Mapa do Brasil pode mudar

O mapa com os limites e fronteiras do território brasileiro pode mudar significativamente, caso os Projetos de Lei voltados à criação de novos Estados e Territórios no Brasil sejam aprovados pelo Congresso Nacional. O país passaria a ter 39 estados e três Territórios Federais. Atualmente, o Brasil está dividido em 26 estados mais o Distrito Federal.

O mapa com os limites e fronteiras do território brasileiro pode mudar significativamente, caso os Projetos de Lei (PLs) voltados à criação de novos Estados e Territórios no Brasil sejam aprovados pelo Congresso Nacional. O país passaria a ter 39 estados e três Territórios Federais. Atualmente, o Brasil está dividido em 26 estados mais o Distrito Federal.

A região Sul é a única que não sofreria modificações. Já na região Sudeste seriam criados os estados de São Paulo do Leste, Minas do Norte e Triângulo, e o estado da Guanabara voltaria a existir. Na região Centro-Oeste, três novas unidades da Federação surgiriam: Araguaia, Mato Grosso do Norte e Planalto Central. A região Nordeste ganharia os estados do Maranhão do Sul, Rio São Francisco e Gurguéia. A região Norte teria como novos estados Tapajós, Solimões e Carajás e ainda os territórios federais do Marajó, Alto Rio Negro e Oiapoque.

Configuração atual do mapa do Brasil de 1990.
Fonte: IBGEDe acordo com a cientista política Celina Maria de Souza Motta, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a criação de novos estados acontece quando há uma convergência de três fatores chaves: liderança política, população favorável e regionalismos. “Primeiro uma liderança política forte faz com que o Congresso aprove e, depois, a população vote, por meio de plebiscito, a criação de uma nova unidade da Federação. Mas, o mais importante é quando existem forças regionalistas atuantes, que podem ser de ordem cultural, religiosa, lingüística e econômica”, enfatiza.

Maranhão do Sul, o PL mais avançado

Entre os projetos que tramitam nas duas casas do Congresso chama atenção, pelo avanço da proposta, o que desmembra o estado do Maranhão em dois e cria o estado do Maranhão do Sul. A nova unidade da Federação seria formada pelas porções meridional e ocidental do atual Maranhão e comportaria 49 municípios dos 217 atualmente existentes.

No dia 9 de fevereiro de 2007, o governador do estado do Maranhão, Jackson Lago, criou uma secretaria especial para cuidar do assunto da divisão do estado, em consonância com suas propostas de governo. A Secretaria de Estado Extraordinária de Desenvolvimento do Sul do Maranhão (Seedesma) visa criar condições favoráveis para implementar o novo estado. O secretário titular, Fernando Antunes, é também presidente do Comitê Central pró-criação do Estado do Maranhão do Sul. A nova secretaria foi instalada no município candidato à nova capital, Imperatriz, e não em São Luiz.

O deputado Sebastião Madeira (PSDB-MA), autor do projeto n° 947/01 que trata da criação do estado do Maranhão do Sul, explica que a proposta tem como finalidade descentralizar a administração e tornar o estado mais forte. Para ele, não fazem sentido as críticas sobre os aumentos dos custos para o Governo Federal, pois todo o repasse feito pelo Governo é per capita.

Madeira, que é o coordenador da Frente Parlamentar de Trabalho para a Criação de Novos Estados e Territórios do Brasil, sinaliza que entre os projetos de criação de novos estados e territórios no Brasil que tramitam na Câmara, os dois únicos com chances de serem votados são o n° 947/01 e o n° 152/92 (que trata da criação do estado de Carajás).

O deputado ressalta que a criação do estado do Maranhão do Sul tem o apoio da população e de todos os seguimentos políticos do estado. “Os grupos que mais atuam a favor da criação do Maranhão do Sul são a maçonaria – que inclusive instalou um comitê de divisão territorial em todos os municípios e os políticos – e o próprio pessoal do Sarney. O governador do estado [Jackson Lago], foi eleito com essa bandeira”, revela.

Uma análise da evolução da divisão político administrativa do Brasil, desde os anos de 1960, mostra como os limites e fronteiras são dinâmicos e mudam com o passar dos anos. No ano de 1960 e 1970 a região do Centro-oeste, que possuía apenas dois estados, muda na década de 1980 com a criação do estado do Mato Grosso do Sul (Lei de 11/10/1977). Em 1988, com a Assembléia Nacional Constituinte e as discussões sobre a criação do Estado do Tocantins, foi instituída uma Comissão de Assuntos Territoriais com o objetivo de estudar a divisão do território e o surgimento de novos estados. Já em 1990 temos a configuração territorial que conhecemos hoje. Os quatro territórios que ficavam sob administração do governo federal (território de Rondônia, Roraima, Amapá e Fernando de Noronha), passaram à categoria de estados, com exceção de Fernando de Noronha que foi anexado ao estado de Pernambuco.

Mapa do Brasil de 1980
Fonte: IBGE

 

Configuração atual do mapa do Brasil de 1990.
Fonte: IBGE

 

Celina Souza, da UFBA, explica que as propostas para criação de novos estados sempre existiram. “Esse fato é meio comum em um país de dimensões territoriais como o Brasil. Eu acho que o Brasil tem poucos estados, comparado com outros países federais do mundo, mas ao mesmo tempo, não há tantos regionalismos assim”, diz.

Outro ponto que também influencia na formação de novos estados, destaca ainda Celina Souza, é a questão econômica. “O quadro da migração no interior do território brasileiro vem sofrendo mudanças significativas. As atividades econômicas, principalmente no Centro-oeste, estão se modificando e criando novas frentes de trabalho. Surge então a necessidade de uma discussão profunda sobre a representatividade do modelo político-territorial atual”.

A cientista política não enxerga no Brasil forças regionais separatistas fortes que culminam em guerra civil, como é o caso da Índia e do Paquistão que viraram dois países diferentes. Ou mesmo movimentos separatistas muito fortes como o caso de Quebec, no Canadá. “Em geral, no Brasil, os estímulos separatistas sempre foram mais econômicos do que regionalistas”, finaliza.

Acordo com o governo paulista restaura autonomia das universidades

Após um período conturbado de contingenciamentos de repasses e alterações no Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp), governo e reitores reuniram-se no início de fevereiro e entraram num acordo que pode restaurar o poder das universidades.

Após um período conturbado de contingenciamentos de repasses e alterações no Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp), governo e reitores reuniram-se no início de fevereiro e entraram num acordo que pode restaurar o poder das universidades.

Desde janeiro, quando Serra assumiu o governo, as estaduais USP, Unicamp e Unesp viram sua autonomia, garantida pela Constituição Federal de 1988, esmorecer. Por meio de decretos, o governo alterou a composição do Cruesp, com a introdução do secretário de Ensino Superior na presidência do conselho – José Aristodemo Pinotti, e congelou provisoriamente parte dos repasses às instituições. Também exigiu das universidades a solicitação prévia à pasta do Planejamento para transferir verbas entre grupos de despesas. “As últimas reuniões com o governador restauraram quase todo o poder perdido com as medidas instituídas no novo mandato e o receio criado há um mês já não existe, mas abalou a comunidade acadêmica e ainda restam alguns ajustes a serem feitos”, diz o José Tadeu Jorge, reitor da Unicamp.

Há 18 anos, as universidades estaduais paulistas recebem um repasse fixo da arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) recolhido pelo governo do estado e têm autonomia para decidir onde aplicar seus recursos. Inicialmente, o orçamento ficou estabelecido em 8,4% da arrecadação, mas o percentual foi elevado para 9,57% em 1996, sendo a divisão interna desse valor feita pelo Cruesp.

Segundo Tadeu Jorge, a possibilidade de gestão financeira e orçamentária possibilitou às universidades paulistas traçar seus planos para o futuro, organizar seu dia-a-dia, estabelecer políticas próprias de racionalização e de investimentos de acordo com o fluxo das demandas sociais e o comportamento da economia. Sem essa autonomia, haveria um retrocesso, concordam reitores e comunidade acadêmica nas diversas manifestações que fizeram junto à mídia.

Mas por que, pela primeira vez em quase duas décadas, tais medidas foram tomadas? O governo alega que não seria possível liberar os recursos porque a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2007 ainda não foi aprovada. Mas o atraso na aprovação da LDO também ocorreu em 2006, embora menor, e não houve contingenciamento. A suspensão dos repasses atingiu igualmente todos os órgãos do governo. Para Tadeu Jorge, “os membros da nova equipe do governo não tinham familiaridade com as formas de funcionamento dos órgãos governamentais e trataram as universidades como outros órgãos, a exemplo dos institutos de pesquisa, que não têm autonomia”.

O decreto que altera a composição do Cruesp foi rapidamente modificado ante as reações das autoridades acadêmicas e a presidência voltou à posse de Suely Vilela, reitora da USP. O secretário de Ensino Superior permanece no conselho. A importância da presença de um dos três reitores na presidência do Cruesp está no fato de ser o presidente quem define as pautas das questões de interesse das universidades. Com relação aos recursos, a liberação já foi negociada e se dará em duas fases. Em caráter emergencial, deverão ser liberados 45% dos recursos contingenciados na próxima semana. O restante será repassado em março.

Depois de tanto alarde o governo retrocedeu, mas ainda resta uma pendência: a proibição do remanejamento de recursos entre grupos de despesas. Isso significa que os gestores das universidades estaduais paulistas não têm liberdade para transferir recursos da pasta “pessoal” para a pasta “investimento”, por exemplo, embora seja possível modificar a composição do orçamento dentro de cada rubrica.

A transferência entre grupos de despesa, conforme decreto governamental, seria uma atribuição privativa do governo do estado. Por outro lado, a autonomia de gestão financeira das universidades está garantida pela Constituição. Na semana que vem, técnicos da Secretaria do Planejamento devem se reunir com os reitores para resolver essa questão. “Queremos encontrar uma maneira de preservar a autonomia das universidades dentro da legalidade”, diz o reitor da Unicamp. “Esperamos que as universidades estaduais não apenas voltem à situação anterior, mas que se aproximem do Estado para auxiliar na formulação de políticas públicas”, conclui.

Produção audiovisual do Teatro Oficina é mapeada

A produção audiovisual do Teatro Oficina, tradicional teatros paulistano, representa uma das fases mais ricas e ocultas da história do grupo e seu diretor, José Celso Martinez Corrêa. É o que mostra a pesquisadora Isabela Oliveira em pesquisa realizada na USP.

A produção audiovisual do Teatro Oficina, tradicional teatro paulistano, representa uma das fases mais ricas e ocultas da história do grupo e de seu diretor, José Celso Martinez Corrêa, ou simplesmente Zé Celso. É o que mostra a pesquisadora Isabela Oliveira, mestranda em antropologia, em sua dissertação, Bárbaros Tecnizados: Cinema no Teatro Oficina, que será defendida em março, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

Sob orientação da antropóloga Fernanda Peixoto, o estudo revela um período em que o teatro Oficina caracteriza-se como espaço de experimentação artística no cinema e na TV e mostra o grupo como uma entidade que se refaz em vários momentos de sua trajetória, dialogando com o espaço e com a memória, por meio de novas formas de comunicação.

Sediado no bairro do Bixiga há 46 anos, o Teatro Oficina distinguiu-se por ter absorvido, na década de 60, toda a experiência cênica internacional. Neste lugar foi lançado o que na cultura brasileira ficou conhecido como tropicalismo, estética ligada ao movimento antropofágico de Oswald Andrade e que influenciou músicos, poetas e outros artistas.

Entre as décadas de 1970 e início de 1990, a produção de peças do grupo Teatro Oficina diminui, dando espaço a produção de filmes e documentários. Uma das experiências mais reconhecidas do Oficina no cinema é a versão da peça O Rei da Vela, de 1967, também de Oswald de Andrade. “A partir da década de 60, o teatro brasileiro já era bem mais do que entretenimento e pode aspirar a uma atuação formativa e crítica sobre a cultura. A montagem de O Rei da Vela, legitimou a presença do Oficina na cena política e veio ao encontro de outras perspectivas sobre o Brasil pós-64, nas quais predominavam as críticas à postura engajada e questionamentos à construção da resistência democrática”, explica a crítica teatral e pesquisadora Mariângela Lima.

A dissertação de Isabela Oliveira se debruça também sobre a produção de documentários durante o exílio político de Zé Celso, no período militar e pode ser uma fonte rica para futuras pesquisas. A pesquisadora analisou e catalogou mais de mil horas de gravações na casa do diretor, de 1970 até 1994. “Foi a fase considerada subterrânea do grupo, quando não ocorreram montagens. A dissertação cobre essa lacuna biográfica, mostrando que foi um período muito produtivo, mas esquecido. Oliveira afirma que então ocorria no Brasil um aparente esgotamento ou esvaziamento da produção teatral, quando na realidade foi um período muito criativo quanto à elaboração de novas propostas artísticas e estéticas e novas formas de comunicação com o público. Durante esse percurso, o Oficina chega a romper radicalmente com as formas convencionais do fazer teatral.

Após o período da ditadura, a dissertação revela a segunda provação de Zé Celso, a partir dos anos 80, quando disputa o espaço do teatro com o empresário Sílvio Santos, que pretende construir um shopping na área. Sem dinheiro para comprar o imóvel, Zé Celso adquire um equipamento de vídeo e cria a TV Uzyna. O diretor passa a registrar em documentários a luta do Oficina para manter-se no local. Mesmo com o shopping, o espaço do teatro é respeitado e totalmente reformado.

Oliveira destaca a importância dos trabalhos em vídeo, já que o projeto da TV contou com a participação de jovens artistas. “A experimentação e a diluição das fronteiras entre a ficção e a não-ficção foram marcantes na equipe. O vídeo passou a ter um papel importante nos espetáculos ao permitir que o público acompanhasse tudo o que acontecia em cena, quando os eventos aconteciam em diferentes espaços do teatro, por exemplo”, diz ela.

A pesquisadora ainda ressalta que hoje o grupo comandando por Zé Celso é um dos mais “antenados” com as vanguardas artísticas e as novas linguagens tecnológicas, mas sem se esquecer do passado. O épico Os Sertões, montagem do romance de Euclides da Cunha, que o Oficina voltou a apresentar neste ano, é um exemplo e rompe barreiras de tempo e espaço, com apresentações de longa duração, uso de recursos multimídia e transmissão pela Internet.

Para Zé Celso, a nova fase do Oficina representa inovação: “Estamos vivendo uma nova história como um teatro musical, lugar de mistura do digital com o real – nós já transmitimos ao vivo pela internet, o que é inovador. Por outro lado, somos um terreiro tropicalista, e o tropicalismo hoje em dia está sendo levado em consideração pelas vertentes de pensamento mais ricas do mundo”, afirma o dramaturgo.

Para saber mais:

Teatro Oficina

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