Pesquisa estuda influência do El Niño na pesca de sardinha

Episódios climáticos podem alterar temperatura da água nos locais de desovas e assim aumentar ou diminuir a produção de sardinhas. Nos estudos feitos pelo INPE são utilizados dados coletados por satélite além dos fornecidos pela indústria da pesca.

A intensidade de episódios cíclicos como o El Niño influi na formação de correntes no oceano e afetam a temperatura ambiental. Esses dois fatores estão ligados à produtividade das zonas costeiras marinhas. Os cardumes de sardinha, por exemplo, em busca das condições mais favoráveis, podem alterar os locais de desovas. Tentar entender esses processos e fazer previsões que minimizem os erros e otimizem a forma de aplicação de recursos é um dos projetos de Eduardo Tavares Paes, da Divisão de Sensoriamento Remoto do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), em São José dos Campos (SP).

A sardinha tem uma grande importância econômica e social. Em 1973, essa espécie já chegou a produzir 228 mil toneladas correspondendo a cerca de 25% de toda a produção brasileira de pescados. Atualmente a pesca da espécie não chega a 40 mil toneladas por ano. Órgãos do setor, como o Instituto de Pesca de Santos, fazem um cadastro de informações com estimativas mensais de pescas em uma determinada área. Segundo Paes, a sardinha tem uma função ecológica muito importante no ecossistema e é a espécie brasileira mais estudada devido à sua importância econômica e social, por causa disso os dados sobre essa espécie são de melhor qualidade.

Os pesquisadores também usam informações fornecidas por mais de um satélite, numa rede de cooperação internacional, para coletar dados tais como a temperatura ambiental, a concentração de clorofila, a pluviosidade (quantidade de chuvas) e a direção e velocidade do vento, com periodicidade de 6 a 8 horas. As medidas de temperatura ambiental são feitas através de leituras da radiação emitida pela superfície do oceano. “O satélite consegue medir os dados ambientais de uma área muito grande ao mesmo tempo e de forma acurada”, afirma o pesquisador.

O estudo foi feito abrangendo uma área elíptica costeira que vai desde Arraial do Cabo no estado do Rio de Janeiro até o cabo de Santa Marta em Santa Catarina, abrangendo uma superfície de 150 mil km2. A equipe usa os dados climatológicos e de quantidade de pescados desembarcados para produzir modelos ecológicos – equações matemáticas que vão servir de apoio às análises de desembarque de pescados e orientar as tomadas de decisões.

Embora os satélites tenham começado a operar de forma abrangente somente na década de 80, foi possível integrar nos sistemas os dados disponíveis desde 1950. Por isso, é possível calcular a temperatura ambiental média daquela região para cada mês e compará-la aos dados de vários outros anos. Quando a temperatura do mês é muito diferente da média calculada para aquele mês nos anos anteriores, é registrada uma anomalia.

Paes afirma que nas pesquisas ecológicas marinhas o ideal seria que a temperatura ambiental fosse medida através de embarcações oceanográficas, porém, esses equipamentos exigem um investimento elevado. A solução, então, foi usar dados climáticos fornecidos pelo INPE (por satélites) aliados aos dados de temperatura da água no local e dia da captura do pescado compilados do Banco Nacional de Dados Oceanográficos (BNDO) da Marinha brasileira.

Os dados de desembarque de peixes são fornecidos pelos navios pesqueiros que também informam onde foi feita a pesca. Esses números mostram que a oferta do pescado não caiu linearmente, mas teve períodos de altas e de baixas. O pesquisador afirma que em 1984, dois anos depois do intenso El Niño de 1982, que provocou um abaixamento da temperatura da água, o desembarque foi de 140 mil toneladas, um valor maior do que o dos anos anteriores. Já no ano de 1988, a pequena produção de 75 mil toneladas pode ter sido conseqüência da elevação da temperatura da água em decorrência do El Niño de baixa intensidade ocorrido em 1987. O trabalho resultou em um artigo que foi publicado na revista Pan-American Journal of Aquatic Sciences no ano passado.

Para que se chegue a uma hipótese mais sólida, porém, outras variáveis terão que ser incluídas nessa análise. Dados climatológicos, oceanográficos, ecológicos e pesqueiros devem ser analisados de forma multidisciplinar. “O grande desafio é definir o quanto das flutuações dos recursos pesqueiros é causada por fenômenos naturais (cíclicos), pela pesca e pelas mudanças climáticas globais”, diz o pesquisador que agora está também envolvido em estudos das flutuações ambientais das tainhas.

Estudos como esses podem ajudar a descobrir ameaças de extinção de determinadas espécies de peixe. Com isso, é possível tomar medidas preventivas como a implantação de proibição de pesca em período reprodutivo (o chamado defeso), criação de uma área de preservação onde não se permite atividades pesqueiras e até a proibição de pesca da espécie.

Bulas confusas e incompletas prejudicam pacientes

Além da letra minúscula e dos termos técnicos que dificultam a compreensão, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) divulgou recentemente a análise da bula de 19 medicamentos vendidos no Brasil e constatou que todas apresentam problemas sérios, como ausência de dados importantes ou fornecimento de informações confusas.

Ler a bula de um medicamento não é uma tarefa fácil. Além da letra minúscula, que dificulta a leitura, especialmente pela população mais idosa, os termos técnicos utilizados nos pequeninos papéis que acompanham os medicamentos dificultam, e muito, a compreensão das recomendações e instruções de uso. Porém, esses são de longe os menores problemas apresentados pelos impressos: o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) divulgou recentemente a análise da bula de 19 medicamentos vendidos no Brasil e constatou que todas apresentam problemas sérios, como ausência de dados importantes ou fornecimento de informações confusas.

O órgão analisou as bulas entre outubro e novembro de 2007, com o objetivo de verificar se os fabricantes forneciam informações claras e completas e, assim, cumpriam as exigências da legislação brasileira. O Idec também comparou as bulas de genéricos e seus medicamentos de referência, e de medicamentos nacionais e norte-americanos – nos dois casos as bulas apresentavam diferenças significativas. O instituto constatou várias irregularidades e violações ao direito do consumidor à informação, o que, segundo o Idec, pode comprometer a saúde do usuário.

Um dos problemas mais freqüentes encontrados durante a pesquisa foi a falta de orientação clara quanto a dosagens. Dos 19 medicamentos analisados, 11 não trazem informações sobre o que o paciente deve fazer caso se esqueça de tomar uma dose. Deve aumentar a próxima dose ou mudar seu horário? Ou ainda, deve ignorar o esquecimento e tomar a próxima dose normalmente? Por outro lado, o instituto aponta que algumas das informações a respeito das dosagens podem levar à automedicação: a bula de um dos antidepressivos analisados orienta: “Se você não responder à dose de 50 mg, pode aumentar a dose”. “A bula tem que ser o mais detalhada possível, com o máximo de informações para esclarecer as dúvidas dos pacientes”, explica Marcos Tadeu Nolasco da Silva, professor da Unicamp e Secretário Executivo de Comitê Assessor do Ministério da Saúde. Mas alerta: “Porém, o paciente tem que ter discernimento ao usar essa informação. Informações claras e completas não excluem a necessidade de consultar um profissional”.

Quanto à diferença entre as bulas, o Idec aponta falhas como a de um genérico de um antidepressivo que não traz o alerta de que pacientes jovens podem ter comportamento suicida durante seu uso – informação que seu medicamento de referência destaca. Neste caso, ocorre uma confusão nas determinações da própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão que regulamenta os medicamentos brasileiros. A Anvisa possui uma regra mais atualizada e um pouco mais exigente para os medicamentos de referência do que a que determina as diretrizes para os genéricos – daí o descompasso entre as bulas. Já as diferenças entre as bulas brasileiras e as norte-americanas, o caso mais emblemático é o dos antiinflamatórios: nos Estados Unidos, as bulas desses medicamentos alertam para o risco de morte por problemas cardiovasculares durante o tratamento; já no Brasil, os medicamentos similares não trazem esse aviso.

Quando se fala sobre os avisos quanto às reações adversas – uma das informações principais em qualquer bula – o problema maior é a própria regulamentação da Anvisa. De acordo com o Idec, a agência só obriga que as bulas dirigidas aos consumidores indiquem as reações “mais importantes”, no entanto, não define exatamente o que considera “mais importante”.

Os medicamentos selecionados para a análise foram anti-hipertensivos, vasodilatadores, anti-reumáticos, antiinflamatórios, ansiolíticos, antidepressivos e hipolipemiantes (que reduzem os níveis de colesterol no sangue). O Idec justificou a seleção afirmando que esses são os tipos de medicamentos mais consumidos pelos idosos, população crescente no país – hoje, já são 16 milhões -, e forma o grupo que faz mais uso de medicamentos que a média da população. Todos os fabricantes que tiveram as bulas analisadas pelo instituto responderam aos questionamentos do Idec e comprometeram-se a reavaliarem seus impressos.

Confira a lista dos medicamentos analisados pelo Idec

Automedicação: uma prática perigosa

A automedicação é um fenômeno bastante discutido na área médica, e tido como especialmente preocupante no Brasil, onde é uma prática muito comum. De acordo com dados da Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas (Abifarma), cerca de 80 milhões de pessoas são adeptas da automedicação no país. A conseqüência dessa prática é outro grande número: 30% das internações por intoxicação no Brasil são causadas por mau uso dos medicamentos, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) – o que coloca os medicamentos em primeiro lugar entre os agentes causadores de intoxicação no país.

“Muitas pessoas não fazem idéia do quanto é arriscada a utilização indiscriminada dos analgésicos e antiinflamatórios, porque a maioria é de prescrição livre. O ácido acetilsalicílico (AAS) indicado nos casos de reumatismo e para prevenir problemas cardíacos, se usado na vigência de certas viroses infantis com o objetivo de reduzir a febre, pode precipitar uma lesão hepática grave e culminar em um quadro de encefalopatia”, apontam Ana Letícia Alessandri e Kênia Pompermayer Bosco, da Fundação Comunitária de Ensino Superior de Itabira (Funcesi), no artigo “Os Perigos da Automedicação“, publicado no Diário de Itabira em julho do ano passado.

A facilidade de acesso e a falta de rigor no controle da venda dos medicamentos são dois fatores apontados por especialistas como grandes contribuidores para a automedicação. A não exigência de receita para venda de remédios na grande maioria das farmácias e a venda ilegal de medicamentos, especialmente através da internet, agravam o quadro. “Um dos grandes complicadores é que as pessoas no Brasil têm um acesso muito aberto aos medicamentos. Em países da Europa, por exemplo, é muito difícil você encontrar uma farmácia na rua, porque o controle sobre a venda de medicamentos é muito rigoroso. No Brasil, você encontra uma farmácia em cada esquina, há uma facilidade de acesso”, diz Nolasco.

Entre os perigos da automedicação, a OMS aponta: diagnosticar a doença incorretamente; escolher uma terapia inadequada; retardar o reconhecimento da doença, com a possibilidade de agravá-la; tomar medicamentos de modo errado; usar uma dosagem insuficiente ou excessiva; utilizar o medicamento por período curto ou prolongado demais; tornar-se dependente do medicamento; possibilitar o aparecimento de efeitos indesejáveis graves; não reconhecer riscos farmacológicos especiais; desconhecer as possíveis interações com outros medicamentos, além de possibilitar o aparecimento de reações alérgicas.

Biodiesel e código florestal retomam questão de espécies exóticas

A possibilidade de flexibilização do Código Florestal coloca contra o governo duas forças opostas. Ruralistas, beneficiados com a alteração, teriam maior disponibilidade de terras a serem cultivadas, e ambientalistas, que alertam para o risco do aumento de terras cultiváveis e do plantio de espécies exóticas, como o dendê. Na Embrapa, pesquisa focaliza plantas nativas alternativas ao dendê para a fabricação de óleo para biodiesel.

A possibilidade de flexibilização do Código Florestal com o projeto de lei (PL) 6424, de 2005, coloca contra o governo duas forças opostas. Ruralistas, beneficiados com a alteração, teriam maior disponibilidade de terras a serem cultivadas, e ambientalistas, que alertam para o risco do aumento de terras cultiváveis e do plantio de espécies exóticas, como o dendê. Na Embrapa, pesquisa focaliza plantas nativas alternativas ao dendê para a fabricação de óleo para biodiesel, mas o impasse permanece se não houver controle e manejo adequados.

Com o intuito de encontrar novas fontes para a produção de óleo para biodiesel que façam frente à soja e ao girassol e outras formas de energia a partir da queima de resíduos, teve início em setembro de 2007 um projeto coordenado pela Embrapa que conta com a participação de pesquisadores de diversas universidades brasileiras. O objetivo de Fontes Alternativas Potenciais de Matérias-Primas para a Produção de Agroenergia é fazer um banco de germoplasma, isto é, do recurso genético de espécies como o pinhão manso, o pequi, o tucumã, o babaçu, o buriti, a macaúba, a inajá e a andiroba e verificar a qualidade e a quantidade de óleo potencial de produção dessas espécies.

“Estão sendo feitos estudos para verificar a utilização do tucumã e da macaúba em cima de pastagem, em áreas já desmatadas”, explica o coordenador do projeto e pesquisador da Embrapa, Nilton Junqueira. Dessa forma, não haveria a necessidade de desmatamento e o impacto negativo da pecuária poderia ser diminuído, já que plantas assimiladoras do carbono seriam cultivadas junto com a pastagem. De acordo com ele, nesse caso o impacto ambiental seria pequeno ou quase inexistente, porque seria aproveitado um sistema que já existe, que é o pasto.

Macaúba
Foto: Nilton Junqueira

 

Junqueira afirma que há no país hoje 200 milhões de hectares de pasto, e que se fossem cultivados apenas 10% dessa área com espécies como a macaúba, o país teria óleo para tornar-se auto-suficiente daqui a 10 anos e atender o H-Bio, um processo desenvolvido pela Petrobrás para inserir até 18% de óleo vegetal ou animal no esquema de refino de petróleo.

“Apesar de não ser suficiente para substituir totalmente o diesel, poderia aumentar bastante a mistura. Hoje produzimos 6 bilhões de litros de óleo que vem 90% da soja. Mas esse óleo vai quase todo para a alimentação. Nós não temos matéria prima para biodiesel.”, conclui Junqueira.

A polêmica com o governo

Nos últimos meses, o governo federal tem incentivado o cultivo do dendê e da mamona para atender ao programa de biodiesel, o qual tem por objetivo tornar obrigatória a mistura de 2% de biodiesel a todo o óleo diesel comercializado a partir de 2008. As ações acenderam um debate sobre quais matérias-primas poderiam ser utilizadas e de que modo esse cultivo seria feito. Até o momento a produção de biodiesel tem sido insuficiente por falta de matéria-prima e preço compatíveis.

Ao mesmo tempo, o PL 6.424 em tramitação no congresso poderia alterar o atual Código Florestal Brasileiro, o qual prevê que os proprietários rurais da região mantenham 80% de suas terras como reserva legal, isto é, com espécies nativas. Com o PL, até 30% da reposição florestal em áreas desmatadas na Amazônia poderia ser feita por meio do plantio de espécies exóticas, ou seja, não nativas da região, mas que tenham valor comercial, como é o caso de dendê. Em defesa do PL 6424 está a idéia de que essa seria uma forma de estimular os proprietários rurais a regularizarem sua situação perante o Código Florestal.

Uma carta assinada por 13 Ongs ambientalistas aponta que o PL 6424 aumentaria de forma inconseqüente o desmatamento, já que a possibilidade de recuperação da Reserva Legal da Amazônia com espécies exóticas reduz as funções ecossistêmicas das florestas. O governo, por sua vez, divulgou semana passada uma nota à imprensa para defender a manutenção da Reserva Legal da Amazônia, sobretudo depois que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou os dados resultantes da análise realizada pelo sistema Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter), o qual apontou um aumento do desmatamento na região Amazônica entre os meses de agosto e dezembro de 2007 – veja notícia.

Plantar aonde e como?

Síliva Ziller, membro do Conselho do Programa Global de Espécies Invasoras (GISP, da sigla em inglês), do qual o Brasil faz parte, compartilha a preocupação dos ambientalistas quanto ao que será cultivado nas áreas já desmatadas. “Plantar reservas exóticas, mesmo que não sejam invasoras, é igual a diminuir o percentual de reserva legal, porque essas plantas não têm função ecológica dentro do sistema natural”, argumenta ela. De acordo com Ziller, a situação é agravada caso sejam utilizadas espécies exóticas invasoras, como é o caso do dendê. “No sul da Bahia, o crescimento progressivo dessa cultura acabou expulsando as espécies nativas e tomando conta do espaço. Esse é o problema das plantas invasoras, elas se expandem sempre, alteram o ambiente natural e dominam as espécies nativas. Menos espécies nativas significa menos fauna. É toda uma cadeia que muda, é um efeito dominó”, observa Ziller.

Junqueira aponta que, mesmo quando se trata do cultivo de espécies nativas, pode ocorrer o mesmo problema, já que a invasão é resultado da ação de animais que disseminam partes que se desprendem de uma planta adulta para dar origem a uma nova planta. O problema, segundo ele, está no cultivo em grande escala: a propagação excessiva viria, portanto, da grande quantidade de sementes. “A inajá – exemplifica Junqueira – mesmo sendo nativa, vem se tornando uma invasora de pastagem na Amazônia porque se propaga de forma intensa, já que seu fruto não é utilizado. Se passar a ser utilizado para o biodiesel, por exemplo, não haverá mais essa taxa de propagação elevada”.

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