Pesquisa utiliza vegetação para descontaminar solos poluídos por metais

Além de ser ecologicamente correta, pesquisa do Instituto de Geociências da USP, que utiliza vegetação nativa para despoluir solos contaminados por metais, ainda traz vantagens econômicas e sociais no combate à poluição por mercúrio, chumbo, níquel e outros metais em áreas industriais ou de mineração.

Usar a própria natureza para preservar o meio-ambiente. Este é o princípio básico da pesquisa realizada no Instituto de Geociências da USP, que utiliza vegetação nativa para despoluir solos contaminados por metais. Além de ser ecologicamente correta, a pesquisa ainda traz vantagens econômicas e sociais no combate à poluição por mercúrio, chumbo, níquel e outros metais em áreas industriais ou de mineração. O projeto utiliza uma técnica ainda pouco conhecida no Brasil, mas já em prática em países como Estados Unidos e Nova Zelândia.

A técnica utilizada na pesquisa é chamada de fitorremediação. “É um processo de engenharia ecológica que emprega a vegetação na remediação e reabilitação de ambientes contaminados”, explica Fábio Netto Moreno, autor da pesquisa de pós-doutorado. O projeto utiliza dois modos de fitorremediação: a natural e a induzida. Na fitoextração natural, são plantadas no local contaminado espécies chamadas hiperacumuladoras, que possuem capacidade natural de capturar para si os elementos contaminantes. Essa vegetação remove os metais do solo e, com a colheita e o replantio, o solo é gradualmente descontaminado.

Já na fitoextração induzida são utilizadas plantas não-hiperacumuladoras, mas que possuem crescimento rápido e elevada produção de biomassa. Neste caso, são adicionados ao solo substâncias químicas que reagem com os metais presentes no solo, reduzindo sua toxidade e permitindo o desenvolvimento da vegetação no ambiente contaminado. Desta forma, a poluição é controlada, impedindo que desça até os lençóis freáticos ou que seja dispersada pelo vento, por exemplo.

Benefícios econômicos e sociais A técnica possui forte apelo não apenas ecológico, mas também econômico e, especialmente, social. Além de ser um método com custo significativamente inferior a muitos outros processos convencionais de remediação, a fitorremediação oferece outras vantagens econômicas. Uma delas é a possibilidade de negociação dos créditos de carbono, pois a vegetação formada captura dióxido de carbono do ar e o fixa em sua estrutura. Também é possível reaproveitar, no caso dos metais, o material extraído do solo. Metais de valor, como o níquel, ficam retidos na estrutura da planta, e podem ser recuperados. Após a descontaminação da matéria vegetal, esta ainda pode ser utilizada como biocombustível em caldeiras.

Os benefícios sociais vêm justamente do reaproveitamento dos metais retirados do solo. Moreno explica que nos garimpos brasileiros o solo é contaminado por ouro e mercúrio, e a técnica pode ser aplicada para remover ambos os metais. “Como em muitas das áreas de garimpo existem famílias assentadas sobre rejeitos contaminados, a técnica poderia ser ’ensinada’ para que estas famílias pudessem elas mesmas remediar a área. Se o ouro recuperado da biomassa fosse vendido, então existiria estímulo suficiente para que a técnica fosse adotada em larga escala pela comunidade e cooperativas de garimpeiros. Com isso, fecha-se o triângulo da sustentabilidade com benefícios nas esferas sociais, ambientais e econômicas”, diz.

Isso pode ser comprovado com as experiências realizadas nos Estados Unidos e na Nova Zelândia. Os dois países adotaram a técnica para remediar solos poluídos com sucesso. Nos Estados Unidos, a fitorremediação já é utilizada comercialmente, movimentando cerca US$ 100 milhões anuais do mercado total de remediação do país. Na Nova Zelândia, onde o pesquisador da USP ajudou a desenvolver uma técnica da fitoextração induzida do ouro, a técnica está em expansão. “Em um projeto piloto, 100 hectares de mostarda foram plantados para recuperar ouro através da acumulação na biomassa aérea”, conta. O ouro retirado do solo, através de tratamento adequado, pode ser reutilizado. “A idéia é recuperar o ouro da biomassa e vendê-lo para abater os custos do processo de remediação”, afirma o pesquisador.

Apesar da comprovada eficiência da técnica, e de possuir condições adequadas para adotá-la, ela ainda não é utilizada no Brasil, e nem há previsão para sua aplicação aqui. “O Brasil possui espécies endêmicas hiperacumuladoras de níquel, cádmio e zinco, que poderiam ser utilizadas na remediação de solos contaminados por estes elementos. Do mesmo modo, também possui condições climáticas e de solo para utilizar plantas como, mostarda, o milho e o girassol na fitoextração induzida. No entanto, ainda não é praticada aqui”, diz Moreno. E justifica: “É preciso que indústrias de porte apostem na fitorremediação e invistam pesadamente em pesquisas nesta área”. E é esta a próxima etapa da pesquisa: buscar recursos financeiros para realização de um experimento de campo com a fitoextração induzida ou natural em escala comercial.

Centros universitários seguem normas de mercado, diz pesquisa.

Os centros universitários, criados em 1997, não têm a obrigação de manter pesquisa, como ocorre com as universidades. De acordo com o cientista social José Eduardo de Oliveira Santos, da Faculdade de Educação da USP, essas instituições seguem as leis de mercado.

O Ministério da Educação está fazendo um controle rigoroso da qualidade do ensino superior, e já notificou cursos das áreas de pedagogia, direito e medicina, os quais podem perder a certificação se não cumprirem determinadas metas. Mas há instituições de ensino superior com autonomia para criar e extinguir cursos e vagas sem autorização prévia do Ministério da Educação: os centros universitários, criados em 1997, sem a obrigação de manter pesquisa, como ocorre com as universidades. De acordo com o cientista social José Eduardo de Oliveira Santos, da Faculdade de Educação da USP, essas instituições seguem as leis de mercado.

A presença e a participação desses centros no estado de São Paulo no período de 1997 a 2006 foram avaliadas por Santos, em sua pesquisa de doutorado. Segundo o pesquisador, a criação desses centros ocorreu no âmbito de uma política pública destinada a prover a demanda ampliada e não atendida pelo ensino superior. “Trata-se de atender à demanda de massa de maneira ágil e atrativa para os investidores privados”, diz.

O fato dos centros universitários desfrutarem de autonomia didático-pedagógica e administrativa e não terem obrigação com a pesquisa institucional os favorece, segundo Santos, em detrimento das universidades privadas, que devem investir em pesquisa institucional. A despeito da adoção de procedimentos avaliativos da qualidade, que não são levados às últimas conseqüências, a legislação leva os centros a uma disputa por clientela entre si e com as universidades e faculdades, oferecendo vantagens nos serviços não-pedagógicos, nos preços das mensalidades e na profusão de cursos e carreiras de tempo comprimido, com o aligeiramento da formação. “O compromisso dos empresários da educação é atender ao mercado no quesito formação de profissionais de terceiro grau”, avalia.

De maneira geral, as preocupações dessas instituições são formar profissionais e atrair estudantes para seus cursos com base em propaganda. Isso, segundo Santos, ressalta mais seus serviços de apoio (praça de alimentação, facilidade de transporte, segurança no campus etc.) que sua excelência pedagógica. Se uma instituição quisesse demonstrar preocupação com a qualidade da formação de seus estudantes, adotaria procedimentos de monitoramento e contato com seus egressos, além de buscar mecanismos de formação e convivência mais dinâmicas e democráticas de sua comunidade acadêmica.

“O fato é que, quando nos referimos aos empresários da educação, estamos nos referindo muito mais a empresários que precisam otimizar seus negócios, que a educadores com compromissos estreitos com a formação intelectual das futuras gerações. Em outras palavras, um empresário da educação, geralmente, não é um educador nem um intelectual, mas um comerciante”, acredita.

Para o pesquisador, os centros universitários têm contribuído com a melhora na qualidade de ensino superior no país, mas muito aquém de suas possibilidades e das expectativas que criam com sua publicidade. Mas há um item apontado por Santos pelo qual não se pode culpar os centros: o fato de que eles recebem os estudantes mais defasados em termos de formação escolar e com menos tempo para estudar, já que, na maioria, são trabalhadores.

Embora não tenha sido objeto direto de sua pesquisa, ele acredita que a formação básica interfere drasticamente no aproveitamento e na continuidade de uma vida de estudos. Os centros poderiam adotar uma espécie de primeiro ano básico, reunindo estudantes de diferentes cursos para lhes proporcionar vivência acadêmica nos diferentes mundos profissionais e científicos, e uma preparação de cunho mais humanista e cultural para que possam enfrentar os anos de formação superior com mais chances de bom desempenho.

Além disso, “seguir o trajeto profissional dos egressos, por exemplo, é uma atividade pouco feita pelos centros universitários (e pelas instituições superiores de modo geral), que poderiam ter muito a ganhar, tanto em termos de novos estudantes para seus cursos de pós-graduação quanto no plano do marketing institucional e da reorientação de seus cursos”, opina Santos.

Apesar disso tudo, há pontos positivos: os centros conseguem atender a demanda reprimida por formação superior. A proliferação de instituições de ensino superior, entre elas os centros, tem ajudado a gerar um clima social mais favorável ao prolongamento dos estudos. Com relação ao ensino superior em geral, Santos ressalta a necessidade de se promover uma articulação mais competente e permanente entre universidades e escolas básicas públicas, instituindo uma solidariedade sistêmica na educação brasileira, o que poderia também se dirigir, embora de maneira mais “leve”, às instituições de ensino superior privadas.

“Deve-se também insistir na ampliação das vagas nas universidades públicas e na definição de arranjos educativos que acompanhem e criem vocações econômicas regionais, o que significa ampliar os investimentos em educação e na pesquisa universitária. Por fim, insistir na necessidade de se promover ajustes vigorosos nos salários dos professores, especialmente os da educação básica”, diz.

Pacientes que usam antiepilépticos devem ser monitorados durante anestesia geral

Pesquisadora do Departamento de Farmacologia da Unicamp constata que o uso contínuo de antiepilépticos pode alterar os efeitos dos relaxantes musculares usados na anestesia geral. Resultado indica que os pacientes que usam antiepilépticos devem ser monitorados durante todo o procedimento.

Ao contrário do que muita gente imagina, uma anestesia geral não envolve apenas o uso de anestésicos. De acordo com a fisioterapeuta Caroline Barcelos, em praticamente toda cirurgia geral, o uso de relaxantes musculares é necessário para produzir uma completa paralisia muscular. Barcelos acrescenta que isso é especialmente necessário durante cirurgias de maior porte ou mais delicadas que requerem relaxamento dos músculos para permitir manuseio de órgãos, ossos e músculos. Contudo, em seu trabalho de mestrado, a profissional constatou que o uso contínuo de antiepilépticos pode alterar os efeitos dos relaxantes musculares usados na anestesia geral.

Seu trabalho, que foi desenvolvido no Departamento de Farmacologia da Universidade Estadual de Campinas, teve como objetivo inicial avaliar o efeito dos relaxantes atracúrio e rocurônio, muito usados em anestesia geral, em ratos previamente tratados, por uma semana, com os antiepilépticos carbamazepina e fenobarbital. Só que mesmo antes de testar os relaxantes, Barcelos constatou alterações. O tratamento com carbamazepina, por si só, havia produzido certo grau de relaxamento muscular nos animais – um efeito não observado nos ratos que receberam fenobarbital. Porém, de maneira geral, os resultados revelaram que os efeitos desses dois relaxantes podem ser alterados pelos antiepilépticos.

Segundo as autoras do estudo, uma explicação para essa alteração pode estar no metabolismo. Os antiepilépticos elevam a concentração de enzimas (citocromo P450 e b5 redutase) do fígado que inativam os relaxantes musculares e possibilitam sua eliminação do corpo através da urina.

Para Barcelos, esses resultados servem de alerta. “Nem todos os pacientes são monitorados durante a cirurgia e, como eles [os antiepilépticos] mostraram ter efeitos sobre os relaxantes, isso pede melhor controle do paciente durante a cirurgia”, alerta. A fisioterapeuta se refere aos pacientes que fazem uso contínuo de medicamentos antiepilépticos, como os que sofrem de epilepsia. Segundo a Assistência à Saúde de Pacientes com Epilepsia (ASPE), o mal acomete aproximadamente três milhões de brasileiros.

Mas não são somente os epiléticos que devem tomar cuidado com anestesias gerais. Isso porque os antiepilépticos, também chamados de anticonvulsivantes, não servem apenas para tratar epilepsia. A carbamazepina, por exemplo, é útil também no tratamento de distúrbios maníaco-depressivos (bipolares), nevralgia e diabetes insípido (em que atua reduzindo o volume urinário e aliviando a sensação de sede).

Ainda não há consenso sobre o problema

Por outro lado, Barcelos acredita que ainda não há consenso quanto à influência dos anticonvulsivantes sobre os relaxantes musculares. “Nossos resultados estão de acordo com alguns já apresentados na literatura científica, mas outros são contrários; por isso mais estudos são necessários”. Já a anestesista Braga reforça que é importante deixar claro que pacientes que fazem uso continuado desses medicamentos (anticonvulsivantes) necessitam de monitorização contínua e cuidadosa, ao serem submetidos à anestesia geral.