Parceria entre UFSC e Fiat resulta em laboratório de tecnologia automotiva

O laboratório de tecnologia automotiva idealizado através da parceria entre a Fiat Automóveis e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) deve começar a ser implantado no campus universitário a partir de março. O objetivo é desenvolver projetos com tecnologia de ponta relacionados aos sistemas que compõem um veículo.

O laboratório de tecnologia automotiva idealizado através da parceria entre a Fiat Automóveis e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) deve começar a ser implantado no campus universitário a partir de março. O objetivo é desenvolver projetos com tecnologia de ponta relacionados aos sistemas que compõem um veículo, desde o design até os componentes necessários para, entre outras coisas, geração de energia, tração e estabilidade.

De acordo com Edison da Rosa, professor do Departamento de Engenharia Mecânica da UFSC e coordenador do projeto do laboratório, o local integrará grupos de pesquisa e laboratórios já existentes na universidade. “A expectativa é de que em três meses ele esteja funcionando plenamente”, afirma.

Os resultados das pesquisas realizadas no laboratório poderão ser agregados a um protótipo que demonstre a viabilidade da aplicação pela indústria automobilística. “A UFSC tem tradição no desenvolvimento de projetos de pesquisa em parceria com o setor produtivo”, afirma o coordenador do projeto. A parceria com a Fiat existe desde 1998. Professores da UFSC criaram um programa de mestrado e especializações profissionalizantes para os funcionários da empresa, nas áreas de acústica e vibração, engenharia automotiva, tecnologia da informação, gestão de projetos, marketing e logística. “Do sucesso dessa parceria foi originado o projeto do laboratório de inovação tecnológica”, completa.

O projeto estabelece ações de curto, médio e longo-prazo, para o desenvolvimento de inovações através de soluções criativas para problemas ou oportunidades da área automotiva. “Esperamos desenvolver inovações em todos os campos de atuação do laboratório, desde eletro-eletrônica, mecânica, materiais, combustíveis e até nos processos de produção”, diz José Guilherme da Silva, engenheiro gestor do projeto pela Fiat. Através da parceria, a empresa busca não apenas obter os resultados tecnológicos, mas também a inclusão de seus profissionais na cultura das pesquisas. Além da participação dos funcionários da Fiat, a equipe de trabalho do laboratório será formada por cerca de dez professores e vinte estudantes de graduação e pós-graduação da UFSC.

“Acreditamos que a função primária de se fazer inovação tecnológica seja da empresa, e que à universidade cabe a formação de espíritos críticos, a ampliação do conhecimento humano. O que ocorre normalmente no Brasil é que as empresas não têm a competência de pesquisa desenvolvida, já maturada na academia. Portanto, a grande vantagem da relação entre a empresa e a universidade é o aprendizado de como pesquisar. Estando a empresa preparada para exercer seu papel na inovação, a universidade se torna parceiro constante, seja no uso de seu potencial intelectual no laboratório, seja como fornecedora da massa intelectual para dentro das empresas”, afirma Silva.

O laboratório beneficiará diversos cursos da universidade, dentre engenharias mecânica, de automação e sistemas e sanitária e ambiental, além de arquitetura e urbanismo, pois estudantes e professores dessas áreas também poderão utilizá-lo para treinamentos e pesquisas. Além disso, existe a possibilidade de ampliação de linhas de pesquisa. “Os estudantes serão capacitados para o desenvolvimento de tecnologia nacional e os professores terão contato mais próximo com as necessidades de formação solicitadas pela indústria de ponta”, destaca Edison da Rosa. A formação de recursos humanos com alto nível de especialização representa um dos maiores benefícios do laboratório.

A demanda por inovação no setor automobilístico e o reconhecimento da UFSC como universidade com diversas pesquisas consolidadas nessa área possibilitaram a aprovação do projeto do laboratório pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, que ainda não divulgou o total de recursos a ser liberado. A Fundação de Ensino e Engenharia de Santa Catarina será a gestora de toda a parte administrativa e financeira do projeto, seguindo os critérios estabelecidos pela Finep. O custo total de implantação e manutenção do laboratório de inovação da UFSC foi orçado em R$ 1 milhão, dos quais 50% serão financiados pela Fiat Automóveis.

Descentralização na captação de chuvas minimiza impactos

As enxurradas de verão se repetem todos os anos trazendo grandes prejuízos para os centros urbanos. Jorge Henrique Prodanoff, pesquisador da Escola Politécnica da UFRJ, aponta erros na forma atual de captação da água da chuva em grandes piscinões. O ideal, afirma, seria a descentralização por meio de micro-reservatórios de captação.

Com a chegada do verão, os grandes centros urbanos voltam a sofrer com um velho problema: as enchentes deixam mortos, desabrigados e causam prejuízos para o comércio e a indústria. Apesar de ser uma catástrofe anunciada, as medidas tomadas ainda não resolveram o problema de forma integral. Jorge Henrique Alves Prodanoff, pesquisador da Escola Politécnica da UFRJ, aponta erros na forma atual de captação da água da chuva em grandes piscinões. Para ele, a forma mais correta seria a descentralização por meio de micro-reservatórios de captação espalhados pela cidade.

“Ao contrário de uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), onde a captação é concentrada, quanto mais espalhado o sistema de controle de cheia e qualidade de água da chuva, mais barato e menores são as probabilidades de dar algo errado”, explica. De acordo com Prodanoff, o ideal seria que em cada casa houvesse uma cisterna – com cerca de dois ou três mil litros para coletar e armazenar a água da chuva. O cidadão poderia, inclusive, ser beneficiado diretamente com uma redução no IPTU por um curto período de forma a amortizar os custos de instalação de um sistema de coleta de água da chuva, sugere o pesquisador. “Um sistema de coleta composto de dois reservatórios, estrutura de captação, bomba, filtro, canalização, válvulas gira em torno de 1500 a 2000 reais”, informa Prodanoff, e continua “a economia gerada pelo uso da água da chuva pode ser da ordem de 500 a 700 reais, variando de região para região e do preço da concessionária. Ou seja, água na cisterna é água fora das ruas e dos rios e algum dinheiro no bolso do contribuinte e menos dinheiro de impostos gastos para limpar as ruas e construir piscinões”, argumenta.

Para o especialista, um município que busca soluções espacialmente distribuídas poderia minimizar os efeitos negativos de uma enchente, caso o sistema dos grandes piscinões falhe. “A descentralização é uma tendência mundial”, diz.

Em São Paulo e Rio de Janeiro, metrópoles aonde o cimento e o asfalto vêm ganhando terreno, há uma crescente taxa de impermeabilização do solo, o grande problema gerador das enxurradas. Na capital paulista, o Código de Obras estipula que 15% da área do terreno deve ser permeável. Além disso, o município paulista, assim como o Rio de Janeiro, já possuem Decreto de Lei que obriga os donos de terrenos com mais de 500 m² de área construída ou cobertura impermeável (incluindo estacionamentos) a deixarem, ao menos, 30% da área com piso drenante ou construir reservatórios temporários de água da chuva, que foram apelidados de “piscininhas”. “No Rio isso não tem efeito direto quase que nenhum, ao contrário de São Paulo, que nesse ponto está um pouco mais adiantado”, revela o pesquisador. Isso acontece, segundo Prodanoff, pois a exigência na Lei carioca só se aplica para as novas construções que tenham áreas impermeabilizadas superior a 500m², excluindo então as construções antigas. Já no município paulista, a Lei se aplica também às construções antigas.

Sério problema ambiental Além das enxurradas, a chuva nos centros urbanos causa um problema ambiental grave, mas pouco conhecido no país. A água lava uma grande quantidade de sujeira nas superfícies impermeáveis, fruto de uma imensa produção de resíduos sólidos da sociedade urbana atual. Entre as principais fontes poluidoras listadas por Prodanoff estão os resíduos lançados com a pavimentação das ruas, os gases lançados dos motores dos veículos, a deposição atmosférica, o lixo, os locais de construção e as redes de esgotos deficientes. Para se ter uma idéia, a primeira meia polegada (12,5 milímetros) de chuva, chamada de impacto da carga de lavagem sobre a bacia urbana, tem qualidade comparável ao esgoto primário, ou até inferior.

As análises do pesquisador estão na tese “A avaliação da poluição difusa gerada por enxurradas em meio urbano”, orientada por Flávio Borba Mascarenhas, que conquistou o Prêmio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) de tese na área de engenharia, no final de 2006.

Prodanoff explica que sua investigação se preocupou em classificar a água da chuva como causadora de impactos significativos nos corpos d’água receptores e no ambiente aquático. No Brasil, pesquisas como essa ainda são incipientes. Levantamentos feitos em cidades nos EUA e países desenvolvidos, que obtiveram êxito na coleta e tratamento da águas residuais, têm mostrado que as fontes de poluição difusa passaram a ser as maiores causadoras de degradação da qualidade das águas superficiais. “Além disso, as enxurradas podem conter quantidades significativas de substâncias tóxicas”, afirma.

A solução, acredita o especialista da UFRJ, seria o gerenciamento integrado das cheias urbanas, que deve abranger aspectos quantitativos e qualitativos dos escoamentos urbanos. No que diz respeito à quantidade, uma saída seria a descentralização na captação das águas da chuva, enquanto a qualidade poderia ser alcançada com um maior tempo na decantação da água coletada, sendo necessária, para isso, a descentralização do sistema.

De acordo com Prodanoff, o gerenciamento das cheias urbanas sob uma nova e inovadora ótica está começando a ser desenhada no Brasil. “Trata-se do desenvolvimento sustentável da drenagem urbana com o objetivo de imitar o ciclo hidrológico natural. Existem diversos exemplos práticos onde engenheiros, planejadores, paisagistas e outros especialistas tiveram sucesso na reintegração da água na paisagem urbana”, exemplifica.

OGMs: testemunhos contraditórios

No início de janeiro dois relatórios foram divulgados avaliando os trangênicos: um do ISAAA, financiado pela indústria, e outro da ONG Amigos da Terra Internacional. O primeiro ressalta a confiança de milhões de pequenos e grandes produtores nessa biotecnologia. Já o segundo conclui que nenhum OGM oferece benefícios para o consumidor, além de nada contrinuir para minimizar o problema da fome no mundo.

No início de janeiro dois relatórios foram divulgados: um pelo International Service for the Acquisition of Agri-biotech Applications (ISAAA), financiado pela indústria; e outro pela organização não-governamental Amigos da Terra Internacional. O primeiro ressalta o rápido avanço da adoção da tecnologia, sobretudo por pequenos produtores de países em desenvolvimento, o que serviria como “testemunha da confiança de milhões de pequenos e grandes produtores na biotecnologia”. Já o segundo conclui que “nenhum OGM no mercado hoje oferece benefícios para o consumidor em termos de qualidade ou preço, e até hoje esses cultivos não fizeram nada para aliviar a fome ou a pobreza na África ou em qualquer outro lugar”.

De acordo com o ISAAA, 10,3 milhões de agricultores plantaram uma área total de 102 milhões de hectares de transgênicos em 2006, crescimento de 13% frente a 2005. As altas taxas de adoção dos OGMs “refletem a satisfação dos agricultores com produtos que oferecem substanciais benefícios, incluindo o manejo mais flexível da cultura, menores custos de produção, maior produtividade e/ou lucro líquido por hectare, benefícios para a saúde e sociais, e ainda um ambiente mais limpo através do menor uso de pesticidas convencionais, o que em conjunto contribui para uma agricultura mais sustentável”, avalia a instituição. A continuidade da rápida adoção de culturas biotecnológicas refletiria melhorias substanciais e consistentes para pequenos e grandes produtores, consumidores e a sociedade, tanto de países industrializados como em desenvolvimento, garante o relatório Global Status of Commercialized Biotech/GM Crops: 2006,lançado no dia 18 de janeiro.

Cerca de 40% do cultivo de OGM estaria nos países em desenvolvimento, os quais teriam registrado maior aumento em área plantada (21%), em comparação com os países industrializados (9%). Dos 10,3 milhões de agricultores que adotaram a tecnologia, 90% (9,3 milhões) seriam pequenos e de poucos recursos, vivendo nos países em desenvolvimento. Para eles, que cultivam principalmente algodão geneticamente modificado, o aumento de renda proporcionado pela biotecnologia teria contribuído para aliviar a pobreza.

Estados Unidos, Argentina, Brasil, Canadá, Índia e China são os países que mais cultivam OGM, de uma lista de 22 países (metade industrializados e metade em desenvolvimento), segundo o ISAAA. Nos EUA, a taxa de adoção é de mais de 80% entre os produtores de algodão e soja. O Brasil aparece em terceiro lugar no ranking, com uma área de 11,5 milhões de hectares plantados com soja e algodão geneticamente modificados. Em todo o mundo, as culturas transgênicas mais comuns são soja, milho e algodão – um mercado de mais de US$ 6,8 bilhões.

O relatório do ISAAA cita ainda uma pesquisa que estima que, entre 1996 e 2005, os benefícios econômicos líquidos globais dos cultivos transgênicos para os produtores foram de US$ 27 bilhões (US$ 13 bilhões para os países em desenvolvimento e US$ 14 bilhões para os industrializados). No mesmo período, a redução acumulada no uso de pesticidas foi calculada em 224.300 toneladas métricas de ingrediente ativo, equivalente a uma diminuição de 15% no impacto ambiental associado ao uso de pesticidas naquelas culturas. O ISAAA projeta que até 2015, a área plantada com OGM crescerá para 200 milhões de hectares, com pelo menos 20 milhões de agricultores adotando a tecnologia em mais de 40 países.

A entidade Amigos da Terra Internacional também divulgou um relatório no dia 9 de janeiro de 2007, Who Benefits from GM crops? An analysis of the global performance of genetically modified crops 1996-2006. A entidade discorda das vantagens propagadas na publicação anual financiada pela indústria de biotecnologia. Na avaliação da ONG a disseminação das culturas geneticamente modificadas em 2006 mostrou sinais de estagnação. “A produção de OGMs em larga escala continuou limitada a poucas culturas e países e não resolveu os principais problemas e desafios enfrentados pelos agricultores. As culturas transgênicas também não provaram serem superiores às convencionais”, informa, ressaltando que em geral os transgênicos comercializados hoje aumentam – e não diminuem – o uso de pesticidas. Uma prática que nem de longe beneficia o meio ambiente. “Os cultivos transgênicos se tornarão unsustentáveis no médio e longo prazo”, projeta.

Para a entidade, mais de 70% dos cultivos transgênicos em larga escala estão limitados a dois países (Estados Unidos e Argentina). A crítica recai também sobre o fato de apenas quatro culturas (milho, algodão, soja e canola) com duas características (tolerância a herbicidas e resistência a insetos) serem amplamente plantadas nos EUA, embora 71 eventos distintos já tenham sido aprovados para uso comercial no país. “Mais de quatro em cada cinco hectares de cultivos GM são feitos para suportar a aplicação de herbicidas vendidos pelas mesmas empresas que comercializam as sementes transgênicas”, destaca.

A Amigos da Terra cita estudos de pesquisadores independentes que demonstram que variedades geneticamente modificadas apresentam produtividade inferior ou, no máximo, equivalente à das variedades convencionais. Menciona também uma pesquisa da União Européia, realizada em 2006, que confirma a oposição do público aos alimentos GM.