Pesquisador que ajudou a definir mecanismos da analgesia recebe prêmio

Anunciado na última quarta-feira (9), o médico e farmacologista Sérgio Ferreira, da Universidade de São Paulo/Ribeirão Preto, é o ganhador do Prêmio Almirante Álvaro Alberto 2007, um dos mais importantes prêmios em ciência e tecnologia do Brasil.

Desvendar os mecanismos de ação da aspirina, dipirona e morfina, drogas largamente utilizadas para o controle da dor, foi uma das contribuições do pesquisador Sérgio Henrique Ferreira, ganhador do prêmio Almirante Álvaro Alberto 2007, divulgado no último dia 9. Considerado um dos mais importantes em ciência e tecnologia do Brasil, o prêmio é uma parceria entre o Ministério da Ciência e Tecnologia, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Fundação Conrado Wessel.

Sérgio Ferreira contribuiu para o
desenvolvimento de uma nova geração
de drogas anti-hipertensivas

 

Médico e farmacologista da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto, Ferreira conta que seu interesse atual em pesquisa deriva de um histórico de cerca de 30 anos, quando ele e colaboradores descobriram como era o mecanismo de analgesia (perda ou ausência de sensibilidade à dor) da aspirina.

Observaram que a aspirina bloqueava a síntese da prostaglandina, substância (mediador lipídico) liberada durante o processo de inflamação. Vale destacar que John R Vane, ganhador do Prêmio Nobel de Medicina em 1982, com quem Ferreira trabalhou, cita diversas vezes o pesquisador brasileiro no seu discurso de recebimento do prêmio.

Por muito tempo, Ferreira e colaboradores se debruçaram sobre o estudo dos mecanismos de liberação da prostaglandina, mas em seguida passaram a estudar mais a fundo a interação dessa substância com os neurônios. Constataram que a prostaglandina era capaz de sensibilizar os neurônios da dor, fazendo com que estes passassem a responder a um estímulo que antes não respondiam, induzindo a hiperalgesia (exacerbação da sensibilidade à dor). “O foco foi entender molecularmente como é que as coisas ocorrem dentro do neurônio, qual é o mecanismo molecular dessa sensibilização”, destaca Ferreira.

O pesquisador explica que esse estudo molecular de sensibilização o levou a compreender o mecanismo de ação da novalgina (dipirona). Ao contrário da aspirina, que previne a sensibilização, a dipirona bloqueia diretamente a hiperalgesia estabelecida, o que explica sua maior eficácia no controle de determinados tipos de dor. Por conta desse achado, “passamos a compreender que há drogas que têm dois tipos de analgesia: uma que previne e outra que bloqueia diretamente”, resume Ferreira. Outras drogas disponíveis no mercado, assim como algumas plantas utilizadas popularmente, apresentam também o mesmo mecanismo da dipirona. “Abrimos um leque de compreensão para conseguir imaginar como atuar agora nesse mecanismo molecular para desenvolver um conjunto de drogas que passem a ser um conjunto novo que atue na analgesia periférica”, completa Ferreira. Fernando Cunha, também da USP/Ribeirão Preto, resume: “Sérgio Ferreira é uma das pessoas que têm a maior experiência sobre os mecanismos de ação de analgésicos”.

Captopril

Mas a bagagem científica de Ferreira não se restringe aos analgésicos. Em 1965, ele publicou um artigo no periódico científico British Journal of Pharmacology, onde anunciava: “Os resultados descritos no presente artigo indicam que o veneno da [cobra] Bothrops jararaca contém um fator que potencializa in vivo e in vitro algumas das ações farmacológicas da bradicinina [molécula de função vasodilatadora]”. Possivelmente, ele não imaginava na época o impacto dos seus achados.

A molécula isolada pelo pesquisador brasileiro, conhecida como fator potencializador da bradicinina (BPF), foi o ponto de partida para o desenvolvimento de uma nova geração de drogas anti-hipertensivas (que diminuem a pressão arterial), entre elas o captopril, largamente utilizado para o tratamento de hipertensão, insuficiência cardíaca, infarto do miocárdio, entre outros.

Ferreira recebeu inúmeros prêmios e condecorações ao longo de sua carreira e publicou aproximadamente 280 artigos em periódicos científicos. Em 1990, a Sociedade Norueguesa de Hipertensão instituiu o Prêmio “Ferreira Award”, concedido aos pesquisadores cujas pesquisas se sobressaíssem na área de hipertensão. Ele é também editor-chefe do DOL (Dor On-Line), que publica boletins mensais com tópicos de interesse para clínicos, especialistas e pesquisadores interessados em dor. Há também uma área voltada para os pacientes.

Sobre o prêmio

Instituído em 1981, o prêmio Almirante Álvaro Alberto contempla, em sistema de rodízio, uma grande área do conhecimento por ano: ciências da vida; ciências exatas e da Terra; e ciências humanas e sociais. Por indicação do ministro da Ciência e Tecnologia, uma comissão de especialistas constituída por nove pesquisadores é formada para indicar quatro a seis candidatos ao prêmio.

O prêmio será entregue a Sérgio Ferreira no dia 6 de maio durante solenidade da Academia Brasileira de Ciências, no Rio de Janeiro. Ele receberá um diploma, medalha e R$ 150 mil, quantia concedida pela Fundação Conrado Wessel.

Colocação profissional aumenta autonomia de deficientes

Ministério do Trabalho e Emprego realiza em Brasília conferência para discutir a inclusão no mercado de trabalho de jovens com deficiência . Já em São Paulo, pesquisa realizada na Unifesp aponta que pessoas com síndrome de down que têm emprego são mais sociáveis, comunicativas e independentes.

A participação no mercado de trabalho de pessoas com deficiência ganha destaque com um evento promovido pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Realizada no dia nove de abril e com o lema “Nada sobre nós, sem nós”, a Conferência Livre foi a primeira a dar voz ao contingente de jovens que têm algum tipo de deficiência e está em busca de emprego.

O principal objetivo da conferência foi levantar propostas de ação que possam ser implementadas pelo MTE visando a qualificação e inclusão profissional de pessoas com deficiência. A dificuldade de acesso ao mercado de trabalho, o crescimento profissional com dignidade e a discriminação foram os temas debatidos. As propostas levantadas serão enviadas à Conferência Nacional da Juventude, que acontece entre os dias 27 e 30 de abril. Ainda nesse semestre, o ministério vai lançar o Plano Setorial de Qualificação (Planseq) em âmbito nacional e específico para pessoas com deficiência.

A luta das pessoas com deficiência para garantir o acesso justo ao emprego não é nova. Mesmo com instrumentos como a Lei de Cotas, a maior parte das pessoas que têm algum tipo de deficiência está à margem do processo produtivo. E, para essas pessoas, o prejuízo pode não ser apenas financeiro, mas também social.

Socialização e comunicabilidade

Uma pesquisa realizada na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) aponta que pessoas com síndrome de down que trabalham têm melhor socialização e comunicação, mais autonomia, maior capacidade de lidar com dinheiro e assumir responsabilidades, além de sonhos e metas mais realistas.

Maria Luiza Gomes Machado, psicóloga, psicopedagoga e funcionária do Setor de Capacitação e Orientação para o Trabalho da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de São Paulo realizou um levantamento junto a 36 pessoas com síndrome de down leve e moderada, com idades entre 20 e 29 anos, que freqüentavam a instituição.

A pesquisadora havia notado em seu trabalho na APAE que, ainda que as pessoas com síndrome de down fossem maioria entre as atendidas pela instituição, poucas chegavam à etapa de capacitação e orientação para o trabalho. Segundo ela, a maior parte era encaminhada para programas ocupacionais. A inquietação sobre os motivos que levavam a esse quadro deu origem a sua dissertação de mestrado, realizado pelo Programa de Pós-Graduação em Distúrbios da Comunicação Humana, Campo Fonoaudiológico, sob orientação da professora Brasília Maria Chiari.

A psicóloga procurou detectar quais habilidades adaptativas eram mais importantes para a inclusão profissional, qual era a expectativa dos pais em relação ao futuro profissional de seus filhos e de que forma essa expectativa influenciava na obtenção das referidas habilidades. Por fim, comparou o grupo dos incluídos no mercado de trabalho ao dos não incluídos para saber qual apresentava maiores índices de alteração comportamental.

Das 36 pessoas com síndrome de down, selecionadas aleatoriamente por Machado, nove trabalhavam. Foram realizadas entrevistas com essas pessoas e seus pais, bem como testes para determinar a escala de maturidade social de cada uma.

Os nove indivíduos que trabalhavam apresentaram maior autonomia, desinibição, organização, interação social e senso de responsabilidade. Também demonstravam maior disponibilidade para realizar tarefas, eram mais tolerantes a frustrações e limites e tomavam mais iniciativa diante dos problemas. “O ambiente de trabalho organiza a mente da pessoa. E as normas que regulamentam esse ambiente são levadas para o cotidiano”, explica Machado.

Ela detectou também que a expectativa dos pais tem papel importante no futuro profissional dos filhos. “Todos os pais de filhos incluídos anteviam um futuro profissional. Já entre os não incluídos, 97,8% dos pais nunca acreditaram que seus filhos chegariam ao mercado de trabalho”, revela. Segundo Machado, as expectativas dos pais afetam o futuro dos filhos na medida em que, ao acreditarem que a inclusão profissional é possível, procuram dar espaço para a autonomia e para as conquista individuais.

Fora do mercado

Já entre os pais dos não incluídos, predominaram sentimentos ambivalentes sobre a possível conquista profissional e prevaleceu a superproteção. “Ao superprotegerem os filhos, não lhes permitiram desenvolver suas habilidades”, avalia a pesquisadora. Sendo assim, as pessoas com síndrome de down não incluídas tampouco manifestavam grande interesse de colocação no mercado de trabalho.

E foi nesse mesmo grupo que Machado constatou mais alterações comportamentais, como birra, teimosia, insegurança, ansiedade, irritabilidade e impulsividade. “Essas pessoas se mostraram mais dependentes e infantilizadas e com menos desenvoltura”, diz.

Com relação à colocação da pessoa com deficiência no mercado, a pesquisadora enfatiza a importância não apenas da pessoa com síndrome de down estar capacitada, mas também do empregador estar disposto a fazer essa inclusão, adaptando-se quando necessário. “É preciso colocar a pessoa certa no lugar certo”, resume. A pessoa com deficiência deve exercer funções adequadas a sua capacidade cognitiva, mas, no geral, deve respeitar as mesmas regras impostas aos demais trabalhadores.

Pela sua experiência na APAE, Machado relata que, por conta da Lei de Cotas, diversas empresas estão fazendo a inclusão profissional. Ainda que muitas contratem pessoas com deficiência apenas para cumprir as exigências, outras já descobriram efetivamente o valor dessa mão-de-obra. “E quando essa pessoa percebe que consegue produzir, que está sendo útil e recebe elogios pelo trabalho realizado, ganha confiança e aumenta sua auto-estima”, explica.

Água salobra do semi-árido pode ser usada em culturas

Pesquisas pretendem ajudar a desenvolver as regiões de semi-árido através de empreendimentos capazes usar de forma racional e controlada a água salobra comum nessas regiões.

Conseguir usar a água salobra em criações e culturas vegetais seria uma solução importante para muitas regiões do semi-árido brasileiro. Nesses lugares há ocorrência de águas subterrâneas salobras. A hidroponia, a cultura de microalgas e a criação de tilápias são aplicações que alguns cientistas estão encontrando para esse líquido. O engenheiro agrônomo Tales Miler Soares, da Esalq-USP, em Piracicaba (SP), é um dos que se debruçam sobre esse tema.

Soares e sua equipe verificam condições para o uso da água salobra na hidroponia. Ele apostou que nesse tipo de cultura, que utiliza meio aquoso no lugar da terra, as plantas iriam tolerar uma maior salinidade do que se estivessem no solo. Os resultados mostraram que ele estava correto. Além da estrutura experimental desenvolvida em Piracicaba, outras duas estão sendo finalizadas com resultados semelhantes, uma em Cruz das Almas-BA (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia) e outra em Ibimirim-PE (Universidade Federal Rural de Pernambuco).

Numa próxima etapa, as pesquisas devem avaliar o desempenho dessas estruturas em regiões do semi-árido. Com isso, serão estudados e antecipados os problemas que uma cultura hidropônica enfrentaria nessas áreas e os experimentos seriam condizentes com o tipo e com a disponibilidade de água salobra nelas encontrado. Além disso, seria estudado um melhor aproveitamento da solução nutritiva ‘envelhecida’ e salinizada de descarte dos cultivos hidropônicos. “No Brasil, alternativas como o emprego do rejeito em tanques de criação de tilápias e de camarão vem sendo estudadas nos últimos anos.”diz Soares “Por outro lado, em muitas comunidades, tem-se testemunhado o descarte do rejeito no meio-ambiente, sem qualquer critério técnico para essa destinação”, lamenta o pesquisador.

Um destino adequado para essas águas descartadas da hidroponia seria o cultivo controlado de microalgas. Essa atividade pode minimizar o problema da contaminação dos corpos d’água pelo rejeito do processo de hidroponia pois ela aproveita os nutrientes descartados. Esse foi o foco da pesquisa do químico, Fabiano Cleber Bertoldi, da Universidade Federal de Santa Catarina. Segundo Bertolti, a utilização dessa água residual no cultivo de microalgas minimiza e evita a eutrofização dos corpos d’água. A eutrofização é um fenômeno causado pelo excesso de nutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo, ocasionado por efluentes agrícolas, urbanos ou industriais num corpo d’água, que leva a proliferação excessiva de algas. Quando as algas se decompõe, consomem o oxigênio da água, provocando a morte de peixes e de outros animais aquáticos. Além de deixar o corpo d’água pobre em oxigênio, algumas espécies de algas produzem toxinas que contaminam fontes de água potável. “Entretanto, vê-se a necessidade de maiores estudos sobre a potencialidade de microalgas no tratamento de resíduos hidropônicos, possibilitando a utilização da biomassa algal numa ampla ordem de compostos”, diz Bertoldi.

Ainda segundo o pesquisador, as microalgas, que são comercializadas como fonte alternativa de proteína, podem também produzir até 30 vezes mais óleo do que a soja por unidade de área. Nos últimos anos, aproximadamente 75% da produção anual de biomassa microalgal foi direcionada para a fabricação de suplementos alimentares. Vários alimentos à base de extratos algais vêm sendo lançados no mercado de alimentos funcionais como: bebida à base de Chlorella e cápsulas de óleo enriquecido com carotenóides extraídos da biomassa da microalga Dunaliella.

Quanto ao seu cultivo, as microalgas apresentam vantagens sobre outras culturas, como tempo de geração curto. Elas são produzidas de forma contínua, ocupando áreas pequenas. Além disso, não estão sujeitas às variações ambientais, são facilmente controladas, não afetam drasticamente o meio ambiente (pois não precisam de aplicação de defensivos agrícolas) e apresentam uma multiplicação alta em pouco intervalo de tempo.

Outra vantagem apontada por Bertoldi na utilização da solução hidropônica residual no cultivo de microalgas é que, por ser rica em nutrientes, proporciona uma redução nos custos de produção, uma vez que, os nutrientes utilizados no processo representam aproximadamente 40% dos custos totais.

Os resultados da pesquisa de Bertoldi apontam para a viabilidade do uso da água residual de hidroponia para o cultivo da microalga Chorella vulgaris e parte de seu trabalho foi publicado recentemente em um artigo da revista Ciência Rural.