Sachs contra velhos paradigmas e falsos dilemas

Na Conferência Internacional sobre Biocombustíveis, organizada pelo Ministério das Relações Exteriores, a ser realizada em São Paulo entre 17 e 21 de novembro, o economista e sociólogo Ignacy Sachs espera ver superado um falso dilema. Entre a produção de biocombustíveis e a produção de alimentos, ele fica com os dois. Sachs adiantou alguns pontos dessa sua próxima conferência no último dia 22 de outubro, quando esteve na Unicamp, para o evento “A grande transição: rumo às biocivilizações do futuro”.

Ignacy Sachs Fonte: Wikipedia

Na Conferência Internacional sobre Biocombustíveis, organizada pelo Ministério das Relações Exteriores, a ser realizada em São Paulo entre 17 e 21 de novembro, o economista e sociólogo Ignacy Sachs espera ver superado um falso dilema. Entre a produção de biocombustíveis e a produção de alimentos, ele fica com os dois. Sachs adiantou alguns pontos dessa sua próxima conferência no último dia 22 de outubro, quando esteve na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no evento “A grande transição: rumo às biocivilizações do futuro”, que ocorreu no auditório do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam). Segundo ele, não é possível acreditar em previsões catastrofistas quanto ao clima do planeta, mas existe a necessidade de aumentar a eficiência no uso de recursos na transição de uma economia dependente de combustíveis fósseis para as “biocivilizações”.

Essas civilizações do futuro serão baseadas na energia solar, nos biocombustíveis e no uso mais efetivo da biomassa proporcionado pelo conhecimento acumulado e pelas novas tecnologias. Sachs conclamou os ouvintes presentes a inventar novos paradigmas, ponderando que de nada valerá a eficiência energética sem a redução das desigualdades sociais e sem democracia. “Estamos no limiar da Revolução Azul – disse ele. Ainda estamos na caça ao peixe, e pouco na piscicultura.”

Para Sachs, que é vinculado ao Centro de pesquisa sobre o Brasil contemporâneo, junto a famosa Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, o país tem condições de assumir uma posição de liderança na “grande transição rumo às biocivilizações do futuro”. “O Brasil não pode se omitir, tem de ser pro ativo na construção de alternativas”, disse. Afinal, tem biodiversidade, água abundante, sol e cinco “pês” – praia, piscicultura, pesca, portos e, por enquanto, petróleo – que lhe conferem “vantagens”. Mas essas vantagens naturais precisam ser potencializadas pela pesquisa e integradas em sistemas sociais que visem à mitigação das mudanças climáticas e à superação do fosso de desigualdade. Para ele, as escolas de ensino superior, por exemplo, poderiam ser mais bem aproveitadas no sentido de perseguir e incorporar novos modelos.

O sociólogo ainda argumentou a necessidade de refazer os cálculos do artigo publicado na revista BioScience por Peter Vitousek, Paul Erlich, Anne Ehrlich e Pamela Matson, em 1986, sobre a apropriação humana da produção primária líquida, estimada na época em 30%. A produção primária líquida é a quantidade de energia que algas e plantas fixam biologicamente, descontada a energia que gastam na própria respiração. Para Sachs, apesar da publicidade que essa estimativa teve, ainda falta compreender, de fato, “quanto consumimos, quanto desperdiçamos, quanto destruímos involuntariamente” para determinar até onde podemos ir sem perigo.

Nanotecnologia inspira imagens e recursos de divulgação científica

Pensando na curiosidade do público sobre o que é produzido dentro de um laboratório que lida com estruturas nanométricas e na difusão do conhecimento como instrumento de despertar futuros cientistas o Centro Multidisciplinar de Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos, da USP São Carlos, desenvolveu projeto com imagens inspiradas no cotidiano, mas que vêm da ciência e da tecnologia.

Enxergar o mundo microscópico que nos cerca é um trabalho cercado de mistérios para a maioria do público. Observar as pequenas estruturas que compõem uma placa de silício ou as formações de uma estrutura cerâmica em escala nanométrica é algo para especialistas com acesso a maquinários complexos e caros. Pensando na curiosidade do público sobre o que é produzido dentro de um laboratório e de olho na difusão do conhecimento como instrumento de despertar futuros pesquisadores entre os jovens e adolescentes o Centro Multidisciplinar de Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos (CMDMC) da Universidade de São Paulo, campus São Carlos, desenvolveu o projeto “Nanoarte: uma viagem pelo mundo da tecnologia”. As imagens captadas pelos pesquisadores ligados ao Centro foram expostas pela primeira vez ao público no início deste ano. O retorno foi tão positivo que o projeto ganhou corpo: uma agenda itinerante pelo Brasil e um DVD intitulado “Nanoarte: da colméia às flores”, distribuído para escolas.

Imagem revelada pelo microscópio eletrônico do CMDMC

Elson Longo da Silva, professor emérito da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e atualmente ligado ao Laboratório Interdisciplinar de Eletroquímica e Cerâmica (Liec) da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Araraquara foi um dos responsáveis pelo projeto e diz que ficou surpreso com o retorno da primeira exposição “As imagens geradas tentavam, antes de mais nada, fazer uma livre associação com o imaginário do cotidiano das pessoas deixando o público à vontade com as imagens da ciência reproduzidas ali”, afirma. Optou-se por imagens que remetessem a flores, colméias, mapas ou mesmo objetos banais para criar uma empatia inicial, para, apenas posteriormente, se descobrir que a imagem retratava uma placa de silício ou uma estrutura cerâmica complexa. Para Elson Longo, que também é diretor do CMDMC, iniciativas como essa aproximam a sociedade da ciência sem cobrar um grande comprometimento inicial.

O olhar fotográfico e a lente do microscópio Apesar de não concordar em chamar de fotografia (que, literalmente, significa “escrever com luz”) as imagens geradas pelo grupo de Longo, a pesquisadora Daniela Lemos de Moraes, integrante do grupo de pesquisa Experimental da Imagem Digital (GPEX-id) do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), diz que o recorte ou a intencionalidade do olhar é que compõe o pensamento fotográfico. “Essa é a diferença da cópia para o olhar humano: a intenção em se deixar algo dentro de um enquadramento enquanto se exclui todo o restante de uma cena”. A pesquisadora lembra os experimentos de Eadweard Muybridge (1830-1904) com as seqüências de câmeras fotográficas para captar os pequenos movimentos que compunham ações banais (como o trote de um cavalo) em contraposição às fotos de Henri Cartier-Bresson (1908-1974). “Naquela época, o público em geral também não tinha consciência da totalidade dos movimentos [referindo-se aos experimentos de Muybridge da década de 1870]. O artifício da câmera fotográfica possibilitou o recorte do momento e isso era um fenômeno por si só. Fotógrafos como Cartier-Bresson, ao contrário, já trabalham com significados mais profundos”, completa.

Já Cristina Bruzzo, professora da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, enxerga as experiências com nanotecnologia como novos tipos de imagens (um dos exemplos são as geradas por microscópios eletrônicos) uma forma de ampliar um imaginário científico cada vez mais presente no cotidiano contemporâneo. “Basta ver as simulações das viagens espaciais ou ainda as imagens que as sondas mandam de volta para a Terra”, afirma, “as pessoas estão se naturalizando com as imagens científicas, algo que era uma experiência sensível, distante das pessoas”.

Disciplinas como a biologia, a geografia ou outras, diz Bruzzo, que precisam lidar com o micro e com o macro, dependem profundamente das imagens para produzir conhecimento e esse imaginário construído pode auxiliar no futuro dessas disciplinas. “Porém, ainda não se tensiona os significados dessas imagens, ainda há uma aproximação pelo lúdico e pelo espetáculo, o que é bom por um lado, mas falta ‘rechear’ de informação o que compõe essas imagens”. A professora cita as cores associadas a algumas imagens geradas por microscópios ou telescópios que muitas vezes não são cores reais. “Falta explicar ao público o porquê da escolha daquelas cores: é uma notação científica, por exemplo, ou somente estética? Seria interessante para o público saber, dar um passo adiante no entendimento desse novo imaginário”.

A experiência do CMDMC com métodos de divulgação da ciência produzida dentro dos laboratórios não é nova. Além da experiência com as imagens nanoscópicas o Centro também desenvolveu outras aproximações lúdicas com o público, como um quebra-cabeça das imagens do projeto Nanoarte e o Chemical Sudoku, inspirado no jogo de raciocínio lógico e que pode ser jogado online, que ganhou no ano passado direito a premiações. Além disso, uma parceira com a área de óptica do Instituto de Física da USP São Carlos, representada por Vanderlei Salvador Bagnato, o Centro desenvolve o programa “Da cerâmica clássica à nanotecnologia”, que vai ao ar pelo Canal Universitário de São Carlos.

Revista Science premia as melhores imagens da ciência em 2008

Novas maneiras de articular as informações científicas são essenciais para aumentar o entendimento do público sobre a ciência e a engenharia e também melhorar a comunicação para além das disciplinas científicas. Essas são palavras do editorial que apresenta o prêmio Visualisation Challenge 2008, escrito por Jeff Nesbitt, diretor da Fundação Nacional da Ciência (NSF, na sigla em inglês) dos EUA e da editora executiva da revista Science, Monica Bradford.

O prêmio, que está na sua 6ª edicão, recebeu este ano mais de 180 inscrições do mundo todo e contemplou trabalhos nas áreas de fotografia, ilustracão, infografia, mídias interativa (CDRom e sites em flash) e não-interativas (vídeos e animacões), julgadas por pesquisadores ligados a NSF, revista Science e um painel de profissionais de artes visuais especializados em ciência.

“Quando fui convidada para compor a banca esperava pessoas com o mesmo background científico ou especialistas em microscopia eletrônica, mas foi surpreendente ver que um dos jurados era, por exemplo, um profissional do canal de TV National Geographic, outro ligado ao [jornal] Washington Post, outro era um pesquisador de um grupo que produz ilustrações médicas na Escola de Medicina de Baltimore e assim por diante, ou seja, profissionais com formações variadas”, conta Alisa Machalek, que participou como jurada no prêmio deste ano.

O destaque desta edição foi capa da Science de setembro é a versão ilustrada da cena do Chapeleiro Maluco (http://upload.pbase.com/image/103650215/original.jpg) , encotrada na história de “Alice no país das maravilhas”, feita com diversas texturas vindas de imagens de microscopia eletrônica. “Foi impressionante ver aquelas texturas tiradas do contexto original e transportadas para um contexto lírico, de fantasia”, afirma Machalek.

No site da revista é possível ter acesso gratuito a um slide show produzido com os vencedores deste ano e as inscrições para o próximo prêmio já podem ser feitas na página da NSF.

Exposição traz Einstein de volta ao Brasil

Albert Einstein mudou a história da física e também a imagem da ciência. Um pouco das facetas deste pesquisador, cientista, professor e divulgador da ciência estarão acessíveis ao público entre os dias 24 de setembro e 14 de dezembro no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. A exposição Einstein é realizada pelo Instituto Sangari em parceria com o American Museum of Natural History de Nova Iorque e deve seguir para outras capitais no ano que vem.

Assediado pelos fotógrafos que sempre o cercavam nas ruas de Princeton (EUA), ele não titubeou: virou-se e mostrou a língua. A fotografia, tirada após um cansativo evento em homenagem aos seus 72 anos, foi rapidamente estampada nos jornais de todo o mundo transformou-se na imagem do cientista genial e louco. Mais que isso, transformou Albert Einstein em ícone pop que pode ser reconhecido tão rapidamente quanto Marilyn Monroe ou Che Guevara. Ele mudou a história da física – uma afirmação sem nenhum exagero – e também a imagem da ciência. Einstein era pesquisador, cientista, professor, divulgador da ciência (escreveu um livro explicando sua teoria da relatividade para leigos), ativista político e ainda achava tempo para responder cartas de crianças. Todas essas facetas estarão acessíveis ao público entre os dias 24 de setembro e 14 de dezembro na exposição Einstein realizada pelo Instituto Sangari em parceria com o American Museum of Natural History de Nova Iorque.

Cuidado com os buracos negros: jogo ajuda visitantes a entenderem um pouco mais esses sobrefenômenos espaciais
Foto: Divulgação

 

A exposição, que além de toda a estrutura tecnológica e interativa para tornar as informações expostas mais acessíveis e didáticas, conta com objetos pessoais e fac-símiles de documentos e cartas originais que foram doadas pelo físico à Universidade Hebraica de Jerusalém. Há também relatos sobre a passagem de Einstein pelo Brasil, em 1919, para a observação de um eclipse que comprovaria sua teoria da relatividade geral. “O texto foi sintetizado, já que a versão original era bastante prolixa e incluímos diversos detalhes relacionados ao Brasil”, explicou Marcelo Knobel, coordenador científico da exposição e professor do Instituto de Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A versão brasileira da exposição traz novidades, entre elas a seção átomo e outra sobre a passagem de Einstein pelo Brasil, na qual é descrita sua viagem por Sobral, no Ceará.

Para Carlos Escobar, professor do Departamento de Raios Cósmicos do Instituto de Física da Unicamp, a combinação de cientista brilhante e figura pública, aliada a um senso de justiça e ética aguçado transformou Einstein nesse ícone que conhecemos hoje. Sua imagem, afirma, também teria contribuído para a presença da ciência na mídia e por atrair jovens para a física. “Eu e diversos outros colegas fomos inspirados pelo livro A evolução da física que ele e Leopold Infeld escreveram”, conta o pesquisador que estampa em sua sala uma imagem de Einstein.

Teia de luz – espaço interativo é convite para alunos entrarem no clima da exposição
Foto: divulgação

 

Harpa de luz é instalação da artista Rejane Cantoni inspirada nas teorias de Einstein
Foto: Divulgação

 

Legado

Sem as teorias de Einstein os experimentos realizados no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) não seriam possíveis, lembra Harry Westfahl Jr, pesquisador da instituição. “Dois trabalhos apresentados em 1905 por Einstein, em especial, são fundamentais para o tipo de experimento que fazemos aqui. O trabalho sobre o efeito fotoelétrico (complementando os estudos iniciados por Max Planck) e o sobre a relatividade especial, que fala sobre a velocidade da luz”, afirma. A luz síncrotron é uma espécie de radiação magnética bastante intensa e que é produzida por elétrons dentro de um acelerador de partículas. Além das teorias citadas por Westfahl Jr, foram publicados um artigo sobre o movimento Browniano e outro sobre a equivalência entre massa e energia (conceitos considerados completamente distintos, na época), que podia ser descrita pela famosa fórmula E=mc2. Trabalhos que provocaram tamanha revolução na física em tão pouco tempo fizeram de 1905 o chamado ano Mirabilis de Einstein.

Embora fosse um dos fundadores da teoria da física quântica, que introduziu o indeterminismo inexorável à física moderna, Einstein costumava dizer que “Deus não joga dados” ao se referir à total falta de constantes defendida pelos físico quânticos (incluindo aí Niels Bohr, seu grande amigo e interlocutor constante). Ele também achava que a física quântica e a teoria da relatividade deveriam ser compatíveis de alguma maneira, porém considerar que espaço/tempo flutuam em probabiliddes seria um contrasenso e por isso previa que as teorias da física quântica seriam superadas rapidamente (coisa que até hoje não aconteceu). “Um dos objetivos da física contemporânea é tentar chegar nessa unificação das duas teorias” sintetiza Escobar. “Espero que o LHC [a sigla em inglês para Grande Colizor de Hádrons, inaugurado recentemente na Suíça] ajude a verificar, ou enterrar de vez, se as teorias atuais como a das Supercordas [que tenta calcular e descrever de objetos fundamentais extensos sem precisar passar pelo cálculo pontual, das partículas, destes objetos] estão ou não corretas. Talvez isso poderá solucionar essa charada deixada por Einstein”, finaliza o pesquisador.

Ensino e difusão

A exposição Einstein está montada no pavilhão Armando Arruda Pereira, no Parque do Ibirapuera, e conta com um programa educativo com visitas monitoradas desenvolvidas para os alunos do ensino fundamental e médio. Haverá também uma programação exclusiva voltada para os educadores levarem as questões despertadas para serem trabalhadas na sala de aula.

“O ensino de ciências deve estar no centro das estratégias de melhoria da qualidade da educação, pois o manejo do código científico é condição necessária para o desempenho produtivo dos cidadãos do próximo milênio” afirma Ben Sangari, presidente do Instituto que leva seu sobrenome. Para Marcelo Knobel “a exposição é uma maneira de apresentar a física moderna aos alunos. Hoje em dia eles continuam vendo a física newtoniana e nem têm idéia de conceitos mais recentes”. Depois de São Paulo, o legado moderno de Einstein deverá seguir para as principais capitais do país, assim como já ocorreu com as exposições realizadas pelo Instituto Sangari, Darwin e Revolução Genômica.