Física Nuclear ajuda a estudar estrelas

Parceria entre astrofísicos e físicos nucleares resulta em maior conhecimento sobre a composição química de estrelas em decadência, as pulsares.

Um projeto de pesquisa inovador visando o estudo de estrelas compactas, os pulsares, está sendo desenvolvido pelo grupo de Física Nuclear da UFSC , Universidade Federal de Santa Catarina, liderado pelos físicos Débora Peres Menezes e Sidney dos Santos Avancini. O objetivo do trabalho é usar uma técnica chamada modelagem dinâmica e conhecimentos da física de hardrons – que estuda os núcleos dos átomos – para entender a estrutura dessas estrelas e assim avaliar os seus raios e as suas massas, por exemplo, e comparar os resultados com os que são obtidos experimentalmente pela astrofísica.

Estrelas como o sol, por exemplo, são estudadas pelos astrofísicos a partir da radiação que elas emitem, basicamente nas freqüências da luz do visível, infravermelho e ultravioleta. Avaliando as explosões termonucleares que ocorrem na dinâmica estelar, astrofísicos conseguem descrever a sua evolução. Ao detectar os sinais de luz de cada estrela, é possível decifrar a sua composição, temperatura, raio, massa etc.

As radiações emitidas pelo Sol ocorrem, em sua maioria, na faixa da luz visível e muito pouco na faixa dos raios X e gama, os quais são detectados pelos equipamentos dos astrofísicos. O problema é que eles não conseguem descrever a estrutura de objetos estelares analisando esses tipos de radiação, da mesma maneira que fazem analisando as outras faixas do espectro. Em palavras simples, eles não conseguem dizer o que há dentro de objetos que emitem mais na faixa dos raios X e gama, como as estrelas de nêutrons. Por isso, entram em cena os físicos nucleares que descrevem a estrutura dos corpos celestes em termos de partículas com interações nucleares.

Os físicos nucleares Marcelo Dallagnol Alloy e Rafael Cavagnol procuram partir de modelos microscópicos, interações entre partículas, especialmente a física de hardrons, para obter propriedades macroscópicas da estrela, como o seu raio e a sua massa. Alloy, que faz parte da equipe de Menezes e desenvolve o seu projeto no campo da astrofísica nuclear, faz um estudo da evolução temporal de estrelas de nêutrons recém nascidas.

Segundo Rafael Cavagnoli, que está fazendo o seu doutorado no grupo de fisica nuclear da UFSC, é interessante estudar essas estrelas porque, para isso, é necessário utilizar um grande conjunto de ferramentas como física nuclear, mecânica quântica, relatividade, termodinâmica, mecânica estatística, entre outras. Esses estudos são um meio importante para testar teorias da física e o pesquisador ainda aventa a possibilidade de se descobrir uma nova física na qual o universo é um grande laboratório dinâmico.

Cavagnoli explica que o fim da vida de algumas estrelas ocorre com uma violenta explosão conhecida como ’supernova’. Essa explosão lança para o espaço uma grande quantidade de elementos químicos formados ao longo da vida da estrela, e do núcleo da estrela que explodiu pode-se originar um buraco negro ou um pulsar (estrela de nêutrons), que é um objeto muito compacto. As estrelas de nêutrons são estrelas mortas, porque em seu interior cessaram as reações termonucleares. Esses corpos celestes são de difícil observação por causa de seu reduzido tamanho (menores do que algumas grandes cidades) e porque emitem a maior parte da radiação na faixa dos raios X e gama. Elas permanecem emitindo radiação por milhares de anos, perdendo energia e, portanto, esfriando lentamente.

Outro objetivo do estudo da física nuclear é ajudar na busca de informações sobre como as estrelas evoluíram no longuíssimo prazo, como explica Menezes,”é o interesse científico de explicar a origem do universo”.

Saiba mais: http://astro.if.ufrgs.br/estrelas/node14.htm http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=54623

Dendê é opção energética para comunidades isoladas

Áreas afastadas de centros urbanos, que não têm acesso à rede de distribuição de energia elétrica, podem ser beneficiadas pela geração de energia a partir do óleo de dendê in natura utilizando-se diesel-geradores com pequenas modificações.

Áreas afastadas de centros urbanos, que não têm acesso à rede de distribuição de energia elétrica, podem ser beneficiadas pela geração de energia a partir do óleo de dendê in natura. É o que apontam pesquisas realizadas por Valéria Said de Barros Pimentel, chefe da Divisão de Engenharia de Avaliação, do Instituto Nacional de Tecnologia (INT).

Carioca de ascendência nortista, Pimentel desenvolveu em seu doutorado, defendido na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), uma análise do funcionamento de geradores à diesel operando com óleo de dendê in natura. “Meu interesse era ajudar as comunidades amazônicas isoladas”, lembra.

Segundo ela, quando deu início às suas pesquisas, em 1995, os óleos vegetais, em especial os in natura, ainda eram pouco pesquisados como fonte energética, realidade que mudou drasticamente com a criação do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel, em 2003. “Hoje, temos pesquisas sobre óleos derivados de muitas plantas não só no Brasil, mas em diversos países”, aponta.

Para a pesquisadora, o óleo in natura é a opção mais viável para a geração de energia nas comunidades isoladas devido à dificuldade que suas populações têm de acesso ao conhecimento, aos equipamentos e aos insumos industrializados, como o diesel. Muitas dessas localidades só podem ser acessadas após longos percursos de barco e de acordo com a vazão dos rios, o que encarece o transporte e muitas vezes demanda a estocagem de diesel para manter o gerador funcionando. Ao optar pelo dendê, a comunidade pode tornar-se auto-suficiente, pois tem condições de cultivar, extrair e produzir todo o óleo de que necessita. “Além disso, o óleo vegetal também já faz parte da cultura dessas comunidades”, ressalta Pimentel.

Ao contrário do biodiesel, em que o combustível é que sofre transformações para garantir uma maior eficiência, no caso dos óleos in natura, é o motor que passa por algumas modificações para se adaptar a esse tipo de combustível. A opção que Pimentel fez de trabalhar com o óleo de dendê deveu-se às suas características físico-químicas similares às do diesel e também à vocação da região amazônica na sua produção.

De acordo com ela, são necessárias poucas adaptações no motor à diesel para que ele esteja apto a operar com o óleo de dendê de forma eficiente: aumentar a taxa de compressão do combustível em cerca de 4%, para facilitar sua queima, a temperatura de admissão do ar e o débito de combustível. Além disso, o óleo precisa ser ministrado na temperatura ideal. “A viscosidade do óleo de dendê in natura em temperatura ambiente é maior que a do diesel”, explica Pimentel. Por isso, detectou-se que o óleo deveria ser aquecido a uma temperatura de 85 graus para obter viscosidade similar à do diesel e permitir o melhor funcionamento do motor.

“O poder calorífero do dendê é menor do que o do diesel”, relata a pesquisadora. Sendo assim, o volume de óleo consumido supera em cerca de 10% o de diesel. Por outro lado, nas condições analisadas, o dendê apresentou emissões de monóxido de carbono, dióxido de carbono e hidrocarbonetos menores que a do outro combustível. A fuligem gerada, entretanto, foi maior.

Uma das desvantagens encontradas foi o maior desgaste das peças do motor em decorrência do uso do óleo de dendê in natura, o que demanda maiores gastos com manutenção preventiva do equipamento. Além disso, mesmo operando com o óleo, o diesel-gerador ainda precisa de pequenas quantidades de diesel para dar a partida no motor e limpar o sistema na hora de ser desligado.

A viabilidade da técnica já está sendo comprovada. A pesquisa de Pimentel foi implementada duas vezes pelo Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio), da Universidade de São Paulo (USP), nas comunidades de Vila Soledade e Igarapé-Açu, no município de Moju, Pará, com resultados bastante favoráveis. Em ambos os casos, contudo, o motor utilizado não passou por nenhuma adaptação, que se restringiu apenas ao aquecimento do óleo. “Ainda existe muito a ser explorado. Esse é um campo muito vasto”, finaliza.

Restrição na publicidade infantil quer agir sobre obesidade

Pesquisa diz que 71,6% da publicidade televisiva de alimentos é de produtos com altos teores de açúcar, sal e gordura, e que 50% dessa taxa é direcionada às crianças. A proibição da publicidade infantil, se aprovada, poderá funcionar como uma aliada na promoção de hábitos de alimentação mais saudável.

A criança balança uma cordinha onde está suspenso um chocolate Batom como pêndulo, e diz para a câmera, em tom hipnótico: “Amiga, dona de casa, olhe fixamente para esse chocolate. Toda vez que você sair com o seu filho, vai ouvir minha voz dizendo: compre Batom, compre Batom, seu filho merece Batom”.

A propaganda descrita acima parece encantadora à primeira vista, mas defensores dos direitos das crianças afirmam que anúncios como este estimulam o consumo de produtos pouco saudáveis. Por isso, esperam que o Projeto de Lei (PL no. 5921/01) que proíbe a publicidade de produtos destinados a crianças, aprovado pela Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados no dia 9 de julho, possa se tornar um importante mecanismo para conter o avanço de doenças crônicas não transmissíveis, tais como obesidade, diabetes e hipertensão.

De acordo com Elisabetta Recine, coordenadora do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição (Opsan), da Universidade de Brasília (UnB), a Lei poderá ter um efeito importante na difusão de hábitos alimentares mais saudáveis entre as crianças. “Praticamente 50% da publicidade de alimentos é dirigida diretamente para o público infantil. Podemos inferir que este tipo de mensagem seja uma das grandes fontes de informações sobre o que elas devem consumir em termos de alimentos”.

No início deste mês, mais uma medida foi tomada com o objetivo de mudar esse quadro. O Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea) entregou ao ministro da Saúde, José Gomes Temporão, documento com propostas para a promoção da nutrição e alimentação saudável. Entre elas está a regulamentação da publicidade de alimentos.

A Associação Brasileira de Anunciantes (ABA) declarou à ComCiência que não vai se posicionar sobre o PL nem sobre as propostas do Consea. A assessoria de imprensa do Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária informou que o Conselho também não está se manifestando sobre o assunto.

Propagandas de alimentos

Recine coordenou a pesquisa “Monitoramento de Propaganda de Alimentos Visando à Prática da Alimentação Saudável”, realizada pelo Opsan. Os resultados, divulgados em junho, mostraram que 71,6% dos anúncios publicitários de alimentos veiculados em quatro canais de TV (dois abertos e dois infantis fechados) eram de produtos ricos em açúcar, sal e gordura. E 50% desses anúncios eram voltados para as crianças.

Essa percentagem de 71,6% é composta pela soma dos cinco tipos de alimentos mais freqüentes nas peças de publicidade: fast-food (18,4%); guloseimas e sorvetes (16,9%); refrigerantes e sucos artificiais (13,7%); salgadinhos de pacote (12,8%); e biscoitos doces e bolos (9,8%).

Sobre a importância do PL, Recine ressalta que as crianças são mais vulneráveis às propagandas televisivas, sobretudo porque a TV é a sua principal fonte de lazer. “E uma criança obesa tem fortes probabilidades de se tornar um adolescente obeso e, posteriormente, um adulto obeso, sendo a obesidade a patologia ’de base’ de outras doenças crônicas”.

Além disso, entre as conclusões da pesquisa do Opsan está a de que as peças publicitárias utilizam estratégias de marketing voltadas ao público infantil, que provocam a identificação das crianças com os produtos – geralmente alimentos relacionados ao aumento da incidência de sobrepeso e obesidade entre a população.

Segundo informações disponíveis na página do Projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana, a televisão é a principal mídia utilizada pela publicidade. Ao cruzar essa informação com dados do Painel Nacional de Televisores (Ibope 2007) – que mostra que a criança brasileira passa mais de quatro horas e meia por dia assistindo à programação televisiva – o impacto da publicidade na infância ganha dimensões preocupantes.

Publicidade Infantil

Além de proibir qualquer tipo de propaganda direcionada às crianças, o PL, que tramita em caráter conclusivo, restringe a publicidade dirigida a adolescentes e estabelece mecanismos de fiscalização, bem como multas aos infratores. (Ver boxe)

Para Isabella Henriques, coordenadora geral do Projeto Criança e Consumo, regulamentar a publicidade infantil é necessário para que crianças e adolescentes sejam colocados a salvo do bombardeio publicitário a que são submetidas diariamente. “A publicidade passa valores consumistas e propaga a idéia de que para ’ser’ é necessário ’ter’. Quando dirigida às crianças, é nociva porque elas não compreendem seu caráter persuasivo. Se a publicidade diz que determinado produto é essencial para a sua vida, elas acreditam”.

Panorama mundial

No livro “A publicidade dirigida às crianças e adolescentes – regulamentações e restrições” (Memória Jurídica, Porto Alegre, 2002), a advogada Noemi Momberger traça um panorama mundial sobre o tema.

A autora mostra que em países da Europa e de outras partes do mundo a publicidade infantil é regulamentada. Na Suécia, é proibida a propaganda voltada para crianças em horário anterior às 21h, tanto em TV como em rádio. De forma semelhante, a Noruega proíbe publicidade televisiva dirigida às crianças, bem como a veiculação de comerciais durante os programas infantis. Já na Holanda, é vetado às televisões públicas transmitir qualquer tipo de publicidade durante programas direcionados a menores de 12 anos.

Em países como Inglaterra, Estados Unidos e Canadá, a publicidade infantil não é proibida, mas restrita e condicionada à observância de uma série de requisitos.

Boxe

Restrições previstas pela PL

Caso a PL seja aprovada, os publicitários e anunciantes terão que observar alguns aspectos antes de colocar uma campanha publicitária no ar:

  • É considerada publicidade e comunicação mercadológica dirigida às crianças aquela que apresenta aspectos como linguagem infantil, efeitos especiais e excesso de cores, trilhas sonoras de músicas infantis ou cantadas por crianças, pessoas e celebridades com apelo entre o público infantil, desenho animado ou animação, entre outros.
  • Publicidade e comunicação mercadológica abrange anúncios impressos, comerciais de TV, spots de rádio, banners e sites na internet, embalagens, promoções, merchandising e disposição dos produtos nos pontos de venda;
  • Fica proibida a participação de crianças em qualquer tipo de publicidade ou comunicação mercadológica, voltada para as crianças ou não (exceto campanhas de utilidade pública);
  • A publicidade voltada para os adolescentes deve seguir alguns princípios gerais, como não permitir que a influência do anúncio leve o adolescente a constranger seus responsáveis e não induzir, mesmo implicitamente, sentimentos de inferioridade no adolescente, caso este não consuma determinado produto ou serviço.
  • Os infratores estarão sujeitos a multas, cujo valor será decidido conforme a gravidade da infração e situação econômica do infrator e não poderá ser inferior que 1 mil, nem superior a 3 milhões de Unidades Fiscais de Referência.

Fonte: Portal da Câmara dos Deputados

Leia mais:

O controle social sobre a publicidade infantil

Instituto Alana (Projeto Criança e Consumo)

Resultados da pesquisa realizada pelo Opsan