Seminário discute falta de protagonismo da mulher nos partos hospitalares

O seminário “A redescoberta do prazer de dar à luz e um novo modelo de assistência obstétrica” trouxe a discussão sobre a atual falta de protagonismo da mulher nos partos hospitalares e as intervenções médicas desnecessárias. O evento, em defesa da humanização do parto, aconteceu em outubro, na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp.

Num país onde 40% dos partos são cesarianas e, desse total, a maioria desnecessárias, falar em parto sem anestesia e sem intervenção médica parece uma insanidade. Mas há um número cada vez mais crescente de mulheres que não se interessam pela promessa do parto “prático e indolor” e buscam vivenciar o nascimento de seus filhos da forma mais natural possível. O seminário “A redescoberta do prazer de dar à luz e um novo modelo de assistência obstétrica” trouxe a discussão sobre a atual falta de protagonismo da mulher nos partos hospitalares e as intervenções médicas desnecessárias. O evento, em defesa da humanização do parto, aconteceu em outubro, na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp.

Para os adeptos do “parto humanizado”, conceito utilizado para definir o atendimento que respeita o ritmo natural do nascimento e recusa o uso de certos procedimentos médicos de rotina, a cesárea e o parto normal hospitalar aproximam-se por exercerem o mesmo modo de assistência ao parto: ambos colocam a mulher em uma atitude passiva. Ficar presa a uma maca durante o trabalho de parto, ser impedida de comer, beber líquidos, tomar ocitocina sintética (hormônio que intensifica as contrações uterinas) e receber anestesia sem opção de escolha são alguns dos procedimentos que fazem parte do “pacote” utilizado para receber qualquer mulher que esteja em trabalho de parto nas instituições hospitalares. Embora anunciados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como ineficazes ou, até mesmo, prejudiciais, tais procedimentos fazem parte do protocolo obstétrico na maioria dos hospitais.

Para o professor da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, Jorge Kuhn, um dos convidados para a mesa de debates do evento, é a questão do “protagonismo da mulher” que está em jogo. As escolhas da mulher em relação a seu parto e a preparação para que esse protagonismo aconteça têm que aparecer “já durante a gestação, no pré-natal”. Para ele, isso implica em responsabilidades e, para tanto, é preciso que a mulher esteja bem informada, o que não acontece na maioria dos atendimentos médicos, que já iniciam uma relação médico-paciente de maneira passiva para o segundo. O médico da Unifesp, conhecido por tentar “humanizar” até mesmo os partos cesárea, diz receber entre suas pacientes mulheres que já passaram pela experiência do parto, mas que não tiveram protagonismo. “Quase 100% delas, estão em busca do parto normal e sem anestesia”, afirma ele.

A posição (horizontal) em que a mulher é colocada no trabalho de parto já é por si só um elemento que a coloca em uma postura passiva, já que a falta de liberdade de movimentos traz um desconforto significativo, limitando seu repertório de atuação. Junte-se a isso o fato da aplicação de anestesia ser hoje um procedimento padrão, realizado até mesmo sem que a parturiente seja consultada. Sem controle sobre seu corpo, a mulher deixa de ser a protagonista desse momento e passa a receber do médico-obstetra os comandos que deve executar para que seu bebê venha ao mundo.

Segundo o médico Hugo Sabatino, da FCM/ Unicamp, também um dos convidados do evento, duas questões contribuíram para que o protagonismo fosse transferido da mulher para o profissional responsável pelo parto: as mudanças do nascimento do domicílio para o hospital e da posição vertical para a horizontal. Isso ocorreu a partir do século XVII sob a influência do médico francês François Mauriceau. No decorrer da progressiva “medicalização do parto”, a posição horizontal estabeleceu-se definitivamente por “facilitar o trabalho do profissional para extrair a criança, sem levar em conta o desconforto causado à mulher pela posição”. Essa historicidade, segundo Sabatino, quase não é difundida nos cursos de medicina, o que poderia explicar a falta de interesse dos obstetras pelo assunto.

O tom do seminário foi, portanto, o de questionar a condução do nascimento nos partos hospitalares, que transforma um momento que era para ser especial para a mãe em uma série de procedimentos médicos que excluem a participação ativa da mulher e da família, em nome de uma maior segurança para mãe e bebê. Os debatedores questionaram essa justificativa da segurança, já que esses procedimentos são realizados em todas as mulheres e não apenas nos chamados “grupos de risco”. O resultado disso vai desde posições e procedimentos que desconsideram o desconforto da parturiente até a realização de partos cesárea desnecessários.

Entre os 180 participantes do evento, estavam presentes muitos enfermeiros e estudantes de enfermagem, fisioterapeutas, doulas – profissionais cujo ofício é apoiar a gestante física e psicologicamente durante o parto- , psicólogos, gestantes, mamães com seus bebês, mas apenas três médicos.

Depoimentos, como o de Roselene Nogueira, outra convidada da mesa de debates, também fizeram parte da programação. Com a experiência de três partos normais, ela contou que, apesar de achar incômodo e penoso, nunca questionou os métodos de condução do trabalho de parto. “Eu achava que fazia parte, afinal era um trabalho profissional”, revelou. “Foi como se eu tivesse passado sem alma pelos meus partos”, concluiu. Quando ela descobriu o movimento pela “humanização do parto”, tornou-se ativista da causa. Hoje, é uma das colaboradoras da rede “Parto do Princípio“, que, segundo o site da organização, é formada por mulheres engajadas na luta pela “retomada do protagonismo de seus processos de gestação, parto e pós-parto”.

O evento teve, em sua abertura, a exibição do documentário “Parto Orgásmico”, de Debra Pascali-Bonaro, e foi encerrado com a exposição fotográfica “Parto com prazer”, do fotojornalista Marcelo Min.

Pesquisa discute a sustentabilidade de associação de agricultores da Amazônia

Ampliar e diversificar atividades e, ao mesmo tempo, preservar a qualidade das ações desenvolvidas é um desafio para iniciativas comunitárias voltadas para o uso de recursos naturais, segundo estudo defendido na Unicamp.

Ampliar e diversificar atividades e, ao mesmo tempo, preservar a qualidade das ações desenvolvidas é um desafio para iniciativas comunitárias voltadas para o uso de recursos naturais. Essa afirmação resume uma das principais conclusões do estudo feito pela engenheira agrônoma Renata Mauro Freire, que há 15 anos trabalha junto a ONGs da Amazônia, na área de gestão de projetos socioambientais.

A pesquisa foi desenvolvida no Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sob orientação da professora Lúcia da Costa Ferreira, e deu origem à tese de doutorado “Sustentabilidade de sistemas socioecológicos sob a lente da resiliência: o caso de uma associação agroecológica na Amazônia ocidental”, defendida no último dia 19 de outubro.

Freire analisou estratégias institucionais e práticas de manejo da Associação dos Produtores Alternativos (APA), uma organização de agricultores familiares da região de Ouro Preto do Oeste, no estado de Rondônia. Referência em agroecologia no final dos anos 1990, a associação declarou falência em 2008, depois de uma grave crise institucional. A partir do caso da APA, o estudo discute a sustentabilidade dos sistemas socioecológicos – iniciativas comunitárias voltadas para o uso de recursos naturais, que integram atividades institucionais e ecológicas, como a associação de agricultores de Rondônia.

A trajetória da APA é emblemática e não é um caso isolado. De acordo com o estudo, muitas iniciativas consideradas bem sucedidas não conseguem se sustentar por mais de dez anos. Diante dessa realidade, a pesquisa foi baseada no conceito de resiliência, que se refere à capacidade de adaptação e reorganização das iniciativas comunitárias frente a mudanças e distúrbios, como, por exemplo, a variação de preço dos produtos comercializados, os conflitos internos ao grupo, as secas e a incidência de pragas e doenças.

Ao discutir a sustentabilidade da gestão dos sistemas socioecológicos, Freire destaca dois elementos-chave: ganho de escala e capital social. A ampliação e diversificação temática das atividades e o aumento no número de integrantes estão entre os exemplos de ganho de escala. Já o capital social se refere a condições de interatividade, como confiança, compromisso, valores compartilhados, redes de cooperação e relações sociais. No caso da APA, o descompasso entre o ganho de escala e a preservação da qualidade do capital social foi crucial para a crise. “Não tem receita, mas qualquer outra iniciativa que vá se desenvolver deve estar muito atenta a essas questões”, defende Freire.

A APA contava com 23 famílias associadas quando foi criada oficialmente, em 1992. Ganhou novos integrantes e formou parcerias com cooperativas locais, associações, prefeitura, ONGs, agências financiadoras e, até, com o mercado europeu. De uma estratégia inicial concentrada na produção de mel e em experimentos com sistemas agroflorestais – que incluem espécies arbóreas, agrícolas e criações de animais em um mesmo espaço -, passou à produção comercial de produtos, ao manejo de reservas naturais e à recuperação de áreas degradadas na região de Ouro Preto do Oeste. No seu período de auge, tinha mais de 200 agricultores associados e cerca de 500 hectares de sistemas agroflorestais e áreas reflorestadas.

No entanto, segundo analisa Freire, à medida que ocorre o ganho de escala, há uma forte tendência de perda de qualidade do capital social e, consequentemente, das ações desenvolvidas. No caso da APA, houve enfraquecimento dos vínculos com os associados, diminuição da qualidade da assistência técnica e concentração de poder nas instâncias locais de decisão. A perda de credibilidade, o descontrole gerencial e o endividamento vieram a partir dos anos 2000, levando ao fim da associação. “A grande lição é fazer um equilíbrio mais ponderado, avaliar em que medida o ganho de escala está diminuindo o capital social ou em que medida o capital social que se formou pode apontar para um ganho de escala mais seguro e resiliente”, argumenta a Freire.

A pesquisadora chama a atenção, também, para a responsabilidade de acompanhamento técnico gerencial por parte do governo. Freire conta que, dentro de uma política de desenvolvimento em uma escala regional maior, a APA foi eleita como principal ator social na região central de Rondônia. “Houve uma transferência de responsabilidades, sem que houvesse um apoio e acompanhamento gerencial na mesma intensidade”, avalia. Para a pesquisadora, a importância da divisão de responsabilidades, não só com o governo, mas com outras instituições locais e regionais, é também uma lição importante aprendida a partir da análise da trajetória da APA. “Planejar de forma mais integrada uma região, fortalecendo os diversos atores sociais locais, é fundamental para garantir a sustentabilidade em um nível regional”, explica Freire.

Agroecologia e sustentabilidade

Se no campo institucional a APA encontrou problemas, na esfera do manejo, a associação era um exemplo, segundo Freire. Por meio da análise das práticas de manejo da APA, o estudo permite avaliar as contribuições da agroecologia para a sustentabilidade.

A agroecologia integra conhecimentos de diferentes disciplinas – como biologia, agronomia, sociologia, economia e, principalmente, ecologia – e estabelece, ainda, o diálogo entre o conhecimento técnico-científico e o conhecimento ecológico das comunidades locais ou populações tradicionais. O estudo aponta que o interesse pelo conhecimento local, para melhorar estratégias de conservação e manejo de recursos, surgiu somente nos anos de 1980.

Freire destaca a força desse conhecimento híbrido na APA. “Havia uma abordagem muito interessante de agricultor para agricultor. Eles levavam em consideração a sua realidade, seus interesses. Não que a assistência fornecida por técnicos deva ser excluída, mas pode-se fazer um sistema misto. É importante que os agricultores se apropriem de suas tecnologias”, argumenta a pesquisadora.

O estudo destaca, ainda, as práticas de manejo voltadas para a diversificação. A utilização de cultivos com períodos de safra diferenciados contribuiria para garantir a boa distribuição, tanto da oferta de alimentos, quanto dos rendimentos econômicos, ao longo do ano. Freire conta que a APA, ao invés de se especializar em sistemas simplificados voltados para o mercado, contava, também, com sistemas mais diversos. Associava diferentes unidades de produção, como pasto, roça e sistemas agroflorestais diversificados e comerciais. “Havia equilíbrio entre a segurança alimentar e a geração de economia a partir da comercialização de outros produtos, principalmente pupunha, açaí, cupuaçu e mel”, descreve.

Mesmo com o fim da APA, ao descrever as atividades de manejo da associação, Freire escreve no presente. “A APA colapsou institucionalmente, mas isso não quer dizer que os agricultores pararam de conduzir os seus sistemas”, justifica. O estudo descreve que alguns ex-sócios têm simplificado suas unidades de produção, investindo em monocultivos ou mesmo abandonando completamente os sistemas agroflorestais, como forma de protesto frente à crise.

Os agricultores enfrentam, ainda, a pressão pela tendência ao desmatamento observada na região. Em suas considerações finais, o estudo questiona se o Estado e o movimento social e ambiental da região central de Rondônia vão agir para que o desmatamento não se intensifique. A tese valia, ainda, que é cedo para prever até que ponto o capital social formado na região, com grande participação da APA, será mobilizado e reorientado para novos empreendimentos e oportunidades. “Tanto os acertos como os erros e crises vivenciadas no passado devem servir de aprendizado e memória institucional regional para apoiar novas iniciativas e processos socioecológicos mais resilientes”, conclui o estudo.

Documentários discutem os perigos de espécies invasoras em Ilha Grande

Pesquisas desenvolvidas em Ilha Grande, no litoral fluminense, sobre o impacto ambiental de espécies exóticas introduzidas no ecossistema da ilha, são o tema de uma série de 10 documentários que serão lançados ainda esse ano. O projeto foi produzido pelo documentarista Luiz Duarte, com apoio da Faperj.

Pesquisas desenvolvidas em Ilha Grande, no litoral fluminense, sobre o impacto ambiental de espécies exóticas introduzidas no ecossistema da ilha, são o tema de uma série de 10 documentários que serão lançados ainda esse ano. O projeto foi produzido pelo documentarista Luiz Duarte, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj), e mostra o trabalho de equipes de pesquisa do Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável (Ceads), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Segundo a coordenadora das pesquisas, Helena de Godoy Bergallo, o mapeamento das espécies exóticas começou em 2007, mas os pesquisadores já vinham trabalhado com essas espécies em Ilha Grande e na baía da Ilha Grande antes disso. Os estudos iniciaram-se nos arredores das vilas de Dois Rios e Abraão, e depois partiram para regiões mais isoladas. Para Bergallo, muitas das espécies exóticas já estão presentes no ambiente natural, ou seja, não precisam mais da ação do homem para sobreviver e se espalham livremente pelo ecossistema da Ilha.

“A jaqueira foi trazida no século XVII e, por muito tempo, achava-se que era uma espécie brasileira, pois está muito bem adaptada”, revela. A jaqueira, uma das espécies estudadas no projeto, oferece um bom exemplo do impacto de uma espécie exótica no ambiente local. Segundo Bergallo, enquanto a comunidade de pequenos mamíferos que se alimentam de frutas se beneficia, as espécies que se alimentam de insetos são prejudicadas em áreas onde as jaqueiras foram introduzidas. “As áreas estão claramente impactadas. A química do solo também muda, porque diminui a quantidade de nitrogênio disponível, pois o folhiço (folhas caídas) demora muito a se decompor”, alerta.

As espécies exóticas podem surgir acidentalmente ou propositadamente, dependendo da maneira como são introduzidas. “A Ilha Grande, por muito tempo, abrigou pessoas que trouxeram com elas espécies representativas da sua origem cultural e da cultura acumulada por onde passaram. Grande parte dessas pessoas saiu quando foi delimitado o Parque (Estadual de Ilha Grande), mas para trás ficaram seus sinais. Ruínas, ruas e as espécies que elas trouxeram consigo, que se multiplicaram e se estabeleceram na Ilha”, explica Mariella Camardelli Uzêda, pesquisadora da Embrapa e participante do projeto.

O sagui, outra espécie estudada, é um exemplo de mamífero invasor trazido pelo homem. “Esse pequeno primata, originário do Norte e do Nordeste do Brasil, estabelece uma intensa competição por alimentos com seus parentes locais, a exemplo do mico-leão”, diz Uzêda. A pesquisadora acrescenta que eles também carregam doenças que podem ser deletérias para os primatas nativos, além de serem vorazes predadores de aves. “A retirada dessas espécies depende da elaboração de um manejo fundamentado no conhecimento da ecologia das espécies exóticas (sua reprodução, sua demanda por recursos naturais) estabelecido em consenso com os habitantes que permanecem na Ilha, de maneira a permitir que a biodiversidade existente no Parque possa ser preservada”, defende.

Além de gerarem um grande impacto no ecossitema local, algumas espécies exóticas podem, ocasionalmente, prejudicar o bem estar e a saúde pública, como explica Sônia Barbosa dos Santos, pesquisadora da Uerj que também participa do projeto. “No caso do caracol africano, sua rápida proliferação – pois ele coloca uma grande quantidade de ovos – ocasiona um efeito sobre as populações humanas (reações de asco, medo, destruição de hortas e jardins) e também sobre outros animais. Já existem relatos de que os caracóis estão entrando na cadeia alimentar de animais como lagartos teiús e marsupiais como gambás”, conta.

Para Sônia Barbosa, um outro ponto importante é a saúde humana, porque algumas doenças causadas por parasitas, as angiostrongioses, podem ser carregadas pelo caracol. “Essas enfermidades já contam com casos no Brasil, de forma que a presença do caracol africano na Ilha Grande, a presença de roedores (hospedeiros do verme adulto) e o grande fluxo turístico aliado ao saneamento precário representa um risco potencial para a saúde pública”, alerta. Sônia Barbosa explica que o monitoramento é feito através de material enviado à Fiocruz e que, por enquanto, nenhum parasita foi detectado.

Mesmo nos casos em que a espécie invasora é introduzida acidentalmente, ela pode se espalhar de maneira rápida e gerar grandes danos ao ambiente local. Esse é o caso do coral sol, que chegou carregado na água de lastro dos navios, e cujos primeiros registros datam de 2004. “É preciso prevenir, evitar que as espécies exóticas entrem. Os navios deveriam trocar a água de lastro fora dos portos. Atualmente, isso é lei”, diz Helena Bergallo.

Para ela, educar a população também é um grande desafio. “A população nem sempre percebe o problema. Muitas vezes, as pessoas não veem as espécies exóticas como exóticas”, afirma. Bergallo explica que até mesmo o contingente de animais domésticos que foram abandonados ou vivem soltos pela mata é extremamente prejudicial. Ela ressalva que os pesquisadores têm feito palestras para a população da Ilha Grande e os documentários também servirão como material de informação para as escolas locais. “Em alguns casos, como o do coral sol, os moradores foram ensinados a reconhecer a espécie e retirá-la. Depois, eles vendem como artesanato; a venda é certificada”, conta.

Além da jaqueira, do sagüi, do coral sol e do caramujo africano, o projeto de pesquisa também inclui o estudo do bambu e da lagartixa. Sônia Barbosa dos Santos, responsável pela coordenação científica dos documentários, explica que a série é composta por dez filmes, oito dos quais abordam as espécies exóticas na Ilha Grande e outros dois, temas de educação ambiental e resgate da história da Vila Dois Rios (Ecomuseu e Parque Botânico da Ilha Grande). Toda a filmografia foi feita por Luiz Duarte.

“O objetivo é a divulgação científica em todos os níveis, especialmente ao público leigo, pois a literatura científica, em geral, fica restrita ao meio acadêmico. Também objetivamos proporcionar uma melhor compreensão do trabalho científico, suas etapas, a formação de jovens pesquisadores e a relevância da pesquisa científica para a sociedade”, diz a coordenadora científica.

O projeto de pesquisa, que forneceu material para os documentários, também tem financiamento da Faperj e está sob a coordenação geral da pesquisadora Helena de Godoy Bergallo, contado com a participação de outros pesquisadores encarregados de sub-projetos direcionados às principais espécies invasoras na Ilha Grande. A produção dessa série segue os passos de uma anterior, lançada em 2004, sobre a flora e fauna da Ilha Grande, também realizada por Luiz Duarte.