A questão da inovação tem conquistado espaço cada vez maior no país. Pesquisas indicam que o país tem uma elite industrial maior e mais focada em inovação do que México e Argentina. Contudo, entraves como a pouca articulação entre os atores do sistema e a insegurança para investimentos de longo prazo ainda emperram o processo inovativo. Neste início de ano as novidades para incentivar a inovação vão de avanços na legislação sobre o tema a lançamentos de editais.
Em janeiro deste ano já foram sancionadas as Leis Estaduais de Inovação de Minas Gerais, no dia 18, de Santa Catarina, no dia 15, e de Mato Grosso, no dia 7. O Amazonas foi o estado pioneiro nos avanços da legislação sobre inovação, com sua lei promulgada em novembro de 2006. Inspiradas na Lei federal 10.973/04, mais conhecida como Lei de Inovação, as leis estaduais são um mecanismo de apoio à inovação ajustado à realidade de cada estado. Outras onze unidades da federação também caminham no sentido da criação de uma lei de inovação, como São Paulo, Paraná e Bahia.
Para o mês de fevereiro (dia 18), o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) promete lançar o Edital Inovação 2008, com o objetivo de expandir a cultura de inovação para mais empresas brasileiras. Contabilizando 41 projetos financiados em quatro anos, o edital chega a sua quinta edição e pretende apoiar empresas na criação e implementação de novos produtos, processos e técnicas de produção e gestão.
Mas como está a inovação no país? Glauco Arbix, do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP), avalia que – com relação à incorporação da inovação na pauta das indústrias brasileiras – “alguma coisa nova está ocorrendo no Brasil e de uma forma diferente do que ocorre em outros países latino-americanos”.
Arbix que também é coordenador do Observatório de Inovação e Competitividade do Instituto de Estudos Avançados (IEA), e um dos principais estudiosos do tema no Brasil, está nos Estados Unidos (Universidade da Califórnia – Berkeley) até o início de março pesquisando a inovação nas pequenas empresas e os motivos da mudança de mentalidade em favor da inovação ocorrida nos últimos anos em parte das indústrias brasileiras, que chama de nova elite industrial. “Tendo a achar que o debate econômico no Brasil foi muito raso e pobre nos últimos tempos. Ao centrar-se apenas em juros e câmbio, o debate não acompanhou e percebeu a modernização industrial”, reflete.
Arbix quer entender o que leva as pequenas indústrias a enveredar, logo no nascimento, pelo caminho da inovação e da exportação. Ele mesmo dá algumas pistas. “As empresas pequenas que mais sobrevivem são as que estão investindo em conhecimento”.
No mesmo período do ano passado, Arbix esteve na Universidade de Columbia (EUA), onde realizou um estudo comparativo sobre inovação nas empresas brasileiras, mexicanas e argentinas. O artigo com os resultados da pesquisa ainda aguarda publicação, mas o pesquisador adianta que o Brasil aparece em uma posição de destaque diante dos outros dois países. “O estudo revela que a elite brasileira gasta cerca de 1,4% de seu faturamento em inovação, valor dividido igualmente entre aquisição de equipamentos e P&D, enquanto a Argentina gasta 1,08% e o México, 0,81%, sendo que destes, apenas 21% são alocados em P&D”, diz ele.
As pesquisas que Arbix têm realizado sobre inovação apontam que as empresas que inovam, ou seja, desenvolvem produtos ou processos novos ou implementam novas estratégias organizacionais, pagam cerca de 24% mais aos seus funcionários, os retém por mais tempo, tem maior produtividade e rentabilidade, além de serem as que mais crescem.
O pesquisador é bastante otimista quanto à reestruturação do padrão industrial brasileiro em torno da inovação, mas ressalta: “78% das indústrias brasileiras, ainda estão a parte do sistema de inovação, não têm condição de competir em um mercado minimamente exigente”.
Entraves para a inovação
Mais pessimista, Elizabeth Balbachevsky, do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo, acredita que, no Brasil, o ambiente ainda é pouco estimulante e muito conservador em relação à inovação. “As grandes empresas brasileiras têm sensibilidade para essa mudança no espaço econômico, mas em muitas empresas dos setores mais tradicionais ainda subsiste a percepção limitada de que tecnologia é sinônimo de equipamentos e máquinas”, explica. O ambiente de instabilidade e insegurança e a falta de capital de risco, aliadas as políticas públicas extremamente segmentadas e descontínuas, também são apontados como motivos que freiam a inovação.
Outra crítica é quanto à excessiva burocracia na concessão de recursos. “Seja por limitações técnicas ou legais, as empresas acabam não inovando ou inovando a partir de outros recursos que não sejam governamentais. Processos mais simples e regras mais claras de concessão, liberação e controle dos recursos poderiam trazer um dinamismo maior às empresas”, completa Newton Hirata, autor de pesquisa de doutorado, finalizada em 2007, sobre as demandas empresariais em políticas de ciência, tecnologia e inovação no Brasil a partir dos anos 1990.
Hirata esclarece que dentre outros entraves à inovação ainda há um quadro incipiente de interação entre os atores do processo de inovação, como governo, empresas, universidades e institutos de pesquisa. “Quando as políticas públicas são formuladas isoladamente pela burocracia estatal – argumenta ele – com ou sem o apoio da academia, mas sem o envolvimento do setor empresarial, o resultado é uma visão estanque do processo, o que pode levar a uma menor eficiência da utilização dos recursos”.