Recuperar campos de petróleo abandonados pode ampliar reservas de gás

Pesquisadores do Canadá e do Reino Unido começaram no início deste mês uma nova experiência biotecnológica que deverá fazer com que campos de petróleo considerados exauridos produzam gás natural. Isso pode ampliar as reservas mundiais em até 50%, de acordo com estimativa da equipe.

Campos de petróleo abandonados poderão ser reativados com uma nova tecnologia desenvolvida por um grupo de cientistas do Canadá e do Reino Unido. Os pesquisadores começaram no início de maio um novo estágio da experiência biotecnológica que deverá fazer com que os campos considerados exauridos produzam gás natural. Isso pode ampliar as reservas mundiais de gás natural em até 50%, de acordo com estimativa da equipe.

Atualmente, as reservas de gás natural no mundo são da ordem de mais de 160 trilhões de metros cúbicos, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O Brasil tem uma reserva de gás natural de 800 bilhões de metros cúbicos. Essa quantia é suficiente para abastecer o planeta pelos próximos 60 anos. Se os resultados da pesquisa forem comprovados, a nova tecnologia pode aumentar substancialmente a quantidade e, consequentemente, a durabilidade dessa fonte de energia.

A idéia é simples: a equipe pretende alimentar micróbios que naturalmente vivem nos poços de petróleo com uma mistura especial de nutrientes. Desta forma, os micróbios devem iniciar uma reação que produzirá metano. Esse processo ocorre naturalmente, mas leva bilhões de ano para que o gás natural seja produzido. A pesquisa, no entanto, pretende encurtar esse tempo geológico de bilhões de anos para apenas uma década, ou mesmo alguns meses, em uma previsão mais otimista. Isso seria uma solução interessante tanto economicamente como ecologicamente para reservas de petróleo que não podem mais ser explorados porque o óleo se tornou sólido ou espesso demais para ser bombeado.

Antes desse trabalho em campos de petróleo que se inicia agora, a equipe realizou várias experiências em laboratório e o resultado da pesquisa do grupo de cientistas foi publicado na edição de abril da revista científica Nature. O desafio maior foi encontrar a melhor combinação de nutrientes e o modo mais eficaz de fazer essas bactérias se alimentarem. Agora, a próxima barreira a ser superada é colocar a experiência em prática nos campos de petróleo e comprovar seus resultados, o que já começou a ser feito este mês. “Os combustíveis fósseis vão nos fornecer energia, ao menos em algum nível, ainda por um bom tempo. Portanto, é crucial ‘limpar’ a indústria dos combustíveis fósseis rapidamente e economicamente. Ainda mais agora, em uma época em que é urgente que a energia utilizada seja limpa e sem emissão de carbono. Essa é a justificativa para nosso trabalho”, aponta Steve Larter, geólogo e chefe da equipe de cientistas.

O impacto da pesquisa é grande, pois a demanda por gás natural (uma fonte de energia limpa, que pode ser usada em indústrias, casas e carros) tem aumentado consideravelmente. Este ano, o consumo de gás natural no Brasil bateu recorde, fechando o primeiro trimestre de 2008 com crescimento de 30%, com o consumo médio diário de 50 milhões de metros cúbicos, conforme levantamento da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás). Hoje, cerca de 2.502 indústrias no país utilizam esta fonte de energia.

Gênese do gás natural

A conversão do petróleo em gás natural se dá através de um processo chamado metanogênese, realizado por dois tipos de microorganismos – a bactéria Syntrophus e um organismo conhecido como Archaea (muito semelhante às bactérias, mas com diferenças estruturais significativas que mereceram outra classificação). As bactérias digerem o óleo e produzem hidrogênio e ácido acético em um primeiro momento. Em um seguida, as Archaea combinam o hidrogênio com o dióxido de carbono para produzir o metano. O gás natural flui então para a superfície do reservatório, e pode ser captado e transportado pelos modos convencionais.

A equipe acredita que a técnica pode ser utilizada para recuperar cerca de 50% dos campos de petróleos atualmente inativos. Mas, apesar do otimismo, os cientistas apontam que levará aproximadamente cinco anos para que a técnica possa ser colocada em prática efetivamente. “Apesar de ainda ser especulativa, é uma alternativa que possui grande potencial e não pode ser descartada. Afinal, pode fornecer gás natural utilizando pouquíssimos gastos de energia e de água, e com baixíssimo impacto ambiental”, afirma Larter.

Pesquisador discute as bases moleculares do envelhecimento

Em palestra realizada no último domingo (18) junto à exposição Revolução Genômica, em São Paulo, Jan Hoeijmakers defendeu que existe um elo entre o acúmulo de erros nas seqüências de DNA e o envelhecimento. O pesquisador da Universidade Erasmus, na Holanda, desenvolveu camundongos com defeitos nos mecanismos de reparo ao DNA e observou que esses envelhecem mais cedo.

“Entender as bases moleculares do envelhecimento”. Foi assim que o pesquisador Jan Hoeijmakers iniciou sua palestra no último domingo (18), na exposição Revolução Genômica, em São Paulo, resumindo sua área de atuação. Com o tema “Envelhecimento e longevidade: quanto duram seus genes?”, o simpático pesquisador da Universidade Erasmus, em Roterdã, Holanda, contou um pouco da sua trajetória dentro dos estudos de dano e reparo ao DNA e as conseqüências do acúmulo de erros em nossas seqüências de DNA, essencialmente o desenvolvimento de câncer e envelhecimento.

Jan Hoeijmakers durante palestra na exposição Revolução Genômica

Mas como esses erros aparecem no DNA? Hoeijmakers explicou que os chamados “danos ao DNA” são causado por diferentes agentes, como radiação ultravioleta, fumo, poluição, radicais de oxigênio, entre outros, que terminam por cortar pedaços ou alterar a seqüência da molécula. As células possuem mecanismos para reparar esses erros, que atuam no genoma inteiro, o chamado NER (do inglês nucleotide excision repair) que podem ser assim resumidos: primeiro ocorre o dano por algum dos agentes listados acima. Em seguida, proteínas reconhecem o dano e as chamadas helicases (um tipo de enzima), como a XPD helicase, abrem a fita dupla do DNA. Outras proteínas verificam e estabilizam, as endonucleases cortam o trecho com a seqüência errada, enquanto a DNA polimerase completa a seqüência correta e a DNA ligase religa a fita de DNA. É um conjunto de mais de 30 proteínas com funções diferentes orquestrando o reparo.

No entanto, há situações em que esses mecanismos de reparo não funcionam, explicou o pesquisador, o que leva ao desencadeamento de doenças raras como xeroderma pigmentosum (XP), síndrome de Cockayne (CS) ou tricotiodistrofia (TTD), por exemplo. Tais pacientes possuem mutações em proteínas que participam do reparo do DNA, muitas delas identificadas pelo próprio Hoeijmakers. Chama a atenção que tais pacientes apresentam características progeróides – que lembram as do envelhecimento natural -, contudo precoce, como degeneração neuronal e óssea, alterações pigmentares em áreas da pele expostas ao sol, cabelos e unhas frágeis, entre várias outras.

Jan Hoeijmakers contou que ele e sua equipe partiram para a geração de camundongos em laboratório com as mesmas mutações encontradas em humanos. O resultado foi que eles obtiveram uma série de mutantes, como, por exemplo, o camundongo TTD, com mutação no gene da helicase XPD. Esse camundongo mimetiza o quadro observado em humanos para a doença de mesmo nome e apresenta várias características de envelhecimento precoce.

Foi a parceria entre estudos em humanos e modelos experimentais que apresentam deficiências nas vias de reparo de DNA que possibilitou estabelecer esse elo entre dano ao DNA e envelhecimento, dando origem a uma nova percepção: “vias genéticas que regulam a longevidade respondem ao acúmulo de erros no DNA e a outras condições de estresse e, reciprocamente, influenciam a taxa de acúmulo de dano e seu impacto no câncer e envelhecimento”, destacou Hoeijmakers em artigo de revisão publicado este ano no periódico científico Trends in Genetics.

Nessa mesma linha, o pesquisador comentou durante a palestra que estudos genéticos em pessoas centenárias mostraram que ocorre um redirecionamento da energia de crescimento e desenvolvimento para manutenção e reparo das células. É uma estratégia para a longevidade. Por outro lado, camundongos mutantes que expressam grandes quantidades do hormônio de crescimento, tornam-se animais grandes, investem muito em crescimento e desenvolvimento, e vivem por menos tempo, já que investiram menos em manutenção e reparo.

Hoeijmakers concluiu dizendo que defende a “promoção do envelhecimento saudável” e acredita que a identificação de agentes para reduzir o dano ao DNA irá colaborar para atingirmos tal objetivo.

Desgaste físico diário do cortador de cana é igual ao de maratonista

Pesquisadores da Unimep divulgaram dados prévios de um estudo sobre o corte manual da cana no interior paulista. Em apenas 10 minutos esse trabalhador corta 400 Kg de cana, realiza 131 golpes de facão e flexiona o tronco 138 vezes. A extenuante jornada não conta com repouso e tenta garantir a sobrevivência das famílias dos cortadores.

Pesquisadores da Unimep divulgaram dados prévios de um estudo sobre o corte manual da cana no interior paulista. Pela primeira vez se conduziu um estudo empírico sobre a ergonomia no trabalho do cortador. Em apenas 10 minutos esse trabalhador corta 400 Kg de cana, realiza 131 golpes de facão e flexiona o tronco 138 vezes. A extenuante jornada não conta com repouso e tenta garantir a sobrevivência das famílias dos cortadores.

“A conclusão que chegamos é que a condição física de um cortador de cana se assemelha a de um maratonista. Seus músculos são franzinos, mas sua resistência é elevada”, afirma Erivelton Fontana de Laat, coordenador da pesquisa. O estudo também aponta que muitos dos problemas de saúde que acometem esses trabalhadores são os mesmos a que estão sujeitos atletas de alto desempenho. Mas sob quais condições?

O principal fator de risco no corte da cana, de acordo com dados do estudo piloto realizado em maio, é a sobrecarga na atividade cardiorrespiratória do trabalhador. Através do uso de uma metodologia que levou em consideração aspectos como a freqüência cardíaca (em repouso, média e máxima), idade e produção diária em toneladas, Laat descobriu que seis dos dez trabalhadores analisados ultrapassaram o limite cardiorrespiratório tolerável à saúde. Alguns chegaram a picos de mais de 180 batimentos cardíacos por minuto. “O que acontece nos canaviais é semelhante a um atleta que ultrapassa o seu limite de treino. Ao invés de correr cinco quilômetros, ele tenta percorrer a distância de uma maratona todos os dias”, diz Laat.

Os resultados foram apresentados a procuradores do Ministério Público e do Ministério do Trabalho no seminário “Condições de trabalho no plantio e corte de cana”, que ocorreu no final de abril, em Campinas.

Temperatura e risco de lesões por repetição

Com o auxílio de um software francês, os pesquisadores analisaram a rotina de trabalho de um cortador que ao fim do dia havia cortado 11,54 toneladas de cana. Quando se amplia os dados obtidos em 10 minutos para um dia inteiro de trabalho chega-se a 3792 golpes de facão e 3994 flexões de coluna, o que representa um sério risco à coluna e articulações, segundo informa Laat.

Cortador amola o facão utilizado 3792 vezes por dia.
Fonte: Grupo Móvel 15a PRT

 

O estudo da Unimep também tratou sobre o ciclo de atividades repetitivas do cortador. Em média ele precisa de 5,6 segundos para abraçar um feixe com cinco a dez varas de cana, puxar ou balançar, flexionar a coluna, cortar o feixe rente ao solo, jogar a cana em montes e progredir. “Estudos ergonômicos mostram que qualquer atividade laboral com ciclo de repetição inferior a 30 segundos possui grande risco de surgimento lesões”, afirma o pesquisador.

O sol é outro fator preocupante. Na medição feita em maio – que é um mês de temperatura agradável – o termômetro marcou a temperatura máxima de 27,40 graus Celsius no canavial. A média ficou em 260 graus. De acordo com a Norma Regulamentadora (NR) 15 do Ministério do Trabalho e Emprego, toda atividade laboral pesada realizada em lugares com temperatura ambiente entre 26 e 280 graus Celsius precisam de pausas de 30 minutos para cada 30 minutos de trabalho. Essa NR não é cumprida nos canaviais paulistas.

Laat comenta que, em sua pesquisa de campo, percebeu que a empresa contratante até indicava alguns momentos de pausa no trabalho através do som da buzina de um ônibus. No entanto, como não havia fiscalização sobre o cumprimento desta pausa, praticamente nenhum cortador largava seu facão para descansar, já que a pausa pode significar perda de produção e, portanto, de dinheiro.

Para a maioria dos procuradores presentes ao seminário de Campinas esse é o motivo dos trabalhadores suportarem tão duras condições de trabalho. O piso salarial da categoria é de aproximadamente 500 reais. Entretanto, como o pagamento varia de acordo com a produção individual, um bom cortador – um campeão como é chamado na lavoura – pode chegar a rendimentos mensais de 1200 a 1500 reais.

Para a grande maioria da massa trabalhadora do setor, formada principalmente por migrantes do Nordeste e Norte, tal valor é muito mais do que ganhariam em suas regiões natais. A extenuante jornada de trabalho é tolerada por homens que querem, a todo custo, garantir a sobrevivência de suas famílias. “Tem a questão emblemática também. Por exemplo, um cortador migrante que compra uma moto ao fim da safra de cana é visto como herói pelos mais jovens da sua região”, completa Laat.

Morte no trabalho Entretanto, a luta frenética pela subsistência faz com que os cortadores não levem em consideração fatos como a morte de companheiros. Segundo a Pastoral do Migrante de Guariba, 20 trabalhadores rurais do setor sucroalcooleiro morreram de 2004 até agora. Os poucos que possuem o motivo da morte registrado no atestado de óbito apontam, principalmente, morte por parada cardiorrespiratória. Vários estudiosos e sindicalistas do setor dizem não haver dúvidas que essas mortes sofrem forte influência da rotina de trabalho mensurada agora pela equipe da Unimep.

O resultado final deste trabalho final será apresentado em 2009 e abordará outras questões como a poeira da queima da cana inalada pelos cortadores, a massa corpórea ganha ou perdida no decorrer da safra e a comida ingerida por esses trabalhadores. Os pesquisadores querem traçar um paralelo entre os dados quantitativos coletados e a qualidade de vida dos trabalhadores. Atualmente, um cortador de cana consegue trabalhar, em média, até os 35 anos, afirma Laat.

Um dos objetivos dessa pesquisa, de acordo com os seus idealizadores, é fornecer ao judiciário material científico crível que contribua com o julgamento de ações trabalhistas ou civis públicas referentes ao tema. Dessa maneira, eles acreditam que se pode caminhar na direção de um futuro laboral mais humano para aqueles que ajudam a garantir a energia do país.