Abelhas desaparecem das colméias nos Estados Unidos

Até agora, a ciência não apontou a causa do sumiço das abelhas. Há apenas uma série de especulações, umas mais plausíveis que outras, mas nenhuma definitiva. Diversas causas aparentes dificultam a solução do problema, que pode provocar prejuízos bilionários.

“Adeus e obrigado pelos peixes!” Essa foi a mensagem deixada pelos golfinhos ao desaparecerem do planeta na comédia literária do inglês Douglas Adams. A obra, parte da série “O Guia do Mochileiro das Galáxias”, narra o desaparecimento súbito da espécie, que teria abandonado o planeta ao descobrir que ele seria destruído. Em proporções reduzidas, ainda que impressionantes, a vida imitou a arte nos Estados Unidos. Este ano, apicultores norte-americanos de 22 estados ficaram sem a maior parte da sua criação, sendo que alguns perderam quase todas as suas abelhas. Colméias quase vazias com pouquíssimos insetos adultos eram a única pista deixada pelo mal que foi batizado de CCD (algo como Distúrbio do Colapso das Colônias, em inglês). O problema foi detectado pela primeira vez no fim do ano passado e já foi encontrado também na Europa.

Até agora, a ciência não apontou a causa do problema. Há apenas uma série de especulações, umas mais plausíveis que outras, mas nenhuma definitiva. Determinar uma doença ou parasita como causa do CCD, por exemplo, tem sido uma das tarefas mais difíceis dos especialistas. Isso porque as abelhas sofrem de um grande número de patologias. Uma infecção viral que causa diarréia, um ácaro que se instala no sistema respiratório, e até bactérias e fungos que provocam sintomas diversos em pupas (estágio posterior ao de larvas) e em abelhas adultas foram algumas das possíveis causas apontadas, mas que não conseguem explicar todo o problema. A ausência de corpos de insetos e de vestígios de parasitas nas colméias abandonadas complicam ainda mais.

Com tantos inimigos naturais, seria normal que entrassem para a lista de suspeitos os pesticidas aplicados pelos apicultores em suas criações. O Amitraz, por exemplo, é a terceira geração de um pesticida usado para combater o V.destructor, um pequeno besouro que se disseminou por todos os Estados Unidos. A praga desenvolveu resistência aos seus dois antecessores, e os efeitos do Amitraz ainda não são conhecidos. Benjamin Oldroyd, pesquisador do Laboratório de Comportamento Social e Genética de Insetos da Universidade de Sidnei, na Austrália, aponta que até os apicultores que optam por controles mais “orgânicos”, como a fumigação por ácido fólico, por exemplo, correm o risco de ter uma ação menos eficaz contra o parasita e ainda produzir um efeito mais tóxico sobre as abelhas.

Outro vilão sob suspeita são os defensivos químicos das lavouras. A produção agrícola norte-americana é quase totalmente dependente de compostos que são modificados constantemente, a fim de vencer a resistência desenvolvida pelas pragas. Novos produtos químicos significam novos efeitos colaterais. O geneticista norte-americano David de Jong, do Departamento de Genética da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, tem experiência nesse tipo de ação química. Especialista em abelhas, Jong presenciou um caso de mortalidade em massa desses insetos causada por defensivos agrícolas durante os anos 1970 nos Estados Unidos. Na época, como pesquisador da Universidade de Cornell, em Nova York, Jong foi incumbido pelo governo do seu país de treinar os técnicos federais que deveriam avaliar as colméias vazias. Caso a mortalidade tivesse sido causada realmente pelos defensivos das lavouras, o apicultor teria direito a uma indenização do governo.

O pesquisador explica como se faz a avaliação da colméia vazia: “Quando o inseticida é mais fraco, a abelha volta à colméia, mas acaba matando as abelhas mais novas, que não têm resistência ao produto. Com pesticidas mais fortes, o inseto morre no campo e nem volta para a colméia, mas as abelhas jovens ainda têm que estar lá”, esclarece. Este segundo caso se aproxima do CCD, mas nada se provou até o momento. “Os inseticidas estão ficando cada vez mais tóxicos para os insetos e menos nocivos para as pessoas”, alerta Jong. O especialista em patologia apícola Dejair Message, da Universidade Federal de Viçoca (MG), descobriu que doses subletais de inseticidas podem causar desorientação nas abelhas e impedir o seu retorno à colônia, o que pode ser outro sintoma do CCD.

As plantações geneticamente modificadas ou transgênicas têm sido o alvo preferido dos ambientalistas para receber a culpa pelo sumiço das abelhas, mas poucas evidências corroboram essa tese. A suspeita recaiu sobre plantações trasngênicas norte-americanas de soja, algodão e milho que tiveram seus genomas modificados a fim de desenvolver uma proteína com fortes propriedades inseticidas. Oldroyd acha difícil que essa proteína possa representar uma ameaça às abelhas e derruba a suposição citando o estado de Illinois, onde as lavouras transgênicas ocupam áreas enormes e não há nenhum caso de CCD registrado por lá.

Há ainda os problemas de manejo que têm colocado os insetos em situações extremas de estresse. Com a queda do valor de mercado do mel, muitos apicultores têm encontrado outras fontes de renda, entre elas, o aluguel das colônias para a polinização de plantações. As amendoeiras, por exemplo, dependem 100% das abelhas para serem polinizadas. Retirar as colméias de seu local de origem e transportá-las em caminhões gera problemas de umidade, falta de espaço, doenças causadas por confinamento e dificuldade de adaptação ao novo horário climático, o popular “jetlag” dos humanos.

Além dessas possíveis causas, Oldroyd cita também o problema do resfriamento do ninho. De maneira surpreendente, as abelhas mantêm a temperatura de suas ninhadas a 34,5º.C, com uma variação de apenas 0,5º.C. Uma incubação fora dessa estreita faixa gera abelhas aparentemente saudáveis, segundo o especialista australiano, mas que apresentam deficiências de aprendizado e memória. Oldroyd acredita que criando em laboratório colônias em temperaturas ideais e outras com temperaturas abaixo do ideal, os sintomas do CCD aparecerão nessas últimas. Contudo, o pesquisador vê o problema como uma síndrome causada por múltiplos fatores e não por um causador isolado.

Mesmo sem conhecer exatamente as causas do CCD é possível dimensionar seus efeitos que vão muito além da falta de mel e dos demais produtos apícolas. No ano 2000, as plantações polinizadas por abelhas nos Estados Unidos representavam 14,6 bilhões de dólares e o prejuízo ambiental pode ir muito além dos números. “Aqui no Brasil, as abelhas são responsáveis por 90% da polinização da Mata Atlântica, por exemplo” explica o biólogo especialista em abelhas José Benedito Balestieri, da Universidade Federal da Grande Dourados, em Mato Grosso do Sul. “O desaparecimento das abelhas por aqui causaria também o desaparecimento de vegetações importantes e com elas, as várias espécies que nelas vivem”, completa.

Pesquisadores sugerem plano de ação contra o aquecimento global

Visando combater problemas que afetam a geração de energia, agricultura e a vida no planeta, o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC) acaba de apresentar propostas para o Plano de Ação de Enfrentamento das Mudanças Climáticas, que está em elaboração pelo governo federal.

Visando combater problemas que afetam a geração de energia, agricultura e a vida no planeta, o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC) acaba de apresentar propostas para o Plano de Ação de Enfrentamento das Mudanças Climáticas, que está em elaboração pelo governo federal.

O objetivo do Plano é organizar, em esfera nacional, todas as ações referentes às questões do Aquecimento Global e seus desdobramentos sociais, econômicos e ambientais, promovidas pelo governo brasileiro, além de propor iniciativas coordenadas com as já existentes e que somem esforços para reduzir o impacto das mudanças climáticas.

Nomeado como secretário executivo do FBMC, Luis Pinguelli Rosa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, reuniu-se com pesquisadores de instituições governamentais, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e órgãos como o Greenpeace para debater a estruturação do plano e sugerir medidas de incentivo à produção renovável de bens de consumo, redução da emissão de gases e adaptação às mudanças no clima, que parecem ser inevitáveis em um futuro próximo.

A proposta, organizada em três eixos, orienta as atividades governamentais, a criação de rede nacional de pesquisa sobre clima e a fundação de um órgão nacional de políticas climáticas. Inclui metas para reduzir o desmatamento, taxação diferenciada para veículos, segundo o nível de consumo, e consolidação do programa de biocombustíveis. Outras sugestões são a contabilização oficial das emissões evitadas, o estabelecimento de índices mínimos de eficiência energética para automóveis, a aceleração do reflorestamento das áreas de preservação permanente e o estímulo à energia renovável.

Para Pinguelli Rosa, o maior problema ambiental brasileiro é o desmatamento. “O governo reduziu o desmatamento nos últimos dois anos – constata ele – mas não basta. Precisa diminuir mais”. As duas grandes emissões de gases no país (gás carbônico e metano) são conseqüências do desmatamento praticado pelos setores energético e agropecuário, devido à mudança do uso da terra da floresta amazônica e devastação do cerrado. O segundo maior desafio apontado pelo pesquisador é o consumo de energia. “Aumentamos o uso de carvão mineral na geração elétrica, o que é negativo, já que estamos saindo da hidroeletricidade”, afirmou.

Antes de chegar ao governo, a proposta do Fórum terá um longo caminho a percorrer, passando pelos ministérios de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia, Relações Exteriores, Minas e Energia e Casa Civil. “Estamos buscando estímulo à pesquisa, financiamento para professores, pesquisadores e estudantes que se dedicam às mudanças climáticas e ambientais. As propostas estão aí, agora o governo decide o que pode ou não ser feito”, concluiu Pingueli Rosa.

Especialistas debatem abordagem da mídia sobre mudanças climáticas

Em meio à mobilização de diversas entidades brasileiras no combate ao aquecimento global, a Unicamp sediou em junho, um Fórum Permanente com o tema Mudanças Climáticas e Mídia. Especialistas em meio ambiente e jornalistas científicos discutiram como os veículos de comunicação, sejam eles jornais, revistas, televisão ou internet, estão abordando os fenômenos climáticos e informando a população sobre as últimas pesquisas na área. Entre os presentes no encontro, divergiram as opiniões sobre o assunto, mas de modo geral, analisou-se bastante o jornalismo de ciência no país.

Para Carlos Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e autoridade científica brasileira em clima, a mídia está cobrindo o tema mudanças climáticas com equilíbrio: “Embora com muita intensidade, a imprensa está agindo com menos sensacionalismo e tons de tragédia. Acho que o público está tendo acesso a informações com equilíbrio e veracidade”, afirma Nobre.

No entanto, segundo Eduardo Viola, da Universidade Nacional de Brasília, a relação entre cientistas da área e jornalistas é de grande complexidade. “Não se pode dizer que houve grande avanço na cobertura jornalística sobre o tema. No caso do Brasil, que procura acompanhar todos os acontecimentos mundiais, a comunicação é satisfatória, mas enfrenta um grande problema, que é o baixo nível cultural do público”.

Para Viola, a informação sobre mudanças climáticas ocupa dois planos, o da climatologia e a área de economia política mundial. “Posso afirmar, com toda certeza, que a mídia aborda com mais freqüência assuntos ligados à climatologia. Isso porque muitos jornalistas que cobrem ciência têm dificuldade em lidar com contextos qualitativos. Falar sobre economia e política requer uma formação social mais aprofundada”, alerta.

De acordo com Jurandir Zullo Jr., coordenador do Centro de Pesquisa e Ensino em Agricultura (Cepagri) da Unicamp, o jornalista assume papel fundamental no discernimento do público em relações às notícias de ciência e tecnologia: “Mudanças climáticas e aquecimento global são temas que geraram muitas divergências dentro da comunidade científica. É preciso saber diferenciar o que é meramente opinativo do que é baseado em reflexões e observações científicas. Esse é o maior desafio dos divulgadores”, afirma.

Saiba mais

Fórum Nacional de Mudanças Climáticas

Pensamento de Milton Santos chega às telas do cinema

Milton Santos, um dos mais importantes pensadores sobre o território brasileiro, teve uma parte de sua obra transformada em documentário pelo diretor de cinema Silvio Tendler. “Encontro com Milton Santos, ou o mundo global visto do lado de cá”, merece mérito pela preciosidade do registro, o último antes da morte de Milton, em 2001.

 

 

Milton Santos, um dos mais importantes pensadores sobre o território brasileiro, teve uma parte de sua obra transformada em documentário pelo diretor de cinema Silvio Tendler. “Encontro com Milton Santos, ou o mundo global visto do lado de cá”, merece mérito pela preciosidade do registro, o último antes da morte de Milton, em 2001. Mas não apenas por isso. Para Tendler, o documentário traz a discussão sobre um mundo do ponto de vista dos pobres que procuram alternativas para o mundo como ele é hoje.

O documentário de 89 minutos, vencedor na categoria Júri Popular no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em 2006, será lançado no dia 17 de agosto em cinco capitais do Brasil: São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Brasília, Porto Alegre. Para Milton Santos, essas cinco capitais fazem parte da Região Concentrada, que abrange os estados da região Sudeste (Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo), os estados da região Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) e dois estados do Centro-oeste (Mato Grosso do Sul e Goiás), tendo como pólo as metrópoles de São Paulo e do Rio de Janeiro. Essa região se caracteriza pela modernização generalizada, onde os acréscimos de ciência e tecnologia se verificam de modo contínuo, pela intensa circulação interna e acentuada divisão territorial do trabalho. A nova proposta de regionalização para o território brasileiro de Milton Santos está no livro “O Brasil: território e sociedade no inicio do século XXI”, escrito juntamente com Maria Laura Silveira, professora de geografia da USP.

Tendler conta que a entrevista com o professor Milton Santos foi o ponto de partida e também sua principal referência. O documentário expõe um pensamento acerca da globalização e discute as distorções impostas aos países pobres que pagam injustamente pelo crescimento da economia dos países ricos e as conseqüências provenientes dessa lógica do capital, que amplia as diferenças ao invés de redistribuir as riquezas. “O lado de cá são os países do sul, explica o diretor. “Na verdade, para Milton a globalização tem características dos regimes totalitários como o nazismo e facismo, por isso ele a chamava de globaritalismo, que se refere a esse processo imposto pelas grandes empresas à humanidade”, explica Tendler, e completa, “Milton Santos é um dos pensadores oriundo do mundo do sul que pensou esse processo de globalização de um ponto de vista dos pobres”.

O documentário traz um pensamento pessimista do presente, mas uma visão otimista quando tenta mostrar as possibilidades de um novo mundo, também sinalizado pelo professor Milton Santos, onde a união entre as “novas técnicas” e “os de baixo” podem fazer um futuro mais distinto para a humanidade. Milton Santos é um intelectual que, por suas idéias e práticas, inspira o debate sobre a sociedade brasileira e a importância que a categoria território tem na construção desse novo mundo.

De acordo com informações da Agência Senado, onde o documentário foi lançado no último dia (19), no auditório Petrônio Portela do Senado Federal, no filme Milton Santos explica que a informação é o coração da globalização. É através dos sistemas de comunicação que as grandes empresas estabelecem atualmente os seus domínios. Mas é também através da comunicação que pode se dar a mudança rumo a um futuro mais humano. As novas tecnologias de informática-eletrônica, apropriadas, cada vez mais, por pequenos grupos, podem trazer à luz fatos antes conhecidos, e até mesmo desconhecidos pela maior parte das pessoas, sob um novo olhar, um novo ponto de vista.

O conceito de espaço e abordagem inovadora

A obra de Milton Santos traz uma nova proposta sobre o conceito de espaço. O território usado, que é sinônimo de Espaço Geográfico, deve ser estudado sobre a ótica das novas tecnologias, dos agentes hegemônicos e dos hegemonizados, da crescente fluidez que acelera os fluxos das grandes empresas ao mesmo tempo em que nega essa possibilidade para os homens mais pobres, que ele chamou de “os homens lentos”. Nessa abordagem o território adquire novas características para se tornar um conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações.

De acordo com Milton, as velhas noções de centro e periferia já não se aplicam, pois o centro poderá estar situado a milhares de quilômetros de distância e a periferia poderá estar dentro do próprio centro. Daí a correlação entre espaço e globalização, que sempre foi perseguida pelos detentores do poder político e econômico, mas só se tornou possível com o progresso tecnológico. Para contrapor-se à realidade de um mundo movido por forças poderosas e cegas, impõe-se, para Santos, a força do lugar, que, por sua dimensão humana, anularia os efeitos perversos da globalização.