Os desastres naturais que podem assolar o Brasil

O terremoto do último dia 22 de abril despertou a atenção da população brasileira para os desastres naturais que podem ameaçar o seu território. Cientistas que estudam esses fenômenos no país, falam das possibilidades de acontecer desastres naturais por aqui.

Um lugar sem terremotos, furacões, vulcões nem tsunamis. Até pouco tempo, o Brasil ostentava uma fama de paraíso terrestre. Mas esse suposto Éden está revelando um lado nada tranqülio. Um sinal de preocupação veio do tremor do último dia 22 de abril, que atingiu 5.2 na escala Richter e foi sentido em quatro estados, atingindo áreas litorâneas e parte do interior. Segundo especialistas, esse é apenas um dos fenômenos naturais aos quais o Brasil está sujeito. Essas terras, onde hoje se vêem furacões e terremotos, já sofreu até tsunami segundo registros históricos.

Tsunami

A onda gigante teria ocorrido em 1542, na Vila de São Vicente, ocasião em que o mar teria avançado 300 metros terra adentro. Essa história esteve nos debates da 57a Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e já foi publicada em diversos periódicos científicos. Por isso, de acordo com os registros da SBPC, as primeiras igrejas de São Vicente, mergulhadas no oceano, hoje só podem ser vistas com equipamento de mergulho. Elas seriam um vestígio do vagalhão que atingiu o litoral paulista no século XV.

Pintor Carlos Fabra retrata o suposto tsunami que teria invadido a Vila de São Vicente em 1542.
Fonte: http://www.novomilenio.inf.br.

 

Para o físico Carlos França, do Instituto Oceanográfico da USP, a possibilidade de ocorrerem tsunamis destrutivos na costa brasileira é muito remota – mas não impossível. Segundo ele, ocorrem tsunamis de pequena amplitude na costa brasileira, que às vezes são detectados. “Tsunamis são ondas causadas por movimentos tectônicos (terremotos, deslizamentos de terra, explosões vulcânicas) no oceano ou nas proximidades”, diz. “Há também a possibilidade de que geleiras se desprendam do continente e, caindo no oceano, causem tsunamis”, completa. Mas a costa do Brasil está no centro da placa tectônica sul-americana, explica ele, e, por isso, a atividade tectônica aqui é pequena.

Vulcões

Já os vulcões brasileiros são, de fato, vestígios de um passado distante e não mais representam uma ameaça. Ironicamente, a região que hoje o Brasil ocupa foi a primeira do planeta a apresentar atividades vulcânicas. Com cerca 1,9 bilhões de anos, os vulcões da Amazônia são os mais antigos reconhecidos no mundo, conforme revela um dos seus descobridores, o geólogo Caetano Juliani, do Instituto de Geociências da USP. Juliani conta que os vestígios desses vulcões, cuja atividade foi uma das mais importantes do planeta na época, cobre mais de 1.100.000 km2.

Mas, segundo o geólogo, esses vulcões jamais voltarão à atividade, pois o seu ciclo geológico de vida se extinguiu há uns 1,85 bilhões de anos. “Isso porque eles foram gerados num processo de subduçcão (quando uma placa tectônica entra por baixo da outra) que terminou com a colisão de dois continentes; ou seja, não há mais movimentos”, diz. E os extintos vulcões brasileiros excedem os limites da Amazônia. “Estamos identificando restos de pelo menos mais uns quatro ou cinco na região de São Felix do Xingu, Pará”, revela Juliani.

Já furacões e ciclones são ameaças reais. O furacão Catarina, que se formou a 400 km da costa sul do Brasil, atingiu o país em 2004. Para o físico Reinaldo Haas, dos Laboratórios de Engenharia de Processos de Conversão e Tecnologia de Energia (LEPTEN) da Universidade Federal de Santa Catarina, esse fenômeno pode estar ou não ligado às mudanças climáticas – quando o Catarina se formou, havia águas muito quentes do Oceano Atlântico na Antártida.

Quando se trata de ciclones e tornados, Haas conta que, desde os anos 70 e 80, os eventos severos têm aumentado em freqüência e intensidade no Brasil. Para ele, uma das razões pode ser a posição do anticiclone do Atlântico Sul, localizado hoje mais a oeste do que na primeira metade do século XX. O anticiclone é uma zona de alta pressão em que os ventos giram no sentido anti-horário. Haas aponta também o aquecimento global com elevação da umidade – que explica as temperaturas noturnas mínimas maiores, verificadas nos últimos anos – e a poluição, sobretudo a das queimadas, que parece estar agindo nas nuvens da região sul. “Esta última é uma hipótese, pois temos feito medidas com chuva, que tem apresentado fuligem de queimadas”, diz.

Museus de ciências ampliam reflexão sobre sua interface com o público

Em 2008, a mediação museu de ciências-visitantes ganha mais visibilidade com lançamento de livros e realização de cursos e eventos que abordam o papel dos profissionais que interagem com o público.

Central no funcionamento de museus e centros de ciências, o trabalho do mediador, pessoa que realiza a interface entre a instituição e seus públicos externos, vem ganhando destaque nos últimos anos. Dois mil e oito aparece como um ano emblemático nesse processo, com a publicação de livros e a realização de cursos e encontros abordando a temática.

“A mediação determina como a informação vai ser divulgada e apreendida. O mediador é a voz da instituição”, explica Martha Marandino, coordenadora do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Não Formal e Divulgação em Ciência (Geenf), da Universidade de São Paulo (USP). Apesar da crescente importância atribuída ao trabalho dos mediadores, falta investimento em formação. “Sabemos que a formação dos monitores ainda é pouco explorada, apesar de já haver algumas iniciativas, principalmente nos próprios museus”, afirma.

Buscando suprir essa lacuna, Marandino organizou o livro Educação em museus: a mediação em foco, lançado em abril e disponível no site do Geenf na Internet. Ele traz reflexões sobre as dimensões educativas e comunicacionais dos museus e sobre o papel dos mediadores, além de propor atividades que podem ser utilizadas na formação desses profissionais.

O livro também é usado como material de apoio em outra iniciativa do Geenf, um curso de difusão que leva o mesmo nome. A primeira edição do curso começou em 15 de abril e segue até 17 de junho, totalizando 48 horas de aulas teóricas e práticas. A demanda surpreendeu os organizadores, que pretendem agora levar o curso a outras cidades, mantendo como público-alvo monitores de museus, alunos de licenciatura em pedagogia e professores. “A grande procura pelo curso demonstra uma sensibilização sobre a importância da mediação e o anseio por formação”, avalia Marandino.

Outro grupo que tem se dedicado à reflexão sobre mediação é o do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), coordenado por Luisa Massarani. Em setembro de 2007, o Núcleo lançou o livro Diálogos & Ciência: Mediação em museus e centros de ciência em parceria com a Dotik (Treinamento Europeu para Jovens Cientistas e Monitores de Museus) e com o apoio da Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciência (ABCMC).

A publicação, também disponível para download gratuito, reúne concepções e estratégias de mediação em museus e centros de ciência de países como Portugal, México, Itália, França e Reino Unido, além do Brasil. “Percebemos que, muitas vezes, a mediação é feita de forma intuitiva e sem intercâmbio entre as instituições”, explica Massarani. “Por isso, procuramos criar espaços de compartilhamento de experiências e reflexão”, completa.

Um segundo volume do livro será lançado em setembro deste ano, simultaneamente a um evento sobre mediação que o Museu da Vida está organizando com outros parceiros, como o Geenf. Segundo Massarani, o evento acontecerá entre 1 e 6 de setembro no Rio de Janeiro, e trará convidados da Colômbia, Chile, Uruguai, México, Estados Unidos, Itália e Malásia. Gratuito e destinado a pessoas que trabalham ou se interessam por mediação, contará com palestras, mesas redondas e oficinas.

Experiências

A interface entre o museu e seu público é realizada através de estratégias como vídeos, computadores, áudio-guias e textos, mas a figura do profissional que se relaciona com o visitante é uma das principais formas de mediação. Nomenclaturas (monitor, educador, facilitador, mediador, entre outras) e concepções sobre seu papel são bem variadas. “Alguns museus tem a concepção de que a visita deve estar toda focada nesse profissional. Já outros, acreditam que essa figura do mediador não deve existir. Um terceiro grupo prega que o mediador intervenha quando for requisitado”, revela Massarani.

É o caso do Museu de Ciências e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. “Além de acompanhar a utilização dos experimentos da exposição, os estagiários são orientados a intervir somente quando o visitante solicita”, revela Emilio Jeckel Neto, diretor do museu. Para ele, a mediação tem importância fundamental para evitar que o visitante fique sem respostas para as suas dúvidas e para facilitar e induzir ao raciocínio científico na busca de novo conhecimento com a ajuda dos experimentos disponíveis. “Os estagiários não são meros ‘respondedores’ de perguntas, mas devem ajudar o visitante a encontrar uma resposta que leve ao aprendizado significativo do fenômeno ou princípio”, pontua Jeckel.

Massarani acredita que não existe uma fórmula pronta e única para a questão da mediação. “São necessárias estratégias diferentes de acordo com cada caso, cada necessidade, inclusive em um mesmo museu”, afirma. Públicos distintos, como alunos de escolas públicas ou visitantes com algum tipo de deficiência, requerem abordagens distintas. Da mesma forma, exposições e temas diversos pedem formas de mediação diferentes.

Já Marandino enfatiza a importância da formação dos mediadores. “Algumas instituições não vêem relevância na formação e outras não têm a estrutura para realizá-la, apesar de já podermos identificar mudanças e investimentos maiores nessa formação”, lembra. Além disso, muitos museus e centros de ciências trabalham apenas os conteúdos específicos de cada exposição com seus mediadores. Contudo, ela acredita que a mediação é um espaço de produção de conhecimentos nos campos da comunicação e da educação e, por isso, a formação dos profissionais requer reflexão sobre sua prática e aprofundamento em temas como os perfis de público, teorias de educação e de comunicação pública da ciência, entre outros.

Os especialistas apontam também a importância de cada instituição criar seu próprio repertório de mediações e diversificar o papel do mediador. “O trabalho do mediador não pode estar restrito ao contato com o público. Cabe a ele também pesquisar e avaliar os resultados do trabalho desenvolvido”, finaliza Marandino.

Indústria farmacêutica brasileira investe muito pouco em inovação

O sucesso dos genéricos mascara um problema: a indústria nacional de medicamentos investiu muito pouco em inovação. O baixo investimento privado em inovação é a principal fragilidade da indústria nacional. A inovação é imprescindível para reduzir a importação de medicamentos, gerar mais empregos, oferecer remédios de melhor qualidade e atender às novas demandas.

No final de abril, os jornais noticiaram a intenção do governo federal de fomentar a criação de uma mega-indústria farmacêutica no Brasil, com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O intuito seria alavancar a inovação farmacêutica nacional, através da pesquisa e produção de novas moléculas, fármacos e outras matérias primas, para medicamentos já conhecidos e ainda por inventar. Pesquisadores ressaltam que papel do Estado é fundamental para conciliar a política de saúde com a política industrial. Contudo, o investimento público não é suficiente para que as empresas brasileiras despontem como inovadoras e competitivas.

O sucesso dos genéricos mascara um problema: a indústria nacional de medicamentos investiu muito pouco em inovação. O baixo investimento privado em inovação é considerado como principal fragilidade da indústria nacional. A inovação é imprescindível para reduzir a importação de medicamentos, gerar mais empregos, oferecer remédios de melhor qualidade e atender às novas demandas, o que traria à tona um comprometimento da indústria com a saúde da população brasileira. Os impactos e limites da política de genéricos foram analisados por estudo publicado no último número da revista Ciência e Saúde Coletiva.

Maior acesso a remédios de qualidade A avaliação da política de incentivo à produção de medicamentos genéricos, realizada por Carlos Gadelha e Cristiane Quental, da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, Fiocruz, por Jussanã Abreu, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e por José Vítor Bomtempo, da Escola de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), revela êxito. O principal deles, em termos de saúde pública, foi a ampliação do acesso da população a remédios e tratamentos que antes não tinha condições de pagar. Para serem introduzidos no mercado, a partir de 1999, os genéricos deviam custar cerca de 40% menos que os remédios de marca dos quais são “cópia”, patamar de preços que se manteve entre 2000 e 2003, segundo levantamento da Anvisa. Além disso, a qualidade dos medicamentos passou a ser garantida através do monitoramento da produção e certificação da agência.

A Anvisa também credenciou laboratórios para realizar testes de equivalência farmacêutica e bioequivalência, que asseguram que os genéricos têm as mesmas propriedades e efeitos dos remédios de marca, podendo substituí-los perfeitamente. Segundo o estudo, a exigência destes testes e pesquisas levou à criação no país de uma infra-estrutura de serviços tecnológicos para apoio à indústria. Em 2006, eram 26 os centros de bioequivalência, e 39 os de equivalência farmacêutica certificados pela Anvisa.

Crescimento da indústria nacional

Desde que foi aprovada a lei federal n.º 9.787/99, as indústrias farmacêuticas nacionais, que se dedicaram à produção de genéricos, ganharam competitividade no mercado interno. Elas também foram as principais beneficiadas por dois programas criados pelo BNDES a partir de 2001: para apoio à produção e registro de medicamentos e para apoio à importação de equipamentos.

Segundo Abreu, “as líderes de mercado de medicamentos genéricos, Medley, EMS, Eurofarma e Biosintética, que modernizaram suas plantas industriais e incrementaram a capacitação tecnológica, fizeram frente às empresas de grupos multinacionais instaladas no país”. Como resultado, “pela primeira vez em décadas, as empresas brasileiras aumentaram sua participação no mercado nacional de medicamentos, mantendo no país os empregos e renda gerados”, afirmam os autores. Em 2003, a EMS Sigma Pharma já aparecia, junto com a Aché, também nacional, entre as dez empresas líderes de mercado do conjunto da indústria farmacêutica no Brasil; em 2007, duas outras empresas nacionais e líderes dos genéricos – a Medley e a Eurofarma – também passaram a compor este ranking.

Para Geraldo Biasoto Júnior, professor de economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e diretor da Fundação do Desenvolvimento Administrativo do Estado de São Paulo (Fundap), “a política de incentivos e a publicidade dos genéricos deram grande impulso às indústrias que não estavam na ponta”. Biasoto Jr., que foi secretário de gestão de investimentos do Ministério da Saúde no governo Fernando Henrique Cardoso, acrescenta que a introdução dos genéricos “foi uma forma de impactar o mercado muito decisiva, porque o induziu a produzir medicamentos de qualidade, que podem até entrar no mercado mundial”. Apesar desta potencialidade, apenas duas empresas nacionais, Medley e EMS, do conjunto estudado por Quental e seus colegas, pretendem exportar genéricos. As exigências sanitárias internacionais, os altos tributos e riscos das exportações são apontados como desestimulantes pelas empresas.

Avanços e limites

Os investimentos em recursos humanos, processos e infra-estrutura tecnológicos, necessários para obter a certificação para produção de genéricos, assim como os lucros advindos do aumento do consumo, propiciaram às indústrias nacionais suporte para a pesquisa, desenvolvimento e inovação, requisitos fundamentais para competitividade no mercado mundial. “A empresa ganha em dimensão e qualidade, mas se vai dar um salto qualitativo para gerar inovação, não dá pra saber”, pondera contudo Biasoto Jr. Apesar da política de genéricos ter gerado condições favoráveis, não tem controle sobre as decisões de investimento. “Uma política pública que vá tentar gerar uma ação privada é sempre duvidosa”, comenta ele sobre a incerteza inerente a políticas de incentivo à atividade industrial.

As empresas estudadas por Quental, Abreu, Gadelha e Bomtempo, por exemplo, não explicitaram interesse em investir nas pesquisas para descoberta de novos medicamentos, nem na produção de matérias-primas e fármacos intermediários de síntese de remédios, que atualmente precisam ser importados. Segundo os pesquisadores, são segmentos de atuação muito diferentes daquele a que as empresas de genéricos estão acostumadas. Segundo eles, esperar destas empresas investimento em inovação não é muito plausível. “Apesar dos avanços em tecnologia que requereu das indústrias, o genérico ainda assim é uma cópia”, lembra Biasoto Jr. Inová-lo implicaria em deixar de ser genérico. A empresa teria que se dispor a criar ou disputar uma fatia incerta do mercado. Aquela já abocanhada pelo genérico é mais confortável. A inovação, entretanto, é a base da competitividade mundial, mesmo com os elevados investimentos e riscos a ela associados.

Para os pesquisadores, embora seja difícil conciliar a política de saúde com a política industrial, a integração entre elas, além de necessária e de dever ser buscada, é também possível, como atesta a experiência da política de incentivo aos medicamentos genéricos, com seus êxitos e limitações.