Ressonância Magnética Nuclear ajuda a entender a atuação de analgésicos

Graças à ressonância nuclear magnética (RNM), mais conhecida do público por suas aplicações na medicina, pesquisadores estão conhecendo melhor a forma como as proteínas atuam no nosso organismo. Conhecê-las melhor pode ajudar, por exemplo, a aumentar a eficácia dos analgésicos locais.

Um trabalho realizado na Unicamp e inédito na área estuda como certos analgésicos locais atuam no nosso organismo. As análises usam técnicas de Ressonância Magnética Nuclear (RMN) bidimensionais e de detecção de sinais de longa distância. A chave para compreender os processos biológicos está nos fenômenos físico-químicos que aparecem quando as enzimas, que são proteínas mensageiras, interagem com as proteínas receptoras. O trabalho está sendo realizado por Luis Fernando Cabeça, doutorando do Instituto de Química da Unicamp, e tem a participação da bióloga, Eneida de Paula, do Instituto de Biologia da Unicamp.

Desde 2003, a equipe da química Anita Jocelyne Marsaioli, pesquisadora do Instituto de Química da Unicamp e especialista em química orgânica, trabalha com RMN aplicada às macromoléculas. Os procedimentos visam monitorar interações entre as proteínas das células e moléculas mensageiras, chamadas “ligantes”. A espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear Avançada consegue detectar sinais específicos que as moléculas emitem durante os processos fisiológicos do corpo humano. Outra vantagem desta tecnologia é que ela consegue apontar a enzima que o pesquisador pretende observar em meio a uma grande mistura de compostos. Então é feito um mapeamento de seus deslocamentos e no final se chega a um modelo de atuação para aquela enzima.

Uma segunda fase do projeto visa entender agora a promiscuidade das ações enzimáticas, isto é, como é que uma mesma enzima teria funções diferentes de acordo com a necessidade do processo. Essa parte da pesquisa está sob a responsabilidade da Cíntia Duarte de Freitas Milagres, que é farmacêutica especializada em biocatálise, e do mestrando Lucas Gelain. Para tanto, segundo Milagres, são utilizadas triagens de alto desempenho, isso porque o monitoramento lida com até dez mil microorganismos ou enzimas por dia. Por isso, esse processo gera um volume muito grande de dados que necessitam ser avaliados.

IPT mede a poluição emitida pelos ônibus urbanos

O IPT avaliou a eficiência dos recursos tecnológicos de redução da emissão de poluentes já em uso nos ônibus urbanos. A SPTrans, a Fundação Hewlett, o ISSRC, órgãos do governo e diversas empresas colaboraram com os testes

O ar das grandes cidades contém muito mais do que gases de efeito estufa (GEE), responsáveis pelo aquecimento global. Em uma metrópole, quando você respira, inala os chamados gases tóxicos, alguns deles até cancerígenos, como é o caso do benzopireno. Grande parte dessa contaminação do ar é causada pelos veículos movidos a óleo diesel. De olho no problema, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT) testou a eficiência das tecnologias desenvolvidas para reduzir a poluição produzida pelos ônibus em circulação.

O método dos testes aplicados pelo IPT foi inédito. No Brasil, a legislação determina que as emissões por veículos pesados sejam avaliadas em laboratório através do dinamômetro de motor, um equipamento que simula as condições de carga enfrentadas no trânsito. O IPT, porém, avaliou os ônibus embarcados e em circulação, simulando até mesmo o perfil de emissão dos veículos em um congestionamento. Os testes foram executados no Expresso Tiradentes e na pista que dá acesso ao Parque Ecológico do Tietê, em São Paulo.

Movido pela energia elétrica gerada por um motor diesel, o ônibus híbrido consome menos óleo diesel e emite menos poluição. No modelo testado – único disponível no mercado nacional – a redução das emissões de poluentes foi menor do que se esperava. Segundo o engenheiro Silvio Figueiredo, pesquisador do IPT, deve-se levar em conta que esses veículos utilizam uma tecnologia em desenvolvimento, de poucos anos, que precisa ser trabalhada. Mais caros que os convencionais, os ônibus híbridos são projetados para consumir menos combustível, o que sugere sua adoção seja compensadora em longo prazo.

Outro modelo avaliado foi o motor a gás. Importado da Europa, o ônibus a gás testado é um EEV (Enhanced Environmentally Friendly Vehicle), um veículo cuja emissão é excepcionalmente compatível com o meio ambiente. Contudo, em termos energéticos, ele consumiu mais do que os veículos a diesel.

A equipe também avaliou medidas urbanas de redução de emissão. Ao evitar engarrafamento, os corredores de ônibus provaram que reduzem o consumo de combustível e a emissão de poluentes. Segundo Figueiredo, no corredor Expresso Tiradentes, a emissão caiu pela metade, mas, por outro lado, o custo dessa solução é muito elevado.

Os testes constataram a eficiência do óleo diesel com baixo teor de enxofre na redução das emissões de material particulado, isto é, partículas sólidas e líquidas muito pequenas que ficam suspensas na atmosfera, como a fumaça. “O óleo diesel com baixo teor de enxofre pode ainda viabilizar soluções mais sofisticadas de sistemas de pós-tratamento (catalisadores)”, lembra Figueiredo, esclarecendo que esses sistemas “exigem que o combustível tenha baixo teor de enxofre”. Os catalisadores – de maneira geral, eficientes conforme os testes do IPT – são instalados em veículos novos ou em circulação para reduzir a emissão.

Participaram dos testes a SPTrans, a Fundação Hewlett e a International Sustainable Systems Research Center (ISSRC) dos Estados Unidos, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB), a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU) e as secretarias estadual e municipal de meio ambiente. Diante dos resultados, Figueiredo explica que a escolha e a adoção dessas tecnologias dependem de novas avaliações que identifiquem aquelas que, atendendo aos limites impostos legalmente, apresentem maiores vantagens em termos de eficácia, custo e benefício.

Mulheres abortam menos que na década passada

Mulheres do mundo inteiro têm abortado menos hoje em dia do que na década de 1990. Um estudo publicado em outubro no periódico Lancet mostra que houve uma redução de 9% no número total de abortos induzidos em 2003 em comparação a 1995. A queda é atribuída à melhora no acesso a métodos anticoncepcionais e à regulamentação de leis que tiram tal prática da clandestinidade. Mas o aborto ainda é um problema em países onde tal procedimento é altamente restrito por lei, como no Brasil.

Mulheres do mundo inteiro têm abortado menos hoje em dia do que na década de 1990. Um estudo publicado em outubro no periódico inglês Lancet (vol.370, n.9595) mostra que houve uma redução de 9% no número total de abortos induzidos em 2003 em comparação a 1995. O trabalho realizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e Instituto Alan Guttmacher credita essa queda, principalmente, à facilitação do acesso a métodos anticoncepcionais e à regulamentação de leis mais liberais que tiram tal prática da clandestinidade. Mas os pesquisadores ressaltam que o aborto ainda é um problema em países onde tal procedimento é altamente restrito por lei, a exemplo do que ocorre no Brasil.

Aqui, outra pesquisa dá conta de que 30% de todas as gravidezes terminam em abortos induzidos, embora o número total siga a tendência mundial de diminuição. “Isso consolida a idéia de que a anticoncepção no Brasil ainda não atingiu um volume suficiente para evitar a elevada proporção de gravidezes indesejáveis”, afirmam Mario Francisco Giani Monteiro e Leila Adesse, autores da estimativa realizada em 2006.

Em todo o planeta, 42 milhões de abortos foram induzidos em 2003, contra 46 milhões em 1995. O leste europeu possui a maior proporção de abortos intencionais. De cada mil mulheres em idade fértil (entre 15 e 44 anos), 44 abortaram no ano de 2003. Segundo os pesquisadores da OMS, o elevado número de abortos nessa região é devido aos resquícios da política praticada pela antiga União Soviética que privilegiava o aborto de baixo custo às pacientes ao invés do uso de anticoncepcionais. Já o menor índice pertence à Europa Ocidental, 12 por mil. Na América do Sul a proporção é de 33 abortos por mil mulheres, uma das mais altas da pesquisa.

Estimativa mundial de abortos induzidos dividida por regiões.
Fonte: OMS e Instituto Alan Guttmacher.

Apesar da elevada taxa sul-americana, o Brasil tem feito a sua parte. Só no Nordeste houve uma redução de 50% no número de abortos induzidos em treze anos, segundo a estimativa apresentada no XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais pelos médicos Monteiro e Adesse. O uso maior e de modo mais eficaz de métodos anticoncepcionais também é considerado o principal responsável pela queda no número de abortos induzidos por aqui.

Em 2005 foram realizados por volta de um milhão de abortos intencionais em todo o país. Para obter esse número se multiplicou o total de internações no Sistema Único de Saúde (SUS) por cinco, atendendo a hipótese do Instituto Alan Guttmacher que considera que apenas 20% das mulheres que induziram um aborto tiveram que ser hospitalizadas devido às complicações.

Por um lado, as políticas brasileiras relacionadas ao aborto têm contribuído para diminuir o número de mulheres que arriscam suas vidas em clínicas clandestinas ou em abortos auto-induzidos. Mas por outro, muito ainda precisa ser feito para alcançarmos as taxas de alguns países europeus. Pois, enquanto no Nordeste e Sudeste para cada mil mulheres entre 15 e 49 anos 20,7 abortam anualmente, na Holanda, Suíça, Bélgica e Alemanha essa taxa é de seis a sete abortos por mil.

Leis permissivas

Nas regiões em que a lei é restritiva em relação aos abortos, eles “são freqüentemente feitos por pessoas sem qualificação, auto-induzidos, ou ainda, feitos em condições médicas sem os cuidados higiênicos necessários”. Os cientistas da Organização ainda afirmam que, mesmo que o aborto seja feito por um profissional de saúde treinado, as pacientes submetidas a um procedimento clandestino e ilegal normalmente não recebem cuidados médicos apropriados no pós-aborto. E, em caso de complicações, elas demoram a receber o devido cuidado.

No Brasil, o aborto é considerado crime. A mulher que aborta pode ser presa pelo período de um a três anos. Os únicos casos em que o médico pode abortar são quando esse é o único meio da gestante sobreviver ou em casos de estupro nos quais a mulher violentada consinta com a realização do aborto.

A lei atual pode, no entanto, ser modificada em breve. Um projeto de lei que tramita na Câmara dos Deputados desde 1991 propõe a descriminalização do aborto induzido. A proposta aguarda o Superior Tribunal de Justiça decidir a partir de quando uma vida humana tem início para então ir à votação. Cansado de esperar pela decisão judicial, o relator do projeto, o deputado Jorge Tadeu Mudalen (DEM-SP), afirmou que vai apresentar seu parecer sobre a descriminalização do aborto no fim de novembro com ou sem veredicto.

O projeto de Mudalen é um dos mais antigos, mas não o único a querer alterar o Código Penal no que diz respeito ao aborto induzido. Segundo o portal de notícias BBC Brasil, existem 30 projetos de leis sobre o assunto tramitando na Câmara dos Deputados atualmente. Metade deles quer tornar a lei mais permissiva, metade quer restringir ainda mais a prática.

Para o professor de obstetrícia da Universidade Estadual de Campinas, Aníbal Faúndes, a descriminalização do aborto e sua respectiva cobertura pelo SUS é uma solução viável para diminuir a mortalidade materna. “Existe um conceito sem fundamento no Brasil de que se forem criadas leis que liberem o aborto, as mulheres vão sair por aí abortando. Independentemente do quão fácil ou seguro seja realizar um aborto, isso não é prazeroso para mulher nenhuma. O aborto é sempre uma medida extrema.”

Faúndes acrescenta que “no hospital, as mulheres que abortam recebem orientações que podem retirá-las do ciclo vicioso gravidez indesejada/aborto”. Mas, no Brasil de hoje, apenas uma a cada quatro dessas mulheres dá entrada em hospitais.

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Percepção da democracia influi na aceitação do aborto (out. 2007)

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