Preservação de manguezais pode minimizar impacto de intempéries

Para Miguel Petrere, especialista em ecologia pesqueira da Unesp, “os manguezais, além do papel para a preservação dos estoques pesqueiros do mundo, possuem um importantíssimo papel socioambiental”.

Para Miguel Petrere, especialista em ecologia pesqueira da Unesp e vice-coordenador do Advisory Committee for Fisheries Research (ACFR), que assessora o Diretor Geral da Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), sobre temas pesqueiros, “os manguezais, além do papel para a preservação dos estoques pesqueiros do mundo, possuem um importantíssimo papel socioambiental. A vegetação dos manguezais absorve o impacto das correntes e tormentas costeiras, uma espécie de barreira biológica , sendo, portanto, de fundamental importância para a segurança das navegações costeiras e para minimizar os impactos e as erosões causadas pelas marés”.

A importância dos manguezais na proteção física das regiões costeiras, frente a ciclones, tsunamis e outras intempéries já foi apontado por diversos cientistas. Finn Danielsen, pesquisador da Nordic Agency for Development and Ecology (Nordeco), coordenou um estudo sobre o papel protetor da vegetação costeira em áreas afetadas pelo tsunami asiático de 2004. Os resultados deste estudo, publicados na revista Science em 2005, indicam que nas regiões com manguezais a força do impacto do tsunami foi consideravelmente reduzida. Os pesquisadores desta organização governamental dinamarquesa são enfáticos: “a conservação e restauração dos manguezais costeiros poderão proteger as comunidades de futuros tsunamis. Os benefícios promovidos pela presença dos manguezais, não foram observados em estruturas artificiais de proteção costeiras”.

Outro estudo, publicado na mesma revista em 2007, efetuado por uma equipe de 16 pesquisadores provenientes de diversas instituições de pesquisa norte-americanas, também aponta para a necessidade de se restaurar as áreas originais de manguezais no Delta do Mississipi, como forma de minimizar e mesmo prevenir futuros danos causados por furacões, como Katrina e Rita. Este estudo foi subsidiado pela Gulf of México Energy Security Act, uma lei assinada em dezembro de 2006, implementando uma política pública que aplicará 37% dos impostos arrecadados nos novos poços de gás e petróleo do Golfo do México, na restauração do delta do Mississippi.

Embora furacões e tempestades tropicais sejam regulares e episódicas nesta região, o aumento de suas intensidades tem sido um fator preocupante para políticos e cientistas deste país.

Na América do Sul, o ecossistema de manguezais, que se inicia na Guiana Francesa e costeia o Atlântico até Santa Catarina, vem sendo reduzido consideravelmente. Um relatório da FAO aponta que os 3.600.00 ha de manguezais encontrados em 1973 foram reduzidos a 1.015.000 ha em 2000.

Em contrapartida, neste mesmo relatório a FAO diz que, diversas nações, entre elas Bangladesh, estão aumentando a cobertura de manguezais. Estes países compreenderam a importância social deste ecossistema e estão investindo desta maneira, na melhora da qualidade de vida de suas populações.

Para Miguel Petrere, “as alterações climáticas que vêm ocorrendo, principalmente os tornados na região Sul do Brasil, especificamente em Santa Catarina, deverão exercer uma nova orientação para a política de ocupação de áreas costeiras no país, principalmente em relação à melhor proteção do ecossistema de manguezal, por seu importante papel socioambiental”.

Falta ciência no esporte brasileiro

No congresso pré-olímpico de ciência, educação e medicina do esporte, que acontece na semana anterior ao início das Olimpíadas de Pequim, é possível constatar uma tendência do esporte brasileiro: a pouca relação da prática com as pesquisas científicas desenvolvidas na área.

Na semana anterior aos Jogos Olímpicos de Pequim, a China será sede de mais um importante evento para o mundo dos esportes: o congresso pré-olímpico. A Convenção Internacional de Ciência, Educação e Medicina do Esporte (ICSEMS, na sigla em inglês) acontece a cada 4 anos, às vésperas das Olimpíadas, e tem por objetivo construir uma ponte entre a ciência e o esporte. No encontro, os participantes discutem os resultados de suas pesquisas e trocam informações sobre novas tecnologias, fármacos e técnicas de treinamento e preparação dos atletas.

É comum encontrar médicos, preparadores físicos e outros membros de equipes olímpicas internacionais apresentando suas pesquisas. “Os principais comitês olímpicos do mundo desenvolvem pesquisas aplicadas com os atletas, o que garante a qualidade técnica do seu esporte”, diz um dos diretores do Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul (Celafiscs), Luis Carlos de Oliveira, que há anos participa do ICSEMS. Panorama brasileiro

De acordo com Oliveira, diferente de outros países, o Brasil não tem tradição de aplicação da ciência à prática esportiva. Ele explica que os atletas, treinadores, preparadores físicos e o próprio Comitê Olímpico Brasileiro (COB) dão pouco valor à teoria e aos trabalhos científicos desenvolvidos na área do esporte. “De um lado há pesquisadores de instituições de pesquisa como o CELAFISCS e universidades – que estudam o movimento humano, participam de eventos científicos e publicam os resultados – e, de outro, profissionais envolvidos no treinamento, preparação e tratamento dos atletas e, sobretudo o COB, que não dispõe de um setor dedicado à produção e aplicação do conhecimento”.

A pesquisadora do Laboratório de Eletromiografia e Biomecânica da Postura, da Faculdade de Educação Física da Unicamp, Antonia Bankoff, chama atenção para outro problema da ciência do esporte no Brasil. Para ela, as pesquisas realizadas no país costumam privilegiar apenas aspectos particulares da atividade física, enquanto teria condições de fornecer subsídios para o desenvolvimento de metodologias de treinamento abrangentes, que focassem a prevenção, além do tratamento. “A ciência do esporte pode viabilizar a preservação da morfologia corpórea do atleta, para que sua vida útil seja mais duradoura. Mas, infelizmente, ela se ocupa mais dos aspectos traumáticos que da preparação do atleta”.

Educação

Em 2001, o Ministério dos Esportes criou a Rede Cenesp (Centro de Excelência Esportiva), numa tentativa de melhorar a qualidade do esporte brasileiro a partir do estreitamento da relação entre teoria e prática esportiva. O programa aproveita a infra-estrutura das instituições de ensino superior para desenvolver, aplicar e transferir métodos e tecnologias de capacitação de recursos humanos e de avaliação de atletas, a fim de detectar e desenvolver talentos esportivos.

Lucas Tessutti, pesquisador e coordenador técnico da equipe de atletismo do Laboratório de Bioquímica do Exercício da Unicamp (Labex), diz que a iniciativa do governo federal é válida, mas há um problema: os treinadores e preparadores físicos ainda não estão educados para utilizar os resultados obtidos pela Rede como ferramenta de trabalho. “Não adianta ter um monte de resultado, se a gente não educa o treinador, o preparador físico e o próprio atleta, para que eles consigam interpretar os dados e aplicá-los na prática”, explica.

Aplicação do conhecimento

Apesar de não ser uma tendência, há iniciativas no Brasil de união de teoria à prática no esporte. Exemplo disso é o trabalho que vem sendo desenvolvido com Tiago Pereira, nadador classificado para as Olimpíadas de Pequim. Análises biomecânicas (estudo dos fundamentos da mecânica das atividades físicas) apontaram que o atleta apresenta uma deficiência no nado livre: sua braçada esquerda é superior à direita. Além disso, quando ele respira para um lado, ocorre uma queda de resistência na braçada do lado oposto. Desde que o problema foi detectado, os treinos do atleta foram direcionados para a correção desse desequilíbrio de forças, a fim de melhorar seu desempenho e reduzir a desvantagem competitiva em relação aos adversários.

Outras iniciativas partem das próprias instituições de pesquisa. É o caso do Labex, que trabalha com o esporte em duas frentes: na produção científica e na aplicação dos conhecimentos. O Laboratório conta com uma equipe de atletismo própria, que serve de objeto de estudos e, ao mesmo tempo, se beneficia de um atendimento esportivo profissional, individual e embasado. Os resultados das pesquisas realizadas na área da nutrição, psicologia, avaliações físicas e monitoramento do sangue são utilizados na preparação de cada atleta e no desenvolvimento de metodologias de treino.

Segundo a diretora do Labex, Denise Macedo, o objetivo das pesquisas é otimizar o condicionamento físico dos atletas, para que eles obtenham o máximo de desempenho sem provocar lesões ou overtraining – condição de esgotamento extremo do corpo. Ela explica que, ao contrário do que pensa grande parte dos profissionais do esporte, é possível explorar ainda mais as potencialidades do treinamento. “Algumas equipes já perceberam isso e estão começando a fazer análises sanguíneas e outros tipos de testes. Mas ainda falta conhecimento para interpretar os resultados”.

Leia mais:

Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul

Laboratório de Bioquímica do Exercício (LABEX)

Convenção Internacional de Ciência, Educação e Medicina do Esporte

Softwares podem ampliar participação brasileira na astronomia mundial

A participação do Brasil em projetos e pesquisas internacionais de astronomia ainda é pequena. Mas isso pode mudar através de desenvolvimento de softwares científicos brasileiros para estudos em parceria com outros países.

A participação do Brasil em projetos e pesquisas internacionais de astronomia ainda é pequena. Mas isso pode mudar através de desenvolvimento de softwares científicos brasileiros para estudos em parceria com outros países. Esse foi um dos pontos discutidos na reunião realizada no final de maio no Observatório Nacional, em que se debateu o futuro da astronomia no Brasil.

O evento, intitulado “Uma espiadela no futuro da astronomia”, recebeu alguns dos mais importantes astrônomos e físicos do Brasil e do exterior para discutir o futuro da astronomia, e também discutir um projeto plurianual para amadurecer a área dentro do país e aumentar a presença brasileira no cenário mundial.

“A astronomia é uma área muito internacionalizada. Os grandes projetos e os grandes orçamentos se concentram nos Estados Unidos e na Europa. Fica difícil para o Brasil competir, considerando suas limitações financeiras, tecnológicas e de pessoal. Mas não é impossível”, afirma Luiz Nicolaci da Costa, astrofísico do Observatório Nacional e idealizador do evento.

De acordo com o pesquisador, a astronomia brasileira precisa se organizar tanto para a colaboração quanto para a competição internacional. “Precisamos criar um estrutura científica para a área no Brasil, para competirmos de forma saudável com os países europeus e com os Estados Unidos, e podermos colaborar com eles”, ressata.

O desenvolvimento de softwares científicos é um dos caminhos que o país pode seguir para ter uma participação maior no cenário astronômico mundial e se inserir em grandes projetos internacionais de forma mais expressiva. “Nós podemos competir através do desenvolvimento de softwares. Nesse campo não há necessidade de grandes insumos nem de uma base industrial ampla, mas sim de pessoal qualificado – e isso nós temos”, diz o astrofísico.

Um bom exemplo disso é um software desenvolvido no Observatório Nacional, apresentado no encontro, que está sendo usado no projeto Dark Energy Survey (DES). O DES é um projeto de colaboração internacional para construir uma câmara avançada que vai mapear 10% do céu em quatro bandas do espectro. Ou seja, o projeto vai realizar uma “varredura” no céu por 525 noites, possibilitando a geração de uma visão colorida do céu. O Observatório Nacional fará o processamento dos dados obtidos usando grades de computação e também fazendo um portal científico que facilite aos usuários acessar os dados e analisá-los.

“Os projetos em andamento atualmente (como o Dark Energy Survey), vão gerar um grande volume de dados, que precisarão ser processados, analisados e armazenados. Em algum tempo, aquela imagem do cientista que fica observando o céu através do telescópio vai cair em desuso, pois as pesquisas serão baseadas fortemente nesses dados. Antes, não tínhamos isso. Agora temos e a tendência é que isso cresça. Então, se faz muito importante para a astronomia o desenvolvimento de softwares para trabalhar com esses dados. E nesta área podemos contribuir”, explica Nicolaci.

Desafios

Um dos maiores desafios históricos que a astronomia brasileira enfrenta é financeiro. O orçamento para a área é muito baixo, o que dificulta a competitividade do setor. “Não podemos competir com projetos cujos investimentos superam US$ 1 bilhão no campo da astronomia”, aponta Nicolaci. Para o astrofísico, o caminho é estabelecer parceria com outros países, já que o Brasil não dispõe de dinheiro nem de base tecnológica para realizar grandes projetos sozinhos. Essa é uma tendência atual: os grandes projetos de astronomia – que geralmente precisam de um investimento financeiro e tecnológico muito grande – são levados a cabo por consórcios de vários países.

Outro grande desafio que a astronomia enfrenta no país é a desarticulação na área. “O Brasil possui cinco institutos de astronomia, ligados ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), que não são articulados. É tudo tão diluído que nem sabemos o orçamento total ou mesmo a grandeza dos projetos realizados aqui”, destaca o pesquisador.

Para tentar solucionar este problema, os pesquisadores dos diferentes institutos têm se reunido periodicamente no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e tentado ativar a comunicação entre os centros de pesquisa e promover sua união. Isso também foi debatido no encontro, que teve como um de seus objetivos promover a integração dos pesquisadores. “Precisamos ter uma integração estadual e nacional para impulsionar a área, e para incentivar investimentos e políticas para ela. Precisamos dessa união para podermos pensar o futuro da astronomia no Brasil”, conclui Nicolaci.