Mexicanos propõem nova técnica para purificação do ouro

Equipe de pesquisadores da Universidade Autônoma Metropolitana criaram um reator eletroquímico para purificar o ouro. Novo método promete ser menos prejudicial ao meio ambiente.

Um novo método de purificação de ouro está sendo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Autônoma Metropolitana (UAM), na Cidade do México. O reator eletroquímico proposto pelos mexicanos promete ser mais eficiente e menos prejudicial ao meio ambiente.

Ainda em fase piloto, o projeto utiliza na reação química um composto molecular chamado tiouréia. Diferente do cianureto, usado nos processos atuais, a tiouréia se mistura em menor quantidade com a solução, permitindo que esta seja várias vezes reaproveitada. A reciclagem da solução reduz a produção de dejetos.

“Ao diminuir a quantidade de dejetos, são reduzidos também os custos para tratá-los”, explicou a engenheira química Gretchen Lapidus-Lavine, do Departamento de Engenharia de Processos Hidráulicos da UAM, uma das responsáveis pelo projeto. Além dela, trabalham na pesquisa o químico Ignácio González e o engenheiro químico José Luis Nava Montes de Oca, ambos do Departamento de Química da UAM.

Lavine explicou que, no processo convencional de purificação do ouro, é usada uma solução que contém um agente oxidante. O agente oxida o metal precioso, ou seja, retira elétrons do ouro deixando-no com carga positiva e separando-no dos outros minerais da mistura. Em seguida é aplicado um outro agente, normalmente o elemento zinco, que cede elétrons ao ouro fazendo que ele precipite em uma solução aquosa e seja coletado.

“Há mais de cem anos são usadas soluções de cianureto na primeira fase do processo. Elas funcionam muito bem, mas são extremamente tóxicas”, informou a engenheira química. Além disso, o cianureto se mistura muito rapidamente com outros íons metálicos diminuindo a possibilidade de reutilização da solução. É gerada, então, uma grande quantidade de dejetos tóxicos e a necessidade de tratá-los é muito maior.

Ao final da separação química é utilizado um reator eletroquímico para refinar o processo de purificação.

Força elétrica

O projeto sugerido pelos mexicanos utiliza o reator eletroquímico em todas as fases do processo. Inicialmente, o reator é usado para produzir o agente oxidante a partir da tiouréia – é formada uma tiouréia eletro-oxidada. Devido ao fato de a eletricidade ser indiretamente o agente oxidante, ao invés de uma outra substância química como o cianureto, é reduzida a contaminação da solução oxidante.

“A tiouréia em si não é novidade, mas anteriormente seu uso era prejudicado porque os outros agentes oxidantes a destruíam”, disse Lavine. “Ainda assim”, prosseguiu, “devido a sua seletividade, a tiouréia sempre foi reconhecida como um oxidante mais limpo, pois dificulta que a solução se ‘suje’ com os dejetos minerais e permite que a mesma solução seja aproveitada muitas vezes”. O principal objetivo foi, então, encontrar um agente oxidante que não destruísse a tiouréia.

O uso da eletricidade foi o melhor caminho. O agente oxidante é produzido in situ e de forma controlada, assegurando que a tiouréia não seja destruída. Ao final do processo, o reator coleta o ouro pelo processo de eletrodeposição. “O reator eletroquímico é bifuncional. É utilizado na primeira fase de oxidação e no fim da purificação”, defendeu Lavine, citando mais uma qualidade do processo: há uma grande economia de energia e de etapas do processo.

O tratamento final dos dejetos tóxicos é feito destruindo o composto. No caso do cianureto, é preciso transformá-lo em um composto menos tóxico. Custa mais, visto que é necessário tratar muita solução. “No nosso caso também temos que tratar a tiouréia, mas em menor quantidade, pois a fazemos circular muitas vezes na mesma solução”.

Segundo Lavine, a mineração é um dos setores mais importantes da economia mexicana. O ouro e a prata representam 23% das vendas da indústria mineradora. Para fazer o processo chegar em escala industrial é necessário passar por outras duas fases: planta piloto de operação contínua e de demonstração. “Estamos comprovando que o processo é viável economicamente para um mineral, mas falta provar para os outros”, concluiu.

No Brasil, a purificação do ouro é feita, em escala industrial, quase que exclusivamente pelo uso do cianeto. Em garimpos clandestinos, no entanto, o mercúrio é usado para amalgamar o pó do ouro em pedras. Posteriormente o mercúrio é queimado e vaporizado. A inalação desse vapor extremamente tóxico pode causar sérios problemas à saúde humana.

Congresso atesta o crescimento da pesquisa brasileira em petróleo

Congresso de pesquisa em petróleo e gás realizado em Campinas ultrapassa expectativas de participações e de trabalhos inscritos e demonstra o crescimento do país no setor

O 4º Congresso Brasileiro de P&D em Petróleo e Gás (PDPETRO) encerrado nesta quarta-feira (24) em Campinas, SP, mostrou um considerável aumento na produção de conhecimento em petróleo e gás no Brasil. Ao todo, foram apresentados 310 trabalhos, selecionados entre 520 enviados, cobrindo nove diferentes áreas. O evento também foi um sucesso de público com quase 800 participantes, 200 a mais que o previsto segundo o presidente do congresso, Sérgio Bordalo, do Departamento de Engenharia do Petróleo da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp.

Bordalo ressaltou a importância do evento para o intercâmbio entre pesquisadores vindos de 23 instituições de pesquisa de todo o Brasil. Ele ainda frisou a importância dessas instituições na formação de recursos humanos qualificados. Em 13 estados brasileiros, mais de 25 instituições de ensino participam do Programa de Recursos Humanos (PRH) da Agência Nacional do Petróleo (ANP) que dispõe de recursos vindos do fundo setorial de petróleo.

O evento foi realizado pela Associação Brasileira de Pesquisa de Desenvolvimento de Petróleo e Gás (ABPG) e pela primeira vez foi organizado pela Unicamp. A universidade completou 20 anos de pesquisa em petróleo, neste ano de 2007. Para o diretor do Centro de Pesquisa de Petróleo (Cepetro) da Unicamp, Saul Suslick, o congresso apresentou avanços na qualidade dos trabalhos e na articulação entre as entidades formadoras de recursos humanos.

Outro ponto positivo, segundo ele, foi a visível presença da atividade de pesquisa na formação profissional. “A associação da pesquisa com a formação de recursos humanos está mais forte e apresentando ótimos resultados”, comemora Suslick. Outro destaque importante observado pelo pesquisador foi a grande participação de jovens no evento. “No exterior, as novas gerações não se interessam pelo setor de petróleo, com isso a indústria já está sofrendo a falta de recursos humanos especializados”, revela o diretor do Cepetro.

Cocaína causa morte de células secretoras de dopamina, o mensageiro do bem-estar

Pesquisadora da USP mostra que a cocaína ativa processos causadores da morte celular. Fenômeno pode ajudar a explicar a degeneração cerebral que ocorre nos usuários da droga e a desenvolver terapias

É a intensa e instantânea sensação de euforia e excitação que torna repetitivo e compulsivo o uso da cocaína pelos viciados. Essa sensação, porém,tem um custo. Além dos já conhecidos danos neurológicos decorrentes do abuso da cocaína, a farmacêutica Lucília Brocado Lepsch, pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, verificou que a cocaína causa também morte de células secretoras de dopamina, o transmissor do bem-estar.

Lucília observou que a cocaína induz o aumento da atividade e da formação da caspase 3, uma enzima responsável por provocar a morte celular. Além disso, a morte celular foi agravada após o bloqueio de uma outra proteína da célula, o fator NF-kB (NF-kappaB), que poderia atuar, conforme sugere Lucília, protegendo a célula da morte.

Ao contrário do que pode parecer, a morte celular programada, na qual as caspases são os principais atuantes, é essencial para a formação e manutenção do organismo. Na fase embrionária, a morte celular permite o ajuste do formato dos nossos órgãos ao eliminar as células que acabam se tornando redundantes. Por outro lado, de acordo com a pesquisa de Lucília, a cocaína ativa indevidamente esse processo, um achado que, segundo a pesquisadora, contribui para a compreensão dos mecanismos de morte celular regulados pela cocaína. Outro benefício da pesquisa está no desenvolvimento de novas terapias para dependentes, que possam ajudar a interromper o desencadeamento dos processos degenerativos.

Para o estudo, Lucília utilizou células PC12 de rato, que representam para os cientistas modelos de células do cérebro. Elas liberam dopamina e têm as mesmas características das células cereb​_​_rais humanas que secretam esse transmissor – responsável pela sensação de bem-estar. No cérebro, a cocaína impede a remoção (recaptura) do excesso de dopamina, intensificando, dessa forma, sua quantidade e, portanto, seus efeitos.

Mas mesmo a busca pelos efeitos euforizantes da cocaína acabam frustrada pois logo causa um resultado contrário. Ocorre que a euforia é logo seguida pela depressão – associada, no uso crônico, com a interrupção prolongada da recaptura de dopamina, que acarreta sua escassez. O cérebro, ávido pela dopamina que agora lhe falta, sensibiliza-se, o que estimula a repetição do uso da droga. Se esse processo é acompanhado, ainda, de efeitos degenerativos em função da morte das células que liberam dopamina, agravando a falta de suprimento cerebral do transmissor, pode-se esperar que o usuário, em busca do efeito que seu organismo não é mais capaz de prover, apele para doses cada vez mais altas de cocaína.

O aumento da dose de cocaína nessas circunstâncias pode ocasionar confusão, perda da associação de idéias, comportamento anti-social e agressividade. Com o uso contínuo, também podem aparecer delírios, alucinações, paranóia e tendências suicidas.