Softwares ajudam deficientes visuais a navegar na Internet

São vários os programas de computadores desenvolvidos para que os deficientes visuais também façam parte do mundo digital. O mais recente deles é o serviço online WebAnywhere, desenvolvido na Universidade de Washington, nos Estados Unidos.

Inclusão digital é a democratização do acesso às tecnologias da informação, de modo a permitir a inserção de todos na sociedade de informação – até mesmo deficientes visuais. São vários os programas de computadores desenvolvidos para que os deficientes visuais também façam parte do mundo digital. O mais recente deles é o serviço online WebAnywhere, desenvolvido na Universidade de Washington, nos Estados Unidos.

Um dos maiores empecilhos encontrados por deficientes visuais é a falta de mobilidade. Geralmente, os programas especiais de leitura de tela voltados para esse tipo de usuário são instalados apenas em seus computadores pessoais, o que dificulta a utilização de computadores em bibliotecas, universidades ou cyber cafés, por exemplo. O WebAnywhere permite que deficientes visuais naveguem pela internet com total mobilidade, utilizando qualquer computador em qualquer lugar – como aponta o próprio nome da ferramenta, cuja tradução literal é “web em qualquer lugar”.

O programa não precisa ser instalado no computador antes de ser usado, como os leitores de tela existentes hoje. A ferramenta é baseada na web, não precisando ser baixada ou instalada: o WebAnywhere acessa o texto em um servidor externo e envia o arquivo de audio para tocar no navegador do usuário. Desta forma, a leitura do texto em voz alta pode ser feita em qualquer computador dotado de alto-falantes ou de fone de ouvidos. Assim, onde quer que o deficiente visual esteja, basta acessar a página da internet, ouvir as instruções de uso, e então navegar pela web, e o programa fará a leitura dos outros sites acessados. A ferramenta, que ainda está sendo testada em versão alpha, é gratuita e pode ser utilizada através do endereço http://webanywhere.cs.washington.edu/wa.php.

“A importância de ferramentas deste tipo é levar educação, cultura, socialização e trabalho a essa fatia da população. Afinal, quem vive sem computador hoje em dia?”, aponta Neno Albernaz, pesquisador do Centro de Apoio Educacional ao Cego, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Albernaz é deficiente visual e um dos desenvolvedores do programa DOSVOX, dedicado aos deficientes visuais. Além da leitura de tela, o DOSVOX, desenvolvido pelo Núcleo de Computação Eletrônica da UFRJ, permite que os deficientes visuais realizem sem esforço tarefas no computador como copiar, mover ou renomear arquivos, entre outras operações. O DOSVOX é um sistema gratuito e também está disponível na internet em http://intervox.nce.ufrj.br/dosvox/download.htm.

Os leitores de tela para deficientes visuais, anteriores ao WebAnywhere, fazem a leitura das informações de um site através do código que o produziu (ou seja, as informações lidas não são exatamente as que aparecem na tela). Se o código da página for aberto e dentro dos padrões web, o máximo possível de informações poderá ser sonorizado e as funções existentes na página poderão ser executadas pelo teclado. Assim, tarefas como enviar um e-mail, visitar um link, pesquisar uma palavra ou preencher um formulário podem ser executadas através desses softwares, e com a navegação via teclado.

Segundo Albernaz, programas deste tipo contribuem não apenas para a inclusão digital, mas especialmente para a inclusão social dos deficientes visuais. “O material em Braille é escasso, além de que poucos não deficientes sabem ler Braille”, aponta o pesquisador. E continua: “Com o auxílio do computador, o deficiente visual pode ler e ser lido, pesquisar na internet, socializar-se através de listas de discussão, MSN, Skype… Enfim, tirar proveito de todos os recursos, benefícios e serviços que o computador possibilita”.

Novo processo de produção é arma contra a malária

Artemisinina, que é uma matéria-prima para fabricar medicamentos contra a malária, poderá ser obtida por processos similares aos de produção do álcool, isto é, através de bioreatores de fermentação. A idéia é produzí-la em larga escala para ajudar a resolver o problema da malária que aflige milhões de pessoas em todo mundo.

A novidade é o uso de bioreatores gigantes que produzirão um precursor, o ácido artemísico, que é depois transformado em artemisinina, em escala industrial. O processo de fabricação dessa matéria-prima, que é análogo ao descrito em um artigo da Nature de 2006,usa um fermento geneticamente modificado, isto é, com uma inserção de genes.

Segundo a química do CPQBA da Unicamp, Mary Ann Foglio, o uso desse processo de fermentação, que usa o microorganismo Sacaromises serevises genéticamente modificado, “pode ser uma ótima idéia”, mas ainda não está bem estabelecido. O pulo-do-gato seria a obtenção de um medicamento à base dos derivados da artemisinina, numa dose única via oral. Isso porque a maior porcentagem de indivíduos infectados pelo agente causador da malária, o protozoário Plasmodium vivax ou P. falciparum, encontra-se em regiões tropicais de difícil acesso, o que exige que o medicamento, por muitas vezes, leve dias para chegar ao destino.

Foglio destaca que a artemisinina hoje já pode ser produzida, no Brasil, com 98% de pureza, a um custo de aproximadamente um dólar por grama. Nessa avaliação de custo, segundo a pesquisadora, já estão incluídos os gastos que se iniciam com o cultivo da planta, uma vez que o processo se baseia na extração dessa substância a partir das folhas (as flores não contem artemisinina) de uma planta de origem chinesa chamada Artemesia annua L. ”A idéia de se usar esse processo fermentativo é ótima, desde que realmente se consiga que o custo global seja inferior aos preços observados para o isolamento do composto diretamente da planta, que é de dois dólares o grama do produto final”.

O procedimento brasileiro, segundo Foglio, é um processo barato e ecologicamente viável. A equipe, por exemplo, já comprovou que o resíduo da extração da artemisinina apresenta inibição de lesões ulcerativas quando avaliado em modelos experimentais em animais. A cada 100 quilos de planta seca é produzido um quilo de artemisinina, uma quantidade suficiente para os casos de malária mais graves causados pelo Plasmodium falciparum do Brasil, sem levar em conta os outros produtos que também apresentem atividade medicinal. Além disso, os projetos que se desenvolvem dentro da universidade permitem capacitar recursos humanos em todos os níveis para trabalhar nessa área.

Tecnicamente, medicamento é diferente de remédio. Um remédio não tem parâmetros confirmados, mas um medicamento precisa de um controle de qualidade capaz de assegurar ao consumidor que o produto tem eficácia, isto é, tem o efeito desejado, é seguro e que todas as unidades são rigorosamente iguais.

No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, 99,9% dos casos de malária se concentram na Amazônica legal e as ações desenvolvidas em todas as esferas governamentais têm conseguido que os [casos >http://189.28.128.100/portal/aplicacoes/noticias/noticias_detalhe.cfm?co_seq_noticia=51337]sejam reduzidos.

A prevenção da doença começa com o uso de telas nas portas e nas janelas das casas. No período noturno, o mosquiteiro é indicado, ou ainda, o uso dos repelentes de insetos, porque, durante o sono, o mosquito transmissor do protozoário ataca sem ser afastado pelo homem. Já no dia-a-dia, recomenda-se o uso de roupas que protejam pernas e braços. Assim como no caso da dengue, para a malária também existem medidas de prevenção coletiva. Estas medidas visam à eliminação dos criadouros do vetor através de saneamento e gestão do lixo.

Saiba mais: http://www.independent.co.uk/life-style/health-and-wellbeing/health-news/malaria-a-miracle-in-the-making-offers-hope-to-millions-worldwide-839604.html http://discovermagazine.com/2006/dec/cover

Lei que regulamenta experimentação animal divide opiniões

Ao mesmo tempo em que a SBPC reunia pesquisadores que debatiam a legalização e a regulamentação do uso controlado de cobaias, em prol da lei Arouca, um grupo de professores do IFCH da Unicamp organizou uma mesa redonda para discutir argumentos contrários.

Na semana da reunião da SBPC deste ano – que teve como um dos temas de destaque a “Experimentação com animais de Laboratório” -, um grupo de professores do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp organizou uma mesa redonda para apresentar e discutir argumentos contrários ao uso de cobaias.

Um dos principais focos da discussão nos eventos da SBPC e do IFCH foi a Lei Arouca, que legaliza e regulamenta o uso controlado de cobaias e está em votação no Senado. Na mesa do IFCH, os participantes foram unânimes nas críticas à Lei e mostraram-se contrários a qualquer argumento que se baseie na “eficiência da prática” ou na “necessidade”, já que a experimentação animal seria “imoral e injustificável”.

“Não quero discutir a eficácia da prática. Não se pode reduzir a questão a isso. Ainda que eficaz, ela é moralmente inaceitável. A necessidade é uma variável cultural e histórica”, destacou a antropóloga do IFCH, Nadia Farage, lembrando que, no passado, práticas hoje consideradas inaceitáveis, como a escravidão e a prostituição, eram aceitas como “males necessários”.

Já nas duas conferências e quatro mesas redondas do núcleo sobre experimentação animal da SPBC, a Lei Arouca foi defendida e aclamada pelos conferencistas e debatedores como uma forma de estimular o avanço científico, bem como de garantir o bem-estar dos animais.

De acordo com o biólogo e presidente da Comissão de Ética do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, Wothan Tavares de Lima, a Lei Arouca será benéfica tanto para a ciência como para os animais, já que prevê a criação do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea) – que será responsável por autorizar ou não experimentos com animais – e deverá viabilizar a formação de uma política nacional para o uso de cobaias.

Na mesa redonda “Legalização do uso de animais de Laboratório”, Cecília Carbone, secretária do Conselho Internacional para a Pesquisa com Animais de Laboratório (Incle, na sigla em inglês), lamentou que, na Argentina, a principal lei em vigência relacionada ao assunto, de 1954, já esteja caduca, o que dificulta o desenvolvimento de atividades de pesquisa. Para ela, a aprovação da lei brasileira, caso aconteça, funcionará como um disparador da discussão na América Latina e servirá de estímulo para que outros países da região criem uma regulamentação e consigam responder às exigências internacionais.

“Atualmente, a regulamentação é exigida por parte dos editores das publicações científicas prestigiadas e por parte dos financiadores das pesquisas”, disse Carbone, que afirma ser a Lei Arouca uma forma de garantir o avanço da ciência latina.

Na mesma mesa, a Juíza Argentina Ainda Kemelmajer defendeu a Lei, mas com a ressalva de que ela seja coloca em prática com responsabilidade, sempre se tendo em mente que o uso de cobaias gera benefícios, mas também dor e sofrimento aos animais. “Não se trata dos direitos dos animais, mas dos deveres dos homens de evitar o sofrimento animal e de conservar a natureza”.

Igualmente ponderada foi Rita Leal Paixão, membro da Comissão de Ética e Bem-estar animal do Conselho Federal de Medicina Veterinária. Na mesa redonda “Ética na experimentação animal”, ela ressaltou que o debate sobre o uso de cobaias é tão complexo porque, cada parte – pesquisadores e protetores dos animais -, se apóia em um pano de fundo diferente, enquanto o tema exige o abandono das abordagens unidimensionais, para que se possa encontrar pontos de consenso e equilíbrio.

Para Rita Paixão, a Lei Arouca não representa uma forma de legalização da crueldade com animais – algo que sempre foi rechaçado no plano ético – sobretudo porque se apóia em um ponto mínimo de consenso, o princípio dos 3 Rs: Refinment (refinamento), para que o uso de coibais se dê com o mínimo de sofrimento; Reduction (redução), para que se use a quantidade mínima necessária de animais; e Replacement (substituição), para que o método da experimentação animal seja substituído por outro alternativo sempre que possível.

Métodos alternativos

Para Marcel Frajblat, membro da diretoria do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal, a lei funcionará como um mecanismo de proteger os animais, e não de prejudicá-los, já que vai regulamentar o uso de cobaias – atualmente sem cobertura legal – e impor condições a essa prática.

Na mesa realizada no IFCH, os participantes questionaram a idéia de se impor certas condições ao uso de cobaias, já que são os próprios cientistas que decidem quais são essas condições. Para Farage, legalizar a experimentação com animais levará à inércia da prática e impedirá que métodos alternativos sejam desenvolvidos.

Antropocentrismo

Os defensores da experimentação animal ressaltam a importância da prática para a geração do conhecimento científico e para assegurar a saúde humana e dos próprios animais. Para eles, o uso de cobaias em testes é uma forma de se evitar o uso de humanos, algo mais grave.

Segundo o filósofo do IFCH Oswaldo Giacóia, participante da mesa realizada no IFCH, discutir o uso de cobaias a partir da moral e ética tradicionais não seria adequado, já que elas são antropocêntricas, tratando somente das relações entre os homens. Ele diz que o debate deve basear-se em uma moral extra-humana, que veja o homem não como “administrador e guardião da criação divina”, mas como parte da natureza.

Da mesma forma, a antropóloga da USP Maria Lucia Montes, outra componente da mesa do IFCH, chamou atenção para a necessidade de se abandonar a visão antropocêntrica, segundo a qual o homem, por ser racional, tem direito de dominar a natureza. “A questão não é se os animais são racionais ou não, mas se podem ou não sofrer”.

Leia mais: Ética e proteção bioética na experimentação animal->http://www.comciencia.br/comciencia/?section=3¬icia=478

Ética para os animais->http://www.comciencia.br/comciencia/?section=9&reportagem=72

Primatas como modelo experimental para vigilância em saúde, pesquisa e saúde pública->http://www.comciencia.br/comciencia/?section=8&edicao=31&id=368