A descoberta de uma nova espécie de alga calcária chamada de Lithophyllum espiritosantense, no litoral sul do Espírito Santo, é um dos resultados da pesquisa intitulada “Comunidades associadas a bancos de algas calcárias (rodolitos) no estado do Espírito Santo”, realizada pelo pesquisador Alexandre Bigio Villas Bôas, durante seu doutorado em Botânica pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que será defendido em maio. Embora o Brasil tenha o maior banco do mundo de calcário marinho, bastante usado na agricultura, a diversidade de suas algas calcárias ainda é pouco conhecida.

Além dessa nova espécie, outras sete fazem parte da composição dos rodolitos presentes na área de estudo, uma delas tendo sido observada pela primeira vez no Oceano Atlântico. De acordo com os resultados, os bancos de rodolitos brasileiros são mais diversos em número de espécies de algas calcárias do que os bancos de outras áreas ao redor do mundo. Trata-se de ambientes heterogêneos e com características individuais, tanto em sua estrutura quanto na diversidade de organismos que vivem nestes locais.
Os bancos de algas calcárias ou bancos de rodolitos são comunidades dominadas por estruturas de vida livre, compostas, em sua maioria, por algas calcárias incrustantes, e têm sido alvo de outros estudos científicos recentes. A distribuição mundial dos bancos de rodolitos vai desde os trópicos até as regiões polares, sendo que a maior extensão destes bancos ocorre na costa brasileira. As algas calcárias, juntamente com os corais – que são animais -, são os principais formadores dos recifes de corais. “Ambos têm em comum a produção de carbonato de cálcio na sua formação, o que auxilia a construção desses recifes e bancos de algas calcárias”, explica o pesquisador.
Os depósitos de algas calcárias são comumente explorados para uso do calcário marinho na agricultura. No Brasil, há um enorme potencial para o uso desse recurso porque a plataforma continental abrange o maior depósito calcário do mundo. Apesar da coleta e comercialização de algas marinhas no litoral brasileiro serem regulamentadas pelo Ibama, pouco se sabe sobre a diversidade das espécies de algas calcárias existentes no litoral brasileiro e sobre o efeito da exploração desses bancos de calcário na biodiversidade marinha.
Essa carência de informações estimulou o pesquisador a estudar a estrutura de comunidades em um banco de algas calcárias de vida livre, para identificar especificamente quais as principais algas calcárias incrustantes formadoras dos rodolitos na região de Espírito Santo e obter conhecimento para subsidiar sua conservação. De acordo com os dados fornecidos pelo pesquisador, não houve diferença na proporção de material vivo e morto na composição dos rodolitos. Isso sugere que se trata de um depósito calcário antigo, onde os rodolitos apresentam núcleo composto por esqueletos de algas calcárias, corais, briozoários (tipo de animal invertebrado) e arenito. Em relação à camada viva, as algas calcárias foram os organismos dominantes, associados a outros organismos incrustantes, na composição dos rodolitos, e Lithophyllum foi o gênero dominante.
Os resultados do estudo contribuem com o uso sustentável e também com a preservação desse recurso. Apesar disso, “a base do conhecimento sobre os bancos calcários brasileiros está apenas começando a ser montada, e estudos locais são necessários para que se tenha informação real sobre esses ambientes que proporcionam habitat para muitos organismos bentônicos [do fundo dos oceanos]”, ressalta Villas Bôas.
As algas calcárias foram motivo de reportagens recentes, devido à operação realizada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal para prender contrabandistas de recifes de corais. A Operação Nautilus, como ficou conhecida, tem o objetivo de combater extração, transporte, comércio e exportação ilegais de fragmentos de recifes de corais brasileiros, destinados ao mercado nacional e internacional para uso na decoração de aquários.