podem compartilhar suas experiências. A ideia de ter esse laboratório junto ao Centro de Saúde é poder contar com a participação dos pacientes ali atendidos na avaliação dos sites.

O Comitê para Democratização da Informática (CDI), uma ONG de apoio à inclusão digital, irá disponibilizar dois instrutores e um supervisor, para orientar os pacientes na análise dos sites. “Enfatizamos a importância do ponto de vista do usuário dos sites de saúde na internet”, explica Pereira Neto.

Ele aponta que a internet se revelou uma ferramenta importante para a manutenção da saúde das pessoas. Um dos benefícios é que a rede incentiva a mudança de comportamento. “Existe um longo período entre o momento em que alguém obtém uma informação e aquele em que promove uma mudança em seus hábitos, e a internet contribui para acelerar esse processo”. Infelizmente, nem sempre de forma positiva, uma vez que a internet oferece também informações fraudulentas e mal intencionadas. Além disso, é um meio de grande visibilidade para a propaganda de empresas farmacêuticas, o que a maioria das pessoas não sabe identificar. Desse modo, muitos sites defendem o uso de alguns medicamentos que podem ser prejudiciais à saúde humana. Há ainda outras questões, segundo Pereira Neto. “Um dos sites que analisamos, por exemplo, defendia e incentivava a anorexia, com dicas de como ficar mais magra e esconder os hábitos estranhos dos pais”, diz.

O objetivo dos pesquisadores é fornecer um selo de qualidade para os sites. Segundo Pereira Neto, a ideia não é censurar as informações, mas apenas certificar e indicar os sites mais adequados. Para descobrir se as informações têm qualidade ou não, serão usados na análise três tipos de indicadores: de conteúdo, ou seja, a atualidade da informação; de navegabilidade, que significa saber se o site é lento ou mal diagramado; e do usuário, em que os próprios pacientes vão poder opinar sobre a legibilidade da informação.

Além dos pacientes, Pereira Neto alerta que há médicos, com formação mais precária, que também costumam recorrer à internet para tirar suas dúvidas. Essa situação levou os pesquisadores a buscarem uma parceria com a Federação Nacional dos Médicos (Fenam). “Pretendemos fazer uma seleção de sites para os médicos, principalmente, aqueles que não sabem ler em inglês e, portanto, não têm acesso a publicações especializadas, o que é uma realidade no Brasil”, observa.

As avaliações ainda não tiveram início, mas Pereira Neto diz que a seleção dos sites analisados será feita de acordo com os mais acessados, ou seja, os que aparecem na primeira página de busca pelo Google. “Uma pesquisa apontou que a maioria das pessoas não passa da primeira página”, diz.

Mais usuários a cada dia

Hoje, a maioria dos usuários que consultam sites sobre saúde são mulheres entre 30 e 40 anos, com acesso à internet no trabalho. “No entanto, os jovens também têm participado ativamente de discussões em comunidades virtuais, principalmente em sites de relacionamento, onde podem trocar experiências com pessoas da mesma idade”, conta. No Orkut, existem comunidades do tipo “Tenho diabetes, e daí?”, “Quem eu amo tem diabetes”, “Prevenções às DST’s”, “Amigos da tuberculose”, entre outras.

Nos fóruns dessas comunidades virtuais, os usuários tratam principalmente de experiências pessoais a respeito dos efeitos de determinados medicamentos, do atendimento nos hospitais, tipos de tratamento, entre outros temas relacionados à doença. Para Pereira Neto, que defende a decisão compartilhada entre o médico e o paciente, é importante que o paciente tenha consciência do tratamento e do remédio que está tomando.

Tradicionalmente, o médico era o único detentor das informações. Hoje, se ele não se mantém atualizado sobre as novidades na internet, corre o risco de perder a confiança dos pacientes conectados com a rede. C.R., que preferiu não se identificar, é técnica em enfermagem e faz tratamento para depressão há mais de dez anos. “Gosto de trocar ideias com o médico e colocar a minha opinião, sem fazer simplesmente o que ele quer”, diz. Frequentemente, ela busca novos remédios e experiências de outras pessoas em sites que considera confiáveis. “Se percebo que o médico está receitando um medicamento muito antigo, reclamo ou troco de médico”, conta.

No entanto, Pereira Neto não acredita na desprofissionalização do médico após esse novo fenômeno. “Não há nada que se compare à experiência prática de anos de um médico”, afirma. Provavelmente, os médicos não vão perder a autoridade sobre os diagnósticos para a internet, mas certamente a relação entre eles e seus pacientes será mais igualitária, graças ao acesso democrático às informações sobre saúde.

Impactos do terremoto no ensino superior do Haiti

Um grupo de pesquisadores da Unicamp que vivenciou o terremoto no Haiti, desenvolve um estudo sobre o impacto nas instituições de ensino superior do Haiti, causado pela tragédia. Com apoio da Capes, a pesquisa já tem seu primeiro diagnóstico.

O terremoto de 12 de janeiro, que causou mais de 300 mil mortes no Haiti, mudou também os rumos das pesquisas científicas realizadas na região. Foi o que aconteceu com um grupo de pesquisadores do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp que estava no Haiti desde 31 de dezembro – e, portanto, vivenciou o terremoto. Ao retornar ao Brasil, o grupo lançou um novo tema de pesquisa com o apoio da Unicamp e financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Trata-se de um estudo sobre o impacto nas instituições de ensino superior do Haiti, causado pelo terremoto. E o primeiro diagnóstico já foi lançado.

De acordo com o grupo da Unicamp, coordenado pelo professor Osmar Ribeiro Tomaz, os efeitos sobre a infraestrutura básica da cidade foram calamitosos na capital do país, Porto Príncipe. As principais instituições – como o palácio nacional, hospitais, escolas – foram destruídas. O mesmo aconteceu com as instituições de ensino superior e os efeitos foram igualmente dramáticos: o terremoto aconteceu no segundo dia após o retorno às aulas, e muitos estudantes estavam em aula no momento da catástrofe.

Para desenvolver a pesquisa sobre os impactos do terremoto no ensino superior, foi enviado a campo o pesquisador Sebastião Nascimento – professor visitante da Unicamp – que tem experiência em pesquisas com a temática do Haiti. Mestre em direito pela Universidade de São Paulo (USP), com experiência na área de sociologia, ele atua principalmente com os temas de minorias nacionais, racismo, conflitos armados, desigualdade e homogeneização nacional. O pesquisador já conhecia o país e foi escolhido, dentre outros motivos, pela familiaridade com os dois idiomas locais: francês e crioulo.

A pesquisa já rendeu um primeiro diagnóstico, encaminhado à Capes, com recomendações emergenciais para as instituições de ensino superior do Haiti. “Todas as instituições de ensino superior da capital foram atingidas e estão completamente destruídas ou com suas estruturas comprometidas”, lamenta Tomaz. Os institutos de pesquisa que, em princípio, não sofreram perdas humanas, estão com os equipamentos comprometidos ou destruídos. A Universidade do Estado do Haiti, principal centro de pesquisa, estava localizada em uma das regiões mais afetadas pelo terremoto e ficou totalmente destruída. A Faculdade de Medicina e de Farmácia se transformou em ruínas e boa parte do Hospital Universitário veio abaixo. Na universidade em si não houve mortes, pois os alunos estavam em greve há mais de seis meses. A Faculdade de Linguística Aplicada, centro voltado fundamentalmente para o estudo da língua haitiana e para produção de material didático nesse idioma, também foi destruída. “O trabalho está intenso porque há alunos que foram para outras cidades e outros que estão em abrigos”, diz Tomaz.

A partir desse diagnóstico, que resultará num primeiro relatório divulgado ainda em março, os pesquisadores da Unicamp apresentaram algumas recomendações, entre elas, a proposta de cooperação e de intercâmbio acadêmico e científico com o Brasil. A ideia é que as atividades tenham início no Haiti em instalações provisórias e que os alunos sejam formados para o uso proficiente da língua portuguesa por uma equipe de reconhecida formação acadêmica, científica e cultural. As áreas de gestão de recursos urbanos e naturais, de informação, saúde, linguística e formação de professores foram apontadas pelos pesquisadores como emergenciais.

Pesquisa de campo

Com o objetivo inicial de serem treinados para situações de conflitos e pós-conflitos, os seis alunos de graduação e a aluna de mestrado da Unicamp que foram ao Haiti em dezembro realizavam, na ocasião do terromoto, uma dinâmica intensa de atividades no país: caminhavam pelas ruas de Porto Príncipe, com o objetivo de entender diferentes aspectos da realidade haitiana. Durante o dia, faziam visitas a organizações não governamentais (ONGs), e outras instituições, nas quais entrevistavam diversas pessoas. No final do dia, em uma reunião de aproximadamente duas horas, discutiam sobre o que tinham observado e co-relacionavam os assuntos com a bibliografia previamente lida pelos alunos. “Cada aluno tinha um caderno, conhecido na antropologia como ‘caderno de campo’, onde eram anotadas análises individuais”, explica Tomaz . Acompanhados pela pesquisadora e fotógrafa, Cristiane Bierrenbach, os estudantes também tiravam fotos que, posteriormente, eram analisadas e discutidas.

Após o terremoto, que não os atingiu diretamente, Tomaz e sua equipe mudaram sua rotina: passaram a caminhar pelas ruas buscando compreender como as pessoas se organizavam para enfrentar tamanho desastre enquanto a ajuda internacional não chegava. As cenas de solidariedade comoveram a equipe. “Vizinhos ajudando vizinhos, escoteiros doando suas roupas, homens se organizando para buscar sobreviventes nos escombros e as mulheres arrumando comida e cuidando das crianças”, descreve Tomaz. A equipe de pesquisadores permaneceu no país durante quatro dias, após o terremoto, e depois seguiu para República Dominicana, antes de regressar ao Brasil.

Recomposição do ensino superior

Entre os atos assinados por ocasião da visita ao Haiti, no dia 25 de fevereiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou um memorando para a reconstrução, o fortalecimento e a recomposição do sistema de educação superior do Haiti, a fim de buscar mecanismos de colaboração acadêmica e reestruturação das instituições de ensino superior haitianas. A proposta é que o Brasil crie mecanismos para o envio de pesquisadores brasileiros ao Haiti para possibilitar a implementação de programas de pós-graduação sanduíche – a doutorado em colaboração com alguma instituição de pesquisa do exterior – para estudantes haitianos em universidades brasileiras.

As medidas incluem conceder bolsas de mestrado e doutorado, contribuir para a reestruturação das instituições de ensino superior por meio do envio de professores brasileiros em nível de pós-doutorado para ministrar aulas, realizar seminários e missões de diagnóstico. Ficará a cargo da Capes, da Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação e do Ministério das Relações Exteriores buscar mecanismos para atingir o compromisso do governo federal firmado com o Haiti.