Educação deve usufruir de tecnologias para incentivar crítica

As “crianças multitarefas” tem, cada vez mais cedo, contato com novas tecnologias. Pensando nisso, a pesquisadora Simone Bortoliero (UFBA) afirma ser necessário criar novos formatos a partir da tecnologia voltados para educação. “É preciso aproximar os meios de comunicação da escola, ler a televisão e os meios de comunicação de uma forma crítica”.

Trocar mensagens, músicas, comunicar-se via mensagens de texto, “blogar”, procurar assuntos de interesse na internet, assistir TV, tudo ao mesmo tempo. Esse é o perfil do que é chamado por alguns profissionais de “crianças multitarefas” que, cada vez mais cedo, têm contato com as novas tecnologias. Pensando nisso, a pesquisadora Simone Bortoliero, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), afirma ser necessário criar novos formatos a partir da tecnologia voltados para educação. “É preciso aproximar os meios de comunicação da escola, ler a televisão e os meios de comunicação de uma forma crítica”.

Conhecida entre os especialistas como educomunicação de Mário Káplun, essa área tem como objetivo aproximar as novas gerações do pensamento crítico, ampliar as formas de expressão dos membros de uma comunidade e melhorar a capacidade de comunicar das ações educativas além de utilizar as tecnologias da informação e comunicação no contexto ensino/aprendizagem.

Bortoliero esteve no Núcleo de Informática Aplicada a Educação (Nied) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) ministrando um workshop para professoras do ensino fundamental da escola municipal de ensino fundamental Parque dos Pinheiros, em Hortolândia (SP). O evento pretende, entre outras coisas, apresentar os processos pelos quais são produzidos os produtos televisivos, por exemplo, para que se possa, assim, refletir sobre o que se vê. “É preciso diminuir o ritmo desenfreado que as mídias despejam informação sobre as crianças se queremos que elas desenvolvam a noção de crítica e reflexão. É nesse processo de desconstrução que ocorre o diálogo entre professores alunos e entre os próprios alunos”, diz a pesquisadora. O exercício da crítica na recepção, segundo ela, não é algo fácil de ser realizado, uma vez que o acesso à informação não garante que as pessoas sejam mais ativas ou participantes. “Criticidade não é algo que se pode transmitir ou transferir como um teorema matemático ou uma fórmula química; tem que ser exercitado”, enfatiza.

Entre maio e julho deste ano, a pesquisa de consumo infantil “Kids expert 2008”, realizada pelo canal de TV Cartoon Network e pela Fundamento Comunicação, concluiu que a partir dos 6 anos as crianças são introduzidas a aparelhos tecnológicos além da TV, e aos 9 anos já utilizam computadores, internet e videogames, para, em seguida, se interarem com comunicadores (MSN, mensagens de textos, blogs) e celulares. Entre os 12 e 16 anos, os jovens também deixam a passividade e começam uma busca incessante por informação, além de dominarem totalmente os artefatos tecnológicos a que têm acesso. A pesquisa foi realizada com quase 7 mil usuários do site.

Alunos e professores em comunicação

Simone Bortoliero liderou um projeto em 2001, chamado “Jovens repórteres cientistas”, na cidade de Peirópolis (MG), que visava à produção de vídeos de divulgação científica por jovens alunos da rede pública de ensino. Com o auxílio da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), em Uberaba (MG), as crianças saíam a campo para gerar reportagens e depois apresentar aos colegas. A experiência chegou a Salvador (BA) e à Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e, atualmente, compõe uma série de vídeos de curta duração intitulada “Um minuto para a ciência” e promove o diálogo entre os professores e alunos por meio da tecnologia. “Os professores foram pegos de surpresa com toda essa onda de tecnologia; agora é preciso capacitá-los”, lembra a pesquisadora.

Gracia Lopes de Lima, coordenadora de educomunicação dos projetos Cala Boca Já Morreu e Portal Gens concorda que exista uma distância que separa professores de alunos. Para ela, os professores têm que estar aptos a identificar as potencialidades das tecnologias que os alunos possuem (independente do nível socioeconômico), pois celulares com câmeras e mesmo velhas câmeras de VHS são tecnologias bastante acessíveis e podem ajudar nas produções dentro de sala de aula. Nos projetos que auxilia, Lima tenta enfatizar os processos de produção mais do que o objetivo didático do produto final. “Os participantes devem estar envolvidos com todas as etapas de produção, ao contrário do modelo de mercado hierarquizado. É isso que vai dar a noção de produção comunitária e visão global”, afirma. Ela também conta que a ênfase não deve ser na reprodução de modelos didáticos, mas na promoção da autoria. No entanto, Gracia Lima pondera que “as mudanças foram muito rápidas e a formação de professores ainda não deu conta de assimilar tantas mudanças em tão pouco tempo”.

É possível, aproveitar a onda de consumo de tecnologia para enriquecer a educação. Lima acredita que esteja ocorrendo uma democratização desses meios e mídias, o que deve ser aproveitado. “As pessoas, não só as crianças, têm cada vez mais oportunidade de deixar de ser meras consumidoras para se tornarem produtoras de conteúdo”. Basta notar que, de acordo com a pesquisa “Kids Expert 2008”, aproximadamente 25% das crianças entre idades de 7 a 15 anos já postaram vídeos no site YouTube e 20% já trocaram com amigos algum conteúdo de mídia via internet.

Expansão da energia nuclear divide opiniões

A licença prévia para a retomada das obras de Angra 3, concedida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) em julho, coloca o Brasil na rota de uma tendência mundial cercada de polêmica: a utilização tecnologia nuclear. Na França, Bélgica, Lituânia e Eslováquia, a produção de energia atômica em grande escala já é uma realidade: supre mais 50% da necessidade energética elétrica de cada país.

A licença prévia para a retomada das obras de Angra 3, concedida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) em julho, coloca o Brasil na rota de uma tendência mundial cercada de polêmica: a utilização tecnologia nuclear. Na França, Bélgica, Lituânia e Eslováquia, a produção de energia atômica em grande escala já é uma realidade: supre mais 50% da necessidade energética elétrica de cada país.

Na contramão dessa expansão, alguns pesquisadores e nações vêem com reservas a aposta na tecnologia atômica. Enquanto os entusiastas da idéia apontam como grande benefício a mitigação do aquecimento global – por se tratar de uma fonte de energia que não libera gases do efeito estufa – os críticos temem a proliferação de armas nucleares e a falta de um destino definitivo e seguro para os resíduos tóxicos.

Crescimento

De acordo com o último relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA, na sigla em inglês), divulgado em julho, o ano de 2007 foi marcado pelo aumento das expectativas em relação à energia nuclear, traduzido na construção de novas usinas. A IAEA é uma organização que tem como objetivo a promoção do uso da tecnologia nuclear para fins energéticos, bem como fiscalização e denúncia dos indícios de uso militar.

Conforme os dados apresentados, em 2007 havia no mundo 439 reatores nucleares em operação, abastecendo 15% da demanda global por energia elétrica. No mesmo período, 33 novos reatores encontravam-se em fase de construção.

As projeções da IAEAE são de que, até 2030, a capacidade de geração de energia nuclear mundial – que atualmente é de 372 gigawatts (GW) – alcance uma potência de 447 a 691 GW, considerando-se o cenário de projeção mais baixa e mais alta, respectivamente.

Aquecimento global

O físico, ex-secretário do meio ambiente do estado de São Paulo e professor da USP, José Goldemberg, destaca que o contexto atual – o do aquecimento global – é muito diferente do contexto da década de 70, quando a crise do petróleo estimulou a primeira expansão da energia nuclear no mundo. “Países como França, Alemanha e Japão procuraram na energia nuclear uma alternativa para garantir sua segurança energética, isto é, para deixar de depender da importação de petróleo e gás. Estes países não tinham outra opção a não ser os reatores”, diz, ressaltando que a tecnologia atômica é uma opção de combate ao aquecimento global, mas não a única.

“A grande maioria dos países em desenvolvimento não precisa de energia nuclear porque tem outras alternativas. O que está havendo é uma ofensiva comercial para abrir mercados nos países pobres, já que em alguns países ricos a energia nuclear foi proibida (como na Alemanha e Itália) ou deixou de crescer, como na França e Japão”, destaca o físico, que descarta a energia nuclear como uma fonte de energética limpa e ambientalmente sustentável.

“Instabilidade geopolítica”

A atenção da comunidade internacional em relação à tecnologia atômica recai principalmente sobre países com histórico de instabilidade geopolítica. E é justamente esse o motivo maior da polêmica em torno da energia nuclear. Das 33 usinas em construção, 19 ficam na Ásia, sendo cinco na China, seis na Índia, uma no Paquistão e três na Coréia do Norte.

Contudo, para Williams Gonçalves, sociólogo especializado em relações internacionais, o conceito corrente de “instabilidade geopolítica” é questionável, por estar calcado numa visão norte-americana, segundo a qual todos aqueles que não aceitam passivamente o poder hegemônico dos Estados Unidos são considerados instáveis e perigosos.

Gonçalves diz, ainda, que a ameaça nuclear pode funcionar como instrumento de manutenção da paz entre nações historicamente em conflito. “O caso de Índia e Paquistão evidencia isso. Quando a Índia e o Paquistão fabricaram suas bombas, a capacitação nuclear levou-os a negociar suas diferenças com muito mais responsabilidade. A posse da arma definitiva impôs a cautela como princípio básico do diálogo”, explica.

“Ameaça” árabe

O episódio mais recente na polêmica expansão de projetos nucleares envolve o Irã. O país vem desafiando a resolução do Conselho de Segurança da ONU, que prevê a interrupção de seu programa nuclear. Potências ocidentais, como Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha, receiam que o governo iraniano aproveite a tecnologia de enriquecimento do urânio – combustível usado nos reatores nucleares – para desenvolver uma bomba.

Segundo o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), do qual o Irã é signatário, é direito das nações enriquecerem seu próprio combustível, sob a inspeção da IAEA, para uso pacífico. Baseados nisso, os porta-vozes iranianos afirmam que o país visa apenas diversificar suas fontes de energia e se tornar independente de fornecedores estrangeiros de urânio, geralmente sujeitos à influência norte-americana.

A advogada Guilhermina Coimbra, presidente do Instituto Brasileiro de Integração das Nações (Ibin), assevera que a postura do Irã é legítima e que pode ser vista como a de uma nação que reivindica a soberania nacional e autonomia energética. “A energia nuclear é um bem comercial como outro qualquer. O direito de concorrência tem que ser respeitado. E o desrespeito tem que ser denunciado à Organização Mundial do Comércio”.

Goldemberg, por outro lado, vê nos projetos nucleares do Irã e de outros países do Oriente Médio como uma ameaça à paz mundial. Para ele, a proliferação de armas não só é um risco real, como já está em curso. “Já houve uma proliferação significativa além das 5 grandes potencias nucleares (Estados Unidos, Rússia, Inglaterra, França e China). Hoje Índia, Paquistão e Israel já possuem armas nucleares. Os riscos são de que o uso de armas nucleares por países pequenos acabe atraindo os grandes para o conflito. Estados Unidos e Rússia tem mais de dez mil ogivas prontas para uso”.

Do ponto de vista geopolítico, a questão do Irã envolve uma disputa pelo poder político mundial, conforme avalia Gonçalves. “No Oriente Médio, os Estados Unidos e Israel não aceitam nenhuma mudança que possa alterar o status quo. A arma nuclear do Irã, caso esse país venha mesmo a fabricá-la, produzirá efeitos políticos inevitáveis e indesejáveis. Não haverá guerra nuclear, mas sim uma forte alteração na balança de poder na região e a necessidade de se negociar uma nova ordem”.

Leia mais:

Dossiê ComCiência “Energia nuclear: custo de uma alternativa”

Associação Brasileira de Energia Nuclear

Especial Oriente Médio – Programa Roda Viva

Rodízio de caminhões não trará melhorias à qualidade do ar

Para a pesquisadora da USP, mesmo que ocorra mudança no perfil de emissão de poluentes com o início do rodízio de caminhões, a qualidade do ar tende a permanecer a mesma, já que os veículos pesados continuarão circulando. O que mudará é apenas o horário em que os poluentes são emitidos.

Na semana em que o rodizio de caminhoes na cidade de Sao Paulo completa um mes, surgem os primeiros balanços deste procedimento. Se por um lado, concorda-se com a diminuição do transito na cidade, por outro, nota-se que a qualidade do ar não é alterada. “Não acredito que o rodízio de caminhões trará melhorias em termos da qualidade do ar, pois mesmo havendo mudança do perfil de emissão isso não significa necessariamente melhora da qualidade do ar, já que os veículos pesados não deixam de circular, somente circulam em horário diferente”. Em suma, a opiniao da pesquisadora em meteorologia da Universidade de São Paulo (USP), Leila Droprinchinski Martins, é de que a qualidade do ar na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) permanecerá a mesma após o início do rodízio de caminhões (veja box abaixo).

Em sua avaliação, Leila utiliza os dados sobre concentrações dos poluentes monitorados pela rede automática da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB) na RMSP. Inicialmente ela selecionou as concentrações dos poluentes monóxido de carbono (CO), óxidos de nitrogênio (NOx) e ozônio (O3) para locais com diferentes características, levando em conta a proximidade com o veículo emissor e a localização geográfica dentro da RMSP em dois períodos: de 21/07 a 25/07 (período sem rodízio de caminhões) e de 28/07 a 01/08 (período com rodízio de caminhões). A partir destes dados ela está fazendo gráficos das concentrações dos poluentes em diferentes horários, para avaliar se houve alteração no perfil desses poluentes e na intensidade das concentrações.

Leila explica que essa é ainda uma análise preliminar que faz parte do seu projeto de pós doutoramento, e que fatores como as condições meteorológicas também trazem diferenças nos perfis da emissão de poluentes. Por isso o próximo passo será recorrer a modelos matemáticos que simulem as condições de um dado período para depois ser testado em diferentes situações, o que trará alguns resultados dentro de 1 ou 2 meses, afirma a pesquisadora.

De acordo com a Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), ainda não é possível avaliar se houve alteração na qualidade do ar com o início do rodízio de caminhões. A primeira dificuldade é a seleção de um local onde seja possível fazer a medição do monóxido de carbono, isto é, da fumaça emitida pelos caminhões, a outra, é conseguir agregar fatores como as condições meteorológicas. A Cetesb informou ainda que, como o início do rodízio coincidiu com o início das chuvas, o excesso de poluição, resultante do período de seca, foi dispersado e a qualidade do ar melhorou muito. A previsão é de que em seu próximo relatório anual, a ser divulgado entre janeiro e fevereiro de 2009, as modificações resultantes do início do rodízio sejam levadas em conta.

Em sua pesquisa de doutoramento, também pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, Leila notou que as substâncias emitidas pelos veículos são as maiores responsáveis pelo excesso de ozônio registrado na RMSP, e que a gasolina utilizada no Brasil é mais nociva que as gasolinas limpas e o etanol. Em primeiro lugar, ela identificou e quantificou as espécies químicas emitidas por veículos em dois túneis da cidade de São Paulo e, em seguida, utilizou um modelo matemático de qualidade do ar que simula as reações químicas e o transporte.

Ainda como parte do doutoramento, Leila testou 5 cenários de emissão de diferentes gasolinas, tendo por base a composição química das diversas gasolinas utilizadas em outros lugares do mundo. “Foi suposto que toda a frota de veículos leves da RMSP utilizasse a gasolina da Califórnia nos Estados Unidos; como resultado, teríamos uma redução média de 43% das concentrações de ozônio”, explica ela. Posteriormente, ao propor um modelo onde toda a frota de veículos leves da RMSP deixaria de usar a gasolina e utilizaria apenas o etanol hidratado, ela encontrou a mesma redução de 43% das concentrações de ozônio.

Trânsito

Notícias divulgadas no site [link http://www.cetsp.com.br/] da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) avaliam que os índices de lentidão e congestionamento nos primeiros dias do rodízio sofreram redução quando comparados aos índices do ano passado para esses mesmos dias, locais e horários.

Box

A partir de 28 de julho teve início o sistema de rodízio para caminhões nas vias que delimitam o centro expandido de São Paulo – ver mapa. A partir desse dia os caminhões passaram a ter que respeitar o mesmo sistema implantado há dez anos para os automóveis também nessas vias, conciliando o dia da semana com o final da placa. Ver decreto de lei nº49.487 de 2008. link: (http://cetsp1.cetsp.com.br/pdfs/carga/Decreto4948708.pdf) Mapa (http://cetsp1.cetsp.com.br/pdfs/carga/mapaZMRC.pdf)