A última edição da revista eletrônica Studium, produzida e publicada por professores e alunos do Instituto de Artes da Unicamp, comemorou sete anos de existência com um ensaio fotográfico sobre a universidade, a propósito da comemoração de 40 anos da universidade. A convite de seu editor, Fernando de Tacca, um grupo de 40 pessoas que têm, ou tiveram, algum tipo de contato com a Unicamp, fotografou durante o ano de 2006 a universidade em suas cenas, personagens e cenários cotidianos.“O conjunto de ensaios fotográficos forma uma visão múltipla, aberta e reafirma a universidade como campo de encontro das diferenças pela diversidade desses olhares”, avalia Tacca.
“É o exemplo da estudante de História, Marcela Formico, que fotografou a Unicamp através das janelas do ônibus circular; de Nenê Jeolás que fotografou quarenta mães com seus filhos recém nascidos na universidade; e Lygia Nery que registrou as obras raras da biblioteca central da Unicamp”, complementa o professor, que também participa da edição com suas fotos das pausas de um ensaio da orquestra sinfônica. As imagens mostram não apenas as fárias faces – e fases – da Unicamp, mas também os lugares ocupados pelos fotógrafos. O olhar sobre o cotidiano das aulas, as praças, as pessoas que vão e vem, o tempo que passa enquanto toda a universidade permanece, e se transforma.
A iniciativa de revelar a Unicamp por diferentes ângulos – revelando, também, um pouco da própria subjetividade dos fotógrafos convidados – pareceu ao seu editor, Fernando de Tacca, um belo presente. A universidade que abriga, e faz conviver no cotidiano, tantas diferenças permitiu-se ser olhada, capturada, experimentada. O que se tem (e o que se vê) é a diversidade de atividades, lugares, tempos, e também de pessoas.
Obsessões fotográficas
Tacca, que recebeu o prêmio Zeferino Vaz de mérito acadêmico em dezembro passado, acredita que a fotografia, mesmo em tempos de mudanças de paradigmas tecnológicos, continua a fazer emergir características que lhe são singulares ao trazer o memorial e o testemunhal em perspectiva plástica. É o que a revista Studium 25 – Unicamp Ano 40 mostra ao congelar e recortar a universidade em fotos que trazem consigo uma vivência afetiva e cognitiva, “a experiência de vida acadêmica, entre passagens e permanências na territorialidade da universidade”, afirma.
Professor do Instituto de Artes, Fernando de Tacca trabalha na área de antropologia visual e intertextualidades da imagem, particularmente a fotografia. É um apaixonado por imagens. Além das atividades acadêmicas, é também colunista do site Fotosite e da Revista FS. Em recente artigo publicado no site Fotosite, e denominado Obsessões Fotográficas, Tacca discorre sobre a atual dicotomia existente entre a importância e a desconsideração das imagens, sobretudo das fotografias. A partir de um site que expõe fotografias recolhidas do lixo, e organizadas por uma misteriosa webmaster, ele discorre em seu artigo sobre a questão da espetacularização da vida contemporânea, que, paradoxalmente, coexiste com a vigilância permanente do cotidiano.
“Os tempos modernos foram anunciados por George Orwell já em 1949, ou por Fritz Lang, ainda com Metrópolis, de 1926. E podemos localizar o sistema de vigilância no imaginário do cinema, com o filme Janela Indiscreta, de Alfred Hitchcock, ou seja, uma sociedade que está cada vez mais auto-vigiada, na qual o sistema torna-se impessoal e não sabemos quem nos vigia e de onde o faz”. Para ele, a espetacularização da vida leva hoje pequenas ações tornarem-se midiáticas, com sobrevida momentânea, uma necessidade cada vez maior de olharmos para a tela audiovisual de nossos computadores como ato voyeurísta, como o fotógrafo do filme de Hitchcock.
Em 2007, entre outros projetos, Tacca pretende retomar um projeto antigo no campo da antropologia visual: seu primeiro trabalho, realizado durante sua graduação em Ciências Sociais, pela USP, no qual fotografou uma vila de pescadores na Bahia entre 1979 e 1981. “Será no formato vídeo digital e levarei as fotografias como guias para reencontrar as pessoas fotografadas mais de 25 anos depois, e assim, contar, através desse processo o que aconteceu nesses anos nessa pequena localidade”.